Fanfics Brasil - ≈ღ≈A Outra Face de Dulce≈ღ≈[Terminada]

Fanfic: ≈ღ≈A Outra Face de Dulce≈ღ≈[Terminada]


Capítulo: 5? Capítulo

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Capítulo V



Quando Christopher a chamou para correrem na praia no dia seguinte, ela fingiu não escutar suas batidas à porta. Aguardou, com a respiração suspensa, até que ele desistisse. Suspirou de alívio ao ouvir os passos dele se afastando. E também de desapontamento. Aprendera a gostar das caminhadas matinais.


Seu último trabalho de pintura estava concluído. Ela pendurou a saia em um cabide e cobriu-a com um plástico. Modéstia à parte, considerava-o o melhor que já criara. Arrumar-se, agora, era uma questão de poucos instantes. Entrou no chuveiro e lavou os cabelos. Acostumara-se a deixar que secassem soltos, ao natural. Não usava mais maquiagem. Permitia-se apenas à aplicação de um filtro solar de alta proteção. Sua mãe nunca a levara à praia, Nunca permitira que nadasse nem que brincasse ao sol sob o risco de estragar a pele. Colocou um vestido marrom largo e comprido, e terminou o disfarce com os óculos.


— Você viu Christopher esta manhã? — Alma perguntou no momento que Dulce entrou na cozinha para tomar o café.


— Não. Por quê?


— Ele está com um humor péssimo. Pensei que talvez pudesse ter contado a você qual é o problema quando saíram para correr.


— Eu não o vi esta manhã. Não pude correr porque estava me preparando para ir a Houston.


— Ele acabou de voltar da praia e não parou para tomar seu suco de frutas como costuma fazer. Subiu como um furacão para o quarto. Sua expressão era igualmente tempestuosa.


— Talvez tenha se levantado com o pé esquerdo.


A resposta irônica soou mal aos ouvidos de Dulce. Talvez tivesse sido dura demais com ele. Talvez devesse procurá-lo e justificar sua atitude, mas a idéia de que estava se importando demais com os sentimentos dele a fez reagir. Porque estaria perdida se permitisse que as emoções a governassem.


— Obrigada por mais uma refeição deliciosa, Alma. Agora preciso pegar a estrada. Não devo retomar antes do final da tarde.


— Tenha um bom dia e não corra.


— Eu sempre dirijo com cuidado. Fique sossegada.


A garagem ficava em uma construção anexa, no fundo do terreno. Dulce ficou aliviada por ter acesso a seu carro sem precisar pedir que Christopher tirasse o dele. Abriu a porta e colocou o pacote com a saia da Sra. Rutherford no banco de trás, antes de assumir o volante.


No primeiro instante, o ruído abafado do motor não a impressionou. Seu carro vinha demorando ultimamente para pegar. Mas após várias tentativas infrutíferas, ela decidiu que não seria possível ir à cidade.


— Tenho de dar um jeito. Christian me matará se eu não cumprir o prazo — Dulce resmungou consigo mesma enquanto retomava a cozinha. — Alma, meu carro quebrou. Você sabe me dizer a que horas sai o ônibus para Houston?


Dulce estava tão impaciente que não esperou chegar à porta para falar. Encontrou Alma sentada à mesa, conversando com Christopher, e pressionando uma bolsa de gelo contra a testa.


— Pensei que já estivesse na estrada, querida.


Christopher estava com os cabelos úmidos do banho. Trajava calça social e camisa de mangas compridas. Havia um paletó esporte no encosto de sua cadeira.


— Estou indo para lá — ele informou. — Posso lhe dar uma carona, se quiser.


— Você quer, não é, querida? — disse Alma com um sorriso. — Por que não aproveita e toma mais uma xícara de café?


O pânico ameaçou assaltar Dulce. Christopher não podia estar presente em seu encontro com Christian. Seu disfarce iria por água abaixo.


