Fanfics Brasil - 1 Laços de Sangue

Fanfic: Laços de Sangue | Tema: Primeiro Amor


Capítulo: 1

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Estávamos no mês de Maio e passei por uma autoplastia do nariz, uma operação simples que aparentava não levantar problemas, a entrada no hospital era feita um dia antes e a saída um dia depois, no meu caso não foi assim tão simples, dois dias depois ainda eu me encontrava deitada naquela cama de hospital. Uma vez saída da sala de operações, acordei da minha anestesia completamente perdida e confusa, quando olhava ao meu redor só conseguia ver camas de doentes como se estivesse num filme de terror. Assim que recuperei os sentidos fui levada para o quarto onde passadas umas horas o meu nariz não parava de libertar sangue, os médicos vieram de imediato para me socorrer, foi então que me colocaram mais duas proteções para estancar os corrimentos, à partida deveria ficar tudo bem. Com o cair da noite e com os nervos à flor da pele nem as novas proteções me salvaram, o meu nariz parecia uma torneira aberta a toda a força, por sorte os médicos estavam perto do hospital e voltaram. Posso ainda rever os seus rostos de preocupação, assim como os dos meus pais que me esperavam do lado de fora, eu deitada naquela maca improvisada só conseguia pensar o quanto queria sair dali, mas não podia mostrar que sofria, faria com que os meus pais se preocupassem ainda mais, foi então que com todas as minhas forças me amarrei ao colchão enquanto me eram colocados dois tubos pelas narinas dentro, larguei as lágrimas que não consegui conter e nem pestanejei para que não corresse mal, nesse momento soube que tinha de parar de me preocupar com coisas fúteis, havia problemas bem mais graves na vida. Era de noite e tentando dormir olhava para o cadeirão colocado ao lado da minha cama e lá estava ela com os seus caracóis pretos mal apertados e o seu rosto fatigado e preocupado, a minha mãe não me largou nem por um segundo, cada vez que o seu nome chamava durante a noite era como se nem tivesse chegado a adormecer. Contrariando a vontade dos médicos e da minha mãe fui levada para casa, após ter suplicado ao meu pai, não suportava ficar nem mais um dia naquele quarto em que o próprio cheiro me deixava ainda mais doente.


Chegadas a casa, a minha mãe seguiu todos os conselhos dos médicos, revirou o meu quarto de pernas para ao ar para retirar qualquer vestígio de pó que lá estivesse, desde lençóis a tapetes. Os primeiros dias foram difíceis, mas depois fui-me habituando, passei dias deitada sem poder baixar a cabeça, a minha mãe tomava conta de mim enquanto assistia ao grande torneiro de Roland Garos. Sempre presente também esteve o meu primo Bóris, com vinte e quatro anos e cerca de um metro e oitenta de músculos, nada exagerado mas fazia-se notar, cinquenta por cento do corpo eram tatuagens que só ele conhecia o sentido, de crânio rapado não consegui ver os seus cabelos castanhos que tal como os meus clareavam com o sol que quase que pareciam loiros, aqueles olhos castanhos avelã a tomarem conta de mim faziam-me logo sentir melhor, estava em Portugal para tentar fazer a sua vida aqui, deixou a família e os amigos na França e passava os dias em minha casa com a minha mãe que na altura não trabalhava, todos os dias me vinha fazer companhia, passávamos os dias a ver os torneios de ténis no sofá, nessa época não se podia ver mais nada na televisão, ajudava-me sobretudo a esquecer quão feia eu estava.


Passou-se assim um mês e com ele o casamento da minha irmã, foi nesse dia que a minha vida busculou, que o meu mundo mudou, o meu pensamento, os meus ideais, os meus medos, os meus receios, os meus sentimentos. Era um ótimo dia para casar, o céu estava limpo, o sol batia levemente, a brisa era acolhedora e estava tudo pronto, os nervos à flor da pele com o aproximar das horas, uma vez dentro da igreja era como se o tempo tivesse parado, assisti à cerimónia enquanto fazia parte do coro de escuteiros, pude observar tudo ao maior pormenor, o auge da cerimónia foi ao ouvir o som do Violino tocado por Gabriel, que com apenas treze anos era um dos meus melhores amigos, sabia de tudo que se passava comigo, até os meus pensamentos mais obscuros, assistido pela voz da sua mãe que lia um poema, quando me dei conta do que estava a acontecer pelo menos oitenta e cinco porcento dos presentes estavam a suar dos olhos.


A cerimónia foi perfeita e memorável, mas foi sentada naquela mesa de convidados que senti o meu coração a bater do lado certo, do meu lado esquerdo. Com Bóris sentado de um lado e Miguel, um amigo de longa data que toda a gente adorava, o genro perfeito aos olhos da minha mãe, era alto e musculado, tinha o cabelo preto comprido e encaracolado, de olhos castanhos e sorriso meigo, era impossível alguém não gostar dele, estava sentado do outro lado da mesa, senti que sentado àquela mesa estava o homem dos meus sonhos, aquele que eu iria amar toda a minha vida, até à data desconhecia tal sentimento, não sei o que provocou tal. O meu primo estava com dores de dentes e a minha única preocupação era saber se podia fazer alguma coisa para ajudá-lo.


- Não te preocupes comigo e aproveita o casamento da tua irmã. É um dia único! – Era o que ele me dizia, mas notei um desconforto da sua parte exasperado pela presença de Miguel. Mas fiz exatamente o que ele me havia dito e fui-me divertir, contudo não parava de o ver, nem enquanto comia, nem enquanto bebia, muito menos enquanto dançava e se divertia no meio da multidão, aqueles movimentos que me faziam rir. Com o passar das horas nem me apercebi do que ia sucedendo na minha cabeça, mas sem dúvida que ficou registado, cada gesto, cada olhar, cada sorriso, vou guardar para sempre aquele sorriso misterioso que tenta não chamar à atenção mas que com certeza chamou a minha, intencionalmente ou não.


Nesse dia dei por mim a pensar numa pessoa que conheci toda a minha vida e com quem sempre tinha falado, numa pessoa que ao contrário do Miguel ninguém ia adorar, ninguém ia aceitar e com certeza nunca seria o genro de sonho da minha mãe. Foi como se nunca nos tivéssemos cruzado antes, não sei se foi destino, sorte ou azar, mas o olhar que trocamos durante a festa mudou-nos, era como se cada vez que fechasse os olhos lá estava ele com o seu terno preto cintado e a gravata vermelha mal apertada. 



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Autor(a): rainhadossonhos

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