Fanfics Brasil - Livro 01- CAP.05 ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)

Fanfic: ˙·٠•●ღ●๋•Série Mavericks•ღ♥ღ•(Vondy)


Capítulo: Livro 01- CAP.05

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Cinco


 


Por vários dias, Uckermann vasculhou toda a área em busca de pistas sobre a identidade da pequena Gabrielle. Foi a todos os médicos e clínicas da região, bem como a todos os hospitais locais e nos arredores. Mas todos os nascimentos tinham sido registrados pelos pais. Nenhum bebê fora deixado para trás, o que significava que Gabrielle nascera em casa, com a ajuda de uma parteira. Havia muitas mulheres na comunidade que sabiam como fazer um parto e Uckermann percebeu que poderia passar anos procurando a pessoa certa. As perspectivas eram desanimadoras.


Ele estava saindo do escritório quando Dulce Saviñon veio ao seu encontro.


- Preciso de sua opinião - disse sem preâmbulos, segurou-lhe a mão grande e o levou até um carro estacionado ali perto.


- Espera aí... - ele murmurou, com uma mistura de amor e ódio por ter a mão fina dela sobre a sua.


- Não reclame - ela retrucou. - Não vai doer nada. Apenas preciso que converse com uns jovens, antes que façam uma grande besteira.


Dulce parou em frente a um chevette velho, em que dois adolescentes estavam sentados nos bancos da frente.


- Este aqui é o oficial Uckermann - Dulce informou aos jovens.


- Ben e Amy querem se casar - explicou a Uckermann. - Os pais deles são contra. Ben tem 17 anos e Amy 16. Disse-lhes que o casamento deles pode ser anulado pelos pais, pois ela é menor de idade. Você pode confirmar isso?


Ele não tinha certeza sobre as regulamentações de casamento em Montana. Nunca tivera a necessidade de consultá-las. Mas tinha certeza de que a garota era menor de idade e sabia o que Dulce queria que dissesse. Conseguia blefar quando necessário.


- Ela tem toda razão - disse-lhes. - Um menor não pode se casar sem a permissão por escrito de um dos pais. Seria péssimo vocês terem que...


- Ela está grávida - Ben murmurou, corado. - Eu queria que fizesse um... Bom, que ela não tivesse o filho, na verdade. Mas ela não quer me ouvir. Diz que os pais a matarão, a não ser que se case.


Dulce não contava com esse complicador. Ficou perplexa.


Uckermann se abaixou ao lado do carro e olhou para Amy, que estava triste.


- Por que não começamos do começo? - perguntou gentilmente. - Essas decisões são complexas e precisam ser pensadas com cuidado.


Dulce continuou olhando, impressionada com a ternura na voz grossa de Uckermann. Amy começou a se abrir. Confessou as poucos:


- Não sei realmente se estou grávida. Acho que estou.


- Não seria melhor descobrir antes de terminar num casamento para o qual nenhum dos dois está pronto? -Perguntou no mesmo tom.


- Sim, senhor.


- Então, o próximo passo é procurar um médico, não e?                                                                  


A garota sorriu e disse:


- Mas meu pai vai me matar.


- Vou falar com seus pais - Dulce prometeu. - Não vão matá-la, são boas pessoas e a amam. Você é filha única.


- Apenas adoraria ter um filho - Amy disse com o olhar sonhador, desconsiderando a aflição de Ben. - Podemos ter a nossa casa e eu posso trabalhar...             


Uckermann deu um olhar para Dulce.


- Vamos para a casa dos seus pais, Amy - falou, segurando Uckermann pela mão, sem intenção de soltá-lo. - Tenho certeza de que o oficial Uckermann não se importará de vir conosco - acrescentou, desafiando-o a dizer não.


Ele desistiu dos planos de almoçar. Resignadamente, entrou no carro com Dulce e seguiu os jovens até a casa de Amy.


