Fanfics Brasil - Livri.01-CAP.09 ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)

Fanfic: ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)


Capítulo: Livri.01-CAP.09

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Nove


 


Xavier Ochoa deixou a cidade com o carro do xerife seguindo-o a cada centímetro até a divisa do estado. Ele teve de se defender bem para Villardy não o prender por vagabundagem. Mas o ódio dele contra Dulce não se abateu e esperava ter conseguido lhe fazer algum mal. Seu pobre irmão merecia uma vingança. Talvez agora descansasse em paz.


Uckermann não se aproximou da sala de Dulce, por medo de que Bess fizesse algum teatrinho com ele e complicasse ainda mais as coisas. Mas foi à casa dela na tarde seguinte para pedir desculpas. Ela veio recebê-lo na porta. Usava jeans e camiseta, o cabelo em rabo-de-cavalo e os óculos pendurados na ponta do nariz. Era um lindo dia, o ar de Montana parecia reluzente, as flores estavam desabrochando e a região de Cozumel nunca estivera tão bonita sob o céu azul.


- Sim? - Dulce perguntou educadamente, mas como se Uckermann fosse um desconhecido.


Sentiu-se desconfortável, pois não estava acostumado a pedir desculpas. Disse, tenso:


- Suponho que saiba por que estou aqui.


Dulce retirou as luvas de jardinagem e respondeu, sem enrolação:


- Deve ser sobre Devon.


Cerrou as sobrancelhas e comentou:


- Não. Convencemos as autoridades a mantê-lo na seção juvenil enquanto investigamos ò caso. Não vim por causa disso.


- Ah - disse sem expressão. - Então, o que deseja? -Pôs o pé no primeiro degrau e olhou para a bota preta lustrada.


- Vim pedir desculpas.


- Não imagino o porquê.


Olhou para ela e logo percebeu a amargura que lhe preencheu rosto.


- O quê?


- Sou uma mentirosa, sedutora e assassina, de acordo com Xavier Ochoa - disse energicamente. - Pelo que me contaram, você acreditou em tudo o que ele disse. Então, por que me pediria desculpas?


Inspirou e passou o chapéu de uma das mãos à outra.


- Villardy me contou tudo.


- E é por isso que está aqui - disse com a voz cansada. - Eu deveria saber que não era porque tinha chegado às suas próprias conclusões - falou sem mudar de tom. - Você ficou com a versão dos fatos de Xavier, mesmo depois que disse a você que ele era tendencioso.


- Você me contou uma meia-verdade desde o começo!


- Não levante a voz para mim! - gritou com raiva. - Não queria relembrar, não entende? Detesto ter que relembrar. A verdadeira vítima foi Clarice. Eu apenas fui burra de ir até lá sozinha para protegê-la. E, acredite, não era para seduzir Guillermo! A única coisa em que pensei foi em como evitar mais sofrimento para a menina.


- Agora sei - gemeu baixinho. - Por que não me contou?


- Por que você esperava que eu contasse? - respondeu, confusa. - Não sei muito sobre você, exceto que sua mãe bebia e lhe tratava com brutalidade e que você passou por maus momentos nas famílias adotivas.


Uckermann hesitou, buscando encontrar-lhe o olhar. Dulce continuou:


- Você me disse muito pouco sobre você. Sei apenas certas coisas, que, em geral, escutei de outras pessoas. Mas você esperava que eu lhe contasse coisas que nunca contei a ninguém na vida. Por que você esperava alguma coisa de mim que não está disposto retribuir na mesma medida?


As palavras dela o fizeram pensar. Passou a mão pelos cabelos.


- Suponho que não deveria.


- Mas tudo isso é passado agora - acrescentou. - Está saindo com Bess. Eu não invado o território de outras mulheres. Nunca. Bess ainda me perguntou antes de convidá-lo para jantar se estávamos tendo alguma coisa. Disse que não - concluiu com firmeza.


Ficou levemente corado porque se lembrou de ter dito a Bess a mesma coisa. Mas não era verdade. Nem antes, nem agora.


