Fanfics Brasil - 1 Laços de Sangue 2

Fanfic: Laços de Sangue 2 | Tema: Primeiro Amor


Capítulo: 1

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2022


É inverno, e aqui estou sentada neste sofá de mil quatrocentos e quarenta e cinco euros, enrolada neste cobertor de pêlo castanho, quente e por sinal bastante fofo que combina na perfeição com o couro branco. Portátil, telemóvel, televisão, o mais recente livro de romance e um copo de vinho tinto, check. Tenho tudo pronto para mais um sábado à noite.


Começo por ler mais um capítulo envolvente sobre duas pessoas que se conhecem, apaixonam-se e eventualmente ultrapassam todas as dificuldades e acabam por ficar juntas no final do vigésimo terceiro capitulo, estas poucas linhas que vou lendo fazem a minha imaginação viajar e sinto-me então pronta para deixar o livro de lado e começar a trabalhar na minha próxima exposição.


Com o portátil nas pernas começo a ler alguns e-mails de recentes artistas que me enviam as suas obras para que eu avalie e eventualmente lhes dê um espaço na minha galeria. Estou tão envolta em algumas das imagens que observo que nem me dou conta das horas a passarem, sou repentidamente chamada a atenção pela voz do matt pokora que canta como sinal de que me estão a ligar, num instante agarro o meu Nokia Lumia para ver o rosto da minha melhor amiga Benedita estampado no ecrã, olho para o relógio e são duas da manhã, o que poderia bem ter acontecido.


- Estou sim? Está tudo bem para me estares a ligar a estas horas?


- Preciso da tua ajuda, os gémeos estão cheios de febre e preciso que venhas comigo ao hospital, o Tiago tem de ficar com a Inês e a Laura, eu sei que estás ocupada, cheia de trabalho mas a Elisa não me atende o telemóvel.


- Claro que vou contigo, vou só vestir qualquer coisa e já aí estou!


Nem pensei um só segundo na exposição que tinha de preparar, levantei me do sofá sem arrumar absolutamente nada e corri para o quarto onde vesti as primeiras calças e sweater que estavam no armário, calçei as minhas vans rasgadas dos lados mas que eu não me desfazia delas por nada no mundo, eram o meu calçado da sorte. Fui a correr para o carro que estava estacionado na garagem e foi num instante que cheguei ao outro lado da ponte Eiffel para pegar na Benedita e nos gémeos na sua magnífica residência no condomínio privado do Cabedelo, foi também num instante que voltei a passar a ponte Eiffel até ao Hospital. Estacionei o carro perto e fomos a correr para as urgências que para pouca admiração estavam aglomeradas.


- Obrigada por teres vindo, eu não te incomodaria se não precisasse mesmo Joana!


- Estás doida ou quê? É o meu afilhado e mesmo que não fosse, somos amigas e para além disso sou a minha própria dona portanto se não tiver uma exposição pronta para este domingo tenho para o próximo, não são alguns euros que me vão fazer diferença.


- Sim isso eu reparei, notaste que deixas-te o carro em sitio de multa não notaste?


- Isto é uma emergência!


Esta banal troca de palavras serviu para aliviarmos um bocado a preocupação e sorrir, coisa que sempre acontecia connosco, por pior que fosse o momento arranjavamos maneira de nos animarmos uma à outra. Continuo a tentar contactar a Elisa para a avisar e finalmente ao fim de dez tentativas ela acaba por atender.


- Sim? O que se passa para ter tantas chamadas vossas? Ahahahah pára Diogo!


- Oh meu deus não acredito que estiveste este tempo toda ocupada, com isso!


- Pois vida de casada, temos de aproveitar a madrugada que os filhos estão a dormir. Nem todos podem fazer sexo a qualquer hora do dia como tu!


- Peço desculpa se estou solteira. Bem seguindo o assunto do telefonema estou nas urgências com a Benedita e os gémeos, não te preocupes que já estão a ser vistos mas era para saberes por causa do Tiago.


- Claro Joana, ainda bem que ligaram, eu vou já para aí.


- Só se poderes mesmo! Até já então.


- Sim sim até já.


Começam a passar os minutos e a Benedita que não sai por aquela porta, os nervos começam a tomar posse do meu corpo e não consigo parar de andar de um lado para o outro naquela minuscula sala de espera. Até que enfim um rosto conhecido, Elisa entra pela porta com ar preocupado e estafado, a minha emoção transborda dos olhos e abraçamo-nos em lágrimas enquanto os nossos afilhados estão com a nossa melhor amiga sem contacto por horas.


Nunca me senti bem em hospitais e desde o verão de 2019 que evito entrar neles, principalmente na secção Urgências. Já se passaram três anos mas cada vez que aqui estou é como se revivesse aquele momento uma e outra vez, é como se conseguisse sentir exatamente o mesmo que senti quando entrei pela aquela porta amarrada à maca que trazia a minha avó deitada, consigo sentir a angústia, o medo, a revolta a tristeza consigo sentir absolutamente tudo. Volto a ouvir as palavras do médico "Lamento" e volto a ouvir as lágrimas e gritos de desespero da minha mãe. O meu olhar continuava vidrado e vazio até que a Benedita passa pela porta com o Tiago e o Gabriel um em cada mão, tinham três anos e o Gabriel foi a melhor coisa que a Benedita me podia ter dado naquela altura tão sombria da minha vida.


São quatro da manhã e já não estou com disposição para rever os emails que recebi, tiro a roupa e deito-me na cama e é como se o meu corpo todo me agradecesse por finalmente estar a repousar, ele e os meus olhos são a prova de que estava exausta, mas a minha mente por vezes gosta de me pregar partidas, e parece que esta noite era uma dessas noites em que os meus olhos começam a arder e o meu coração começa a doer e quando dou por mim estou deitada em conchinha enrolada nos cobertores com lágrimas a molhar-me o rosto. 



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Autor(a): rainhadossonhos

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