— Eu não gostaria de obrigá-lo a desviar de seu trajeto. Prefiro ir sozinha.


— Aonde precisa ir?


— Ao prédio Galleria.


— Tenho uma consulta marcada para a verificação do meu ombro. O consultório do meu médico fica perto.


— Eu detestaria...


— Acho uma tolice você ir de ônibus se há espaço sobrando em meu carro. Mas quem decide é você. Quer uma carona ou não?


Não, ela não queria. Mas a realidade era que não havia escolha.


— Sim, obrigada.


O trajeto foi feito em total silêncio até os arredores de Houston.


— Como está seu ombro? — Dulce se aventurou a perguntar.


— Por que não quis correr comigo esta manhã?


— Por falta de tempo. Eu tinha de me preparar para esta viagem.


— Não poderia ter simplesmente me avisado?


— Eu deveria estar no chuveiro quando você bateu.


— O chuveiro não estava ligado.


— Tem por hábito ouvir atrás das portas?


— Tem por hábito mentir? — Christopher contra-atacou.


O silêncio voltou a reinar, interrompido apenas pelos protestos turbulentos de Christopher sobre o tráfego caótico. Até que Dulce considerou a posição infantil que ambos haviam assumido e insistiu na pergunta.


— Como está seu ombro?


— Não entendo você, Candy. Estava certa ao me repelir quando eu me comportei de maneira inconveniente, mas depois daquela nossa conversa, pensei que pudesse considerá-la como uma amiga. Mas você parece estar sempre em guarda como se eu fosse atacá-la. Não é de admirar que seu casamento não tenha dado certo e que você esteja sozinha.


Eles estavam se aproximando de um grande centro comercial da cidade. Dulce pediu que Christopher parasse o carro para que ela pudesse descer.


— Obrigada.


— Posso vir apanhá-la em duas horas?


— Está bem — ela respondeu e saiu, batendo a porta.


O encontro com Christian não melhorou seu humor. Assim que ela entrou na loja, ele a segurou pelo cotovelo e a conduziu para seu escritório.


— Meu Deus, seu aspecto está ainda pior!                             ;


— Não me amole, Christian! — Dulce colocou o pacote em cima da escrivaninha. — Basta o inferno que foi esta manhã.


— Você está horrível.


— Obrigada. Esse é o objetivo. Desejo continuar anônima, embora você insista em me contrariar. Como pôde colocar meu anúncio de lingerie na entrada da loja?


— Preciso faturar, minha querida. As vendas aumentaram sensivelmente. Além disso, ninguém a reconhecerá nesses trapos.


— Você tem algum refrigerante dietético? Ele abriu uma geladeira portátil e serviu uma soda. Em seguida


se pôs a examinar a saia.


— Ficou fabulosa. Quase duas horas depois, Dulce se levantou para se despedir.


Christian a segurou pelos ombros e prendeu seus cabelos sobre a nuca.


— Deixe-me olhar para você por um instante. Gostaria de poder convencê-la a voltar a ser a Dulce de antes.


— Não se iluda.


— Algum dia voltará a fazer o que faz melhor do que ninguém?


— Morey está tentando me convencer a isso. — Ela contou sobre o contrato de dois anos que lhe ofereceram. — Ainda não me decidi a respeito.


— Você está feliz agora?


Alguma vez ela fora feliz em sua vida? Alguém podia ser completamente feliz?


— Eu estou bem. Sem querer se aprofundar em reflexões, Dulce deu um beijo em Christian, tomou a lhe agradecer as encomendas, e ao passar diante das vitrines das lojas, ela se lembrou que não havia marcado com Christopher um lugar para se encontrarem.


Estava se dirigindo à saída, para ir ao local onde ele a deixara, quando o viu assistindo à exibição de alguns patinadores na pista de gelo.