- Ouça... - ele começou.


- Não, ouça você. Gostei das refeições que fizemos e da ajuda que me deu nos casos. Espero que possamos trabalhar juntos no futuro. Mas, como você sabe, não tenho nada duradouro a oferecer a qualquer homem.


Uckermann se aproximou, com os olhos apertados de preocupação.


- Ser infértil não é o fim do mundo - disse baixinho.


Ela deu um passo para trás e cruzou os braços, fazendo-o parar onde estava.


- Você achava que sim e disse isso - lembrou-lhe. Com os dentes cerrados, retrucou:


- Estava fora de mim! Fiquei triste porque você manteve algo tão importante em segredo. Por isso, fiquei nervoso. Não que eu não pudesse conviver com isso...


- Mas não precisa. Ninguém precisa conviver com isso, exceto eu - disse baixinho. - Tenho certeza de que Bess não tem esse tipo de problema, e tem a vantagem de ser livre de inibições. Ela é doce e jovem e o adora - murmurou. - Você é um homem de sorte.


- Sorte? - ele repetiu amargamente.


- Agora, se me der licença - disse com um sorriso -, preciso terminar de limpar o jardim. Obrigada pela visita.


- Não desse jeito! - gritou nervoso. - Não terminei.


Ela falou ao limpar a terra das luvas:


- O que mais há para ser dito? - perguntou calma e curiosa.


Observou-lhe o rosto impassível. Ela mantinha as emoções sob controle, mas, debaixo da máscara, podia perceber uma mágoa profunda que não passaria com um pedido de desculpas. Uckermann teria que reconquistar-lhe a confiança e o respeito e isso não ocorreria da noite para o dia e não esperava que ela facilitasse as coisas.


Pôs o chapéu de volta na cabeça.


- Nada, suponho - concordou. - Já disse tudo, de qualquer forma, quando pulei no seu pescoço sem saber a verdade.


- Xavier pode ser muito convincente - respondeu e fez uma careta. - Ele colocou a cidade inteira contra mim por um tempo. Pode imaginar como a fofoca foi corrosiva - acrescentou. - Ainda detesto que falem de mim.


Dulce não mencionou que Uckermann incrementara a fofoca ao sair com Bess, tornando público que lhe rejeitara. Mas ele já sabia disso. Deve ter-lhe machucado ouvir, em cada canto na cidade, comentários sobre a nova paquera dele, além das acusações de Xavier. Entendia, agora mais do que nunca, o porquê da preocupação dela sobre serem vistos em público.


- E a Gabrielle? - ela perguntou de repente. -Alguma novidade sobre os pais dela?


- Nenhuma - respondeu. - Mas acho que estou na pista certa com Devon.


- Espero que sim - disse. - Sinto-me mal por não ter suspeitado de nada antes.


- Ninguém é perfeito, Dulce - falou, com a voz embargada e cheia de arrependimento.


Os olhos dele a observavam, em silêncio. Dulce os evitou para se proteger do magnetismo que ainda persistia entre eles.


- Eu lhe conto tudo o que descobrir.


Ela fez que sim com a cabeça, mas não respondeu. Apenas se afastou dele.


Uckermann conversara com o diretor da escola sobre Devon e descobriu que o menino fora um excelente aluno até o momento em que seu pai perdeu o emprego.


- Nunca foi um problema - disse o conselheiro da escola. - Mas mencionou uma vez que seu pai gostava de exagerar na bebida quando ficava triste. As coisas não estavam indo bem para David depois que a mulher o deixou e perder o emprego parece ter sido a gota d`água.


- Tenho certeza de que não deve ser agradável para ele viver de ajuda do governo - Uckermann concordou. - Mas descontar na criança não é a resposta.


- As pessoas bebem e perdem o controle - disse o conselheiro. - E isso é cada vez mais freqüente nesses tempos de recessão. Depois se arrependem, quando já é tarde. Posso tentar falar com Devon outra vez, se quiser. Mas não prometo nada. Ele é muito leal ao pai.