- Não foi tão mal assim, foi? - Dulce perguntou, depois que o caso estava resolvido. -Amy vai consultar um médico e ver um psicólogo, caso seja necessário. E não haverá um casamento às pressas, sem chance de dar certo. O Ben nem mesmo levou a culpa.


- Por que levaria? - murmurou.


- Era a menina quem tinha planos de se casar e ter filhos, não Ben, que quer apenas terminar a escola e fazer faculdade de veterinária.


- Ah, a frase eterna dos homens: "Eva me tentou com a maçã."


Olhou-a, sorrindo, e disse:


- A maioria das mulheres pode levar um homem direto para a cama com pouquíssimo esforço. Especialmente um jovem.


Dulce arqueou as sobrancelhas e comentou:


- Não me olhe assim. Nunca levei ninguém para a cama, com ou sem esforço. - Censurou as imagens que lhe surgiam à mente ao pensar em relacionamento íntimo.


- Mas você já quis?


A pergunta, vinda de um homem tão impessoal, a surpreendeu.


- Claro que não.


- Já deixou a oportunidade surgir? - insistiu. Ela ajeitou a saia desnecessariamente.


- Desculpe-me por fazê-lo perder o almoço. - Mudou de assunto.


- Como você sabe disso?


- Você sempre vai almoçar às onze e meia - respondeu. - Da minha sala, vejo você indo ao café.


Uckermann riu suavemente e, ao notar o semblante de especulação, ela entendeu o porquê.


- Não estava... espionando você, pelo amor de Deus! - disse, envergonhada.


- Verdade? - provocou. - Quer dizer que me enganei com o seu olhar de admiração esse tempo todo?


Os olhos dela faiscaram de raiva.


- Você é muito metido.


- Fiquei assim graças ao olhar de uma moça - respondeu. - Não me coloque num pedestal, Dul - disse, chamando-a carinhosamente pela primeira vez. - Não sou dócil o suficiente para uma mulher como você. Ficou embasbacada.


- Se você realmente pensa que eu... Uckermann pôs-lhe a mão na nuca com firmeza e curvou-se até ela lentamente. Olhou para sua boca, apenas um centímetro abaixo da dele.


Dulce sentiu-lhe o hálito mentolado, a quentura da boca sobre os lábios. Percebeu o desejo reprimido naquele corpo musculoso, tão próximo.


- Você tem medo de mim - Uckermann sussurrou-lhe sobre a boca. - E não tem nada a ver com o seu trauma. Não é o tipo de medo que causa pesadelos, mas o que faz o corpo tremer de paixão.


Enquanto permanecia chocada, ele se abaixou para lhe tocar e provocar os lábios macios com beijos mordiscados que a deixaram rígida de desejo. As mãos dela seguraram-lhe a blusa. Precisava se agarrar a algo enquanto fugia totalmente da realidade. Arranhou-lhe o peito com as unhas, fazendo-o soltar um gemido.


- Você seria um prato cheio - sussurrou Uckermann. - Se fosse outro tipo de mulher, aceitaria de braços abertos a sua oferta...


- Que oferta? -Roçou o nariz no dela.


- Esta - disse, ao aproximar a boca dos lábios abertos dela com vontade, sentindo-a trêmula. Dulce abriu mais os lábios à medida que ele aumentava a pressão, mas protestou, fazendo-o parar repentinamente.


Mesmo com a respiração ofegante, a expressão dele não demonstrava a agitação de antes do beijo.


Dulce se recuperou mais lentamente. Estava corada e com a boca vermelha e inchada da pressão que os lábios sentiram. Fitou-o, espantada.


- Você é como um buquê de flores na porta de casa - ele comentou baixinho. - Uma linda surpresa, esperando ser descoberta.


Surpresa, ela não conseguia encontrar palavras para expressar como se sentia. Uckermann tocou-lhe a boca e disse:


- Não se preocupe. O homem certo virá, mas não sou eu.


