Fanfic: Addicted to Pleasure | Tema: Os Instrumentos Mortais
Os homens que se tornam arrogantes com o sucesso têm o mau hábito de odiarem aqueles a quem ofenderam. - Sêneca
Depois de um dia todo andando de um lado para o outro, olhando para mais homens do que eu já olhei na minha vida inteira, consegui tirar proveito de algumas coisas. Na verdade, até fiz amizade com uns três caras que estavam fazendo hora de almoço enquanto eu tomava um café na lanchonete que tem aqui em frente. Jem Carstairs, Nate Gray, e o primo de Jace, Will Herondale. E, diferentemente do loiro arrogante, eles são super simpáticos.
Eu já estava cansada de tanto ficar "sem fazer nada" então resolvi esperar meu irmão no terraço, que por sinal tinha a melhor vista de Nova Iorque que eu já havia visto na minha vida.
Aproveitei que meu caderno de desenhos estava na minha bolsa e comecei a desenhar.
Fazia tempo que não desenhava, talvez uns dois ou três meses, que foi o tempo de provas, trabalhos, matérias novas na faculdade e livros legais que eu queria ler.
Quando eu era mais nova costumava desenhar quase o tempo todo. Gastava, em média, um caderno de desenho por ano, então todos os anos minha mãe comprava um caderno, tintas, lápis e essas coisas todas de desenho, mas desde que me mudei para cá tenho tido pouco tempo para isso. Normalmente vou até o parque e observo as crianças brincando, ou apenas o tempo, o verde, as folhas caindo, os pássaros voando, isso é uma ótima inspiração para mim e dar vida a tudo isso, sem que seja por foto, apenas pelos meus lápis, é muito revigorante.
Sentei no chão e me encostei na parede. Olhei para a bela vista e suspirei. Primeiro iria começar com os prédios. Vários arranha-céus, mas sem muitos detalhes. Particularmente odiava desenhar prédios, eram muito demorados e trabalhosos, mas não impossíveis. Me demorei uns 20 minutos neles e depois fui para a melhor parte, o céu. O pôr-do-sol se escondia atrás daquela multidão de prédios, como se estivesse nos dando adeus. Foi lindo poder desenhar e admirar tudo aquilo. As nuvens estavam ficando escuras já, o que daria um toque de mistério para o desenho assim que pintado. Como não havia nenhum lápis de cor ou tinta na minha bolsa, resolvi tirar uma foto da paisagem toda com o celular para poder fazer exatamente igual.
Me levantei para ter uma visão melhor e tirei de cada canto do terraço, e foi ai que ouvi o barulho da porta se fechar violentamente atrás de mim e uma voz furiosa começar a gritar.
– Você ainda não percebeu que não da para ir nessa merda de jantar? Tenho mil e um papeis para ler, e preciso entregar isso amanhã de manhã. – A voz era meio conhecida, mas preferia pensar que seria uma infeliz coincidência do que um teste de "O quanto Clary consegue segurar sua raiva" vindo de Deus.
– Aline, não da pra simplesmente largar o meu trabalho só porque você quer sair pra comemorar nosso mês de namoro. – Continuou Jace. – Fazemos isso todo santo mês, no mesmo restaurante e pedimos a mesma comida. 3 anos da mesma coisa. Cansei disso!
Ele ainda não havia me notado ali, pois estava virado de costas para o lado esquerdo do lugar. Pensei em sair de fininho e tentar não ser vista, mas do jeito que sou desastrada provavelmente isso não daria muito certo.
– Mas que droga! Que merda você acha que é o meu trabalho? É ele que te banca se é que você está esquecida disso. – A voz dele se alterava a cada pausa que dava, provavelmente a tal Aline respondendo. – Quer saber? Eu quero que você vá...
E foi nessa hora que ele se virou e seus olhos foram de encontro aos meus. Eu estava meio encolhida, não por medo, mas sim por vergonha. Jace Herondale ficou um longo tempo apenas olhando para mim, como se não acreditasse no que estivesse vendo.
Sem mais nem menos ele desligou o celular, na cara da namorada, e veio ao meu encontro com a expressão mais raivosa que já havia visto em uma pessoa.