- Como a maioria das crianças - disse brevemente, lembrando-se de como protegeu sua mãe até o momento em que ela lhe quebrou o braço. Dava desculpas por seu comportamento, como Devon provavelmente estava fazendo agora.


Uckermann contatou as autoridades juvenis e teve uma longa conversa, mas já sabia o que acabou ouvindo. Devon não chegara ao fim do túnel ainda e, portanto, nada poderia ser feito.


O caso do bebê abandonado estava em pausa, mas parecia que uma parteira local se lembrava de uma senhora da cidade que havia ajudado no parto de uma moça assustada. Não era muita informação, mas qualquer coisa ajudaria.


Pensou que seria uma boa idéia compartilhar essa notícia com Dulce, embora tivesse receio de ver Bess de novo, depois de tê-la enrolado.


Mas acabou não sendo o drama que imaginou. Bess estava saindo da cozinha com uma xícara de café, quando ele entrou no escritório. Ela se aproximou e sorriu:


- Olá, desconhecido! - falou, amigavelmente. - Que tal um pouco de café?


- Agora, não, obrigado. - Sorriu pesarosamente. - Bess, há algo que preciso lhe dizer.


- Não, não há - disse com um suspiro. - Já tinha entendido, sabe? Nunca tive a intenção de pisar no calo de Dulce, mas sentia uma atração por você que precisava eliminar do meu sistema - deu-lhe um olhar envergonhado. - Não imaginava como seria doloroso trabalhar aqui depois de dar uma facada pelas costas em Dulce. Ninguém do escritório fala mais comigo, e a Dulce é muito educada, mas não é mais amigável, como costumava ser. Tudo mudou.


- Sinto muito - disse, sabendo que também era culpa dele.


Ela deu de ombros e se aproximou.


- Ainda amigos? - perguntou hesitante.


- Claro - respondeu gentilmente, reclinando-se e beijando-a de leve no rosto.


Dulce, que saíra da sala para pedir a Bess que fizesse uma ligação, viu o que parecia mais uma cena de romance e ficou paralisada.


- Dulce! - gritou Uckermann, assim que a viu. Bess se virou ainda em tempo de ver a chefe entrar na sala com as costas eretas, demonstrando dignidade.


- Bem, acho que foi a gota d`água - Bess murmurou. - Eu ia pedir-lhe desculpas hoje.


Ele respondeu:


- Eu também. Ela não merecia mais sofrimento depois do que Xavier Ochoa lhe fez.


Bess acrescentou:


- Espero que não seja tarde para desfazer o mal. - Lembrou-se de como deu uma falsa impressão às pessoas sobre seus encontros com Uckermann, e sentiu-se ainda pior. Aumentou os fatos para parecer uma femme fatale, porque Uckermann não estava nem um pouco apaixonado. Mas as histórias dela saíram pela culatra da pior maneira possível. Se admitisse agora que mentira, pareceria uma idiota metida para Dulce, que já estava sendo muito bacana. Detestaria piorar as coisas tendo que confessar sua culpa.


- Não há nada a desfazer - Uckermann respondeu inocentemente. - Eu gostei da sua comida - acrescentou com gentileza.


- Fico feliz - hesitou nervosamente. Deveria lhe contar logo como inventara coisas sobre a amizade deles, antes que fosse tarde. - Uckermann, só uma coisa...


- Mais tarde - disse, com tapinhas em suas costas. - Preciso falar com Dulce sobre um caso.


- Certo. - Ficou feliz por ganhar tempo. Não que ainda não tivesse que confessar suas meias-verdades para Dulce.


Uckermann bateu na porta da sala e entrou. Dulce levantou o olhar para ele. A expressão dela não demonstrava o seu tormento, até conseguiu sorrir.


- Entre, oficial - convidou. - O que posso fazer por você?


Fechou a porta e sentou-se na frente dela.