Christopher era tão atraente. Cada vez que se aproximavam um do outro, sentia a pulsação acelerar. Ele não era corpulento como a maioria dos atletas. Sua figura era imponente, mas elegante. Ela gostava do modo como seus cabelos ondulavam naturalmente sobre as orelhas bem-feitas. Ele estava usando óculos de lentes escuras opacas. Para não ser reconhecido pelos fãs, foi o pensamento que lhe ocorreu.


Caminhou em direção a ele sem pressa, grata pela oportunidade de poder observá-lo sem ser notada. Mas como se o tivesse atraído com a intensidade de seu olhar, Christopher se virou e veio encontrá-la.


— Sinto muito, Candy — ele se desculpou embora ainda estivessem a alguma distância. — O que eu disse foi imperdoável.


Eles estavam atrapalhando o fluxo, parados no meio do corredor. Christopher a conduziu para um canto, tirou os óculos e guardou-os no bolso do paletó.


— Eu não queria dizer aquilo. Estava furioso.


— Você não tem de que se desculpar.


Estavam diante de uma floricultura. Christopher a puxou para dentro e pediu rosas. Na falta das flores, ele lhe comprou um buquê de margaridas.


— Você me perdoa?


Lágrimas assomaram aos olhos de Dulce. Ela curvou a cabeça e deixou que as pétalas tocassem seu rosto. Já havia recebido centenas de presentes. Os mais caros e exóticos. Nenhum tivera qualquer significado. Aquele pequeno buquê de singelas flores-do-campo fora o presente mais precioso que recebera.


— Elas são lindas. Eu agradeço.


— Eu não tinha o direito de lhe falar daquele modo.


— Eu o provoquei.


O shopping estava lotado, mas eles continuavam conversando como se estivessem sozinhos.


— Você esperou muito? — Christopher quis saber.


— Não. Estava saindo quando o vi perto do átrio.


— Eu estava tão zangado que me esqueci de marcar um local para nos encontrarmos.


— Tudo bem. Nos encontramos.


— Sim, nós nos encontramos.


À repetição, as palavras adquiriram um sentido mais profundo. Os olhares se recusavam a se afastarem. Christopher ergueu uma das mãos e colocou-a suavemente no rosto de Dulce. Disse seu nome com um murmúrio.


Dulce parou de respirar aos sentir os lábios dele substituírem o toque de seus dedos. Não se moveu. Se não fosse pelo buquê de margaridas que segurava, seus braços talvez o tivessem envolvido pelo pescoço. Christopher hesitou, como se estivesse tentando se decidir entre fazer ou dizer algo. De repente recuou.


— Vamos sair daqui.


— O que o médico disse sobre seu ombro? — ela perguntou assim que chegaram ao carro.


Ele riu.


— Você já perguntou sobre meu ombro diversas vezes.


— E você não me respondeu.


— Ele me garantiu que estarei em forma até me apresentar para o treinamento.


— Que ótima notícia! — Dulce cumprimentou-o, sem poder evitar um gosto amargo na boca à idéia de que a partida dele para o acampamento significaria ter que dizerem adeus.


— Parece que o repouso está valendo a pena — ele disse. — Com fome?


— Ainda não almocei.


— Nem eu.


Christopher a levou a um de seus restaurantes mexicanos favoritos. Dulce ainda não tinha adquirido o hábito de provar a culinária étnica. Estranhou a simplicidade do ambiente. Ao notar que a decoração das mesas era feita com flores plásticas, ela olhou desconfiada para seu acompanhante.


— Eu não disse que a levaria a um restaurante elegante, mas sim a um que serve a melhor comida — Christopher justificou, divertido.


Dulce descobriu em pouco tempo que Christopher estava certo e ao saírem do restaurante, ele a levou para conhecer os pontos de interesse da cidade que raramente eram visitados pelos turistas. Até que retomassem a Galveston, a noite já havia caído. Alma os esperava na varanda.


