Fanfic: Minha vida nessas linhas`

• Maria Sílvia Spanic, 16 anos .
Era muito estranha a sensação que eu tinha quando acordava assustada, geralmente no meio da noite, com o corpo suado de tanto lutar contra o sono, eu tive o mesmo sonho várias vezes durante minha vida, sonhava com duas crianças gêmeas, um menino e uma menina como eu e meu irmão Rafael, mas o sonho era estranho, indescritível, eu via uma cruz enorme atrás dos bebês. Quando criança, tinha muito medo e ao acordar ia direto para o quarto dos meus pais, me deitava no lugar do meu pai, que nunca dormia em casa, acordava minha mãe a abraçando com força, minha mãe tão linda, tão boa, sempre me acalmava e depois me levava de volta para minha cama. Sempre fui atingida pela minha irmã Bruna, ela é a mais crítica, egoísta e divertida ao mesmo tempo, desde criança a ouço dizer que sou chorona e fresca, talvez por ciúmes ou simplesmente essa ser sua personalidade. Sou integrante de uma família grande e tradicional, papai é caminhoneiro, mamãe dona de casa, e somos seis irmãos, Cláudio, o mais velho e responsável, Rafael e eu, gêmeos e unidos, Bruna, Jéssica e Carla, a caçula.
Vivi minha vida inteira no Cariri, uma cidade minúscula que nem ao menos constava no mapa do estado, era no litoral, onde podia se contar nos dedos o número de professores, médicos e advogados, as profissões mais vistas era as relacionadas à pescaria, mesmo sendo no litoral, não era uma cidade turística e as praias viviam desertas.

Lívia, minha melhor amiga, companheira de aventuras, nos conhecemos ainda no jardim de infância, eu estava com muita vontade de chorar e voltar para casa, ela olhou para mim com os olhos também cheios de lágrimas e disse:
- Não precisa chorar daqui a pouco as nossas mães vão vir nos buscar...
Eu assenti num gesto com a cabeça e ela continuou:
- Se quiser eu te dou um pedaço do meu pão, minha mãe quem fez.
- Obrigada, mas eu também trouxe pão.
- Menininha, por que você quer chorar?
- Porque eu queria estudar com o meu irmão gêmeo, mas ele esta na escola de meninos. Por que as meninas não podem estudar com os meninos?
- Não sei, deve ser porque eles são chatos.
Depois dessa primeira conversa tão inocente, nunca mais nos desgrudamos, sempre estudamos juntas e ela se tornou a pessoa em quem eu mais confio.
Todos os dias vamos a escola pela manhã juntas, e depois aos cursinhos também juntas e as vezes passamos na praça para ver as pessoas e conversar um pouco. Um dia, quando voltávamos da escola ela comentou:
- Acho que ano que vem meu primo volta a morar aqui.
- Que primo?
- O Fernandinho, na verdade ele não é meu primo, mais é que meu tio se casou com a mãe dele.
- A sim... E onde ele esta?
- Esta em São Paulo, ele mora lá há algum tempo, meu tio diz que é para fazer um curso de enfermagem e depois quando voltar a morar aqui, ajudá-lo na clínica.

- Hun... E ele é muito velho?
- Meu tio é um pouco, você viu que ele já tem cabelos brancos?
- Não! Seu tio eu sei que está um pouco velho, pergunto pelo seu primo.
- Não... Você não se lembra dele? Nas minhas festas de aniversário ele sempre estava ele é loirinho, olhos claros assim como os seus.
- Não me lembro.
- Vou ver se arrumo uma foto dele para te mostrar ok?
- Ta bom. O que vai fazer nas férias?
- Não sei ainda, acho que vou arrumar um emprego de verão e trabalhar, quero entrar no segundo ano do ensino médio com dinheiro no bolso e cabelo bom.
Rimos e ela continuou:
- Meu pai disse que no clube é bem provável que contratem bastantes meninas, o que acha de tentarmos uma vaga por lá? Ou você tem algo melhor para fazer nas férias?
- Não nada. Estava realmente pensando nisso, encontrar um emprego seria ótimo para mim.
- E seu pai, vai voltar nessas férias?
- Não sei ainda, mas acho que não. Pelo menos minha mãe não disse nada a respeito de sua vinda para cá.
- Nossa deve ser horrível ser caminhoneiro... Ou se casar com um caminhoneiro.
- Ou ser filha de um caminhoneiro, meu pai nunca esta em casa, natal, aniversários, nunca...
- Eu sei, mas quando ele termina uma viagem longa, fica bastante em casa não é?
- Huhun, três, quatro meses. Aí é bom, todo mundo fica mais feliz, minha mãe então... Fica ainda mais alegre do que é.