- Você pode me dizer que não arruinei tudo entre nós - disse sem rodeios.


Fitou-o com curiosidade.


- Ainda somos amigos - garantiu. - Não guardo ressentimentos.


A mandíbula dele travou.


- Você sabe que não foi isso que quis dizer.


Ela pôs na mesa os papéis que estava lendo e entrelaçou as mãos.


- Como posso lhe ajudar? - perguntou educadamente.


A expressão vazia de Dulce mostrava-lhe que não podia forçar sua entrada na vida dela. Não podia fazê-la desejá-lo como antes das coisas darem errado entre eles. Ela voltaria para a casca de proteção e seria necessário dinamite para retirá-la de lá dessa vez. Teve dúvidas sobre conseguir levá-la para jantar novamente, porque ela não permitiria que a fofoca sobre eles recomeçasse. Nunca se sentira tão perdido. A confiança, uma vez abalada, era difícil de ser reconquistada.


- E o Devon? - perguntou. - Presumo que foi por isso que veio aqui, não?


- Sim - confirmou. Recostou-se na cadeira e lhe contou da conversa com o conselheiro da escola. - Mas não há nada que possamos fazer até termos razões concretas para chamar o pai dele para depor. E Devon está resistindo. As autoridades juvenis não conseguem arrancar nada dele - disse, cruzando as pernas. - Por outro lado, talvez tenhamos um avanço no caso da pequena Gabrielle.


Assustou-se. Não gostava de ouvir aquilo. Tinha se envolvido tanto com a criança que uma parte dela desejava que a mãe nunca fosse encontrada. Ficou chocada com os próprios pensamentos.


- Verdade? - perguntou, lívida.


- Uma parteira conhece uma mulher que ajudou uma moça assustada no parto. Preciso encontrá-la. Pode ser a nossa primeira pista quente sobre a mãe.


- E, se encontrá-la, o que vai acontecer? - perguntou de propósito.


- Ela abandonou a própria filha. Que tipo de mãe faria isso? Certamente os juizes não permitirão que a criança volte para ela!


Nunca vira Dulce tão obviamente abalada. Sabia que se deixara apegar à criança, mas não a esse ponto.


- Tenho certeza de que não vai chegar a isso - disse ele lentamente. - Dulce, você não está pensando em ficar com o bebê, está? - acrescentou.


Encarou-o.


- E se eu estiver? O que uma guardiã indicada pelos juizes pode fazer que eu não possa? Posso dedicar meu tempo livre a uma criança, e tenho um bom salário...


- Não pode oferecer-lhe uma casa com pai e mãe - respondeu, sendo direto. - Não está numa cidade grande. Aqui em Cozumel, um juiz dará prioridade a um casal e não a uma mãe solteira.


- Isso é injusto!


- Não discordo - disse. -Apenas estou lhe dizendo o que esperar. Você conhece os juizes daqui tão bem quanto eu... Talvez melhor, porque já lidou mais com eles. A maioria tem idéias bem antiquadas sobre a vida em família.


- O mundo está mudando.


- Aqui não está - relembrou-lhe. - Estamos numa cápsula do tempo e nada muda muito.


Ela ia começar a discutir novamente, mas parou. Uckermann tinha razão. Talvez não gostasse disso, mas tinha que aceitar. Uma mulher solteira não conseguiria a custódia de um bebê abandonado em Cozumel, Montana, independente do seu bom caráter.


Encarou a perda da pequena Gabrielle com um desespero silencioso. O destino era injusto, pensou. A vida toda dela parecia uma sucessão de tragédias. Pôs a cabeça entre as mãos e suspirou.


- A criança ficará melhor numa família - ele murmurou, embora detestasse vê-la sofrer. - Você sabe que sim.


Dulce se sentou ereta novamente após um minuto, resignada.


- Bem, não vou deixar de vê-la nenhum minuto até acharem um lugar para ela - disse, obstinada.


- Ninguém disse para não fazer isso. Fitou-o.


