P.O.V Anahi
Já era mais de duas da manhã quando o toque irritante do meu celular fez com que eu acordasse. Revirei na cama umas três vezes tentando ignorar o infeliz que me ligava. Ao verificar o número acabei bufando.
- Pai, por acaso você tem alguma ideia de que horas são aqui em Nova York? - Perguntei esfregando os olhos e o praguejando mentalmente.
- Muito tarde? - Ele chutou com uma risada rouca que me fez revirar os olhos.
É claro que meu pai não fazia a mínima ideia de que horas eram aqui já que ele estava naquele inferno de país que era o México. O que eu não entendia de forma alguma já que todos os nossos negócios eram fechados nos Estados Unidos. Ninguém queria se casar naquele calor dos infernos que era o México.
- São duas da manhã papai. - Disse com a voz arrastada. - Que horas são aí na sua terra?
- Seis e meia da manhã, acordei bem cedo hoje.
- Isso faz muito bem pra sua saúde. - Disse num bocejo, calçando meus chinelos e levantando da cama. Não iria conseguir voltar a dormir tão cedo, o jeito agora é comer alguma coisa e assistir um noticiário qualquer pra me manter informada.
- Não comece a falar da minha saúde Anahi Giovana. Eu estou mais do que bem. - Ele reclamou e eu revirei os olhos. Pegando meu pote de doces e me jogando no sofá.
- Só se mais do que bem na sua língua significar exausto e estressado, porque é assim que você está! - Pude ouvi-lo bufar do outro lado da linha. - Sabe muito bem que seu médico te mandou tirar férias para relaxar e focar no seu bem estar. Sabe que eu dou conta dos negócios.
- Você sabe que meu problema é a sua mãe. - Ele disse e eu não pude deixar de revirar os olhos.
- Ah a mamãe... ela não dá uma trégua pra mim! Sabia que no último casamento ela colocou um espião no meio dos convidados só pra ter certeza de que eu estou fazendo tudo certo? Aquela mulher é paranóica! - Reclamei me lembrando da situação e enchendo minha boca com doces. Ele soltou uma risada e eu acabei rindo também. Eu sentia falta dele.
- Você é ótima no que faz Any! - Ele disse massageando meu ego. - Foi exatamente por isso que te liguei.
Quase cuspi todas as balas que eu tinha colocado na boca.
Eu tinha acabado de planejar a conduzir o casamento de um magnata californiano. Eu não tenho condições para sequer pensar em fazer outro desses novamente. Meu pai é o chefe dos negócios, mas minha mãe é a administradora, ou seja, ela praticamente ferra com a minha vida levando em conta que tudo que eu faço nunca é bom pra ela. Minha mãe prefere qualquer outro cerimonial do que a mim e vive me enchendo de obstáculos quando tenho que fazer algo grande, sempre colocando defeitos, mesmo que o cliente tenha adorado. Foi por isso que quando completei dezoito anos eu desisti de agradá-la. E hoje com vinte e três me esforço pra desagradar.
- Pai eu fiz um casamento enorme, eu preciso de uma pausa, uma folga, férias ou qualquer coisa do tipo. - Reclamei fazendo bico como se meu pai fosse capaz de ver!
- Any escuta a proposta primeiro. - Ele disse deixando a empolgação tomar conta da sua voz, o que me fez franzir a testa. - Se você não quiser eu passo pra outro cerimonial, mas esse eu queria que você fizesse! Escuta primeiro filha... - Ele dizia tentando me persuadir e soando cada vez mais animado.
- A filha do Obama vai se casar? - Perguntei rolando os olhos, aquela só podia ser a explicação de tanta empolgação. Meu pai só fica desse jeito quando tem muita grana envolvida. Porém quanto mais dinheiro mais trabalho.
- Não... - Ele disse com aquele ar de suspense e mais uma vez eu revirei os olhos. Revirar os olhos é quase uma mania, eu não sou muito tolerante.
- Então quem é pai?
- Dulce Maria Saviñon. - Ele quase gritou do outro lado da linha e eu literalmente cuspi todas as balas.
Aquela ruiva que ficou ainda mais famosa depois daquela novela e hoje canta em todo o mundo? Aquela que se assumiu para o mundo todo? Ela ainda estava com a mesma garota? Oh meu Deus aquilo era mais dinheiro do que eu poderia imaginar. Aquilo seria o casamento da década. Dulce Maria Saviñon, a cantora mundialmente e absurdamente famosa que iria peitar a sociedade e casar com uma mulher. Eu seria a cerimonial mais conhecida desse mundo. Cerimoniais do mundo inteiro dariam a vida por essa vaga e meu pai estava me dando de bandeja.
- Não acredito! - Não me contive e pude ouvir meu pai rindo.
- Eu sei, eu também não! - Ele riu, eu não conseguia processar aquela informação. - Vai querer ou não?
- É óbvio que sim! - Respondi quase gritando e meu pai me deu alguns pequenos detalhes sobre o que a assessoria de Maite Perroni, noiva de Dulce havia dito pra ele. Eu teria que falar com ela pela manhã. Me levantei do sofá e peguei meu bloquinho e uma caneta anotando o número de Maite. Não a conhecia muito bem, mas sabia o que todo mundo sabia sobre ela, de tanto a ver em manequins, fotos de lojas, desfiles e etc.
- Mas filha esse trabalho não vai ser como os outros. Maite quer que você se encarregue de absolutamente tudo! Da escolha da igreja, buffet, vestido, lista de convidados, de marcar uma coletiva de imprensa pra elas, um ensaio geral para o casamento e tudo que elas tem direito. Além de querer que você se dedique especialmente para Dulce, Maite vai estar ocupada. Ela quer que você fique ao lado de Dulce e auxilie em todas as escolhas. Você vai praticamente planejar todos esses três meses até o casamento.
Fiquei tensa.
Mas se tudo desse certo eu seria a maior e mais famosa cerimonial desse mundo. Fora que a clientela do meu pai iria triplicar, todo mundo iria planejar seu casamento com a família Portilla.
- Tô dentro. - Disse sem pensar muito, não tenho nada pra me distrair mesmo. Sem namorado e não estou estudando. Tudo daria certo, eu só precisava voltar toda a minha atenção para aquele casamento.
- Essa é a minha menina. - Ele disse orgulhoso. - Eu sabia que não ia me deixar na mão. - Acabei rindo - Bom querida tenho que desligar, me ligue assim que tiver falado com Maite.
- Tá, vou ligar pra ela de manhã.
- Te quiero niña.
- Te quiero Papa. - Disse com um sorriso e ele desligou.