Fanfics Brasil - Cap.2 ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)

Fanfic: ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)


Capítulo: Cap.2

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Para NinaBreak e JessikaVon


Dois


 


Uckermann a levou para uma mesa e depois trouxe duas xícaras de café fumegante.


- E se eu não tomasse café? - ela perguntou.


- Sempre a vejo com uma xícara de café na mão - respondeu, sorrindo. - E sem leite também. Açúcar?


Dulce balançou a cabeça.


- Eu vivo da cafeína e não do sabor. - Pôs as mãos em volta da xícara quente e olhou para ele. - Você não gosta de mim tanto assim, a ponto de me convidar para um café sem querer nada em troca. O que quer?


Ficou chocado. Será que a auto-estima dela era tão baixa? Fitou-lhe o rosto. Por que será que ela parecia tão diferente? Talvez porque não estivesse usando maquiagem e seus óculos grossos pendessem na ponta do nariz. Mas havia algo mais. Logo, deu-se conta da diferença. Os cabelos dela - longos, gloriosos, negros - caiam em cachos sobre os ombros e desciam até o meio das costas. Suas mãos estavam loucas para tocá-los e, só de pensar nisso, suas sobrancelhas se arquearem em sinal de surpresa.                                                   


- Não leio mentes - ela disse educadamente.        


- O quê? - Ele franziu a testa e, depois, lembrou-se da pergunta. - Como você foi se meter naquela casa durante uma briga familiar?


-Ah, era isso!                                                  


Ele a encarou.                                                   


- Não faça pouco caso - disse secamente. - Mais policiais são feridos em discussões de família do que em tiroteios.


- Eu sei. Acompanho as estatísticas. Ellen me ligou e eu fui. Apenas isso.


- Da próxima vez - disse lentamente - você me telefona antes de se envolver em algo assim. Compreendido?


- Mas não havia perigo - começou a lhe explicar.


- O homem pesa 110 quilos e você - disse curto e grosso -, no máximo, o quê, uns 55?


- Não sou uma inútil! - riu nervosamente. Não lhe contaria sobre o medo que sentiu ao receber o telefonema de Ellen, que chorava desesperada, implorando para que viesse. Ir àquela casa lhe exigiu toda a coragem.


- Você tem treinamento em autodefesa? - Hesitante, respondeu que não balançando a cabeça, irritada. -Você carrega uma arma?


- O que eu faria com uma? - perguntou. - Atiraria na minha própria perna!


A cara dele se fechou mais ainda.


- Então, como você esperava lidar com um homem bêbado com o dobro do seu peso?


Ela mordeu o lábio inferior e não levantou o olhar da xícara de café.


- Ellen me pediu e esse é o meu trabalho.


- Não é não - disse com firmeza. - O seu trabalho é ajudar as pessoas menos afortunadas e resgatar crianças de situações de abuso. Não tem nada a ver com trabalho de polícia.


O olhar fixo dele a fez querer dar dois passos para trás. Ela achou que isso deveria funcionar bem com os fora-da-lei.


Dulce soltou um suspiro.


- Certo - disse gesticulando com a mão fina, sem nenhum anel. - Deixei as minhas emoções tomarem conta de mim e fiz uma burrice. Graças a Deus não me machuquei.


- Que bom que você admite - respondeu.


- Você é muito chato, Uckermann - foi direta.


- Engraçado você me dizer isso - retrucou. - Pois disse o mesmo sobre você a Villardy hoje de manhã.


- Oh, sei que você não gosta de mim - ela concordou.


- Pensa que assistentes sociais devem ser como você, tratando as pessoas como se fossem estatísticas, sem envolvimento emocional...


- Bingo! - ele disse imediatamente. Ela pôs o café na mesa suavemente.


