Fanfic: Laços de Sangue 2 | Tema: Primeiro Amor

2019

Estou exatamente na mesma posição com os mesmos sentimentos apenas numa cama diferente, num quarto diferente, numa casa diferente e num ano diferente.

Tinham passado dois dias desde que com dificuldade consegui tirar a minha mãe daquela urgência, era o terrivel dia do funeral. Estava tudo em casa dos meus avós e eu não me conseguia levantar daquela cama que me tinha apoiado quando criança e quando adolescente, sentia-me tão bem na minha cama de solteira, naquele quarto que guardava as minhas melhores recordações. A Benedita e a Elisa estiveram lá o tempo todo, terei de agradecer aos maridos mais tarde por ficarem com os filhos enquanto elas estão a tentar tratar de mim, mesmo eu estando trancada no quarto sem querer ver ninguém elas lá ficaram no sofá, a bater à porta de vez em quando a tentar convencer-me a sair.

Acho que o que eu mais temia não era o sofrimento que ia ser mas era ver a familia em lágrimas mesmo quando estiveram anos sem se importar. Acho que aquele fingimento todo é que me revoltava mais e como sempre fui uma grande boca queria evitar confusões naquele dia. Bateram uma vez mais à porta.

- Quando for a hora... eu saio mas... agora não.

- Não quero que saias, quero entrar.

Aquela não era a voz de nenhuma das minhas amigas, era uma voz masculina que eu conhecia perfeitamente, era a voz do amor da minha vida.

Precisei de alguns segundos para processar mas não era admiração vê-lo no funeral afinal de contas as nossas avós eram irmãs. Com dificuldade me levantei e sem pensar tive a coragem que precisava para abrir a porta e sem se demorar entrou ainda antes que eu dissesse alguma coisa voltou a fechá-la e quando me dei conta estava envolta nos seus robustos braços desfeita em lágrimas e ranho.

Era como se a tristeza tivesse toda a desaparecer, parecia que estavamos ali há uma eternidade.

- Desculpa Boris, sujeite a camisola toda.

- Eih não quero ouvir isso, não hoje! Não vamos fingir que somos apenas dois primos! Hoje não.

- Abraça-me!! - Digo isto entre soluços e mais lágrimas.

Parecia um poço nos meus olhos, acho que só naquela altura é que tive noção da quantidade de água que conseguiamos deitar fora do corpo. Mas o mais importante é que ele esteve lá para mim, sem dizer nada, o que bastava era o que eu precisava, depois de eu ter dito para me abraçar levou as minhas palavras muito à letra e não me soltou o resto do dia. Mesmo quando saí do quarto para abraçar as minhas amigas ele esteve, consegui sentir o seu olhar, o seu calor através de tudo.

O dia acabou e ele voltou para onde pertencia, de volta à França, de volta à sua vida e eu fiquei de volta à minha, foquei-me na minha galeria e nas exposições que tinha previstas, tentei apoiar a minha mãe mas era dificil estar naquele quarto e naquela casa, falamos casualmente, quase nunca e os anos foram passando.