Anahí
Descansar? Enquanto ele está por aí, tramando alguma coisa arriscada com o irmão gêmeo “não morto” e com o “provavelmente mais que apenas” gerente da boate? Acho que não dá!
Quando Alfonso retorna, estou de pé e vestida. Esperando.
Como sempre, o simples fato de vê-lo faz meu estômago dar voltas. Sua simples presença me toca. Não há como negar.
Respiro fundo e afasto essas sensações para conseguir raciocinar.
— Afinal, qual é o plano?
Alfonso olha na direção de seu escritório.
— É melhor você sentar. Nós vamos sair logo. — Ouço um riso abafado, provavelmente do agradável e levemente assanhado Caio. Não consigo imaginar Miguel rindo. Mal posso imaginálo
sorrindo. Acho que o seu estilo é meio “ameaçador”.
Alfonso fecha a porta e se vira para mim. Pela sua expressão, posso perceber o receio diante do que está prestes a falar, o que me faz pensar que realmente não vou gostar de ouvir.
Suspiro.
— Deve ser algo sensacional.
Ele ri disfarçadamente.
— O quê? Eu ainda não disse nada.
— Não precisa. Esse olhar diz tudo. Faz a minha bunda se contrair.
— Faz a sua bunda se contrair? — Faço um sinal afirmativo e ele abre um sorriso. Então balança a cabeça e, ainda com uma expressão divertida no rosto, estende a mão e me puxa para
seus braços, me aninhando em seu peito. — Você é maluca, sabia?
— Claro. Isso era para ser um segredo?
— Não, acho que não tem mais como esconder.
Viro a cabeça ligeiramente e mordo o seu mamilo achatado.
— Aaaai! Se continuar fazendo isso vai levar a melhor surra que já levou na vida.
— Nunca apanhei, portanto não tenho muitas expectativas.
— Bem, então este vai ser o primeiro item na lista de prioridades quando eu levar você de volta pra casa.
Inclino-me para trás.
— De volta? Como assim? Pra onde você vai me levar?
Alfonso suspira.
— Para a casa da sua mãe. É o lugar mais seguro pra você no momento.
Eu me afasto dos seus braços.
— O quê? Você não pode estar falando sério! Há um monte de lugares que eu posso citar,sem precisar pensar muito, onde eu estaria segura e que me dariam uma expectativa razoável de
manter a minha sanidade mental. Por que você me quer lá?
— Porque há um rastro recente de quase todas as outras pessoas na sua vida. Todo mundo, exceto ela. Há quanto tempo vocês não se falam?
— Alguns anos, mas isso não interessa.
— Isso é exatamente o que interessa. Que outro lugar seria menos levado em conta que a casa dela?
Não sei o que dizer, provavelmente porque ele tem razão.
Merda!
— Tudo bem, mas você vai ter que me deixar ir sozinha. Ela nunca entenderia algo assim.
Alfonso já está fazendo um gesto negativo de cabeça.
— De jeito nenhum. Desculpe. Caio vai levá-la e ficará com você até a hora de trazê-la de volta.
— O quê? Sem chance! Se eu tenho que ir com alguém, por que não pode ser você? — Quanto mais penso nisso, mais gosto da ideia. Desse modo, Alfonso com certeza estaria em
segurança.
— Caio é o mais... capacitado entre nós. Você estará segura com ele, não importa o que aconteça.
— Você está esperando que um exército de bandidos da máfia me aborde na casa da minha mãe?
— Não estou esperando nada. Mas vou estar preparado para... qualquer coisa.
— Se Caio é o mais capacitado, talvez você devesse enviá-lo para fazer a negociação junto com Miguel .
— Eu tenho que ir. Preciso fazer isso. Não posso confiar essa parte a Miguel . Tenho que me assegurar de que tudo seja resolvido, e da maneira certa. Não posso tê-los ameaçando você, Anahí. Isso tem que parar.
— Mas... mas...
Não consigo pensar em um único argumento, além de querer Alfonso comigo e em segurança. Entretanto, nenhum desses é suficiente para fazê-lo mudar de ideia.
— Esse é o melhor caminho. O único caminho. Apenas confie em mim. Você pode fazer isso?
A cabeça de Alfonso se inclina ligeiramente para o lado, e ele olha bem no fundo dos meus olhos. Ele está sendo sincero.
Sinto lágrimas ameaçando brotar dos meus olhos. Com um nó na garganta, eu nem tento falar. Apenas aceno a cabeça e olho para a boca de Alfonso. De forma carinhosa, ele me puxa de volta aos seus braços. Então acaricia meu cabelo e passa a mão nas minhas costas, fazendo círculos com os dedos.
— Vou manter você segura. Prometo.
— Não é comigo que estou preocupada — murmuro contra o seu peito.