- Cem anos atrás, a maior parte do sul do país pertencia aos Crow - ela disse, olhando-o diretamente, pois conhecia sua origem. - Eles tinham um sistema social dos mais eficientes e bem desenvolvidos. Ninguém colocava a propriedade privada acima das necessidades da comunidade. Presentes eram distribuídos anualmente para os membros da tribo. Se um homem matasse um animal, a carne era dividida entre todos. Cada um cuidava do outro na vila, e as pessoas eram aceitas pelo que eram. Ninguém se sentia solitário porque cada um pertencia, de certa forma, a uma mesma família.


Uckermann curvou-se para frente.


- Com a exceção do Crazy Horse, que ficava com tudo só para si.


Acenou com a cabeça.


- Com essa exceção.


- Alguém lhe contou que eu tenho um ancestral Crow - ele deduziu corretamente.


Dulce deu de ombros.


- Em Cozumel, todo mundo sabe da vida de todo mundo. Bem, quase tudo - acrescentou, porque tinha certeza de que ele não sabia das suas cicatrizes emocionais. O incidente não fora alardeado por causa da natureza do crime e por haver uma menina menor de idade envolvida. Mas, de qualquer maneira, Dulce nunca conseguiria ter uma relação duradoura com um homem, mesmo se estivesse disposta a isso com Uckermann, que era perfeito para ela em todos os aspectos.


- Tenho mais sangue franco-canadense do que Crow em minhas veias. - Ele observava o rosto dela com uma curiosidade sutil. Tinha uma boca linda, como um laço de fita, e seu nariz era reto. Os grandes olhos escuros com cílios longos compunham o detalhe mais delicado. Nem os óculos escondiam-lhe a beleza.


- Você precisa de óculos para perto ou para longe? - perguntou abruptamente.


- Para longe - ajustou a armação, timidamente. - Uso lentes de contato, mas tive alergia. Fico cega sem usá-los, não poderia nem atravessar a rua se os perdesse.


Os olhos dele se voltaram para as mãos dela. Estavam levemente bronzeadas, tinham dedos longos e unhas ovais. Muito belas.


- Você vai prender o marido de Ellen? - perguntou-lhe de repente.


Pressionou os lábios e respondeu:


- O que você acha?


- Não conseguimos fazê-la depor - relembrou-o.


- Não deu. Se ela tivesse deposto, teria que encontrá-lo em julgamento e temeria ser morta por ele. Ele a ameaçou, mas não vai conseguir fazer nada nesse estado.


- O que você quer dizer com isso? - perguntou, curiosa.


Os olhos dele brilharam.


- Ele fica bêbado toda noite, já recebeu várias multas por isso. Se tentar dirigir assim novamente, vou prendê-lo sem precisar da ajuda de Ellen. Dessa vez, vou me certificar de que seja julgado. A bebida não pode ser desculpa para a brutalidade.


Lembrou-se de que mencionara que a mãe lhe quebrara o braço quando era menino. Inconscientemente, tocou de leve a manga da camisa azul dele.


- Qual braço? - perguntou baixinho.


A compaixão na voz dela o assustou. Não estava acostumado a ter pessoas se importando com ele dessa forma. Dulce se preocupava, embora ele não quisesse. Não confiava na aproximação das pessoas, depois de anos de abuso, mesmo que fosse com boa intenção.


Afastou o braço.


- Você não deveria ter ouvido aquilo - disse friamente. - Não era para você estar na casa, em primeiro lugar.


Dulce segurou a xícara e sorriu. Aquelas palavras não lhe atingiram. Já aprendera a não levar desaforos para o lado pessoal. Crianças que sofrem maus tratos costumavam reagir daquela forma diante de alguma gentileza. Não confiavam em ninguém porque haviam sido traídas por quem amavam de alguma maneira. A história dele era a mesma que já ouvira cem vezes antes, embora jamais fosse fácil ouvi-la.


