Fanfics Brasil - Livro.02 - CAP.02 ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)

Fanfic: ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)


Capítulo: Livro.02 - CAP.02

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Dois


 


Na manhã seguinte, Dulce acordou com uma dor de cabeça de rachar. Arrastando-se para fora da cama, ela foi até o banheiro e tomou dois comprimidos analgésicos. Depois, fitou a garrafa e se perguntou quantos comprimidos seriam necessários para dar um fim a todo o sofrimento.


Lágrimas encheram-lhe os olhos. Jamais algo tão horrível lhe passara pela cabeça, e ela jamais fora de desistir, de nada. O que estava acontecendo com ela? Havia uma solução para qualquer problema, e, por tudo de mais sagrado, ela encontraria uma para o seu. Devolvendo o vidro de comprimidos para o armário, Dulce ligou o chuveiro a toda potência, tirou a camisola e entrou no boxe. A água ainda não havia esquentado, mas, naquela manhã, ela estava precisando do choque gelado.


Quinze minutos mais tarde, estava vestida e pronta para encarar o dia.


Talvez algo de bom acontecesse, para variar, ela pensou esperançosa, a caminho da cozinha.


 


Chris foi tomar o desjejum no Hip Hop Café, que não era nada parecido com o que ele esperava encontrar. Nada combinava. Havia um longo balcão cromado remanescente da década de cinqüenta, e uma bando de mesas e cadeiras de diferentes modelos. As paredes do café estavam repletas de objetos, pôsteres e tecidos com dizeres bordados e emoldurados.


Os muitos objetos, somados ao muitos fregueses ocupando o lugar, dava a Chris a impressão de desordem e algazarra. Mas a música country ecoando pelo estabelecimento e o burburinho de conversas e risadas o convidaram a entrar, e Chris caminhou até o balcão, onde ocupou um banco vazio.


O homem à sua esquerda acenou ligeiramente com a cabeça.


- `Dia.


- `Dia. - Chris pegou o cardápio sobre o balcão e o abriu. - O que tem de bom aqui? - perguntou ao vizinho.


- Tudo é bom no Hip Hop. Deve ser novo na cidade se nunca comeu aqui.


A atividade no estabelecimento era assombrosa. As garçonetes não só serviam a comida vinda da cozinha com impressionante velocidade e eficiência, mas também conversavam e brincavam com os clientes.


Uma jovem adentrou o recinto através das portas de vaivém que levavam à cozinha. Seu cabelo quase negro estava preso para trás em uma trança que lhe descia até a metade das costas. Ela possuía olhos azuis e um belo corpo, e estava usando uma saia que ia quase até a altura dos tornozelos e uma blusa cor de rosa. Chris a examinou com atenção quando ela passou atrás do balcão sorrindo e falando com as pessoas por quem passava.


- É Ninel Conde, a proprietária - comentou o amigável vizinho de Chris. - Gente finíssima.


Além de realmente parecer ser "gente finíssima", Ninel Conde era bela o suficiente para chamar a atenção de qualquer homem. Em qualquer outra ocasião, Chris teria insistido no assunto, chegando até a perguntar ao sujeito ao seu lado se Ninel era casada. Mas, naquela manhã, coisas mais importantes do que uma mulher bonita ocupavam seus pensamentos. Tinha de reconhecer que Dulce Saviñon era muito atraente, mas se a beleza não era o motivo pelo qual não conseguia parar de pensar nela. Sentia um frio na barriga cada vez que pensava em insistir em cobrar o dinheiro que emprestara da mulher.


Mentalmente contou o dinheiro na carteira - duas notas de vinte, uma de dez, e três de um. Cinqüenta e três dólares. Em um compartimento oculto na carteira, também trazia uma nota de cem dólares bem dobradinha. Há sete anos que a nota não deixava aquele compartimento. Desde a última vez em que Chris chegara ao fundo do poço. Ao receber seu primeiro dinheirinho, após estar quebrado há cerca de duas semanas, ele dobrara a nota de cem e a escondera no compartimento. A presença daquela nota ali havia lhe concedido uma ligeira sensação de segurança.


Mas era todo o dinheiro que lhe restava, cento e cinqüenta e três dólares, e sentia-se mal só de pensar em usar a nota de cem, como se estivesse admitindo o seu fracasso.


Precisava receber aqueles três mil dólares.