- Por que você fez isso? - sussurrou, numa voz engasgada.


- Porque você queria, Dulce - disse arrastadamente. - Você me observou por meses, querendo saber como seria um beijo meu. Agora você sabe.


Os olhos dela demonstravam mágoa. Então, ela os desviou.


- O que você esperava? - refletiu, levando o carro de volta à rua. - Não sou um adolescente no primeiro encontro. Sei exatamente o que fazer com uma mulher. Mas você está fora de limites, querida. Não faço promessas que não posso cumprir.


- Não o pedi em casamento, pedi? - perguntou-lhe. Uckermann sorriu e respondeu:


- Ainda não.


-Espere sentado. Não quero me envolver com você.


- Mas você gostou de me beijar.


- Gosto de beijar o meu gato também - Uckermann disse maldosamente.


- Eca!


Balançando a cabeça, Dulce perguntou:


- E, agora, o quão arrogante você se sente? Ele riu e respondeu:


- Como um professor meu gostava de dizer, sempre j achei a arrogância uma boa qualidade num homem.


Dulce revirou os olhos.


Voltaram à cidade, mas Uckermann não parou no escritório, indo direto à cafeteria Hip Hop.


- Se eu ainda não almocei, com certeza você também não.


- Tudo bem, mas pago pela minha refeição.


- Gosto de independência - ele disse de repente.


- Não estou nem aí - retrucou, surpresa. Sorrindo, Uckermann acrescentou:


- Arrume o batom ou todos saberão o que andamos fazendo.


Não vou corar... Não coraria... Não...! Mesmo assim, viu as bochechas rosadas no espelho, ao retocar o batom e o pó compacto.


Ele limpou as marcas rosa da boca com o lenço.


- Da próxima vez, retiro seu batom antes de começar - murmurou.


- Ah, se você tiver essa sorte! - retrucou. Ele levantou uma sobrancelha.


- Ou se você for a sortuda. Fica cada vez melhor quanto mais longe se vai. Você me pediu para parar antes mesmo de eu tocá-la. Imagine, Dulce, como seria se eu tivesse feito isso.


Retirou-se do carro antes de ele terminar. Deveria voltar ao escritório e deixá-lo falando sozinho. Era maldade provocá-la em algo que fugia de seu controle. Ela não percebeu que, na verdade, ele estava agindo assim por desejá-la.


Experiente, talvez fosse, mas fazia tempo que estivera com uma mulher e Dulce permaneceu na sua mente. Não esperava que fosse tão bom beijá-la e tão viciante, porque era tudo em que conseguia pensar.


- Não vou permitir que me atormente - ela disse, andando na frente dele. - E, antes que vá mais longe, lembre-se de que Cozumel não é tão grande assim. Todo mundo sabe da vida de todo mundo. Se eu entrar aqui com você, vão começar a comentar sobre nós.


- Eu sei - respondeu, abrindo a porta de propósito. Durante o almoço, receberam alguns olhares, mas as pessoas eram discretas e não os observavam descaradamente.


- Mas poderia ser que estivéssemos conversando sobre o caso - argumentou Dulce.


Uckermann cerrou as sobrancelhas.


- Você realmente se importa? -perguntou-lhe. -Você é tão sensível assim às fofocas. Por quê?


Ela deu de ombros.


- Ninguém gosta de ser assunto dos outros.


- Nunca aconteceu comigo desde que voltei. E, com a sua boa reputação, duvido que você tenha sido alvo de comentários - acrescentou com uma risada.


Ela segurou a xícara com firmeza e disse:


- Obrigada por me ajudar com Amy e Ben.


- Tive alguma escolha? Quero saber se há alguma lei que proteja oficiais de serem seqüestrados por assistentes sociais com excesso de consciência. E, aliás, nunca soube aquela lei sobre casamentos, porque nunca tive motivos para usá-la.


- Talvez precise dela porque tivemos vários casos como o de Amy e Ben.