Mas havia uma enorme diferença entre raiva e hostilidade. A raiva era normal, saudável. A hostilidade era um mau hábito que vinha da baixa estima e de sentimentos de inadequação. Era impessoal, diferentemente da agressão, cuja intenção era ferir alguém. Uma boa assistente social logo aprendia a diferença e não levava ataques verbais a sério. Uckermann também tinha um pouco de psicólogo e já devia compreender bem a si mesmo a essa altura da vida.


- Não queria ser agressivo - desculpou-se brevemente.


Ela apenas lhe sorriu com um olhar caloroso e gentil.


- Eu sei. Passei os últimos três anos trabalhando com crianças que sofreram maus tratos.


Xingou-a baixinho. Estava na defensiva porque Dulce sabia muito sobre pessoas como ele e o fazia se sentir exposto. Embora a magoasse com sua rudeza, droga, nunca a vira se defender ou a ouvira fazer comentários sarcásticos. Apenas mantinha uma expressão serena. Perguntou-se se ela alguma vez se permitiu experimentar um sentimento arrebatador ou uma paixão. Essas características faziam parte de sua personalidade, embora conseguisse controlá-las. Os anos de autodisciplina ajudavam.


- Você não gosta de ser tocado, gosta? - perguntou de supetão.


- Não tente me analisar - respondeu, seco. - Não sou um dos seus clientes.


- Nenhuma assistente social tentou ajudá-lo? - perguntou.


- Recebi ajuda - respondeu. - Fui para diversos lares, na maioria das vezes em ranchos.


As mãos dela apertaram a xícara.


- Você não recebeu amor?


- Quer saber se tive mulheres? - disse com crueldade deliberada. - Muitas delas!


Dulce desistiu. Não deveria ter se intrometido. Não queria saber sobre as conquistas dele. Só de pensar nele... desse jeito... causava-lhe muito incômodo. Terminou de beber o café e tirou uma nota de um dólar do bolso para pagá-lo.


- Deixe por minha conta - disse despreocupado.


- Não, não precisa - respondeu. - Pago a minha parte. Sempre!


Levantou-se, pagou ao senhor atrás do balcão e saiu da estação na frente de Uckermann. Foi em direção a sua caminhonete. Precisava pegar o casaco que estava lá dentro. Ao sair, trancou o carro.


- Você o tranca? - perguntou com sarcasmo. - Fariam um favor a você se o roubassem.


- Não tenho como arcar com o seguro - explicou simplesmente - Manter a propriedade da família me toma todo o dinheiro.


Lembrou-se de onde ela vivia, nos arredores da cidade, numa grande propriedade, com centenas de acres. Criava gado nas terras, tinha paixão pela pecuária, embora não souBesse nada sobre o assunto. Contratara uma pessoa que a ajudava, mas os preços dos bois estavam baixos. Uckermann sabia que manter a fazenda era uma causa perdida.


- Por que você não vende as terras e se muda para um apartamento?


- Porque é meu lar, minha herança - ela disse. - Foi uma das primeiras casas construídas em Cozumel, há mais de cem anos. Não posso vendê-la.


- A herança está bem aqui - ele disse, pondo a mão no coração dela.


O contato a surpreendeu. Quis recuar, mas o carro a impediu.


Uckermann sorriu e perguntou:


- Por que você ficou tão nervosa? Não foi nada íntimo.


Enrubesceu e o olhou um pouco assustada. Fitou-a, sem retirar a mão do lugar, até que alguns pensamentos lhe vieram à mente.


- Você já teve de ir a muitos lugares sozinha para atender pessoas que precisavam de ajuda. Pelo menos em alguns desses lugares, deve ter encontrado homens bêbados, como o marido de Ellen, que pensam que, se uma mulher veio sozinha até sua casa, é porque está querendo alguma coisa. E, quando você era mais nova, não esperava...


Ela suspirou.


- É isso! - ele disse lentamente. - Por isso você fica tão arredia quando está próxima de um homem. Na casa de Ellen, você estava preocupada com ela, mas não foi só por essa razão que ficou o tempo todo olhando nervosa para o quarto.


