Fanfic: Laços de Sangue | Tema: Primeiro Amor
No mesmo dia que me avisou que tudo tinha acabado pede-me para ir a casa dele, assim que recebo mensagem saio de casa sem pensar no que poderia acontecer. Parada em frente à porta de sua casa sentia mil e uma borboletas na barriga e o meu coração a acelerar, assim que ele abriu trocamos beijos e caricias, disse-me que entrasse e que me sentasse no sofá em frente ao computador que estava ligado à minha espera, começou então a tocar a música Elle dos Sniper no computador, quando ouço a letra que dizia – “estas pequenas rimas são pra ela, pouco importa a sua origem; só preciso do essencial; é para aquela que deus me destina; ela, a que partilhará a minha vida; ela, a que dará vida; terá levado o fruto da nossa união; ela, com quem a minha relação; será sã, o meu destino estará ligado ao dela; a que me faz falta, a que me deixa louco, dela; as nossas vidas são paralelas, só vejo através dela; a que não gosta do superficial; bela ao natural, aquela por quem mataria, ela; aquela a quem serei fiel, tomarei conta dela; aquela por quem tentarei ser um marido modelo ela; chamem-lhe senhora, tem a aliança no dedo; é a mãe dos meus filhos, eu sou ela e ela sou eu; é ela não uma outra, é ela e é a: mulher dos meus sonhos, mas ela não existe; ela saberá acalmar a minha fúria e o meu ciúme; os seu olhos serão sinceros, a sua voz uma poesia; ela será a minha mulher, serei o seu homem; amaremo-nos a se morder na maça; ela será a minha força, como a minha fraqueza; e adormecerá sobre o meu peito, ou as minhas caricias; serei o seu rei, ela será a minha rainha; ela será uma parte de mim, será a que eu amo; e então farei-lhe um filho; com ela verei passar o tempo; ah… não terei mais medo de envelhecer; quando ele ou ela a chamarem mãe; quando ela responder meu filho eu te amo tanto; ah… não terei mais medo de morrer; dizem que toda a gente tem a sua alma gémea; então se ela me esta a ouvir estendo-lhe esta flor; foi tudo que consegui colher; não, não falo dessas raparigas fáceis, de mulheres objetos; dizem eles, voláteis que te vão esponjar o ordenado; antes dessa rapariga e parceira dos meus projetos; pouco frágil desta carta é o sujeito; sabes o tema é ela, mas direi tu; tu és bela, irreal, chamo-te, onde estas; encontrada por acaso, talvez ao início; por uma noite, meses, anos, uma vida, quem sabe; e sonho dos seus lábios brilhantes; esses que me desarmam, que me falam; que me encantam, que me atormentam; um corpo de mulher que enlouquece, que aquece; não quero saber o que se trama, gosto de tudo que encarnas; e gentileza e paciência, se uma relação estável; durável, pois os meus pais não tiveram essa sorte; doçura de fogo, viver a dois, eu quero, ser feliz; ou infeliz, desde que estejamos reunimos perante deus; então se o teu coração bate por alguém, no momento que ouvires isto; é altura de pegares no telefone e de lhe ligar ou se está ao teu lado de te chegares junto; dela ou dele, percebes o que quero dizer, sim? Porque vês, deus meteu-nos nesta terra para partilhar amor, não balas e dinheiro, só amor.” – E foi exatamente o que ele fez, pediu-me que lá fosse, e abraçou-me sentado naquele sofá que outrora servia para jogarmos cartas em família, enquanto eu me emocionava com as palavras que ouvia ele dizia que queria ficar comigo, o meu corpo ficou sem reagir só sabia explodir de felicidade e partilhar com ele momentos ao invés de palavras.
Nessa altura eu usava dois anéis de borracha no anelar da mão direita, um preto e um branco, como um yin-yang, eu guardei o branco que representa o homem e ele passou a usar o preto que representa a mulher. No dia em que ele me pediu para usá-lo disse que o ia deixar na mão esquerda mas percebia que o meu fosse ficar na direita.
–Não estás preparada ainda para me tratares como se fosse teu homem, eu compreendo. Mas tu és a minha mulher e já não quero mais nenhuma.