- Está pronto para pedir, moço?


Pego de surpresa, Chris olhou para a garçonete. Perdido em pensamentos, estivera fitando distraidamente o cardápio sem nada enxergar.


- Hã, presunto com ovos e uma fritada de batatas. E café.


A garçonete colocou o lápis atrás da orelha e sorriu.


- Vou buscar o seu café. Devo trazer o resto do pedido em alguns minutos.


- Obrigado.


- O pão da casa é delicioso - informou o vizinho de Chris. - Ninel transformou o lugar em um ótimo lugar para se comer.


Uma xícara de café foi depositada sobre o balcão, diante de Chris.


- Obrigado - disse para a garçonete. Depois, virou-se para o vizinho e estendeu a mão. - Chris Uckermann.


- John Tully. Sou dono da farmácia entre o Hip Hop Café e a pousada.


- Sabe de alguma oferta de trabalho nos arredores? - Chris perguntou.


Tully franziu a testa.


- Bem..., nada me vem à cabeça. Que tipo de trabalho está procurando?


Embora houvesse puxado o assunto, este só fazia deixar Chris deprimido. Não queria um emprego, com todos os diabos, queria seus três mil dólares para que pudesse retornar ao circuito de rodeios.


- Qualquer coisa em um rancho - respondeu.


- Neste caso, não creio que terá problemas. O que não faltam são ranchos nos arredores de Cozumel. Vejamos. Talvez deva começar com o de Smith, é o maior da região. Depois, temos o rancho Walker e a propriedade de Wyatt North, e... - Os olhos do homem se iluminaram. - Aposto que pode conseguir trabalho no Circle W.


O homem calvo começou a rir. Chris estremeceu. Circle W era o rancho de Simon Saviñon! Quer dizer, o rancho de Dulce Saviñon, corrigiu-se. John Tully parou de rir, mas continuou a sorrir.


- Como é novo por essas bandas, não tinha como saber, mas a sra. Saviñon trocou o nome do rancho logo após a morte do marido. - Por um instante, o sorriso de Tully desapareceu. - Um trágico acidente automobilístico na rodovia. - Ele voltou a sorrir. - De qualquer modo, ela tirou a placa que dizia Circle W e pendurou uma que dizia No Buli Ranch.


A garçonete trouxe o café da manhã de Chris.


- Aqui está, moço. Bom apetite.


Chris pegou o garfo e ficou se perguntando por que não notara a placa no dia anterior. Um atendente do posto de gasolina na cidade lhe dissera como chegar ao rancho, e estava ansioso para encontrar Simon. Ou talvez a placa não estivesse em um local de destaque. De qualquer modo, deixara de notá-la.


- De qualquer forma - Tully prosseguiu -, sem dúvida nenhuma a sra. Saviñon está precisando de uma boa ajuda no rancho. Se está querendo emprego, talvez deva ir falar com ela.


- Talvez eu faça isso. Obrigado.


Chris sentiu-se aliviado ao ver John Tully pagando sua conta.


- Foi um prazer conversar com você, Chris. Estou certo de que nos reencontraremos em breve.


- É provável que sim.


Chris concentrou sua atenção na comida, que estava quente e muito saborosa. Estava acabando de comer quando a porta da lanchonete se abriu para mais um freguês.


- Oi, Eddy - cumprimentou Ninel da outra extremidade do balcão, onde se sentara para tomar o próprio café da manhã.


Chris não deu atenção ao novo freguês até alguém mais cumprimentá-lo.


- Olá, xerife.


Foi então que Chris se virou para dar uma boa olhada no homem que Dulce Tyler usara para ameaçá-lo no dia anterior. Então, o homem moreno, alto e musculoso era um bom amigo de Dulce. Fora isso que ela dissera. O xerife é um bom amigo meu.


Por algum motivo que não conseguia entender, Chris antipatizara com o xerife à primeira vista. Pegando sua comanda, ele se dirigiu para a caixa registradora, passando pelo xerife, que seguia para um banco vazio.


Ninel correu para atendê-lo.


- Espero que tenha gostado da comida. Entregando-lhe a comanda e uma nota de dez, Chris a fitou direto nos olhos azuis estonteantes.


- Foi o melhor café da manhã que já comi.


Ninel sorriu.


- É exatamente o que gostamos de ouvir.


