Então ouço um barulho e sento na cama, com o corpo ereto. Minha mente fica alerta na mesma hora. Estou surpresa por ter conseguido adormecer. Isso prova o quanto eu estava cansada. Vejo uma sombra passar na sala; eu havia deixado as luzes acesas. Meu coração quase chega a doer de tão acelerado enquanto aguardo e presto atenção. Ouço o suave ruído de passos no piso de madeira e olho, desesperada, em volta do quarto, em busca de algum tipo de arma. A única coisa que consigo avistar é um vaso na cômoda, que eu poderia quebrar na cabeça de alguém, além de uma caneta do hotel em cima da mesinha de cabeceira, que eu poderia usar para enfiar no olho de alguém. Fora isso, deve haver uma Bíblia na gaveta superior, embora eu não tenha muita certeza se poderia realmente ferir alguém com ela. Deus com certeza poderia, mas não creio que Ele atenderia a um pedido desses. Uma presença enche a porta do quarto e meu coração pula na garganta. Em uma fração de segundo, porém, o reconhecimento me acalma.
— Não queria assustá-la — diz Alfonso baixinho, do outro lado do quarto.
Estico o braço para acender a luz, mas ele me interrompe.
— Não. Quero que você tente dormir novamente.
Essa é uma possibilidade remota!, penso com indiferença. Porém, cansada como ainda me
sinto, talvez haja uma possibilidade.
Meu pulso está começando a voltar ao normal quando Alfonso se vira de lado, pega a barra da camisa e a puxa pela cabeça. A luz do outro cômodo dá a seu corpo um contorno dourado, que realça cada músculo torneado, conforme ele se move para jogar a camisa em cima de uma cadeira próxima. O sangue pulsa em minhas veias e lateja em meu peito quando ele desafivela o cinto. Ele não diz nada enquanto desabotoa e abre o zíper da calça. Fico na expectativa quando ele faz uma pausa com os dedos no cós da calça. Vejo suas pernas se moverem quando ele tira os sapatos dos pés. Estou hipnotizada. Não consigo deixar de observá-lo quando ele desliza a calça por suas pernas musculosas e dá alguns passos, deixando-a no chão. Meu coração dispara e minha boca seca quando vejo que ele não está usando roupa de baixo. E ele está excitado. Mas minha boca é a
única parte do meu corpo que está seca. Minha pele está molhada e a umidade quente está se acumulando entre minhas coxas. Sem fôlego, eu o observo pendurar a calça sobre as costas da cadeira e se virar para andar até a cama, erguer as cobertas e deslizar o corpo ao meu lado. Não movo um músculo, e, no início, ele também não. Depois de um minuto, ele chega perto de mim. O toque dos seus dedos descendo pelo meu antebraço desnudo é como eletricidade pura. Causa arrepio em minha pele, subindo pelos meus braços e descendo pelas minhas costas, e fazem meus mamilos se retesarem em botões enrijecidos e ávidos. Fico surpresa e um pouco desapontada quando ele me vira de lado. Então ele me puxa com força contra a curva do seu corpo e me abraça por trás.
Posso sentir cada centímetro rígido dele pressionando as minhas costas, até por cima do
roupão. Antes mesmo que eu pudesse pensar, pressiono a bunda contra ele. É instinto. E desejo. Pelo visto, meu corpo tem vontade própria.
Ouço a respiração sibilante por entre os dentes cerrados de Alfonso, e ele fica completamente imóvel. Por vários longos e tensos segundos, ele não se move. Eu também não. Quero que ele me toque, ponha suas mãos e sua boca em mim, e me faça esquecer do mundo, mesmo que por pouco tempo. Mas quando ele finalmente faz alguma coisa, quer dizer, quando me toca, apenas passa o braço na minha cintura e coloca os dedos contra a cama, sob meu corpo. Sinto seus lábios quando ele esfrega o nariz no meu pescoço, e meu coração derrete dentro do peito.
Ele me quer. Ainda posso sentir isso. Mas está se controlando por mim, pelo meu conforto e pela minha estabilidade emocional. Sua consideração me faz ter mais certeza de que nunca vou conseguir reverter o fato de tê-lo na minha vida, de tê-lo conhecido e de ter descoberto a profundidade do sentimento que tenho por ele.
Pela milésima vez desde que conheci Alfonso, percebo que estou provavelmente em uma
grande, grande encrenca.
Merda.
Permanecemos juntos, em silêncio, respirando profundamente e de forma ritmada, ambos esperando nossos corpos se acalmarem. Nunca pensei que pudesse ser literalmente doloroso estar perto de alguém. Mas é. Sinto a dor do desejo, da necessidade. Há um lugar, um vácuo que só Alfonso pode preencher. É físico, com certeza. Nossa, é muito físico! Só de imaginá-lo me penetrando, com força e tão profundamente...Fecho os olhos e afasto os pensamentos. Tenho que recomeçar o processo de acalmar o corpo.
Grrrrr.
Mas há algo mais profundo em relação ao modo como Alfonso faz com que eu me sinta. Ele preenche um vazio que só recentemente se tornou uma ferida aberta na minha alma. Na realidade, desde que eu o conheci. Como se ele a tivesse provocado, mas, ao mesmo tempo, só ele pudesse curá-la. Com um suspiro profundo, desligo esse canal cerebral também. Ele não está ajudando muito.
Nem um pouco.
— Afinal — digo quando o silêncio e a proximidade começam a pesar. — Como foi lá?
Eu me repreendo. Eu deveria estar preocupada com o telefonema, e não em manter as mãos paradas. Nem em desejar que Alfonso não mantivesse as mãos paradas.
O suspiro de Alfonso me causa arrepio.
— Eles queriam os livros. Não pareceram muito satisfeitos, mas acho que me mantive calmo e os convenci de que os livros estão no banco, em segurança. Babacas — sussurra ele no final.
— Eles deixaram você falar com Mia?
— Sim.
— E? Como ela está?
— Acho que há uma boa chance de que ela acabe matando os caras. Tenho pena deles.
Não consigo deixar de rir.
— Quer dizer que ela não está conseguindo se controlar... no cativeiro?
— Ela pareceu ser educada com eles, mas só faltou me bater. Ficou bem claro quem ela
culpa por esta situação. O bom é que, se eles não contarem a ela que eu sou Alfonso e Miguel, ela
pode culpar só a mim e não arrastar Miguel e tudo o que ele conseguiu para a lama.
— Com Mia, eu não esperaria nada diferente.
Sinto-me mal falando assim enquanto ela está sendo mantida refém. Quer dizer, deve estar sendo um pesadelo. Mas Marissa é praticamente um pesadelo também. Talvez tudo isso, de alguma forma, a torne uma pessoa melhor. Ou talvez uma pancada forte na cabeça lhe traga alguma luz. Ou talvez eles tenham usado clorofórmio para contê-la e isso altere sua personalidade e a torne agradável e decente. Tudo é possível, certo?
— Então, qual é o plano?
— Há algumas coisas que eu tenho que investigar amanhã. E quero visitar meu pai. Ele
precisa ficar a par de tudo que está acontecendo e também pode ajudar.
— Como? Ele está preso.
— Eu sei — responde Alfonso bruscamente. — Mas ele conhece essa gente, sabe como esses caras pensam. Além disso, ele sempre foi bom com planos e estratégias. Não quero arriscar deixar passar nada. Há muita coisa em jogo — diz ele, puxando-me contra seu corpo.