No instante em que volto à minha moto, verifico o telefone. O sinal foi perdido completamente dentro da prisão. Anahí sabia que eu ficaria incomunicável durante aqueles poucos minutos. Ela pareceu ficar numa boa em relação a isso, muito mais do que eu. Apressei-me durante a visita o máximo que pude, para poder sair e ter sinal no celular. Agora tenho quatro barras e nenhuma
mensagem, o que é bom. Acho. Nenhuma emergência.Nenhum motivo de preocupação.
Mas eu não teria me incomodado se houvesse uma mensagem dela, de qualquer maneira, com ou sem motivo. Só para me avisar que está bem. Ou talvez que sentiu minha falta. Após alguns segundos de debate interno, cedo ao impulso e aperto o botão para discar o número do celular pré-pago de Anahí. Não que eu tenha algo específico para falar. Acho que, apesar de ter me ausentado por apenas algumas horas, quero assegurar-me de que ela está bem. Só para conferir. É um gesto educado, atencioso. Apenas isso. Nada mais. Continue se enganando, amigo.
Reviro os olhos diante daquela voz na minha cabeça. Ela é bem esperta.
— Alô? — Ouço a voz de Anahí, sonolenta.
— Acordei você?
— Não, tudo bem. Eu só estava com preguiça, mas tenho que levantar. Onde você está?
— Ainda estou na prisão. Estou me preparando para ir embora. Só queria ver se está tudo bem.
— Jura? — Há um sorriso em sua voz. E a insinuação de algo mais. Prazer, talvez? Como se ela estivesse feliz por eu me preocupar.
— Isso a surpreende?
Ela faz uma pausa.
— Talvez.
— Por quê?
Outra pausa.
— Não sei. Acho que continuo esperando que você...
Ela não completa a frase, mas não vejo problema em terminar o pensamento dela. Anahí ainda acha que sou mais um dos seus típicos desencantos com bad boys. Eu ainda me pergunto se algum dia serei capaz de fazer o bastante, de dizer o bastante ou de mostrar o bastante para provar que não sou assim. Pelo menos com relação às coisas importantes. Ou será que ela sempre vai me comparar com eles? Se ela fizer isso, sempre encontrará semelhanças. Mas será que verá as diferenças? E será que elas serão suficientes? Às vezes parece uma batalha que não posso vencer. Depois de viver uma vida dupla por todos
esses anos, depois de ter a necessidade de fingir ser coisas que não sou por todos esses anos, o que realmente quero é alguém que veja o meu verdadeiro eu e o aceite. Completamente. O lado bom e o lado ruim.
Mas essa não pode ser minha maior preocupação no momento. Há outras coisas mais importantes, como manter todo mundo vivo, seguro e ileso. Mesmo pessoas por quem não tenho um carinho especial, como é o caso de Mia. Não poderia viver com algo como a morte dela
na minha consciência. Nem mesmo com ela sendo ferida. Já me sinto muito mal em relação a Mia toda essa confusão, sem nada realmente ter acontecido. Só de imaginar tudo isso tomando proporções maiores e, que Deus não permita, terminando mal, me dá uma pequena ideia do que
o meu pai deve sentir. Todo santo dia. Ele carrega a culpa da morte de dois entes queridos nos ombros, sem falar em outras coisas que ele fez durante seu envolvimento com a máfia russa.
Anahí pigarreia e me traz de volta ao presente.
— Como foi a visita?
— Vou contar tudo quando chegar aí. Você precisa de alguma coisa da cidade?
— Humm, nada que eu me lembre. Depois do que você trouxe ontem à noite, acho que não preciso de mais nada.
— Certo. Tudo bem, vejo você daqui a pouco, para o almoço então. Podemos pedir algo no quarto.
Imediatamente, meus pensamentos se dirigem à mesa da sala de jantar, no quarto do hotel, e me imagino afastando a porcelana, os copos de cristal e a pesada prataria, antes de rasgar o maldito roupão de Anahí e colar meu corpo no dela. Mordo o lábio quando sinto que o fluxo de sangue se desvia de todos os meus órgãos vitais e
pensantes em favor de outros mais divertidos. Tenho que parar de pensar nisso. Não posso dirigir bem de volta a Atlanta, em uma moto, com uma ereção enorme. Pelo menos não de forma confortável.
— Humm, adorei a ideia — diz Anahí.
O que me faz morder o lábio com mais força é o que ela disse; é como se ela soubesse exatamente o que eu estava pensando. Mas o principal é o modo como ela falou. A voz dela fica mais sexy quando fala assim, baixinho. Há uma rouquidão, que mais parece um estrondo, que posso sentir vibrar em mim. Desperta sempre o meu pên*is. E hoje ele não precisava de nenhuma ajuda!
— Então tudo bem. Daqui a pouco estou aí. — Em seguida, desligo. Sei que, provavelmente,minha reação pareceu abrupta, mas se não fizesse isto, teria que levar alguns minutos dando uma volta para espantar o tesão antes de voltar à cidade. E odeio ter que deixá-la sozinha por mais um segundo. Sei que ela está segura, mas não tenho certeza. E enquanto eu não puder ter certeza, não
vou correr riscos desnecessários.