Fanfic: Meus três namorados [Terminada]
Vi outro menino engatinhar pelo chão, e uma barbatana surgiu por entre as ondas de cartão.
Encontrei Dulce nos bastidores, ajoelhada no chão com uma enorme prancha de compensado à sua frente.
Dei uns passos para trás para olhar. Havia uma casa pintada na prancha de madeira, em estilo moderno, com
grossas linhas pretas e ângulos agudos. Dulce vestia um macacão de trabalho, e parecia haver mais tinta nela do
que no compensado.
- Dulce, preciso falar com você. Aconteceu uma coisa simplesmente inacreditável! - falei, sacudindo as
mãos no ar.
- O que pode ser tão incrível assim pra eu não acreditar? - ela perguntou, afundando seu pincel numa lata de
tinta e esboçando algumas nuvens brancas e fofas no céu.
- O Alfonso leu o meu diário!
Me sentei numa lata de tinta ao lado dela. Dulce me olhou surpresa.
- Ele pegou o seu diário e leu, assim sem mais?
- Bom, ele não pegou exatamente - respondi. - Eu esqueci o diário na praia.
- Talvez inconscientemente você quisesse que ele o lesse ela sugeriu.
- E talvez eu não devesse ter me dado ao trabalho de vir até aqui falar com você - rebati, me levantando.
- Ah, sem essa, Anahí, não precisa exagerar. Tudo bem, desculpe. Nada de psicologia de botequim,
prometo.
Ela analisou brevemente a prancha e então acrescentou alguns tufos de fumaça na chaminé.
- Seja sincera - continuou -, não pode ser que você realmente acredite que ele planejou ler o seu diário.
Você praticamente o esfregou na cara dele. Desse jeito fica muito difícil resistir.
- Pois eu acho injustificável e imperdoável - retorqui.
- Na verdade pra mim parece até lisonjeiro - disse Dulce, empertigando a cabeça.
Ela mergulhou o pincel na tinta de novo e acrescentou uma cerca de estacas branca à pintura.
- Lisonjeiro? - escarneci. - É insultante. Esse cara não tem um pingo de respeito por mim.
Dulce sorriu e pincel ou de leve algumas árvores em estilo impressionista no gramado em frente à casa.
- Vamos lá, Anahí, pense bem e seja franca. Se você tropeçasse com o diário do Alfonso e ele não estivesse
por perto, o que você faria?
- Nem olharia, nem encostaria nele - garanti em tom solene.
Dulce explodiu numa risada.
- Você leria cada página.
Me levantei brava e frustrada.
- Obrigada por não me ajudar em nada, Dulce. A gente se vê mais tarde - falei, me dirigindo para a porta.
- Tudo bem, a gente se vê - replicou Dulce, acenando para mim com o pincel.
Nem a Dulce me entende, pensei enquanto saía da cabana do teatro. Ninguém me entende.
- Ei, justo a mulher furiosa que eu estava procurando disse uma voz dolorosamente familiar quando trombei
com um corpo musculoso na trilha no meio do bosque.
Alfonso.
Eu não conseguia um minuto de sossego!
Ele tirou um buquê de flores silvestres de trás de suas costas e o estendeu para mim, com uma expressão de
arrependimento no rosto.
- Colhi especialmente pra você - disse, me dando um sorriso sedutor.
- Obrigada - repliquei educadamente, pegando as flores. Era um buquê encantador, com florzinhas roxas,
vermelhas ê: azuis. Mas não importava. Todas as flores do mundo não podiam apagar o fato de que Alfonso traíra a
minha confiança.
- Anahí, estou me sentindo péssimo por ter lido o seu diário. Eu não devia ter feito isso - ele se desculpou,
com um tom de voz dramático e sentido. - Por favor, me perdoe.
- Você acha que pode comprar o meu perdão com flores? - perguntei.
- Hum, eu tinha essa esperança - respondeu, franzindo a testa. - Que tal alguns elogios?
Cruzei os braços.
- Não pode fazer nenhum mal tentar - repliquei.
Alfonso olhou direto nos meus olhos e falou sem hesitação.
- Anahí, você é a garota mais interessante que conheci em toda a minha vida. Adoro o jeito como os seus
belos olhos azuis soltam faíscas quando você está brava, e como as suas bochechas coram quando você está
encabulada.
Um sorriso começou a forçar passagem nos meus lábios.
Surpreendentemente a técnica da bajulação estava funcionando. Tentei manter um olhar sério e duro.
- E acho também que você é uma escritora fantástica continuou ele. - Tenho certeza de que vai ser famosa
algum dia.
Eu estava a ponto de perdoá-lo quando, talvez pela menção aos meus talentos literários, uma imagem do
meu diário nas mãos dele atravessou a minha mente. Vi Alfonso na praia virando uma página após a outra, lendo um
pensamento íntimo após o outro... Um ferro em brasa atravessou meu coração. Me senti completamente exposta, e
meu sangue começou a ferver de novo.