Ela registrou a venda e entregou o troco para Chris.


Depois deixou a lanchonete como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo, só para o caso de Ninel Conde estar olhando.


Mas, assim que subiu na caminhonete, seu mau-humor retornou e Ninel foi completamente esquecida. Suspirando profundamente, ele ligou o motor e procurou se conformar com a idéia de visitar os ranchos locais inquirindo sobre trabalho.


Naquele momento, sua vida era uma verdadeira droga.


 


Chris rodou um bocado. O rancho de Smith ficava mais de 25 quilômetros a noroeste de Cozumel; o rancho Walker quarenta quilômetros a oeste; e o rancho North ficava na direção oposta, cinqüenta e seis quilômetros ao leste. Em seguida, ele cruzou a Interestadual 90 e foi dar uma verificada na propriedade dos Bain. Ao dar meia-volta e alcançar novamente a interestadual, parou a caminhonete no acostamento. Encontrara os maiores ranchos da região sem maiores dificuldades, mas não parará em sequer um deles e indagar a respeito de trabalho.


Durante todo o percurso apenas pensara intensamente. John Tully tinha razão; Dulce Saviñon de fato precisava de ajuda em seu rancho. Ele próprio já notará, no dia anterior, que ela precisaria de alguém com o conhecimento necessário para domar aqueles cavalos selvagens.


E, se Chris possuía um dom natural, era o de trabalhar com cavalos. Crescera em um rancho no Texas, onde houvera cavalos verdes de sobra para treinar no uso da sela. É claro que amava muito mais a vida de rodeios do que o trabalho no rancho, e, assim que teve idade para se virar sozinho, deixou o rancho Uckermann sob os cuidados dos pais.


Pouco depois, o pai morreu. Ao ser notificado, ele voltara correndo para casa. A mãe, naturalmente, ficara arrasada, mas, um mês depois, já voltara ao normal e notara a inquietação crescente no filho.


- Sei que quer continuar com a sua vida, Chris, então acho que não vai ficar chateado de saber que estou vendendo o rancho e me mudando para a cidade. Estou errada?


Ele sentiu-se tão aliviado, que as pernas chegaram a ficar bambas.


- É uma ótima idéia, mãe. Lila Uckermann sorriu astutamente.


- Foi o que eu pensei.


Chris via a mãe uma vez por ano. Suas visitas sempre coincidiam com a programação dos rodeios no leste do Texas, mas Lila não parecia se importar. Contudo, ocasionalmente, ela fazia comentários sutis a respeito de Chris se casar e assentar-se em algum lugar. A resposta padrão de Chris sempre fora uma gargalhada, um abraço na mãe e um arrogante:


- Ora, mãe, pense em todas as mulheres infelizes por esse mundo afora, se eu me contentasse com uma só.


Embora estivesse com 35 anos de idade, assentar-se não estava nos planos imediatos de Chris. Sentia-Se fisicamente mal só de pensar em se prender a um emprego fixo, mas estava em uma situação difícil, financeiramente falando, e precisava fazer algo. Ainda assim, passara ao largo de meia dúzia de ranchos hoje. Poderia estar empregado agora mesmo, se ao menos conseguisse tirar da cabeça Dulce Saviñon, seus cavalos indomados e os três mil dólares.


Após cerca de dez minutos de contemplação, ele sussurrou um palavrão, engatou a marcha e saiu em disparada.


Chris passou debaixo da interestadual e seguiu de volta para Cozumel.


 


Há pelo menos duas horas que Dulce estava agachada tirando ervas daninhas de sua plantação de verduras. Endireitando-se, com um gemido abafado de alívio, ela limpou a testa suada com as costas do antebraço e fitou as fileiras de plantas livres de ervas daninhas. O jardim sempre fora muito importante para Dulce, mas a colheita deste ano a ajudaria e a Devon a passarem o inverno. Ela enlataria e congelaria tudo que pudesse ser enlatado e congelado, e já no outono, pediria a Devon que levasse um novilho ao açougueiro, o que lhes forneceria carne para comer com os legumes. Eles sobreviveriam ao inverno, desde, é claro, que ela arrumasse dinheiro para pagar as mensalidades da hipoteca do rancho.


