Fanfic: Laços de Sangue 2 | Tema: Primeiro Amor
2022
Parece uma miragem nem consigo acreditar que está em Portugal, que está na minha exposição.
- Quem o convidou?
- Fui eu, desculpa mas foi antes de saber que se ia casar.
- Foda-se Benedita. Não consigo fazer isto agora.
- Nós vimos a carta dele e pensamos que era uma boa notícia.
- Ok Elisa, eu não estou chateada só não consigo, é a minha exposição é o meu trabalho. Acho que estou a ter um ataque de pánico.
- Joana, conheço-te há anos! Não tens medo de filmes de terror, tens uma carreira de sucesso que ninguém acreditou que ias ter. Ele não te afeta assim tanto.
- Olha que isto vindo do meu marido tem de ser sentido a dobrar.
- Ya, eu e o Tiago sempre tivemos uma relação diferente. Mas tem razão é a minha noite, é a minha galeria. Não a merda do casamento dele.
Para minha admiração as minhas pernas começam a mexer-se e aqui estou eu a ir rumo a esta droga.
- Boa noite Boris, não estava à espera de te ver por aqui, estranho.
- Boa noite, pois as tuas amigas disseram-me e como precisava de falar contigo, aqui estou eu.
Bem já não me lembrava de o ver assim inconfortável desde aquela noite em 2009 quando fui à casa dele despedir-me.
- Eu agora estou um bocado ocupada mas se ainda estiveres por cá amanhã ou em Viana podemos nos encontrar.
- Eu amanhã já volto para França só vim mesmo porque preciso de falar contigo. Posso esperar que isto feche?
- Hummm vai ser um bocado tarde mas podes claro. Agora desculpa-me mas tenho trabalho. Fica à vontade.
Virei costas sempre com boa postura, consegui chegar à casa de banho e perco o controle. Porquê que lhe disse para esperar por mim? Mas ele veio de propósito o que será que quer falar comigo. Recomponho-me e continuo a minha noite no melhor que consigo. Não consigo deixar de reparar no Boris ali parado com o olhar preocupado, quero saber o que se passa, já não o via com aquele olhar desde a noite no jardim ondem reparamos que sentiamos mais do que um amor de primos um pelo outro.
2009
É dia de semana mas é verão estamos de férias então vamos à feira do livro com a minha mãe e avó dele, que lhe dá casa. Estranho como ele passa mais tempo connosco a fazer estas coisas aborrecidas do que com a namorada. Estamos sentados no banco enquanto elas dão a volta às bancas, ele sempre acompanhado de uma garrafa de água de litro e meio que na verdade continha era rhum com coca-cola.
Começamos com conversas banais e no meio de tanto riso somos interrompidos por aquele estupido momento em que o riso começa a desvanecer e tudo que resta é a expressão e o sentimento de desejo fixado num olhar.
Ele está mesmo vidrado em mim e eu começo a sentir-me um bocado desconfortável, não sei bem o que pensar ou sentir, estou com calores, só espero não ter o rosto vermelho de vergonha.
Uma voz masculina que chama por mim interrompe este nosso momento, finalmente, não era a voz que eu esperava ouvir mas fico agradecida. É um amigo da escola, mais que um amigo na verdade, andavamos ás vezes, e apesar do Boris não saber disso reparei na sua postura que ficou cheio de ciúmes, o que me fez sentir bem, eu gostei que ele tivesse ciúmes meus. Não devia gostar que um primo tivesse ciúmes meus. Mas gostava.
- Gostas dele?
- Não Boris, é só um amigo da escola.
- Amigo só? Nem nunca tiveram nada? Ele não olhou para ti como um amigo.
- E para que queres tu saber isso? Somos amigos, ponto! - O meu tom saiu mais autoritário do que tencionava mas não ia voltar com a palavra atrás.
- Porque ele pode ter ficado a pensar que namoramos. - com o seu meio sorriso traquina deixa-me sem resposta, abano os ombros e afasto-me murmurando.
- Como se fosse possível.
- O quê?
- O quê, o quê? - contra pergunto eu numa tentativa inutil de disfarçar o que tinha suspirado por entre os dentes. Boris começa a caminhar soltando gargalhadas de vitória, envolvendo o seu braço sobre os meus ombros e arrastando-me com ele nos seus passos deslumbrantes.
Já em casa preparei-me para dormir e quando pouso o telémovel na mesinha de cabeceira vibra ao receber uma mensagem, debrucei-me cheia de preguiça para ver o remetente e era do Boris, virei-me com a intenção de dormir e ler na manhã seguinte ao acordar.
Mas não consigo parar de dar voltas, tenho de ler e saber o que ele quer, pode ser importante, mas tenho de dormir, fffffffff não aguento. Debrocei-me mais uma vez para pegar no telemóvel e vi a sua mensagem.
"Até que era possivel Joaninha. Hoje percebi que talvez fosse possivel. Boa noite e dorme bem, bisous bisous"
O que foi isto? Eu devo estar a imaginar com certeza, não estamos a falar do mesmo, somos primos quer dizer, e ele tem namorada, o melhor é parar de pensar e nem responder. Isso foi o que tentei fazer mas o meu subconsciente não me deixava em paz, dei ainda mais voltas na cama depois do que antes de ler o que tinha recebido. Eu tinha de responder mas escrevia e voltava a escrever.