Mordeu o lábio inferior e baixou o olhar para o peito dele. A camisa estava aberta no colarinho, permitindo que visse os pêlos grossos e escuros. Aquele era o homem mais agressivo que conhecera e não sabia por que não sentia medo dele, enquanto a maioria dos outros homens a amedrontava.


- Você não vai me contar, vai? - ele perguntou.


- Uckermann... - segurou sua mão grande, sentindo-lhe a força e o calor. Disse a si mesma para soltá-la, mas os dedos não obedeceram.


A respiração dele ficou ofegante de repente e seu hálito quente soprava-lhe os cabelos da testa.


- Mas, o que quer que tenha acontecido, você não tem medo de mim.


- Você precisa me soltar agora - disse baixinho, pondo a mão sobre a camisa dele. Soube que cometera um erro, ao sentir-lhe o calor do corpo e a maciez dos pêlos embaixo do tecido. Causou-lhe espanto tocar nele. - Meu Deus, você é... é macio! - concluiu com uma risada nervosa.


- Macio? - Deliberadamente, ele abriu dois botões e deslizou a mão dela sobre os pêlos que lhe cobriam o  corpo até seu mamilo rígido.


Dulce tentou protestar, mas o corpo dele a fascinava. Nunca sentira um homem assim tão perto, e menos ainda o tocara. Cheirava a sabonete e a uma leve colônia. Ela se envolveu em imagens, sensações e perfumes. Os olhos fascinados dela se arregalaram quando se permitiu dar margem à curiosidade e passou a acariciá-lo, hesitantemente.                                                       


Uckermann se arrepiou e seus olhos brilharam. 


- O mamilo de um homem é tão sensível quanto o da mulher - explicou. - Fico excitado quando você o acaricia assim.


Essas palavras a trouxeram de volta à razão. Estava acariciando um homem em público. Com um gemido suave, retirou a mão de cima,dele e mordeu seu lábio inferior a ponto de feri-lo.                                        


- Que expressão de pavor! - ele murmurou ao abotoar a camisa. - Ficou chocada por ter sentimentos de mulher? Ou você acha que não sei que tenta encobrir suas emoções no trabalho? Toda essa empatia com os clientes serve de escudo para esconder as suas próprias necessidades e desejos. O rosto dela ficou tenso.


- Não me analise! - devolveu-lhe as palavras.


- Se prendo minhas emoções, você faz o mesmo, querida - disse, observando a reação dela.


- A minha vida pessoal é problema meu, e não me chame de querida!


Ao vê-la ir embora, agarrou-lhe o braço e virou-a de frente de novo. Os olhos dele eram predatórios.


- Você foi estuprada? - perguntou-lhe secamente.


-Não! - disse com raiva. - E é tudo que precisa saber, Uckermann!


Relaxou as mãos sobre o braço dela e a acariciou.


- Deixe-me ir!


-Não.


Levou-a para o carro sem lhe perguntar nada e foi em direção à casa dele. Dulce só saiu de seu estupor quando chegaram à garagem.


- Oh, não posso - disse rapidamente. - Tenho que ir para casa!


Ignorando-lhe o protesto, ele abriu a porta do carro e levou-a para dentro. Mack latiu, mas, assim que Christopher acendeu as luzes, acalmou-se.


- Você conhece o Mack - disse a Dulce. - Enquanto vocês se relembram um do outro, vou fazer outro bule de café.


Dulce ficaria amiga do cachorro mais tarde. Agora, só desejava jogar água no rosto que queimava. Não podia crer que lhe permitira trazê-la até ali, sabendo que teria sua reputação manchada, caso alguém a visse por lá, após a meia-noite.


Ao voltar à sala, havia café pronto sobre a mesa e xícaras velhas com emblemas desbotados.


- Não tenho louça.


- Também não - confessou. - Exceto um jogo para duas pessoas que herdei da minha bisavó, mas está quebrado. - Olhando-o, acrescentou: - Não deveria estar aqui.