- E se ela estiver mesmo grávida? - ele perguntou.


- Aí terá algumas opções e pessoas para lhe ajudar a tomar as decisões.


Uckermann a encarou.


- Conheço esse olhar - ela disse suavemente. -Até entendo. Mas você deve considerar que o melhor para uma jovem não é necessariamente o que você acha certo.


- E se eu perdesse a cabeça numa noite dessas e a engravidasse, Dulce? - indagou, recostando-se. - O que faria no lugar de Amy?


A cor de sua face revelava tudo. De tanta surpresa, derrubou um pouco de café sobre a mesa.


- Você adora me chocar, não é?


- Deixe para lá o choque e me responda. O que faria? Ela mordeu o lábio inferior e respondeu:


-A coisa certa... Segurou-lhe a mão e a apertou.


- Não quero saber o que é certo, sensato ou decente. O que você faria? - perguntou-lhe.


- Oh, eu teria o filho - disse, com raiva por ser forçada a responder a uma pergunta que não poderia nunca ter surgido. Cortava-lhe o coração lembrar-se que era infértil. - Estou transbordando de instinto materno, moral antiga e senso de responsabilidade, mas quero que entenda que não posso forçar os outros a pensar como eu.


Por um momento, esqueceu-se da questão social e se permitiu imaginar tendo um filho com Dulce. Sentiu-se... estranho.


Dulce leu a expressão no rosto dele e sentiu-se mal.


- Uckermann - começou, sem saber se lhe contava sobre sua condição.


Os dedos dele se entrelaçaram aos dela.


- Você tem 25 anos, não é? Eu tenho dez a mais.


- Eu sei, Uckermann.


- Meu nome é Christopher - disse.


- Esse nome é pouco comum. Era de família? -Ele deu de ombros.


- Minha mãe nunca me contou - memórias da mãe o invadiram e ele se contraiu, soltando a mão de Dulce lentamente. - Quem sabe não seja a marca do gim favorito dela?


Sorriu, embora incomodada com a dor que via em seus olhos. Queria confortá-lo.


Percebeu a expressão nos olhos dela. Ficou furioso.


- Não preciso de pena - ele disse, com os dentes cerrados.


- Olhei com pena para você? Desculpe, fico preocupada de ver o quanto seu passado o afeta, apenas isso - disse sorrindo. - Sei, sou uma boazinha incurável. Mas pense, Uckermann, se houvesse alguém que realmente se importasse com o que aconteceu com você, isso não teria mudado a sua vida?


Não respondeu, apenas desviou o olhar. Dulce ainda o observava.


- Essa cidade deve trazer más lembranças para você. Por que voltou depois de tantos anos?


- Fiquei cansado do meu trabalho - retorquiu. - Nem posso lhe contar nada, é confidencial. Posso apenas dizer que entrei numa situação em que não soube como agir, pela primeira vez na minha vida, e resolvi sair. Não me arrependo. E estou melhor do que pensava, vivo confortavelmente e gosto do trabalho e das pessoas aqui. Além disso - acrescentou -, as memórias não são tão ruins. Algumas são boas e me animam quando preciso delas.


- E houve alguma vez uma mulher especial? - perguntou sem o olhar.


Ele arqueou a sobrancelha.


- Mulheres, no plural - respondeu. - Elas sabiam umas das outras porque eu jogava limpo e sou um solitário. Não quero mudar isso.


Dulce sentiu um leve desapontamento.


- Tinha esperanças? - ele provocou. Encarou-o.


- De quê? Recebê-lo embrulhado para presente no Natal? Falta muito para o Natal, Uckermann, e você ficaria ridículo de lacinho.


- Provavelmente, mas me pergunto como você ficaria de meia-calça vermelha.


- Só morta, porque apenas assim as vestiria. Céus! Olhe a hora! Tenho pilhas de serviço sobre a mesa. Preciso ir!