- Olhe aqui, simplesmente me deixe em paz, entendido? - falei com raiva.
Girei nos calcanhares e saí andando como um furacão na direção da minha cabana.
Mas Alfonso me perseguiu e bloqueou a passagem.
- Por favor, me deixe explicar - ele implorou.
- E o que há pra explicar? - perguntei, impaciente, batendo o pé no chão. - Você invadiu completamente a
minha privacidade. Isso não tem explicação nem justificativa possível.
- Anahí, não li o seu diário inteiro - disse Alfonso. - Li só uma história, nada mais. O caderno se escancarou
quando eu o peguei. Olhei para a página aberta na minha frente e li algumas linhas. A história era tão boa que não
consegui largar. Mas foi só isso. Juro.
Me inclinei contra o tronco de uma árvore, olhando para ele desconfiada.
- Você leu as coisas que escrevi sobre você? - perguntei.
- Você escreveu algo sobre mim? - indagou ele, parecendo sinceramente chocado.
Confirmei com um gesto de cabeça, tentando não sorrir.
Arranquei um pedaço da casca da árvore, o quebrei em dois e joguei tudo no chão.
- O que você escreveu sobre mim? - Alfonso perguntou.
- Isso eu nunca vou contar - provoquei.
Dei alguns passos a esmo pela clareira, me sentido aliviada e segura novamente. Alfonso parecia estar
dizendo a verdade, e sua surpresa ante o fato de eu ter escrito algo sobre ele parecia sincera.
Ele gemeu e colocou as mãos na cabeça.
- Tudo bem, acho justo - aceitou.
Então me olhou com um olhar absolutamente franco e convincente.
- Anahí, eu sinto muito, de verdade. Sei bem o que é ter a privacidade invadida.
Ele andou alguns passos e deu um chute num pedregulho. - Quando eu era pequeno - continuou -, era
bastante tímido. Queria ser artista, e desenhava o tempo todo. Um dia os garotos da escola roubaram um caderno
meu cheio de desenhos e o passaram por toda a classe. Fiquei tão traumatizado que implorei aos meus pais para
mudarmos de cidade.
Ele olhou para o chão, obviamente embaraçado.
- Foi por isso que li só essa única história no seu diário e nada mais. Assim que percebi o que estava lendo,
parei e devolvi o caderno a você.
Olhei para ele, surpresa.
- Você era tímido?
Alfonso fez que sim com um gesto de cabeça, parecendo envergonhado.
- Estou perdoado?
- Acho que sim... - respondi devagar.
Ele abriu um grande sorriso.
- Posso acompanhar você até a sua cabana? - perguntou.
Cedi de uma vez por todas e deixei que ele me acompanhasse. Enquanto andávamos pela estreita trilha de
terra, Alfonso passou um braço por cima dos meus ombros. Eu mal podia me concentrar nos meus pensamentos com
seu corpo tão perto do meu.
- E então ... que conto você leu? - perguntei.
Vi um galho quebrado dependurado de uma árvore e o arranquei para usá-lo como bastão. Alfonso se
agachou para passar por baixo de outro galho.
- Aquele sobre a velhinha numa cadeira de rodas na varanda - ele respondeu. - É um texto impressionante.
As maçãs de meu rosto coraram de prazer.
- Você gostou mesmo desse? É um dos meus favoritos.
Quando chegamos à minha cabana o ar que havia entre nós estava praticamente soltando faíscas. Na
entrada me virei para encarar Alfonso, que se apoiou com uma mão em cada batente da porta.
- Gostei especialmente do final feliz - disse ele, com doçura.
Alfonso me fitou no fundo dos olhos e se aproximou. Estava tão perto que eu podia sentir seu cheiro
deliciosamente masculino, uma mistura de roupa limpa, suor e sabonete. Podia sentir sua respiração quente em
meu rosto, o calor que emanava de seu corpo no meu. Estremeci, e meu corpo inteiro se arrepiou com um forte
desejo de beijá-lo. Levantei meu rosto na direção do dele, e ele se inclinou na minha direção.
Mas subitamente Alfonso se afastou, e o encanto se desfez. Recuei alguns centímetros, respirando forte, e me
dei conta de que ficara com a respiração presa por um bom tempo.
Então ele se aproximou de novo e me beijou na bochecha.
- Boa noite, Anahí - disse com suavidade, voltando-se logo em seguida e indo embora.
Fiquei olhando enquanto ele se afastava, com o coração batendo como um bumbo dentro do peito.
Autor(a): theangelanni
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 136
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:09
Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaain acabei de ler essa web *--* Geeeeeeeeeeeeeeent eu amei */--*
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:09
Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaain acabei de ler essa web *--* Geeeeeeeeeeeeeeent eu amei */--*
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:08
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:07
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:07
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:06
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:05
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:04
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:04
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jl Postado em 26/10/2011 - 15:59:03
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