Fanfic: Laços de Sangue 2 | Tema: Primeiro Amor

O meu corpo congelou neste momento neste sitio, a cerimonia parou e deparo-me com os olhos de toda a gente postos em mim, olho para o Boris e lá estava ele com o seu rosto vermelho, ansioso, rosto de quem está à espera de salvação e acabou de ser salvo pelo gongo.

- Desculpem a minha cunhada bebeu um bocado não está muito bem, eu preciso de ir ao WC.

- WC Joana?

Até a Sylvie intervem agora, mas o que é isto, alguma evolução de quem me consegue embarassar mais. A noiva está furiosa e a sua futura sogra prolongar o atraso no casamento não facilitou nada.

- Joana como Joana do teu código de barras?

Ok isto ficou negro, só quero um buraco para me poder enfiar.

- Peço desculpa me ter levantado não vim mesmo aqui para acabar com isto, só preciso sair. Desculpem, Boris desculpa.

Ao dizer estas palavras  "Boris desculpa", percebi o motivo pelo qual pedia desculpa e não era de certo por interromper o casamento, fiquei ali parada a olhá-lo nos olhos, deparamonos colados num olhar como da primeira vez no jardim.

- Ninguém vai dizer nada? A sério? Vão deixar esta palhaçada continuar?

- Marisa senta-se e cala-te.

- Não Kali, chega, quando ela tinha dezassete vinte anos até podia perceber e fiquei calada mas já tem trinta e não veio à França para ver este casamento continuar. Passei dias a ouvir os dois falarem um do outro, e tu próprio disseste que eles iam ficar juntos. Passou muito tempo é certo mas se não fossem para ficar juntos explica-me porquê que ainda estão os dois solteiros.

- Eu quero que vocês saiam do meu casamento agora!

Estava tão envolta no discurso da minha cunhada, tão emocionada e presa naquele olhar que parecia concordar comigo e com tudo que era dito que estas palavras da noiva, seja qual for o seu nome, chegaram como uma faca no meu peito. E o Boris continua ali parado como se não tivesse o que dizer. Estou furiosa, magoada quando cheguei aqui não tinha intençao de dizer ou fazer nada mas aquela presunção toda deu-me coragem de mexer as pernas em direçao ao altar. Posso sentir a pressao na igreja, as pessoas estão todas a imaginar o que vou fazer, vou beijar o noivo ou bater na noiva. Estou a uns centimetros razoaveis para o que vou dizer ter impacto e pra poder sair rapidamente daquele sitio.

- Desculpa Boris.

-Sai daqui.

- Oh tu ta calada, que estou a falar com o meu primo, e é se ainda te queres casar hoje.

- Desculpa não por ter feito esta pausa enorme no teu casamento, acho que no fundo foi para isso que quis vir - Apesar da minha voz suar trémula nunca tive um discurso tão sincero e forte na minha vida- mas sim desculpa por te ter deixado entrar no carro em 2009, desculpa por ter deixado a minha mãe tomar controlo da minha vida e deixar de te enviar cartas em 2010, desculpa não ter conseguido agir como devia em 2011 quando apareceste com a tua namorada, eu arranjei um namorado, desculpa por em 2012 não ter mostrado que ainda te amava quando passaste a noite toda a olhar para mim na mesa do café, desculpa por não te ter beijado no carro da Benedita em 2015 mas tinha namorada e sentias a falta da filha dela, desculpa por em 2019 não ter reagido melhor quando a minha mãe entrou no quarto, e desculpa por há duas semanas te ter deixado entrar naquele avião sem dizer que não queria que te casasses.

Dou-me conta que revelei alguns factos que provavelmente a sua futura mulher desconhecesse mas porra que seja homem que lide com isso. Dou meia volta rumo à porta onde tenho o meu irmão e a minha cunhada abraçados perdidos de riso, mas um riso de orgulho por finalmente ao fim de doze anos ter conseguido falar o que sentia. Viro-me para o altar um último instante e reparo que o Boris já se esqueceu que tem uma noiva ao lado dele furiosa a discutir a pedir satisfações, reparo que está um Boris ausente perdido nas memórias vidrado em mim.

- Não quero que cases, não com ela, nem com ninguém que não seja eu.

Viro-me decidida a ir embora de vez mas sou parada por uma voz.

- Queria que dissesses isso quando te fui ver a Lisboa.

- Queria que não a tivesses pedido em casamento.

E saio sem esperar para saber se casa se não casa. Eu fiz o que podia, o que sabia. Dependia dele, no fundo sempre dependeu.

Estou com a minha fiéis amigas no SPA da Benedita, após um tratamento completo do corpo podemos relaxar à beira da piscina, desde que viram o video do casamento que não falam de outra coisa, estão convencidas que foi um dos meus melhores discursos. Ficaram orgulhosas de mim por ter tido coragem de meter os meus sentimentos para fora.

- Sim pronto já chega. A esta hora devem estar em lua de mel.

- Acreditas mesmo que casaram depois desta cena.

- Oh Elisa não sei não é, estou aqui, sozinha não estou.

- Dúvido é que ela casasse com ele depois de tudo que descobriu.

- Não vamos estragar esta tarde de ralaxamento com problemas.

Estaciono o carro na garagem e quando chego perto da porta de entrada ali está ele, à minha espera, sinto-me a sofucar, paralizada sem saber o que falar.

- Então...

- Então...

- Já acabou a lua de mel?

- Sabes muito bem que não casei.

- Esperava que não mas não sabia que não o tinhas feito.

- Saí logo a seguir a ti mas vocês desapreceram, e tive de esclarecer as coisas com a Joana.

- A sério? Joana?

- É mais fácil explicar uma tatuagem se pensarem que é sobre elas.

- Ok. É isso que fazes comigo então?

- Sabes muito bem que a fiz quando me deixaste.

- Sei, eu vi.

- Não devia ter entrado naquela igreja sem ti.

- Pois não devias. Se bem que tive uma saída marcante.

- Achas que podes falar à tua mãe desta vez?

- Desta vez posso porque não me interessa o que ela vai pensar.

Estou à espera que ele diga que me ama e me beije e em vez disso ajoelha-se e tira do bolso uma caixa que contém um solitário que marcava a data de 2009, ainda nem abriu a boca e eu já tenho lágrimas a encher-me os olhos.