— Estava preocupada com a demora de vocês. Você se esqueceu, Christopher, de sua promessa de que me levaria ao clube de boliche?


Pela ligeira hesitação, Dulce percebeu que ele preferiria ficar em casa e descansar.


— Mas é claro que não. Você se importa se Candy for conosco?


— Eu adoraria.


Dulce gostaria de subir para seu quarto e evitar qualquer contratempo que pudesse comprometer aquela agradável sensação de bem-estar após uma tarde perfeita. Além disso, Alma também merecia a oportunidade de se divertir por algumas horas em companhia exclusiva do sobrinho adorado.


— Estou cansada demais e só consigo pensar em dormir cedo. Por que não vão vocês dois e se divertem?


Ela pensou ter visto uma sombra de desapontamento passar pelo semblante de Christopher, mas a excitação de Alma obrigou-o a reagir.


— Tranque bem a porta — ele recomendou ao se despedir com um sorriso que lhe deu a certeza de ter entendido corretamente a mensagem.


De volta ao quarto, Dulce colocou as margaridas em um vaso e escolheu um lugar onde poderia admirá-las da banheira onde pretendia relaxar em um banho morno de espuma.


Cerca de uma hora depois, o telefone tocou no instante exato em que ela estava saindo do banho.


— Onde você esteve o dia inteiro?


— Boa noite para você também, Morey — Dulce retrucou, ignorando o tom rude do empresário. — Eu tive de ir a Houston.


— Foi o que sua senhoria informou.


— Você ficaria orgulhoso com o montante de dinheiro que eu recebi.


— Pena que uma percentagem disso não ficou para mim. Pensou sobre a proposta?


Mais uma vez, a probabilidade de Morey ter feito dívidas ocorreu a Dulce. Mas por mais que ela lamentasse o vício do amigo pelos jogos de azar, não concebia, ao menos naquele momento, a idéia de retomar sua carreira.


— Sim, Morey.


— Não faça suspense.


— Minha resposta é "não". Talvez tivesse concordado se eles tivessem se falado no dia anterior, mas depois que Christopher lhe comprara flores, apesar de sua horrível aparência, começara a acreditar que poderia ser valorizada pela mulher que era na essência, e não por sua beleza exterior. Não queria retornar ao mundo de trivialidades, onde tudo se baseava na superfície.


— Você tem noção do que está desprezando? — Por favor, Morey, não tente me demover de minha decisão.


Eu não disse que jamais voltarei a trabalhar como modelo. Apenas não quero voltar ainda.


Com um suspiro de desalento, Morey se despediu. Dulce, entretanto, prolongou a conversa pedindo notícias da mãe.


— Blanca continua terrível, mas está bem de saúde. Não quero nem sequer pensar no escândalo que ela fará ao saber que você recusou essa oferta milionária.


— Sinto muito, Morey. Como eu não estarei aí, você será obrigado a aturá-la sozinho. Eu o decepcionei, não?


— Confesso que sim. Acho que você deve estar maluca. Mas continuo gostando de você.


— Eu também de você. Sinto pelos problemas que estou lhe causando.


— A vida é isso.


Ao devolver o fone ao gancho, Dulce sentiu uma grande tristeza. De repente, em vez de alívio, foi uma profunda saudade que a invadiu. Até que a visão das margaridas devolveu seu entusiasmo. Como um raio de luz elas venceram as vibrações negativas e a acompanharam através de seu sono.


Na manhã seguinte, Dulce se surpreendeu com o avançado da hora antes mesmo de consultar o relógio. O sol estava alto no céu. E havia uma folha de papel dobrada sob sua porta.


Bati duas vezes. Como o silêncio era total, eu não insisti. Adivinhei que você ainda estava dormindo. Achei bom. Você estava precisando descansar. Até mais tarde.


O bilhete não estava assinado, mas a escrita quase ilegível e o estilo eram inconfundíveis.


