Fanfic: Separadas pelo casamento | Tema: Portiñon

Nós continuamos deitadas na cama por um tempo indeterminável. A nudez já me incomodava e nós nos cobrimos com o lençol, mas sem nos levantar ou mudar de posição. Nossas mãos continuavam entrelaçadas. Eu me sentia exausta, mas ao mesmo tempo completamente satisfeita.

Dulce dormia tranquilamente com a cabeça em meu ombro e eu pensava que no que estávamos fazendo. Eu não queria mais sair dali. Não queria mais parar de sentir o corpo dela no meu, de senti-la em mim. Não queria ficar sem seu calor ou sem seu cheiro por nem um minuto sequer. Não queria sair do seu lado por nada nesse mundo. Mas da mesma forma que essas sensações que ela me causa me faça  sentia a pessoa mais certa do mundo, eu sabia que estava muito errada.

Talvez Dulce e eu já estivéssemos ido longe demais com isso, talvez devêssemos parar com esse acordo. Desde que ela me propôs isso, eu já sabia que não daria certo porque essas coisas nunca funcionam, nem mesmo nos filmes. E agora, eu não conseguia mais me afastar dela. Ela dormia encostada no meu ombro, parecendo um anjo. Eu estava um bagaço fisicamente mas minha cabeça me impedia de relaxar. Eu tinha que manter os olhos bem abertos e não só nessa situação, eu tinha que manter os olhos bem abertos até Dulce se casar.

A única coisa que eu não queria que acontecesse era que Maite descobrisse do nosso acordo. Eu não havia ideia do que ela era capaz de fazer e sinceramente, nem quero imaginar isso. Ela não parece o tipo de mulher que aceita um coisa dessas, ela iria acabar com o casamento e com a minha carreira.

Pra começo de conversa eu nem deveria ter entrado nesse acordo. Eu estava colocando o meu emprego, minha carreira e o nome da minha família em jogo. Dulce poderia reconquistar Maite, mas e eu? Levaria anos até que eu me restabelecesse novamente e isso se eu conseguisse. Ninguém iria me escolher para planejar seu casamento com medo. Por que eu não pensei bem antes de aceitar aquilo? Por que eu não fui embora no primeiro dia e não fiz tudo certinho como sempre fiz? Por que eu deixei Dulce se aproximar dessa forma?

- E aí. - Dulce disse levantando a cabeça. Levei um susto com seu movimento mas acabei rindo fraco. Ela me encarou com seus lindos olhos inchados por conta do sono e eu a encarei de volta, sorrindo. Me arrastei mais pra baixo um pouquinho e encaixei meu rosto na curva de seu pescoço, me sentindo extremamente confortável.

- Boa tarde meu amor. - Eu disse e ela apertou os braços em volta de mim, soltando um grunhido preguiçoso.

- Dormi muito? - Ela perguntou abaixando o rosto para me encarar e eu desci um pouco mais, deitando quase em seus seios e erguendo o rosto para encará-la.

- Nem tanto. - Murmurei contra sua pele e beijei sua clavícula.

- E o que ficou fazendo enquanto eu dormia? - Seu olhar era carinhoso e seu tom divertido. Apenas dei um sorriso fraco, não queria lhe contar a verdade, não queria lhe dizer que estava criando segundas opiniões sobre o nosso acordo e estava prestes a desistir de tudo. Fechei os olhos e balancei a cabeça.

- Só pensando. - Murmurei.

- No quê? - Dulce perguntou, insatisfeita com minha resposta.

- Em tudo. - Dei de ombros e voltei a abrir os olhos.

Quando o meu olhar se cruzou com o de Dulce, ela pareceu entender tudo o que se passava em minha mente. Mordi o lábio inferior nervosamente e me desvencilhei dela, voltando a deitar ao seu lado. Eu tentava cobrir o corpo nu como se Dulce nunca tivesse visto e aquilo parecia muito hipócrita, mas não era, eu só estava me sentindo vulnerável.

- Já sei que não pensou em coisa boa. - Dulce murmurou, acariciando meu rosto e eu dei de ombros, virando de lado assim como ela para que ficássemos de frente.

- Não é isso... é só que... - Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. - Eu tenho algumas dúvidas sabe? E sei que ela só vão ser respondidas quando você se casar.

- Isso não está muito longe de acontecer. - Ela rebateu.

- Mas até lá tem muito tempo Dulce. - Tentei argumentar. - Muita coisa pode acontecer...

Deixei aquela frase no ar, mesmo sabendo que Dulce sabia exatamente o que eu queria dizer com ela. Ela sabia que eu tinha medo do que podia acontecer, mas ela nunca soube de tudo. Eu tinha medo de me envolver e mais medo de Maite descobrir a porra toda. Ter a carreira arruinada por uma famosa seria muito pior do que me apaixonar por Dulce, até porque a última opção não é algo que se cogite.

- Exatamente, tem muito tempo até lá. - Dulce sorriu maliciosamente. Revirei meu olhos e Dulce colou os lábios nos meus num beijo rápido e tranquilo. Ela se aproximou de mim novamente e me puxou para si pela cintura por baixo do lençol. Acabei rindo com ela por entre o beijo por conta da nossa aproximação. Nossos corpos nus estavam colados novamente e eu adorava essa sensação.

- Não, Dulce! Para com isso...- Tentei soar séria. - Eu estava pensando em nós.

- Calma aí, nós? - Dulce riu sem humor e franziu as sobrancelhas me empurrando um pouco para trás. - Anahi, você sabe que não existe nós nessa história. Existe eu e você, transando quando dá vontade e nada além disso. - Franzi as sobrancelhas assim como ela, não pensei que ela me trataria dessa forma tão fria. Mas ela estava certa, não existia nós naquela história, eu devia estar ficando louca para pensar que existiria em algum dia e obviamente isso era perda de tempo, nunca iríamos nos envolver num futuro.

- Eu sei que não existe Dulce - Murmurei de volta.

- E por que ficou pensando nisso então? - Ela rebateu e eu bufei.

- Tenho medo de Maite descobrir e minha carreira iria por água abaixo.

- E é só com isso que você está preocupada? Com a sua carreira? - Ela perguntou enquanto me encarava.

- Sim.

- Só com isso? 

- É Dulce, só com isso. - Menti.

- Então relaxa, se ela descobrir eu dou um jeito dela não destruir a sua carreira.

- Fico imensamente grata.

- De qualquer forma, ela não vai descobrir. - Neguei com a cabeça e soltei um riso nervoso.

- Como pode ter tanta certeza?

- Porque eu não vou contar. - Ela arqueou uma das sobrancelhas. - Você vai?

- Eu não. - Fiz o sinal da cruz e Dulce riu, assentindo.

- Então ótimo, fim de discussão. - Acabei rindo junto e ficando mais tranquila, afinal de contas, não tinha muito o que fazer agora.

O celular de Dulce começou a tocar no criado mudo e ela teve que se inclinar para pegar. Atendeu com um sorriso no rosto, mas enquanto ia ouvindo e conversando com alguém que eu não conhecia, o sorriso foi desaparecendo aos poucos. Franzi a sobrancelha tentando adivinhar qual podia ser o assunto, quando Dulce pronunciou meu nome com uma certa preocupação. Sentei na cama com os olhos arregalados, sem nem me preocupar com a nudez.