Mantenho o queixo encolhido contra o peito e as mãos nos bolsos enquanto caminho
lentamente pela calçada até a casa que fica atrás daquela onde Anahí está. Com aparente
tranquilidade, atravesso o jardim e dou a volta na casa, me aproximando, com determinação, do
meu destino.
Ouço o ruído gutural do Hummer, quando Caio passa pela casa para estacionar um pouco
mais abaixo. Reduzo o passo o bastante para dar-lhe tempo de chegar até a porta da frente. Paro
para fingir que estou amarrando o sapato, o que não faz sentido porque estou usando botas. Mas
parece convincente se tiver alguém observando à distância, o que espero que não tenha.
Ouço o barulho das botas de Caio na calçada, seguido de perto por um assobio descontraído.
Eu me levanto, me dirijo ao pátio dos fundos e me aproximo da porta. É uma porta velha, de
madeira, e parece fácil de abrir com um pontapé.
Ouço a campainha tocar e, em seguida, algumas vozes abafadas acompanhadas de alguns
passos. Só de curiosidade, tento a maçaneta. Está trancada.
Seria muita sorte. Essa merda só acontece nos filmes.
Quando ouço o primeiro sinal de que Caio já entrou em ação, que neste caso é um cara
gritando que porra é essa?, levanto a perna e chuto o mais forte que posso, um pouco abaixo da
maçaneta.
É uma casa muito velha e, conforme suspeitei, a estrutura da porta cede facilmente e ela se
abre. De pé na cozinha, olhando com uma expressão atordoada quando piso sobre os destroços da
porta dos fundos, está um dos sequestradores de Anahí . Ele é um cara jovem, em idade de
faculdade, mas isso não me faz sentir nem um pouco de remorso por meter porrada nele.
Ele nem percebe quando eu o ataco.
Dois socos na cara e ele fica inconsciente.
Foi bem fácil.
Passo por cima dele e olho de relance em direção à porta da frente, onde Caio está metendo
a porrada em outro Bratva. Como ele está no controle da situação, começo a procurar Anahí .
Vejo um corredor curto à minha direita, onde há quatro portas fechadas. Ela pode estar em
qualquer um desses quartos. No final do corredor, há outra porta, onde deve haver um tipo de
quartinho ou, possivelmente, a escada para o porão. Rapidamente, abro a primeira porta.
Só dá tempo de perceber um súbito movimento antes de ser atacado. Levo um soco na barriga
e logo me recupero o suficiente para dar um murro nas bolas do cara. Ouço seu gemido, e ele
cai aos meus pés. Dou um pontapé nas suas costelas e me ajoelho para socá-lo, uma vez, na
cara. A cabeça dele pende para o lado. Dou-lhe outro golpe, só para me assegurar que ele
permanecerá no chão.
Obviamente, há mais homens aqui do que Caio imaginava.
Olho em torno do pequeno quarto. Afora uma surrada cadeira reclinável verde e uma
televisão sobre um velho engradado de plástico, o lugar está vazio. Saio e me dirijo ao quarto ao
lado, com um pouco mais de cautela.
Viro a maçaneta, empurro a porta e dou um passo para trás. Ouço um disparo, um
milissegundo antes de sentir a bala esfolar o meu ombro. Entretanto, isso não é o bastante para
me fazer parar. Porém, a outra bala atinge de raspão as minhas costelas, no lado esquerdo. Isso
reduz os meus movimentos e dói pra caralho, mas não é o suficiente para impedir que eu me
lance sobre o cara, do outro lado do quarto, antes que ele dispare outro tiro.
Ambos caímos no chão, e meu boné sai da cabeça. Uso todo o meu peso para derrubá-lo, o
que não é fácil, porque este safado, com o rosto marcado por uma cicatriz, é muito maior do que
os outros que eu vi. Assim que consigo uma posição dominante, bato com a testa em seu nariz.
Acima do barulho da minha pulsação, ouço o ruído seco do osso quebrar quando o homem grita
de dor, tomado de surpresa.
Antes que ele possa reagir, vejo as botas de Caio em cima da cabeça do homem. No
momento seguinte, ele se abaixa e coloca o braço sob o queixo do sujeito e aperta. As mãos do
Bratva vão direto ao braço forte de Caio na tentativa de se soltar. Sem efeito, eu poderia
acrescentar. Caio é forte como um touro e duas vezes mais cruel quando alguém o irrita. E este
homem? Ele o irritou.
Eu me levanto com dificuldade, afastando-me do cara, e aceno a cabeça para Caio antes de
me dirigir à porta. Só há mais dois quartos para procurar por Anahí . Ela tem que estar aqui, em
algum lugar.