- Ela não o cativou, não é mesmo, oficial? - perguntou-lhe com raiva. - Pode abandonar qualquer pessoa, sem nunca olhar para trás. Ninguém lhe toca o coração.


- Você tocou - respondeu grosseiramente.


- Ah, tenho certeza de que Bess foi bem mais longe do que eu - disse, com o ciúme vindo à tona. - Afinal, ela não tem problemas e pensa que você é o presente de Deus para as mulheres.


- Você não entende.


- Entendo tudo - falou diretamente. - Você quis ter certeza de que ninguém na cidade ligaria você com o alvo de tantos escândalos. Não me disse uma vez que detestava fofocas porque as pessoas falavam de você quando era pequeno? Foi por isso que começou a sair com Bess, não foi? O fato de ela estar apaixonada por você era apenas um detalhe.


Uckermann fez uma careta e respondeu:


- Não foi por isso...


Dulce se levantou, parecendo inatingível.


- Todos sabem que Bess é sua namorada, Uckermann - acrescentou orgulhosa. - Ninguém nunca mais vai associá-lo a mim. Então, vamos deixar as coisas como estão por favor.


Ele também levantou-se, sentindo-se frustrado e louco de raiva.


- Mentiram para mim muitas vezes - disse asperamente. -A confiança vem aos poucos para mim.


- Para mim também - ela respondeu em um tom controlado. - E você traiu a minha quando virou as costas para mim na primeira chance que teve. Acreditou em Xavier em vez de em mim. Nem mesmo veio me pedir explicação.


 O rosto dele ficou duro como aço. Não tinha como se defender.


- Não precisa ficar tão abalado, Uckermann. Não tem a menor importância. Foi apenas algo passageiro. Você não confia nas mulheres e eu não sou do tipo que aceita ter um caso.


- Não teria sido um caso - respondeu. - Não estou sozinho por opção. Estou sozinho porque nunca encontrei uma mulher de quem gostasse. Uma por quem sentisse desejo, sim. Mas tem de haver mais para uma relação do que umas noites na cama. E eu senti por você... mais do que desejo.


- Mas não o suficiente - falou ela, quase engasgando nas palavras. - Nem perto do suficiente para você aceitar o que... sou.


O semblante dele se contraiu.


- Pelo amor de Deus, você é uma mulher! Ser infértil não muda nada!


Virou-lhe o rosto, pois a dor que Dulce sentiu era quase física.


- Por favor, vá embora - disse numa voz apertada. Sentou-se na cadeira atrás de sua mesa com as feições de uma corredora exausta. - Por favor, vá.


Pôs as mãos no bolso e fitou-a.


- Você não cede um centímetro. Como espera viver nesse estado mental tão rígido? Cometi um erro, tudo bem? Não sou perfeito. Não ando por aí com uma auréola na cabeça. Por que não consegue esquecer?


Os olhos dela demonstraram vulnerabilidade por um momento.


- Porque foi doloroso ver você me virar as costas - confessou com a voz rouca. - Não vou deixar que me machuque de novo.


Ele ficou boquiaberto.


- Dulce, aprendemos com os nossos erros. É disso que a vida é feita.


- Erros são do que a minha vida é feita - ela disse, rindo amargamente. Esfregou a mão na testa.


- E ainda há coisas de que não sabe. Fui uma tola, Uckermann, e a culpa é sua porque você não aceitaria um não como resposta. Por que teve que se intrometer? Estava feliz sozinha, estava resignada...


- E por que ficou tentando tomar conta de mim? - retrucou.


Tinha de admitir que fizera de tudo para isso. Levantou o olhar e depois o abaixou novamente.


- Insanidade temporária - alegou. - Você não tinha ninguém, assim como eu. Queria ser sua amiga.


- Amigos se perdoam.


Ela mordeu o lábio. Não conseguiu dizer-lhe que queria mais do que amizade. Mas ainda tinha segredos que não poderia lhe revelar jamais. Não poderia lhe contar o restante da história, nem mesmo agora. O caso dele com Bess a livrara da fraqueza fatal de se entregar a ele, de permitir que vivessem um romance casual. Se tivessem chegado a isso, corrigiu-se. Porque tinha dúvidas que teria.