- Eu também - acrescentou. - Ultimamente, até no meu trabalho há uma montanha de papéis para se preencher!


- Está assim no trabalho de todo mundo. Só Deus sabe quantas árvores morrem todos os dias para satisfazer os burocratas. Acho que fazem confete com tantas cópias.


- Não duvido - disse ao se levantar, levando consigo a conta.


Dulce pegou uma nota de cinco dólares e pagou sua parte da conta.


- Almoçando tarde, Uckermann? - a garçonete perguntou com um sorriso.


- Sim - disse, sorrindo de volta. - Obrigada, Daisy.


A garçonete ficou corada. Era uma ruiva bonita de apenas 20 anos, totalmente apaixonada por Uckermann.


Ele abriu a porta do restaurante para Dulce e a acompanhou até o carro.


- Obrigada pela ajuda - agradeceu, sincera. -Aquelas crianças precisavam de uma conversa mais séria do que a que eu seria capaz de dar. Nada como um uniforme... - acrescentou com um brilho nos olhos. Claro que estava brincando, pois Uckermann trabalhava à paisana.


- Nem me diga - já percebera o quanto um uniforme atraía as mulheres. A maioria dos oficiais aprendia isso bem cedo.


- Descobriu alguma coisa sobre Gabrielle? - perguntou, a caminho do escritório.


Contou-lhe sobre algumas pistas que estava seguindo.


- Mas sem muita sorte. Você conhece parteiras na região? - perguntou.


Dulce contraiu os lábios.


- Lembro-me de duas pessoas. Vou verificar.


- Obrigado.


Parou na frente do escritório e deixou-a descer do carro.


- Conto-lhe depois como as coisas vão com a Amy - prometeu ela.


Olhou-a com uma expressão de desgosto. Ficava lisonjeado com ela lhe pedindo ajuda o tempo todo. Parecia que apreciava sua companhia. Mas sentiu prazer demais em beijá-la e isso o deixava irritado. Não queria uma assistente social na sua vida. Não podia se permitir fraquejar diante dela.


- Não pedi um relatório - disse, bancando o difícil de propósito.


Não se intimidou, já estava acostumada. O mau humor dele não a afetava mais, mas o beijo dele sim. Porém, precisava se lembrar de que ele era um solitário e manter aquele momento no passado. Sabia que não se esqueceria da experiência, mas tinha que tirar os olhos de Uckermann.


- Você é tão cínico, Uckermann! - disse com firmeza.


- Nunca ouviu a frase "Nenhum homem é uma ilha"?


- Li John Dorme na faculdade - respondeu. - E, se eu quiser, posso ser uma ilha.


- Se você fosse uma ilha, seria cercada de arame farpado e com minas nas praias.


Entrou no escritório, ainda ouvindo a risada dele do lado de fora.


O bebê abandonado, Gabrielle, foi posto sob custódia, e Dulce foi visitá-lo. Estava vivendo temporariamente com uma família que parecia gostar muito de cuidar de crianças necessitadas.


- Não pudemos ter os nossos filhos, entende? - Mabel Darren disse com um sorriso. Estava no meio dos seus 30 anos e era óbvio o quanto gostava de crianças. Tinha seis, variando de bebês a adolescentes, todas de orfanatos ou de famílias com problemas.


A assistência social verificava a casa regularmente para ver se seguia as normas, mas nunca houve questionamento sobre a capacidade dos Darren em cumprir as obrigações. Além disso, as crianças carentes das quais cuidavam recebiam muito amor.


- Não é um anjinho? - Mabel perguntou a Dulce, que segurava o bebê no colo.


- Ah, sim - Dulce respondeu, triste por se lembrar que nunca teria a alegria de dar à luz uma criança, nem de ver um filho crescer. Ficaria sozinha para o resto da vida. Mabel seria capaz de entender sua angústia, mas Dulce jamais discutiria sobre isso com alguém.