Passamos assim a usar os anéis em mãos diferentes, mas desde que nós soubéssemos que estávamos juntos era tudo que importava, não mudava nada que mais ninguém soubesse. Foi então que passou o resto do verão de borboleta preta e cinzenta pregada no seu chapéu de palha e de anel que representavam uma parte de mim. A nossa relação estava definida, passei a chama-lo de namorado e a gostar quando ele me chamava de femme, começamos a ir para a praia sozinhos todas as manhas, mas as tardes eram complicadas de escapar e tínhamos de levar sempre alguém.
Estava uma tarde de calor e quando me apresso para sair de casa e sentar no carro de Bóris, eis que a minha mãe havia convidado o Miguel a ir connosco para o rio que já nos esperava no lado de fora. Nesse dia Bóris teve de levar no seu carro a minha mãe e a sua avó, enquanto eu ia com Miguel e as crianças, Gabriel e Afonso, Gabriel que estava a par de tudo mostrou o seu descontentamento e tentou apoiar-me para que não transmitisse a raiva que estava a sentir. Bóris teve de ser forte para ultrapassar essa tarde, com a minha mãe sempre a tentar casar-me com Miguel, Bóris levantou-se da toalha com a sua Super Bock e desapareceu com a corrente sentado no seu sofá insuflável, e durante esse tempo eu fiquei de mãos atadas sem puder reagir. Tentei manter a distância o mais que pude de Miguel mas ele era insistente e como se tivesse percebido o que se estava a passar esteve mais próximo de mim do que o habitual.
Quando Bóris voltou não pude deixar de notar nos seus olhos brilhantes e contrariados, irritei o mais que pude para que aquela tarde acabasse cedo e fossemos para casa, e ao ser irritávelmente convincente fomos embora antes que ele se magoasse ainda mais, pedi-lhe desculpa o quanto pude, mas a verdade é que ele conhecia a minha mãe e depois de tudo que ele viu a esposa do meu irmão passar não ficou magoado comigo.
Era a sua borboleta e por mim no fim do verão pediu desculpa à avó pela confusão que havia gerado com o seu tio no mês de Julho como se tivesse sido culpa dele a discussão que tinham tido, pediu-lhe para que pudesse ficar perto de mim. Com a ida dos familiares para a terra ia ser difícil para ele suportar a estadia com a sua avó depois de toda a confusão, era difícil partilhar o espaço com ela sempre a barafustar e a recapitular o sucedido quando ele nem podia contestar.
Com a aproximação do regresso às aulas tínhamos de aproveitar o sol até ao último momento, estávamos no rio como era habitual, passamos a tarde deitados na mesma toalha sem que a minha mãe desconfiasse, como estávamos a jogar uno tínhamos de estar perto. Os dias de verão já não eram tão quentes como costumavam e o frio acercava mais cedo que o usual. Ao longe avistavam-se três amigas da Carla, quando vi nem queria acreditar, certamente teria acontecido alguma coisa, quando Bóris as viu olhou para mim estupefacto e confuso, levantou-se e foi ver do que se tratava, dirigiu-se às toalhas dizendo:
-Querem falar comigo sobre a Carla. – O seu olhar fixo no meu, o meu medo transpareceu.
–Vai lá falar com as raparigas! – Diz a minha mãe muito confiante de que iam reatar a relação. Mesmo assim ele continua imóvel como se esperasse uma palavra minha de negação.
–Vai lá, estão à tua espera! Não acredito que vieram atrás de ti! – Dito isto ele baixa o olhar e levanta-se levando consigo as suas coisas, também nós fomos embora naquele instante. O meu olhar não deixava dúvidas de que não aprovava aquela situação, passei a viagem até casa a olhar pela janela do carro e a ouvir a minha mãe planear para que voltassem a namorar e a serem felizes.
Ainda antes de jantar batem à porta e quando abro eis que estava postado diante de mim com olhos brilhantes e aspeto que me intrigou. Logo ia saber o que se tinha passado naquela conversa, só conseguia pensar que não queria ouvi-lo dizer que ia voltar para ela, não queria ouvi-lo dizer que me tinha de deixar.
Autor(a): rainhadossonhos
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