- O que você ainda não me contou? - perguntou. Dulce afastou o cabelo que lhe caía sobre a face.


- Nada que precise saber, Uckermann - disse, recostando-se. Forçou um sorriso. - Por que não vai almoçar com Bess?


- Bess e eu somos amigos - falou ele. - Apenas isso. E já causei problemas demais aqui. Sei que você mal fala com ela. E é culpa minha e não dela.


Encarou-o.


- Bess é uma profissional que se reporta a mim e como eu a trato é assunto meu.


- Sei disso - respondeu. - Mas ela se sente culpada e eu também.


Dulce ergueu as sobrancelhas.


- Por quê?


- Nenhum de nós tornou a sua vida fácil - ele disse.


- Não sabia o que aconteceu com você, mas, mesmo que você fosse tudo o que Xavier Ochoa disse, eu não tinha o direito de torná-la alvo de fofoca. Bess sabe porque saí com ela. Poderia tê-la magoado tanto quanto magoei você. Tenho que admitir. Felizmente ela, assim como eu, não tinha intenções sérias na nossa relação.


- Não foi o que ela nos contou - falou Dulce entre dentes cerrados.


Uckermann a encarou horrorizado. Que histórias Bess contara para que Dulce tenha ficado tão irritada? Ele fez uma careta.


- Dulce, não aconteceu nada. Apenas saímos para jantar e almoçar algumas vezes e a beijei uma vez. Só isso.


- É um cavalheiro por defendê-la - disse, com a cara fechada. - Mas não sou criança. Não tem que mentir para protegê-la.


- Não estou mentindo!


Dulce abriu uma pasta de arquivo e espalhou os papéis que continha.


- Quero saber o que você souber sobre a parteira - falou. - E sobre Devon, se as autoridades juvenis conseguirem algum resultado.


Observou-a por um longo período de tempo.


- É uma revanche, Dulce? - perguntou baixinho.


- Não acreditei em você. Agora você não acredita em mim?


Fitou-o.


- Não tem nada a ver com isso. Apenas acho que está sendo cavalheiro para salvar a pele de Bess - respondeu. - É muito gentil da sua parte, mas desnecessário. Nada que faça com Bess ou qualquer outra pessoa é assunto meu.


Encarou-a por certo tempo, procurando as palavras certas, mas não soube dizer nada apropriado para aquela situação.


Encontrou muitas palavras, entretanto, quando fechou a porta da sala de Dulce, encontrou Bess, que o esperava.


- O que contou a ela? - perguntou de forma direta. Ela deu um sorriso amarelo.


- Aumentei um pouco para não passar vergonha - respondeu. - Pensei que seríamos um casal apaixonado e fiquei decepcionada porque você nem queria me beijar. Desculpe! Não sabia que seria tão duro para a Dulce ou nunca haveria contado aquelas mentiras horrorosas sobre nós dois.


- Que mentiras?


Bess enrubesceu. Não conseguiria, jamais, admitir.


- Vou contar a ela a verdade - prometeu. - Conto-lhe tudinho, prometo que sim. Por favor, não fique louco de raiva.


- Louco de raiva? - Ele balançou a cabeça, enquanto andava em direção à porta. - Devo mesmo ser louco para ter me metido nesta enrascada. Ou, talvez, apenas tenha talento para criar a minha própria destruição.


Continuou andando.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Dez   As últimas palavras que Uckermann disse a Bess foram proféticas. Estava pensando em Dulce quando não deveria e entrou numa loja de conveniência, fora da cidade, sem notar o silêncio agourento e a cara assustada da balconista. Parece que aconteceu em câmera lenta. Um homem com uma jaqueta jeans desbotada apareceu segurando ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 323



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  • Jusly_ Postado em 27/06/2015 - 18:35:47

    Amei

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