O movimento dos cavalos no pasto chamou a atenção de Dulce, e ela considerou mais uma vez o valor monetário em potencial dos animais. Indomados, eles poderiam render cerca de cem dólares cada, e havia noventa e três cavalos, o que dava um total de nove mil e trezentos dólares. Contudo, achar comparadores para noventa e três cavalos indomados em Cozumel era um sonho.


Além do mais, eram excelentes animais, e com o treinamento adequado poderia obter até cinco vezes essa quantia pelos animais. No entanto, não possuía dinheiro para pagar um bom adestrador de cavalos. Era um circulo vicioso. Sem dinheiro, nada de treinador. Sem treinador, nada de dinheiro.


Como diabos Simon pôde achar que vender o gado para comprar os cavalos selvagens fosse uma boa idéia?


- Dulce, olhe o que eu encontrei!


Dulce se virou para ver Devon vindo em sua direção, seguido de perto por um cachorro preto e magricela.


- Você achou um cachorro - ela disse. - Onde?


Devon deu de ombros.


- Ela apareceu do nada. Talvez alguém a tenha abandonado na beira da estrada.


Dulce sabia que havia gente capaz de fazer isso. Simplesmente paravam o carro e jogavam para fora dele um pobre gatinho ou cachorrinho incapazes de se defender.


Ela aproximou-se para inspecionar o animal, que se encolheu, tremendo, e depois se deitou com a cabeça sobre as patas.


- Ela está pele e ossos - Dulce constatou furiosa. - Devon, vá lá dentro pegar uma vasilha de pão com leite quente. A pobrezinha pode até estar fraca demais para comer, mas vamos tentar.


Receosa de encostar na cadelinha de olhos tristes, até que esta a conhecesse melhor, Dulce sentou-se na grama para aguardar o retorno de Devon.


- A vida não foi muito boa com você, não é, querida? - O rabinho da cachorrinha agitou-se debilmente sobre a grama. - Você quer ser nossa amiga, não quer? Quem sabe não vai mesmo ser?


Desanimada, Dulce sacudiu a cabeça. A última coisa de que estava precisando no momento era outra boca para alimentar. Especialmente uma que poderia beneficiar muito pouco o rancho.


Mas não tinha coragem de expulsar o pobre animal faminto.


Devon voltou correndo.


- Aqui está, menina. - Ele depositou a vasilha diante da cadela, mas a cachorrinha simplesmente ficou ali deitada, imóvel. - Vamos, menina, você precisa comer.


Dulce percebeu que Devon não compartilhava de seus receios quanto a tocar na cachorra. Ele pegou um pedaço de pão ensopado de leite e o levou até a boca do animal. A língua da cadela lambeu a mão estendida do jovem, e ela pareceu se dar conta do que ele estava lhe oferecendo. Esforçando-se para se levantar, ela enfiou o focinho na vasilha e começou a comer.


- Isso mesmo, menina - sussurrou Devon. - Coma tudo.


- Ela provavelmente também vai precisar de um pouco de água - Dulce disse, levantando-se. Pouco depois, ela retornou, trazendo uma panela velha cheia de água.


- Ela não comeu todo o pão com leite - informou Devon.


- Ela deve acabar de comer mais tarde. Aqui, menina, beba um pouco de água.


A cadela obedeceu, e depois se deitou novamente.


- Acha que ela está doente, Dulce? - Devon perguntou, preocupado.


- Acho que estava quase morte de fome, Devon. Mas, agora que ela já comeu um pouquinho, precisa descansar. Provavelmente vai se sentir melhor em um ou dois dias.


Devon estava ajoelhado ao lado da cadelinha, acariciando-lhe as costas.


- Ela é muito bonita, não acha?


Dulce chegou quase a sorrir, Aquela vira-lata ossuda podia ser qualquer coisa, menos bonita. Mas Devon não tivera muito amor em sua vida, e Dulce considerava até bem-vinda a sua afeição pelo animal abandonado.


- Depois que engordar um pouco, se mostrará um belo animal - disse, diplomaticamente.


Ambos escutaram o veículo se aproximando. Devon o avistou primeiro.


- Chiii, adivinhe quem está de volta?


Dulce se virou e viu a caminhonete de Chris Uckermann estacionando ao lado da sua. Ela amarrou a cara.


- Ótimo. Só me faltava mais esta para completar o meu dia.


- Quer que eu fale com ele? - ofereceu-se Devon, como sempre, disposto a fazer de tudo para ajudar Dulce.