– Que merda é essa aqui? O que você está fazendo aqui garota? – Perguntou entredentes.
– Tomando um ar?! – Respondi como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
– E quem diabos disse que você pode fazer isso aqui?
– Eu achei que o ar ainda fosse livre. – Meu tom calmo parecia irritar ainda mais ele.
– Saí daqui agora! Você não tem permissão pra ficar aqui!
Eu ri e vi que ele trincou os dentes. Suas mãos estavam fechadas em punhos e ele respirava com certa dificuldade.
– Quem você acha que é pra me mandar sair de um lugar? E que eu me lembre, o Sr. Herondale mandou eu ficar a vontade. – Lancei uma piscadinha para ele.
– Você é muito abusada não é mesmo garota? Sabe com quem está falando? Se eu quiser posso te destruir com um piscar de olhos. – Ameaçou com um sorriso malicioso.
– Ah, pode? Não entendo como você poderia me destruir. – Desafiei-o com um sorriso mais malicioso ainda.
Eu sentia que ele estava ficando com mais raiva a cada palavra que saia da minha boca. Se ele estava esperando uma pessoa que tivesse medo dele, encontrou a pessoa errada. Eu costumava me garantir muito nesse quesito, pois Jonathan sempre me defendeu de qualquer coisa ou pessoa, e Sebastian é quem se encarregava disso nas festas, então nunca tive motivos para me preocupar. Mesmo que não tenha nenhum dos dois por perto nesse momento, não sentia um pingo de medo daquele loiro metidinho.
– Não me provoca ou a coisa vai ficar muito feia pro seu lado. – A cada palavra demorada que ele pronunciava era um passo mais perto que chegava.
Ficamos a uma distância bem próxima. Seus olhos poderiam me comer viva se ele quisesse. Sua face demonstrava a mais pura raiva que um ser humano poderia ter. Como se alguém tivesse pegado a pedra preciosa da raiva e colocado no corpo de Jace. Os punhos continuavam fechados e os dentes trincados.
– Acha que eu tenho medo de você? – Sussurrei levantando levemente a cabeça para conseguir ficar um pouco menos baixa que o habitual.
Ele era enorme perto de mim e me senti um pouco vulnerável depois que percebi isso. Não era um homem cheio de músculos, mas dava para ver que seu braço era forte. Seu cabelo devidamente penteado para trás dava um Q de seriedade. Seus olhos castanhos era quase de um caramelo ou dourado, com alguns pontos verdes, bem pouco, mas muito intensos. Eram olhos lindos, na verdade era a aparência de um anjo, por assim dizer. Uma pena que a arrogância e o egocentrismo de uma pessoa pode, literalmente, acabar com a beleza.
Ele se aproximou do meu rosto e sussurrou no meu ouvido;
– Deveria ter.
Sua voz me causou arrepios pelo corpo todo e foi inevitável deixar minha respiração sair abafada contra seu peito próximo. Ele percebeu isso e deu um sorrisinho malicioso.
Agora quem esta com raiva sou eu. Dele e de mim mesma por ter essa reação tão vulnerável.
Ficamos imóveis por um longo tempo, um encarando o outro com a máxima raiva que poderíamos ter. Minha vontade era de dar um tapa na cara dele, mas não queria partir pra violência. Com os segundos passando, e um olhando bem no fundo dos olhos do outro, fomos relaxando um pouco. Minha respiração voltou ao normal e Jace foi relaxando os punhos.
Jace agora me encarava de outra maneira, de uma forma intensa, até desconfortante. Me avaliou de cima à baixo e depois suspirou e balançou a cabeça rapidamente, como se estivesse clareando os pensamentos, e voltou a ficar rígido.
Eu imaginei que outra discussão iria começar, mas ao invés disso ele se afastou e foi se apoiar do outro lado do terraço, completamente de costas para mim. Ou ele estava se controlando para não me bater – assim como eu fizera a poucos minutos atrás – ou estava com um sério problema.
Não quis saber também, apesar de estar curiosa. Peguei meu caderno e minha bolsa e sai dali, batendo a porta forte atrás de mim, assim como ele fez quando entrou.
