Miguel
Eu me afastei da Mia de propósito, para não ter que dar de cara com a Anahí . Além da possibilidade de destruir os meus planos completamente, essa garota também não merece os problemas que fazem parte da minha vida. Ela não pareceu muito chocada quando falei sobre o meu pai, mas isso é somente a ponta do iceberg. Bem, talvez não a ponta, mas é apenas uma pequena porção do caos que compõe a minha vida.Porém, como de hábito, Mia começou a ficar aborrecida e a exigir atenção; portanto, aqui estou, tentando acalmá-la durante o café da manhã. Dou uma olhada no relógio. Espero não dar de cara com a Anahí, de jeito nenhum. Se não me engano, lembro de ter ouvido a Mia dizer que ela tem aula na parte da manhã, às segundas e quartas. Então preciso ir embora antes que ela se levante.Vê-la só vai tornar mais difícil a decisão de me manter longe. Há um limite para um homem resistir à pressão antes de ceder,apesar das consequências.
— Se não fosse importante, com certeza ele não estaria pedindo que eu fosse — diz Mia.
Tenho certeza de que se trata de algo que eu deveria estar prestando atenção, e não ignorando,enquanto penso em sua prima.
— Desculpe, ir aonde?
Ela faz uma careta.
— Qual é o seu problema? Eu quis que você viesse aqui para passarmos um tempo juntos antes de viajar, e não para ficar falando sozinha enquanto você fica olhando o café.
Suspiro.
— Desculpe, amor. É que não consigo parar de pensar naquele caso que o Carl deixou nas minhas mãos.Eu pouso a caneca e pego as mãos dela. Mãos frias como gelo.
Cacete, isso tem tudo a ver com ela.
— Fale novamente. Sou todo seu — declaro com um sorriso.
— Papai quer que eu vá com dois funcionários mais antigos à Grand Cay man, para dar uma olhada naquelas contas. Espero que com isso ele me deixe participar do projeto inteiro.
Posso entender a sua empolgação. E invejo a oportunidade. Ela é três anos mais velha do que eu, portanto já é formada e exerce a advocacia, enquanto eu ainda estou empacado num estágio pelos próximos meses.
— Isso é ótimo! Estou muito orgulhoso de você. Sentirei saudades, claro, mas quando você vai?
— Amanhã. — Ela ainda está fazendo beicinho.
— E quanto tempo vai ficar fora?
— Pelo menos duas semanas. Mas pode ser um pouco mais.
— Bem, isso nos dá uma boa razão para comemorarmos quando você voltar, porque vou matar as saudades e você terá boas notícias. Tenho certeza.
Eu a puxo contra meu peito e ela senta no meu colo. Então passa os braços finos em volta do meu pescoço e me beija. Eu sei que só teria que carregá-la para o quarto e dar uma rapidinha matinal, mas não faço isso. Não sou tão cruel e insensível, porque embora ela esteja no meu colo, se contorcendo e me beijando, estou pensando naquele corpinho delicioso, de olhos azuis e cabelos loiros, que está dormindo num dos quartos. E isso não é legal.
Mia inclina-se para trás e me olha intrigada.
— Você ainda parece distraído.
— Não, está tudo bem. Sério. Só tenho que ir embora. Eu tinha que redigir uns documentos há mais de uma hora.
Ela sorri.
— Está dizendo que matou o trabalho para passar a manhã comigo?
— Sim. É o que estou dizendo.
Ela assume uma expressão sugestiva, aperta o corpo contra o meu e se esfrega. Para não ser indelicado, e atendendo à solicitação, eu pego seus pequenos seios e acaricio seus mamilos enrijecidos com os meus polegares. Suas pálpebras se fecham um pouco e eu me dou conta de como isso vai acabar.
Nesse instante, ouvimos alguém pigarrear. Eu e Mia levantamos os olhos e damos de cara com Anahí, na porta, parecendo sonolenta e, ao mesmo tempo, horrorizada.
— O que foi? — pergunta Mia de forma brusca. — Pegue o seu café e suma. Estamos um pouco ocupados.
Então se vira para mim a fim de continuar do ponto onde paramos, mas eu a faço parar.
— Realmente preciso ir — justifico.
Sem dar-lhe uma chance de dizer alguma coisa, eu a tiro rapidamente do meu colo e me levanto. Pelo canto do olho, posso ver Anahí me fitando. Evito seu olhar a todo custo. Entretanto,posso sentir que está fuzilando meu coração. E meu p*au. Não tenho a menor dúvida de que ela está pronta para vomitar veneno e ódio por todo o chão da cozinha. O que ela não sabe, no entanto, é que me odeio dez vezes mais do que ela poderia me odiar pelo que fiz, pelo que quase aconteceu.
— Mas espere — diz Mia. — Eu queria saber se você pode buscar o meu carro na oficina,segunda-feira. Vou deixar as chaves com você.
— Tudo bem — respondo apressadamente, agarrando a sua mão e arrastando-a para fora da cozinha.
Se Anahí quis que eu me sentisse culpado,missão cumprida!
— Te ligo mais tarde — digo, antes de dar-lhe uma beijo rápido. — Talvez possamos jantar esta noite. — Estou pensando em dizer qualquer coisa para sair dali.
— Não posso! Vou passar a noite com a mamãe, e de manhã vou para o aeroporto com o meu papai. Espere um pouco. Vou pegar as chaves do carro. Posso pedir a limusine depois.
Ela sai correndo, me deixando à sua espera na porta. Estou torcendo para que Anahí fique imóvel. Mas ela não fica, naturalmente.Eu a vejo se aproximar da porta. Embora contra a minha vontade, eu me viro para olhar para ela.Nos seus olhos estão estampados constrangimento, decepção e vergonha. Mas há também a faísca do que há entre nós, seja lá o que for. Não há como negar que rola uma atração mútua.
Muito, muito forte.
Ouço a voz de Mia. Ela está falando no telefone com alguém, então caminho em direção à Anahí.
Realmente não sei o que dizer, portanto me limito a ficar diante dela . Anahí é mesmo maravilhosa, até quando acorda de manhã.Antes de me dar conta do que estou fazendo, deslizo a ponta do dedo pelo seu rosto macio.Seus olhos se fecham, o que me faz querer beijá-los.
— Desculpe — diz Mia ao atravessar o corredor. Recuo e vou até a porta, parando no exato local onde ela havia me deixado. Em seguida, lanço os olhos rapidamente à Anahí. Há um misto de emoções em sua expressão. Emoções que não posso identificar facilmente. A menos que seja a mesma coisa que estou sentindo..