VINTE E QUATRO
Bem diante dos meus olhos, vejo o lado racional se instalar rapidamente e forçá-lo a agir.
— Precisamos sair daqui.
Sei que ele tem razão e posso sentir que o efeito das drogas se dissipa um pouco a cada
minuto. Mesmo assim, não creio que possa andar.
— Você pode me ajudar a levantar?
Ele franze a testa.
— Ajudá-la a se levantar? — pergunta ele, quase como se tivesse ouvido um insulto.
Sinto-me confusa, mas ele não me dá tempo para fazer perguntas. Em vez disso, se levanta,
coloca as mãos sob meu corpo e me ergue nos braços.
Como se tivessem me dado um sedativo, uma droga de um tipo diferente, estar nos braços de
Alfonso me causa um efeito intenso e imediato. Sinto como se estivesse me desintegrando e voando,
dançando e gritando, vivendo e morrendo. Estar com ele, suas atitudes de bad boy e seu bom
coração, tudo isso agora é o meu mundo. De alguma maneira, enquanto estava desprevenida, me
apaixonei. E pra valer.
Pela minha alma gêmea. Pelo amor da minha vida. Pelo meu herói.
De repente, me dou conta de que nunca sofri por um bad boy. Nunca fiquei abalada por um
traidor. Nunca me senti enganada por um mulherengo. Nunca dei importância a eles a ponto de
ficar realmente arrasada, passar por um sofrimento duradouro. Meu orgulho havia sido ferido;
meu coração, um pouco maltratado, e a minha autoestima havia sofrido alguns abalos, mas isso
não é nada perto do que a perda de Alfonso poderia me causar.
O que realmente aprendi com os fracassos nos meus relacionamentos, no entanto, é que
confiar não é fácil para mim. O que fiz foi culpar os homens que passaram pela minha vida pelos
meus problemas. Atribuí cada tentativa desastrosa de amar ao comportamento mulherengo dos
bad boy s, mas, desde o início, o problema estava em mim. Inconscientemente, eu escolhia
homens que corroboravam a minha tese em relação ao caráter desprezível dos bad boy s, em vez
de encarar minhas próprias fraquezas, meus próprios temores. E foi uma fuga conveniente até
Alfonso aparecer. Alfonso quebrou todas as regras, quebrou todas as minhas regras. Ele não me dá
razão para fugir. Ele me dá razões para ficar. E tudo que tenho a fazer é reunir coragem para
isso, correr o risco de que pode não dar certo, correr o risco de que eu posso acabar magoada.
Ele está me oferecendo algo em que investir, e tudo que preciso fazer é acreditar.
Desta vez pra valer.
Mas será que sou capaz de me entregar? De dizer a ele que o amo, do fundo do coração,
quando não houver um perigo iminente? Quando uma tragédia não estiver próxima? Será que
consigo abrir o peito e deixar meu coração vulnerável a ele?
Em poucos segundos diante de Alfonso, que me encarava, transformei minha mente confusa em
um labirinto distorcido de dúvidas e incertezas. Com um pequeno sorriso de gratidão, aninho a
cabeça em seu peito e deixo que ele me carregue para fora do quarto. Haverá tempo para
reflexões, análises e declarações mais tarde.
Assim espero.
Sinto seus lábios roçarem meu cabelo e ouço o suspiro no seu peito, pouco antes de Alfonso me
tirar rapidamente do quarto. Com três passos largos e determinados, ele cruza o cômodo e me
leva para o corredor. Ele para diante da primeira porta para olhar o interior do quarto e repete o
gesto quando passamos pela segunda porta. Ao ver que o cômodo também está vazio, encosta na
parede e arrasta-se em direção à luz, no final do curto corredor.
Caio aparece, me fazendo gritar de susto. Seu rosto está pintado como o de Alfonso, e a pintura
escura realça seus olhos azuis. Mas não são os olhos azuis sedutores e brilhantes que eu esperava.
São olhos frios, sérios e... nefastos. É quase como ver outra personalidade que se esconde atrás do
rosto conhecido.
— Ela está bem? — Caio pergunta a Alfonso, inclinando a cabeça na minha direção.
— Acho que sim. Vou confirmar se está tudo certo quando levá-la para casa.
— Não vou demorar. Só tenho que... ajeitar umas coisinhas por aqui.
Sem outra palavra, Caio entra no quarto à minha direita, pega um homem caído pelas mãos
e começa a arrastá-lo para o corredor. Alfonso anda na frente dele em direção à porta. Olho Caio
por cima do ombro de Alfonso.
Ele puxa o homem inconsciente para a área principal, destituída de qualquer espécie de
mobília, exceto por um velho sofá marrom. Ele deposita o homem no final de uma fileira de
corpos. Eles estão dispostos lado a lado, ombro a ombro, como uma grotesca e provável linha de
fogo. Um tremor toma conta de mim quando imagino seus destinos. É nesse momento que me
dou conta de que, apesar do ódio por me manterem refém, realmente não quero saber o que vai
acontecer com eles. Tenho uma sensação de que será melhor para mim não ter esse tipo de
informação.
Do lado de fora, Alfonso para no pórtico da frente e olha para o lado direito e esquerdo. Quando
avista o que está procurando, começa a descer a rua com passos rápidos até para suas pernas
compridas. Vejo o Hummer de Caio aparecer, pouco antes de ouvir o som da porta sendo
destravada. Rapidamente, Alfonso abre a porta do passageiro e, com o maior carinho e extremo
cuidado, que tocam meu coração, me ajeita no banco e prende o cinto de segurança.
Ele ergue a cabeça e me encara. Parece cansado, porém aliviado. Então dá um sorriso com o
canto da boca.
— Descanse, gata. Você está segura. — Em seguida, roça os lábios nos meus e fecha a porta
do carro. Eu adormeço antes mesmo de vê-lo sentar-se no banco do motorista.