- Só por que está tarde e estamos sós? Acenou com a cabeça.


- Sou policial.


- Certo, e daí?


- Sua reputação não será afetada - disse, recostando-se na cadeira e cruzando as pernas. - Todos sabem que não sou mulherengo. Não trago mulher para casa.


- Mas você disse que sim... - murmurou.


- Isso foi no passado. Mas, desde que voltei para cá, não acontece mais. Cidades pequenas são um caldeirão de fofocas e já fui vítima delas o suficiente. Não vou me arriscar a virar notícia apenas para satisfazer uma necessidade passageira.


Bebeu o café bem rápido, tentando esconder o quanto essas palavras a envergonhavam, assim como a menção à fofoca. Tinha os próprios fantasmas, que ele ignorava. Acontecera há bastante tempo e a maioria das pessoas que conhecia a história morreu. O xerife Eddy Villardy sabia, mas não repassaria informação a Uckermann, pois era um homem discreto e sempre fora um aliado de Dulce.


Um minuto depois, Christopher voltou-se para ela.


- Conte-me.


- Nunca falei sobre esse assunto com ninguém- disse. - De qualquer forma, ele está morto, então de que adiantaria?


- Quero saber.


- Por quê?


- Quem mais pode ajudá-la? Você não tem família nem amigos, Dulce. Com quem pode falar?


- Falo com Deus. -Uckermann sorriu.


- Provavelmente, Deus está bem ocupado agora. Então, por que você não conversa comigo?


- Não consigo.


- Você contou a mais alguém?


- Contei à minha supervisora. Meus pais já estavam mortos na época e eu morava sozinha.


- Vamos, posso não ser seu confidente ideal, mas nunca espalharei uma palavra do que me contar. Desabafar lhe fará bem.


O tom dele era gentil e parecia ter paciência para esperar a noite toda se fosse preciso. Talvez pudesse lhe contar um pouco do que acontecera.


- Tinha vinte anos. Era ingênua, não sabia nada dos homens. Fui enviada a uma casa onde um homem batera na mulher e na filha violentamente, logo que as denúncias contra ele foram retiradas. Queria entender o porquê. Ao chegar lá, o homem pôs a culpa em mim pela sua acusação e me deu uma surra. Também tirou minha roupa, e certamente me estupraria, mas seu cunhado apareceu. Foi preso, mas conseguiu redução da pena.


- Não foi preso por tentativa de estupro?


- Um dos políticos mais influentes da cidade era seu irmão - desabafou -, mas ele morreu num acidente de carro depois de receber a sentença e o político se mudou daqui.


- Então ele escapou da sentença - Uckermann murmurou com raiva. - Pensei que você tivesse levado uma vida tranqüila e protegida.


- Até certo ponto, sim. Minha melhor amiga tinha pais que bebiam demais, nunca eram denunciados e ela precisava esconder bem os machucados. Foi por essa razão que entrei para o serviço social - sorriu amargamente. - É incrível quanto mal o álcool faz à sociedade, não é?        


Uckermann não poderia negar.


- Por que você não largou seu emprego depois de ser atacada?


- Porque ainda posso contribuir muito - respondeu suavemente. - Depois do que houve, a esposa daquele homem veio me pedir desculpas e me agradeceu por ajudá-la. Percebi que fora uma conquista. E me importo muito com as crianças, o que me impede de parar. Mas o ocorrido me ensinou uma lição. Agora sempre envio duas assistentes sociais juntas para atender aos casos. Algumas crianças só têm a nós como proteção.


- Só Deus sabe. Alguém precisa olhar por elas - respondeu baixinho. - O mundo abala as crianças.         


Dulce fez que sim com a cabeça e terminou o café. Os olhos dela percorreram a sala. Mas não havia fotos, memórias, tudo tinha um jeito militar, como as xícaras com insígnias.


