Anahí
Não consigo parar de sorrir. Novamente. Embora a dúvida permaneça incomodando a minha mente, é impossível ter pensamentos inteiramente ruins deitada sobre o peito de Alfonso,acariciando sua tatuagem.
— O que ela significa? — pergunto, num sussurro.
— É o símbolo chinês que representa maravilhoso — responde em tom de goz*ação.
Dou uma risadinha.
— Se não for, o que aliás não creio que seja, deveria ser.
— Isso é um elogio? Só quero ter certeza, para não deixá-lo passar despercebido.
Dou um tapinha nas suas costelas.
— Você fala como se eu fosse egoísta e mesquinha, só porque não me atiro aos seus pés.
— Você não tem que se atirar aos meus pés. Mas, se quiser fazer isso, posso pensar em algo para mantê-la ocupada, enquanto estiver ajoelhada.
Quando olho para ele, Alfonso está erguendo as sobrancelhas novamente.
— Não tenho a menor dúvida — respondo. Então balanço a cabeça, me aconchego de volta
ao seu peito e continuo a traçar o contorno da tatuagem com os dedos. — Sério, o que ela
significa?
Alfonso permanece em silêncio por tanto tempo que começo a achar que ele não vai responder.
Até que finalmente fala:
— É uma colagem de coisas que lembram a minha família.
Então observo cada imagem, mas não consigo decifrá-las. Em seguida, passo os dedos na
parte que se assemelha a um grupo de faixas onduladas e escuras.
— E isto?
— Simboliza o incêndio que tomou minha família de mim.
Eu me apoio sobre o cotovelo e olho diretamente para seu rosto.
— Como assim?
Por alguns segundos, ele parece desconfortável antes de responder:
— Bem, minha mãe morreu em uma explosão de barco, cuja intenção era matar a minha
família inteira. Meu pai está na prisão pelo assassinato dela. Meu irmão e eu somos muito...
afastados. De todos as formas possíveis, aquele incêndio acabou com a minha família. Com o lar que eu tinha. Agora, estou sozinho.
Nesse instante, me lembro de Miguel contando sobre a prisão do seu pai por assassinato. Como não voltamos a falar no assunto, eu não sabia que sua mãe tinha morrido e que o pai fora considerado o culpado.
Naturalmente, fico interessada em saber mais detalhes. Tenho mil perguntas na cabeça, mas não quero forçar a barra.
— Você... gostaria de falar sobre isso?
Seu sorriso é ao mesmo tempo educado e triste.
— Não exatamente. Se você não se incomoda. Não quero arruinar um dia que começou tão
perfeito. — O sorriso dele se alarga quando ele desce a mão para segurar minha bunda. Sinto sua ereção pressionar a minha barriga parcialmente sobre seu corpo.
Sorrio também.
— Bem, você vai ter que segurar a onda — replico. — Meu pai irá acordar logo e acho que
esqueci de mencionar que ele é invencível com uma pistola na mão.
— Neste caso, que tal tomarmos café da manhã?
Dou uma risadinha.
— Sábia decisão, coração valente.
— Pare de me provocar. Que vantagem eu teria para você se deixasse seu pai explodir o meu p*au?
Não digo nada, apenas sorrio. Mas, por dentro, me sinto desolada. Já estou pensando que há muitas outras coisas em relação a Alfonso, além do fato de ele ser muito bom de cama. Ele é encantador e perspicaz, atencioso e impetuoso. Também é inteligente e criativo. Ele possui todos os tipos de características maravilhosas que não têm nada a ver com sua habilidade na cama.E num banheiro público. E debaixo do chuveiro.Num instante, essas lembranças trazem de volta a minha descontração.Quando Alfonso volta furtivamente ao seu quarto, vou para o chuveiro. Novamente. Desta vez,preciso tomar um banho de verdade.
Sorrio o tempo inteiro. Ao passar o sabonete pela pele, sinto todo meu corpo marcado por
Alfonso. E definitivamente é uma sensação deliciosa. Por enquanto, pelo menos.
A realidade da situação ameaça se intrometer novamente. E, mais uma vez, eu a afasto da
mente. Sem dó. De maneira implacável. Vou lidar com isso na segunda-feira. Este fim de
semana vou curtir e dar um tempo. Dar um tempo para o bom senso, para a responsabilidade e para todas as vozes que atormentam a minha cabeça. Este fim de semana é só para o Alfonso, para mim e para toda a atração louca que existe entre nós.
Depois de vestir o short jeans e a camiseta na qual se lê “Gosto mais de rapazes do que de
livros”, vou para o andar de baixo. E me surpreendo com o que vejo.Meu pai está sentado à mesa da cozinha. Sua perna engessada está apoiada num banco, suas
muletas, encostadas na parede atrás dele, e a barba por fazer. Porém, o mais inesperado é que ele está num papo bem animado com Alfonso, que parece preparar o café da manhã.
Mil sensações diferentes borbulham no meu peito, enquanto observo a cena. Nenhuma delas é bem-vinda, no entanto, pois cada uma significa um problema para mim. E para o meu coração.Se você fosse mais como o Miguel , penso enquanto o vejo acrescentar temperos aos ovos batidos e seguir as instruções dadas pelo meu pai.
— Bom dia — digo animada, tentando esconder o desconforto que está arrastando meu
coração para uma situação de desespero.Ambos se viram para me cumprimentar com sorrisos felizes e descontraídos. Alfonso pisca para mim de onde está, em frente ao fogão, e um desejo repuxa a parte inferior da minha barriga.Não há como negar a chama que este homem desperta. Bem quente. Provavelmente mais quente do que o fogão no qual ele está preparando o café da manhã.Eu me apresso para ajudar e deixo-me inserir num cenário tão surreal quanto uma ilustração de Rockwell, pelo seu encanto e magia. Quando me sento para devorar ovos, bacon, panquecas e café, sei que vou comparar todas as outras manhãs da minha vida com esta. E provavelmente todas deixarão a desejar. E muito.
Droga.