Dulce se vestiu e desceu. A casa estava deserta. Ela foi verificar se Alma estava no quintal e aproveitou para dar uma olhada no viveiro de plantas.


Estava quente e abafado sob a estufa de vidro, mas o cheiro de terra molhada e de flores tomava o local agradável. O silêncio era absoluto. Ela se perdeu na contemplação de cada espécie de folha e de flor.


— A preguiça é um pecado capital.


O susto a fez virar tão abruptamente que quase derrubou um vaso.


— Desculpe. Eu a assustei.


Christopher se livrou de um saco de terra e enxugou o suor da testa com o braço. Dulce sorriu.


— Você não teve intenção. Bom dia. Onde está Alma?


— Ela estava abusando da sorte ao querer me ajudar a carregar esses fardos e eu precisei obrigá-la a sair e se deitar. Em troca, prometi passar aquelas mudas para os vasos. — Christopher apontou para duas caixas de plantas.


— São begônias — Dulce constatou e imediatamente se pôs a enrolar as mangas até os cotovelos. — Vou ajudá-lo.


— Você não tem obrigação...


— Claro que não. Vou fazer isso porque quero.


Quando era criança, Dulce jamais tivera permissão para brincar na terra com seus amiguinhos. Não podia brincar de nada que pudesse sujar sua roupa. Nem andar de patins ou bicicleta porque poderia cair e machucar os joelhos. Hematomas e arranhões precisavam ser evitados a todo custo. Na adolescência, ela tentara se rebelar, mas enfrentar a ira de sua mãe a cada aventura a fizera entender que o resultado não compensava os poucos momentos de prazer. Amigas eram raras porque as meninas a enxergavam como uma ameaça. Os meninos, por outro lado, olhavam para ela como se fosse uma deusa inatingível. Ainda no despertar da sexualidade, eles temiam enfrentá-la e falharem em suas expectativas. Em conseqüência, ela quase não tivera namorados. Dulce esfregou as mãos de expectativa.


— O que devo fazer em primeiro lugar?


— Livrar-se da roupa.


— O quê?


— Não acha uma boa idéia? — Christopher sorriu com provocação.


— Não.


— Se a faz sentir melhor, posso imitá-la. — Ele ergueu os braços e tirou a camiseta. — Aqui dentro está fazendo um calor terrível. Uma verdadeira sauna.


— Não se preocupe comigo nem com minhas roupas. Eu estou bem.


Christopher balançou a cabeça em sinal de ceticismo. Seria possível que Candy sofresse de algum mal que a impedia de receber a luz do sol sobre a pele? Ela o acompanhava nas corridas pela praia havia mais de uma semana e sempre se apresentava com abrigos fechados do pescoço aos tornozelos`.


Ele mostrou como era preciso misturar a terra com adubo antes de plantar a muda e se surpreendeu com a rapidez que Dulce estava executando a tarefa como se sempre a tivesse feito.


Ela estava tão entretida com a jardinagem que não sentia o calor. Até olhar para Christopher para avisar que o serviço estava terminado. Engoliu em seco. Com os braços e as pernas flexionados, os músculos estavam ainda mais evidentes. Para quebrar a tensão, ela tentou iniciar uma conversa.


— Você está se movimentando bem. Parece apto para voltar ao futebol.


— Espero que sim.


— Tem dúvidas?


— As dúvidas me assaltam a cada temporada.


— Mas você sempre foi um jogador espetacular! Não foi? — Dulce hesitou ao perceber que Christopher franzia o rosto. — Foi o orgulho de tia Alma que falou? Você não é realmente um dos melhores?


Em outros tempos, Christopher teria aceitado e agradecido o cumprimento, mas com Candy ele sentia necessidade de responder com franqueza.


— No ano passado eu fui um desastre.


— Por que diz isso?


— Estou ficando velho para a profissão. Dulce cruzou os braços em atitude de deboche.