- Obrigada, mas acho melhor cuidar disso eu mesma. Aparentemente, ele não desistiu do dinheiro que Simon lhe devia. Só me faça um favor, Devon. Fique por perto, e se o sr. Uckermann começar a ficar beligerante demais, ligue para Eddy e peça para que ele venha rápido para cá.


As feições juvenis de Devon enrijeceram diante dos olhos de Dulce.


- Acha que ele vai criar problemas, Dulce? Se o fizer, eu parto para cima dele.


- Não, Devon. Basta chamar Eddy. Chris tem o dobro do seu tamanho, e não quero que você se machuque.


- Tamanho não é documento - Devon resmungou. -Não tenho medo dele só porque o sujeito é maior do que eu.


- Sei que não. Se lhe servir de consolo, também não tenho medo dele. Só não quero ser incomodada todos os dias por Chris Uckermann. Se esse for o caso, Eddy deixará tudo bem claro para ele. Entende o que eu quero dizer?


- Entendo - respondeu Devon, emburrado.


Queria e faria de tudo para proteger Dulce. Chamar o xerife provavelmente era a coisa sensata a se fazer, mas ele gostaria que Dulce não visse nele um garotinho indefeso.


Inspirando fundo, Dulce seguiu para a área do pátio reservada para o estacionamento, onde Chris estava descendo de sua caminhonete.


- Antes que comece a gritar, me dê a chance de falar uma coisa, está bem? - Chris pediu, com a mesma expressão carrancuda que exibira no rosto o dia inteiro.


- Se essa coisa diz respeito à nota promissória de Simon, a resposta é não.


- Não diz, não. Quer dizer, de certa forma diz, mas, de um modo geral, diz respeito à outra coisa.


Dulce cruzou os braços.


- Muito bem. Desembuche.


Pigarreando, Chris voltou o olhar para o pasto dos cavalos.


- Você precisa de alguém para domar aqueles cavalos, e eu preciso de um emprego. Aqui está minha oferta. - Ele fitou Dulce nos olhos. - Você me oferece hospedagem e alguns trocados por semana e eu colocarei um sorriso no rosto de cada um daqueles cavalos. Alguns deles parecem ter potencial para se tornarem bons cavalos de sela, o que exigirá mais trabalho. Mas, quando estiverem todos tão doces quanto o açúcar, você vai conseguir um excelente preço por eles. Aí me paga os três mil dólares, me deixa escolher um deles como bônus, e eu desapareço de sua vida para sempre.


Dulce ficou ligeiramente atordoada.


- Sua oferta me parece beneficiar muito mais o seu lado. Por que deveria acabar com o melhor cavalo da manada?


- Por que não terá que me pagar durante todo o processo de adestramento, com exceção, como eu mencionei, de um lugar para dormir, um pouco de comida e alguns trocados por semana, para as miudezas. Olha, você já me deve os três mil dólares, então não pode considerar isso pagamento. O cavalo serviria de remuneração pelo trabalho feito.


Dulce ficou ali postada, de braços cruzados, fitando aquele homem irritante que lhe fizera uma proposta tão ultrajante.


Contudo, era mesmo ultrajante? Como ele dissera, ela já lhe devia os três mil dólares, embora não tivesse nenhuma intenção de pagar a dívida de Simon. Mas era uma reivindicação justa e não era esse o ponto da proposta de Chris que a incomodava.


- Como posso saber se é capaz de fazer o trabalho? - ela perguntou.


- Porque estou dizendo que posso - retrucou bruscamente Chris. - Cresci em um rancho. Conheço cavalos, e sou muito bom com eles.


A confiança de machão de Chris a irritava. Simon se considerara um perito em inúmeras coisas, quando, na verdade, seu conhecimento real era extremamente limitado. Chris Uckermann podia ser o mesmo tipo de homem. Um fanfarrão vaidoso e convencido.


- E quanto tempo levaria para completar o trabalho? - perguntou Dulce, incapaz de disfarçar sua desconfiança e suas dúvidas no tom de voz.


Chris percebeu a falta de confiança, mas optou por ignorá-la. Mais uma vez, voltou o olhar para os cavalos.


- Tem cerca de cem cavalos...


- Noventa e três.


