Permanecemos calados. Sei que a mente de Alfonso está mais agitada e mais acelerada do que a minha; o que significa agitada e acelerada num nível inimaginável. Mas ele tem o peso extra da culpa, sem falar em toda a dor enterrada que tudo isso deve estar trazendo à tona.
— Alfonso — começo a falar baixinho.
— Fala, gata — sussurra ele no meu ouvido, o termo carinhoso me envolvendo como uma
manta quente.
— Eu não culpo você.
Ele me abraça forte e pressiona os lábios no meu ombro. Posso senti-los levemente através da lapela do roupão.
— Posso tirar isto? — pergunta ele ofegante. — Quero sentir a sua pele.
Um choque de desejo percorre minhas veias ao imaginá-lo segurando o meu corpo nu contra o seu. Faz só algumas horas que transamos pela quinta vez hoje, mas parece ter sido há uma eternidade. Tanta coisa aconteceu desde então, tantas emoções vieram e se foram, que parece...diferente.
— Sim — sussurro em resposta antes que minha mente pudesse me dissuadir.
Começo a me sentar, mas Alfonso interrompe meu gesto. Ele se inclina sobre o cotovelo e afasta o meu cabelo do rosto e pescoço, curvando-se para pousar os lábios na pele sensível sob minha orelha.
— Deixa que eu faço isso.
Faço o possível para relaxar quando sinto sua mão chegar ao laço da faixa do roupão, na
minha cintura. Ele a solta com seus dedos ágeis e, lentamente, puxa uma das pontas até tirá-la. Depois, sinto sua pele roçar meu peito. Ele desliza a mão na parte de dentro da lapela do roupão, abrindo-o até o quadril.
Tão suave como o odor de lavanda que emana dos meus poros, Alfonso solta o tecido felpudo do meu ombro, pressionando suavemente os lábios na pele dessa parte do meu corpo.
— Que cheiro gostoso.
Muito delicadamente, seu quadril se inclina sobre o meu. O desejo transborda em meu ventre quando sinto seu pên*is pressionar meu corpo. Ele desliza os dedos pelo meu braço, ao mesmo tempo que tira o robe. Eu ergo o cotovelo e
puxo o braço, para soltar a manga. Alfonso acaba de retirá-lo.
— Vire-se de frente para mim.
Com a excitação correndo pelas terminações nervosas, faço como ele pede e me viro, até
ficar de frente para ele. Estamos tão perto um do outro que, se eu juntar bem os lábios, posso beijar seu queixo. No quarto parcamente iluminado, posso ver seus olhos faiscarem como diamantes . A luz da sala passa levemente pela porta e ilumina metade do seu rosto, deixando a outra metade na sombra profunda. Posso ouvir sua respiração. Posso sentir o calor que flui do seu corpo. Sei que ele está tão excitado quanto eu, que ele quer isto tanto quanto eu e, mesmo assim, está disposto a adiar. Somente por mim.
Mas e se eu não quiser que ele faça isso? E se, apesar das dúvidas intermináveis e dos receios e horrores do dia, eu o desejar? Não é o bastante? Só agora? Seria tão ruim assim? Por um lado sim. Por outro, não. Mas o fato é que, neste exato momento, preciso de Alfonso. Preciso que ele me abrace, me beije, me toque. Preciso dele dentro de mim, enchendo-me com sua presença e segurança. Amanhã será um novo dia. Então poderei pensar mais. Lentamente, Alfonso desliza os dedos pelo meu ombro e abaixa o roupão, que fica na ponta do meu mamilo. Eu vejo seus olhos se moverem até o meu peito e respiro fundo. Seu olhar fixo queima como um toque físico. De modo intencional, ele leva a mão ao centro do meu peito e passa o dorso dos dedos no meu mamilo, tirando o roupão e expondo a minha pele aos seus olhos famintos. Mais uma vez, ele permanece imóvel por vários segundos. Mais uma vez, eu também. Quando seus olhos vagam
até os meus, eles estão cheios de todos os tipos de intenções, porém a mais evidente é resolução. Ele não se deixará render. Não esta noite. É muito importante para ele. Por que, não sei. Talvez eu seja muito importante para ele. Só espero que seja verdade.
Inclinando-se ligeiramente para a frente, Alfonso tira meu roupão, puxando-o pelas minhas costas, enquanto passa a mão na minha bunda e a desliza até a lateral da minha coxa. Quando fico de frente para ele, completamente nua, assim como ele, Cash deixa os olhos vagarem pelo meu corpo.
Eu os vejo se fecharem pouco antes de ele se virar, para ficar deitado de costas e passar o braço por cima da minha cabeça. Em seguida ele me puxa contra o seu peito. Eu passo a mão nos músculos enrijecidos do seu estômago e pouso o joelho sobre sua coxa.
Não consigo ouvi-lo respirar. Então me pergunto se ele está prendendo a respiração. Não tenho certeza, mas posso ouvir seu coração bater contra as costelas. Ele está lutando contra mim, lutando contra nós, lutando contra isso. Por um segundo, penso em provocá-lo um pouco, em fazer com que ele mude de ideia, mas o respeito pelo que ele está fazendo me faz recuar e me impede de ir adiante. Não quero superestimar sua consideração, mas isso ainda me deixa com uma pergunta na cabeça: o que
isso significa?
Os lábios de Alfonso roçam o meu cabelo pouco antes de ele falar com a voz rouca:
— Pode dormir, gata. Você está segura. Prometo.
De um jeito ou de outro, preciso acreditar nele. Então eu durmo.