Miguel
Enquanto espero Anahí sair do quarto,não consigo deixar de me sentir culpado. Eu não deveria estar louco para sair com ela.
Mesmo assim, estou. E não há como negar.
— Miguel? — ouço Anahí chamar. Eu me viro em direção ao seu quarto. Da sala de estar,posso ver a porta. Está aberta apenas o bastante para ouvi-la, mas não vê-la.
— Sim?
— Prometa que se eu deixá-lo constrangido com este vestido, você irá sem mim. Não vou ficar chateada. Juro.
— Anahí, não faz diferença. . .
— Prometa agora mesmo ou não vou sair de jeito nenhum.
Ela é teimosa? Hum. Por essa eu não esperava. Mas para falar a verdade,eu meio que gosto disso.
Eu rio.
— Certo, tudo bem. Prometo que se eu achar que você me causará algum constrangimento,vou sem você.
A porta se fecha e há uma longa pausa antes que se abra completamente. O que vejo me faz perder o fôlego.
Mia é mais alta que Anahí. Mais magra também. Mas Anahí é mais curvilínea. Bem mais curvilínea. E cada curva é realçada de forma absolutamente perfeita no vestido que ela está
usando.
Acho que já vi Mia nele antes, e ela estava linda. Mas não tão linda quanto Anahí.
O tecido é fino, quase transparente, em um tom escuro de vermelho. Ele esvoaça no ar que penetra o ambiente, quando a porta bate na trava, com um ruído surdo. Anahí fica parada e me permite avaliá-la antes de caminhar na minha direção. Eu prendo o maxilar com firmeza para
impedir que meu queixo caia, enquanto a observo. O tecido fino adere ao seu corpo conforme ela anda, delineando-o perfeitamente. Ela poderia estar nua.
Minha nossa! Como eu queria que ela estivesse.
Afasto o pensamento, sabendo que não vou conseguir avançar a noite pensando coisas desse tipo.
Pense com a cabeça de cima, cara! Pense com a cabeça de cima!
Ela para diante de mim, sua pele macia e sedosa. Seu colo e seus ombros nus brilham sob a luz fraca. Quero tocá-la, acariciá-la com tanta intensidade que fecho bem as mãos para mantêlas
sob controle.
— Você está linda. — O tom da minha voz parece tenso, até para os meus ouvidos.
Ela me olha, decepcionada.
— Está muito apertado, não é? Estou usando salto mais alto para deixá-lo no comprimento certo, mas não dá para fazer nada com o resto. — Posso ver que ela está realmente aflita, o que
me faz querer sorrir, mas me contenho. Seria a coisa errada a se fazer diante de uma mulher constrangida. — Mia é bem mais magra do que eu — diz, tremulando uma das mãos enquanto fala. — E eu simplesmente não tenho nada que...
Eu estendo o braço, seguro a sua mão agitada e encosto o dedo indicador da minha outra mão nos seus lábios.
— Shhh. — Ela para de falar imediatamente. Certo, eu poderia tê-la feito se calar de diferentes modos, sem tocá-la, mas imagino que isto seja melhor do que beijá-la, que é o que
realmente quero fazer.
Meu Deus, como quero beijá-la!
Preciso de alguns segundos para me concentrar em outra coisa, além do modo como seus lábios sensuais se abrem, levemente. Seria tão fácil deslizar a ponta do meu dedo entre eles,sentir o calor da sua boca, a umidade da sua língua.
Fico surpreso e irritado ao sentir minha calça apertar entre na virilha. Terei de ser supercuidadoso com esta garota. Não me lembro da última vez que alguém testou o meu controle
de forma tão intensa.
Na realidade, lembro sim. Foi a Libby Fields, com aquele vestido curto e justo na festa da escola, no nono ano. Eu tinha certeza de que se ela sentasse no meu colo e remexesse a bunda
mais uma vez, eu ia explodir como um vulcão.
Não explodi, naturalmente. Mas cheguei perto. E esta garota — esta contradição ambulante baixinha, curvilínea e sedutora —, está alcançando a posição da Libby Fields muito rapidamente.
E isso é muito sério já que estou com 25 anos, e não 14.
Pigarreio.
— Por favor, não diga mais nada. Você está linda. Nem nos sonhos da Mia ela ficaria tão linda neste vestido quanto você. Causarei inveja a todos os outros homens. — Sorrio para
enfatizar meu comentário.
Embora sua expressão não se torne inteiramente confiante, sei que ela se está sentindo melhor, quando pega o meu braço e afasta a minha mão. Posso ver a curva dos seus lábios tentando conter um sorriso.
— Jura?
— Juro.
— Jura mesmo?
— Juro mesmo. Apenas lembre-se de uma coisa: esta noite você é minha.
É de causar inquietação o quanto eu gosto de falar isto, de pensar nisto.
O seu sorriso se abre totalmente e ela solta meu braço para fazer uma saudação militar.
— Sim, senhor.
Eu adoro seu jeito brincalhão. Uma agradável diferença da Mia, que é sempre tão...bem... que simplesmente não é assim.
— É disto que estou falando — comento com um aceno de cabeça. — Uma mulher que sabe que o seu lugar é abaixo de mim. Ah, espere. Isso não soou muito bem — digo em tom de
provocação.
Ela ri.
— Não fico abaixo de homem nenhum! — responde Anahí de forma áspera. Em seguida, com ar sarcástico, acrescenta: — Pelo menos não sem um jantar e um drinque primeiro.
— Ahhhh, então não tem problema! Porque tem um McDonald’s bem do outro lado da rua.
Ofereço meu braço e ela o toma. Sei que é uma atitude ridícula e infantil, mas eu flexiono o bíceps, esperando que ela o perceba.
— Isso é tudo o que você precisa para ficar em posição de sentido? — Enquanto pergunta sugestivamente, ela desliza os olhos pelo meu corpo.
— Eu tenho 25 anos, estou concluindo um estágio num dos escritórios de advocacia mais influentes de toda Atlanta. McDonald’s nunca me deixaria assim. — Abro a porta e faço um
gesto para ela sair na minha frente. — Agora um olhar como esse que você acabou de me lançar...
Seu rosto assume um delicado tom rosado e ela abaixa os olhos timidamente. Isso me faz
querer rasgar aquele vestido com os dentes.
— Coronel, o que você está insinuando?
— Coronel? Uma saudação como essa e tudo que recebo é um coronel?
— Não sei. Você recebeu divisas suficientes para ser general?
Caminhamos lentamente até o meu carro.
— Depende de como você acha que alguém conquista as divisas.
Duas covinhas surgem de ambos os lados de sua boca, na tentativa de controlar o sorriso.
— Ah, acho que da mesma maneira que a maioria dos caras — replica ela, balançando a bolsa vermelha presa ao pulso, tentando agir descontraidamente.
— Gata, se esta é a sua definição, eu seria general quatro estrelas.
Ela cai na gargalhada. Posso dizer que não esperava que eu dissesse aquilo. Mas fico contente de ter dito. Ouvir a risada dela é como escutar a mais bela sinfonia.Fico um pouco desapontado quando chegamos ao carro. Eu poderia continuar andando,conversando e provocando-a a noite toda.