- Muito bem, noventa e três. - Chris efetuou alguns cálculos na cabeça. Domar um cavalo exigia tempo e paciência, mas um adestrador não trabalhava apenas com um único animal até que este aceitasse os humanos e seus comandos. Trabalharia com sete ou oito cavalos por dia, um de cada vez, é claro. Alguns cederiam com facilidade, e exigiriam apenas algumas poucas sessões; outros se mostrariam teimosos, obstinados e malvados e exigiriam dezenas de sessões. Porém, ele sabia como identificar os mais rebeldes e começaria com os animais mais dóceis. Tudo não deveria demorar mais do que umas dez semanas.


- Devo estar indo embora no final de setembro - disse para Dulce.


Os olhos da moça se arregalaram.


- Menos de três meses?


Chris assentiu.


- E não é conversa para boi dormir. Até o final de setembro, os animais vão estar prontos para serem vendidos. Sugiro que dê um belo de um arrasta-pé, convide compradores em potencial, e aproveite para fazer um leilão.


- Um leilão - ela repetiu lentamente, embora as promessas e sugestões de Chris estivessem fazendo com que seu sangue percorresse o seu corpo a mil.


No entanto, Dulce não era dada a decisões impulsivas, por melhor que estas parecessem.


- Deixe-me pensar na sua proposta até amanhã.


Ah, diabos, pensou Chris. "Até amanhã" significava mais trinta dólares gastos com um quarto de motel.


Frustrado e irrequieto, Chris esfregou a nuca, inspirou fundo, e perguntou:


- Qual é o problema? Acha que não conseguirei cumprir o prometido?


- Minha única garantia de que cumprirá é a sua palavra, não é?


- E continuará a ser sua única garantia amanhã de manhã. Dulce, hoje foi um verdadeiro inferno para mim. Dirigi trezentos e vinte quilômetros rodando todos os outros ranchos ao redor de Cozumel, tentando reunir a coragem para pedir trabalho aos seus donos. Preciso de um emprego, mas não quero arrumar um. Entende o que quero dizer? Esse acordo nos beneficiaria a ambos. Seus cavalos estariam prontos para serem vendidos até o final de setembro e eu voltaria a fazer o que faço melhor.


- Rodeios - Dulce disse friamente.


O tom utilizado surpreendeu Chris.


- Tem algo contra rodeios?


- Coisas demais para entrar em detalhes.


- Mas, Simon...


- Adorava os rodeios, exatamente como você parece adorar. Deixe para lá. Suas preferências não são da minha conta, nem minhas reservas são da sua. Voltando a sua oferta, realmente gostaria de passar a noite pensando nela.


Chris amarrou a cara.


- Tudo bem. Mas será que se importaria se eu dormisse no seu celeiro enquanto tenta se decidir?


- No meu celeiro! Quer passar a noite aqui?


- Tenho um saco de dormir.


Dulce inspirou fundo. Será que ele estava tão duro assim, que nem tinha dinheiro para pagar a noite em uma pousada ou em um quarto de motel?


Ela suspirou baixinho. Dois animais desgarrados na mesma tarde. Devon ainda estava sentado ao lado da cadela, acariciando-lhe a cabeça. E, agora, mais esta. Chris Uckermann pedindo para dormir em seu celeiro por que não tinha dinheiro para pagar um quarto.


- Tudo bem - ela disse, resignadamente. - Pode ficar. Mas não vai precisar do saco de dormir. Tem um quarto no andar superior do celeiro com uma cama e adjacente a um pequeno banheiro. Devon lhe mostrará onde ele fica.


Sacudindo a cabeça, Dulce deu-lhe as costas e afastou-se. Observando-a afastar-se, Chris admitiu sua total e completa perplexidade diante de Dulce Saviñon. Ela estava usando jeans, uma camiseta velha e tênis, e a poeira por suas mãos e roupas era prova de um dia duro de trabalho. Com certeza, não era o tipo de mulher por que Chris costumava se sentir atraído. Ninel Conde, com seus lindos olhos azuis e longos cabelos escuros, fazia muito mais o seu tipo. Mas era Dulce que o empolgava, não Ninel. Como diabos isso podia ser?


Bem, pelo menos teria uma cama de graça para passar a noite. E talvez, até o dia seguinte, Dulce se desse conta de como sua proposta poderia ser vantajosa para os dois.



CONTINUO?!


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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 323



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  • Jusly_ Postado em 27/06/2015 - 18:35:47

    Amei

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