— Velho? Você nem sequer chegou aos trinta e cinco anos!


— Para um jogador profissional, eu já passei da meia-idade. Três anos atrás, sofri uma cirurgia no cotovelo. Lutei para me recuperar e quando estava me sentindo novamente em forma, meu ombro começou a dar problemas.


Apesar de não entender nada de futebol, Dulce sabia a que Christopher estava se referindo. Modelos também precisavam desistir cedo das passarelas.


— Mas você sempre soube que a fama e o vigor não durariam para sempre.


— Claro que sim. Eu tenho os pés no chão. Fiz investimentos desde cedo para garantir minha aposentadoria. Sou sócio de uma empresa bem-sucedida no ramo imobiliário. Mas não gostaria de me afastar da profissão por necessidade, e sim por decisão própria.


— Concordo com você.


Christopher fechou os olhos e respirou profundamente.


— Peço apenas para ter condições de participar de mais uma temporada. Gostaria de encerrar minha carreira em glória, não como objeto de piedade.


Antes que Dulce pudesse pensar no que estava fazendo, sua mão o tocou no braço.


— Você é um ídolo para seus fãs, Christopher. Ninguém sente pena de você. Tenho certeza de que conseguirá o que deseja.


— Certeza?


Ela o encarou sem esmorecer.


— Sim.


O universo parou naquele momento. Apenas eles dois existiam. Dulce podia ver na insegurança de Christopher um espelho de si mesma. Ela o entendia. Até seis meses antes, também acreditava que seu único valor estava em sua beleza. No entanto, depois que abandonara os ditames da moda e os artifícios da vaidade, ela ganhara dois amigos sinceros: Alma e Christopher. Descobrira que podia merecer a amizade e a consideração das pessoas, independentemente de sua aparência. Sempre quisera ter a aprovação de sua mãe. Nunca conseguira corresponder às expectativas dela. Era capaz de entender a angústia de Christopher como ninguém.


— Obrigado por me encorajar.


Os olhos dele se recusavam a romper o contato. O ar ao redor estava impregnado de desejos reprimidos. Christopher sentia o corpo tremer por emoções desconhecidas. Queria abraçar Candy contra o peito, absorver sua firmeza e se mostrar digno de sua confiança.


Devagar, como se tocasse em fino cristal, ele deslizou os dedos pelos cabelos de Candy até parar em seu pescoço. Ela inclinou o rosto de lado para apoiá-lo na mão dele. Christopher não conseguia afastar os olhos dos lábios que se entreabriam, macios e generosos.


— Candy — ele murmurou junto aos lábios dela.


— Candy! — chamou uma outra voz.


Eles se afastaram como se tivessem recebido uma descarga elétrica. Christopher resmungou algo e Dulce correu para a porta.


— Estou aqui, Alma! O que foi?


— Telefone para você!


Com um olhar de desculpa que foi correspondido com um encolher de ombros, Dulce correu pelo quintal em direção à casa.


— É sua mãe.


— Minha mãe? — Dulce parou abruptamente no meio da cozinha.


Alma fez um movimento afirmativo com a cabeça. Estava surpresa. Candy nunca mencionara ter mãe desde que chegara. E a mulher pronunciara o nome de Candy de uma maneira estranha.


Dulce subiu a escada de dois em dois degraus. Elas não haviam conversado nem sequer uma vez naqueles seis meses. Tinham notícias uma da outra por meio de Morey. Por que Blanca estaria ligando agora? Morey lhe contara sobre o contrato? Sua mãe finalmente se lembrara de que acima de tudo ela era sua filha?


Com um fio de esperança de que a mãe tivesse ligado para saber como ela estava, Dulce atendeu.


— Oi, mãe. Como você está?


       — Morey foi encontrado morto. Acho que o mínimo que você deveria fazer nas circunstâncias seria vir ao enterro.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 209



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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:26

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:26

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

    Amei!! *---*


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