Peguei o elevador até o andar de Jon e fiquei esperando até dar a hora dele sair. Havia mais 10 minutos até isso acontecer e foi inevitável não pensar no que acabara de acontecer no terraço. Jace Herondale poderia até estar irritado comigo, mas já entrou pela porta irritado. O jeito como ele falou com aquela garota, apesar de que todo mundo tem direito de ficar irritado com a namorada, eu não sei, ele falou com um toque diferente. Parecia que ela era uma garota qualquer. Foi com a mesma intensidade que falou comigo minutos depois.
E depois o jeito dele de me olhar, me avaliar de cima à baixo daquela maneira, tentando fazer com que eu me sinta inferior a ele. Aquilo me irritou completamente. Ele até poderia ser mais rico do que eu, mais bem de vida, com os milhares de carros que tem e sucessor de uma das melhores impressas da cidade, mas minha família tinha um nome também, não tão importante quanto os Herondale, claro, mas ainda sim tinha.
Fiquei com uma vontade enorme de falar isso para ele mas, de alguma forma, algo dentro de mim me disse para não fazer aquilo, e a maneira como ele se afastou do nada me disse que fiz a coisa certa ao não fazer isso. Eu até poderia sentir pena dele, se não estivesse sentindo raiva.
Vi meu irmão saindo de sua sala e vindo ao meu encontro com um sorriso.
– E ai, como foi seu dia? – Perguntou animadamente.
– Foi bem... Intenso.
Ele sorriu. Um sorriso satisfeito e deu tchau para uma garota ruiva que nunca tinha visto na vida. Pegamos o elevador para o térreo e ele deu tchau para mais algumas pessoas e pegamos outro elevador até o estacionamento. Ele me olhava com o canto do olho as vezes, provavelmente se perguntando porquê eu não estava tagarelando sobre o dia que tive. Assim que entramos no carro ele perguntou;
– Por quê está tão quieta? Alguma coisa chateou você? – A preocupação em sua voz era visível.
Sim Jonathan, algo não, mas alguém me deixou muito chateada. Ou melhor, me deixou irritada. – Pensei comigo mesma, mas é claro que não iria dizer nada disso.
– Não, estou apenas cansada. – Menti.
Ele me olhou meio desconfiado, mas não falou nada.
– Conseguiu alguma coisa útil?
– Sim, um pouco.
– Algum dos garotos ficou de gracinha com você? – Brincou.
– Não. – Tentei sorrir, mas não foi muito convincente. – Mas fiz amizade com três deles. – Completei para descontrair
E, provavelmente, um inimigo também.
– Ah é? Com quem?
– Jem, Nate e Will
– Poxa – Disse ele como se estivesse admirado. – Fez amizade com os filhos dos administradores. Acho que gostaram mesmo de você.
– Não sabia que eles eram importantes.
Não sabia mesmo. Tirando Will – que não me falou nada sobre ser sobrinho do Stephen, mas eu sabia porque ele se apresentou como um Herondale – não sabia que os outros também faziam parte da área importante dos nomes da empresa.
– E não são, mas o tio e os pais deles sim.
– Ah. – Foi minha última resposta para aquele assunto.
Não conversamos mais até chegar em casa. Jonathan preparou o jantar enquanto eu tomava banho. Preferi jantar no meu quarto hoje.
Antes de dormir analisei tudo o que havia escrito no meu caderno de anotações e li o livro um pouco. Mas foi inevitável não pensar em tudo antes de dormir. Mas ao invés de pensar em como aquele mimadinho me tratou mal, na nossa discussão, em como tentou fazer com que eu ficasse com medo, pensei nos olhos lindos dele, em seu cabelo bem penteado, em seus braços fortes, e principalmente em sua voz sussurrando em meu ouvido. Ele, provavelmente, deveria estar acostumado a deixar sua namorada louca com aquela voz, e apesar de estar tentando me intimidar, conseguiu me deixar louca.
Senti ainda mais ódio de Jace Herondale por aquilo, mas acabei pegando no sono pensando em como sentia raiva daquele loiro idiota.
Autor(a): littleblackangel
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