"Aconteceu qualquer coisa naquele banco é verdade, e é verdade que eu não gosto de me separar de ti mas tens namorada e somos primos"
Não posso enviar isto, apaguei o que tinha acabado de escrever e comecei a escrever uma nova mensagem, bem mais abstrata como se não estivesse a perceber a conversa, tentei disfarçar mas parece que foi em vão.
"Era possivel? Estás a falar de quê Boris? Acho que a tua garrafa de água te fez mal."
"Eu ouvi o que disseste murmurando sobre sermos namorados, não penses que não ouço tudo que tu dizes. Vai dormir que amanhã cedo estou aí para irmos à praia. Bisous bisous"
"Oh tens namorada e somos primos. A minha mãe também vai não é como se tivesse escolha, ela acorda-me!"
"Tive namoradas antes desta também. Até amanha. Dorme bem. Bisous bisous ma Joaninha"
"Até amanhã Boris, dorme bem, Beijo beijinho"
Joana, o teu primo, o teu eterno homem de sonho, o rapaz que sempre desejaste desde que começaste praticamente a andar acabou de dar a entender que gosta de ti? Ah cabeça pára com isso, não quero falar aqui sozinha como uma maluca. Enquanto me entrouxo nas mantas e rio, a minha cabeça vai tendo uma discussão silenciosa com os restantes orgãos do meu corpo.
Continuo a encarar o teto do meu quarto escuro até que fechei os olhos e quando os voltei a abrir os raios solares que entravam pelos buracos da persiana me iluminavam a peça e a minha mãe abre a porta mesmo a tempo de me impedir de enviar uma mensagem.
-Bom dia, vens connosco à praia?
-Bom dia mãe, posso ir, já estou acordada e já por isso posso ir. Está calor?
-Está bom, vestete!
Pulei da cama e olhei para o espelho que estava postado diante de mim, estava com os olhos radiantes e acho que em dezassete anos nunca tinha acordado com tanta vontade de ir para a praia.
Vesti-me, penteei o cabelo e prendi-o num rabo de cavalo castanho e russo nas pontas, as minhas famosas californianas naturais abanavam em torno do meu rosto quando baloiçava a cabeça e quando saí do quarto já tinha visitantes em casa. Fui recebida na sala por um sorriso contagiante, caminhamos em direção um do outro até que congelamos no meio do corredor da sala, ergui a cabeça e segurei-me com as duas mãos naqueles braços robustos para lhe poder dar dois beijos, enquanto me concentrava para não demonstrar demasiado afeto as mãos dele começaram a deslizar pelo meu corpo deixando uma no meio das costas a fazer pressão sobre a minha coluna vertebral e a outra a enrolar os dedos nas minhas pontas loiras, debruça-se sobre mim e cola os seus grossos lábios sobre a minha bochecha esquerda com a sua barba a picar-me os lábios, repetiu o mesmo movimento na bochecha direita, e desta vez o meu fino lábio inferios pôde sentir a picada formiguenta que o seu bigode provocou. Senti um arrepio incontrolável, e isso deixou-o satisfeito.
-Bom dia Joaninha, estás com frio?
-Ah ah, que engraçadinho - dou-lhe um ligeiro soco no braço - pára de te rir! Bom dia PRIMO! - fiz questão de acentuar esta última palavra mas mesmo assim ele simplesmente não parava de rir. Os nosso olhares não descolavam, com os nossos lábios quase a tocarem-se as minhas pernas tremiam e os meus olhos ardiam, até que uma porta a bater ativou os nossos músculos e a abanar a cabeça como em modo de negação ficamos com vinte centimetros de distancia pelo menos entre nós, numa fração de segundos nem o cheiro um do outro conseguiamos sentir.
-Pronto podemos ir! - A minha mãe interrompeu um possivel beijo e senti-me tanto aliviada como frustrada.
-Sim vamos! - Quando dei por mim já estava na porta do carro pronta para entrar, saí de casa como um furacão, parece que a frustração que senti por não nos termos beijado era maior que o alivio de estar longe dele.
Sentados no banco de trás foi uma viagem constrangedora, trocavamos olhares pelo canto do olho e eu sentia o meu rosto ficar cada vez mais quente e vermelho e o rosto dele cada vez mais preocupado, intrigado, o meu coração estava tão acelerado que parecia que ia sofrer um ataque cardiaco.
Chegados ao areal era como se nada tivesse acontecido, deitamo-nos lado a lado, brincamos e jogamos cartas, agimos como habitualmente, parecia que nem tinha acontecido nada, o que me deixava ainda mais irritada. Mas a verdade é que não tinha acontecido mesmo nada, se calhar ele nem me queria beijar, com aquela idade se quizesse teria-o feito certamente.
Estavamos em meados do mês de Junho e os meus dias restringiam-se a estágio durante a semana, praia e escuteiros ao fim de semana, passava dias sem ver o Boris, sobretudo depois que a namorada ficou de férias, mas era uma coisa boa, mentalizei-me que tinha sentimentos ilusórios e que apenas gostava da companhia dele, um primo com quem me dava bem e que me apoiou na pior fase da minha vida, até à data.
Sinto falta de jogar às cartas, acho que sinto falta do meu primo e de poder conversar com ele abertamente.
Autor(a): rainhadossonhos
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