- O que você está procurando? Lembrancinhas? - brincou. - Não vai encontrá-las aqui, não sou do tipo sentimental.


- Mas é do tipo cuidadoso, à sua maneira - respondeu. - Você foi gentil com Ellen e Chad.


- Cuidar de pessoas arrasadas emocionalmente faz parte do meu trabalho - lembrou-lhe.


Pegou a xícara de café, enquanto olhava para os olhos dela.


- Vou relembrar-lhe de que não preciso da idolatria de uma assistente social com a libido reprimida.


- Nossa, Uckermann, não sabia que conhecia palavras difíceis - Você lê dicionários no seu tempo livre? Pensei que ficasse lustrando a pistola.


Ele quase engasgou de rir.


- O que você faz no seu? - perguntou.


- Limpo a casa - disse. - Não consigo ficar parada.


- Quer mais café? - perguntou ao se levantar. Dulce balançou a cabeça e se levantou.


- Tenho que ir para casa. Amanhã é mais um dia de trabalho.


Levou-a para casa. A noite estava estrelada, nessa parte do país, o céu parecia infinito. Dulce entendia por que Uckermann voltara para aquela região. Ela mesma nunca a deixaria. Caso se mudasse, sentiria falta de seu lar em Montana.


Ao chegarem à casa, havia apenas uma janela iluminada e um gato deitado em frente.


- Aquele é o Marylin - disse. - Há dois anos, ele chegou aqui todo machucado e eu o deixei ficar.


- Detesto gatos... - murmurou.


- Isso não me surpreende, Uckermann, mas sim o fato de você ter um animal de estimação.


- Sarcasmo não é muito o seu estilo, srta. Saviñon.


- Como você sabe? Além do tempo em que ficou doente, você só me vê no trabalho.


- É mais seguro assim. Suas crises de solteirona são perigosas.


- Comigo não. Quero ser solteirona para o resto da vida - afirmou. - O casar não está nos meus planos.


Uckermann franziu a testa.


- Você não quer filhos?


Ela abriu a bolsa para pegar a chave.


- Gosto da minha vida exatamente como ela é. Obrigada pela carona e pelo ombro amigo.


Fitou-o, envergonhada.


- Sou um túmulo - disse. - Não espalho segredos.


- Deve ser por isso que ainda trabalha para Eddy Villardy, que também é assim.


- Ele sabe de seu problema, pelo que entendi. Acenou com a cabeça.


- Já faz tempo que é o xerife daqui. Ele e a mulher eram amigos dos meus pais. Sinto muito pelo divórcio deles. Agora tornou-se um solitário.


- Solidão não é nenhuma doença - murmurou -, embora as mulheres a tratem como se fosse.


- Ainda está bravo por eu ter lhe trazido aquela sopa, não é? - perguntou-lhe. - Bem, você estava doente e não tinha ninguém mais para lhe cuidar. Gosto de tratar de pessoas carentes.


- Não sou carente.


- Estava doente e sozinho.


- Não teria morrido de fome.


- Nem tinha comida na casa! - replicou. - O que pensou em fazer? Comer o cachorro?


- Considerando o que ele come, Deus me livre! -Bem, não comeria Marylin nem se estivesse faminta.


Olhou para o gato na janela.


- Não a culpo. Uma coisa feia daquela deveria ser enterrada e jamais comida. - Ela fez um som de reprovação. - Vamos - provocou. - Diga que ele não é feio.


- Não vou lhe dar o prazer da discussão - disse, orgulhosamente. - Boa noite.


-Tranque a porta. Olhou-o com raiva.


- Tenho 25 anos - disse, apontando para a cabeça. - Isso aqui funciona.


- Sério?


Dulce fez um gesto desdenhoso com a mão e atravessou a varanda. Não olhou para trás, mesmo ao ouvi-lo buzinar quando foi embora.


Comentem que eu posto mais!


beijãOO!



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 323



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  • Jusly_ Postado em 27/06/2015 - 18:35:47

    Amei

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