- É hora da mamadeira! Você gostaria de alimentá-la enquanto está aqui? Assim posso cuidar da louça - Mabel pediu.


- Se for lhe ajudar - Dulce respondeu, com os olhos no bebê. Tocou, trêmula, na pequena mão macia e no rosto. Nunca sentira tamanha frustração na vida e lágrimas escorreram. Como se o bebê pudesse perceber sua dor, abriu os olhos, fitou-a e soltou um gemido. Prendendo o choro, Dulce abraçou Gabrielle e a ninou na cadeira de balanço. Naquele momento, daria tudo para que aquela coisinha preciosa fosse sua.


Ao ouvir os passos de Mabel se aproximando com a mamadeira, Dulce se recompôs. Conseguiu amamentar a criança e conversar com Mabel, sem demonstrar a agitação. Mas, secretamente, estava arrasada. Gabrielle acentuava-lhe a insatisfação e a fazia querer muito um filho. Nunca quis nada tanto quanto queria aquela criança abandonada.                                                     


Depois de alimentar o bebê, voltou ao escritório, onde passou quieta o dia todo. Bess, que trabalhava na sala ao lado, estranhou o silêncio e veio lhe perguntar se a chefe estava doente.


- Estou bem, obrigada - Dulce disse secamente. -Apenas tive um dia difícil.


- Bem, você saiu para almoçar com Uckermann - Bess falou. - Não consideraria isso tedioso. Visto-me bem, uso perfume sexy e nem assim ele me olha. Ele é sempre maravilhoso e eficiente como parece? - perguntou.


Dulce não entregou os pontos. Sorriu serenamente.


- Se algum dia eu descobrir, você será a primeira a saber. Foi um almoço de negócios, Bess, não um encontro - acrescentou.


- Um homem lindo daqueles e você só sabe falar de trabalho! Eu subiria em cima dele no banco da frente tão rápido!


Imagens chocantes de Christopher Uckermann sendo pressionado contra o banco da frente do carro, mas por ela mesma, e não por Bess, preencheram-lhe a mente. Tinha que parar de pensar nele daquela forma.


- Francamente, Bess! - exclamou.


- Dulce, você sabe em que época vivemos? - Bess perguntou suavemente. - Sabe, anos 2000, sexo liberado?


- Aids... - Dulce acrescentou. Bess soltou um grunhido.


- Bem, não quis dizer para você não tomar cuidado. Mas Uckermann me passa uma imagem de alguém que está sempre bem equipado.


Dulce ficou vermelha e levantou-se abruptamente.


- Estou indo para casa! - Bess disse rapidamente, sabendo que havia passado dos limites. - Vejo você amanhã!


Fechou a porta e saiu correndo. O temperamento de Dulce costumava ser tranqüilo, mas também podia ser intimidador quando perdia a calma.


Dulce prendeu o riso no momento em que Bess saiu correndo. Mas foi melhor assim, pois não era bom deixar os empregados tomarem muita confiança.


Já estava escuro e chovendo quando decidiu ir para casa. Marylin deveria estar esperando o jantar e ela também estava com fome. O trabalho ainda estaria lá quando voltasse na manhã seguinte. Mas a ajudara a tirar o pensamento da pequena Gabrielle, o que era bom. Saiu do escritório e entrou na caminhonete amarela o mais rápido possível. Esquecera o guarda-chuva em casa e acabou ensopada. Fechou a porta do carro e deu partida.


O motor fez um rangido horrível. Sentiu-se pior ao se lembrar de Uckermann a alertando sobre os problemas que enfrentaria se não levasse o carro ao conserto. O posto de gasolina encontrava-se aberto, mas não haveria ninguém lá capaz de trocar uma ventoinha.


Com um longo suspiro, Dulce pegou a estrada, rezando para chegar em casa antes da ventoinha quebrar. O barulho, que desaparecia quando ela acelerava, ficou pior nesta noite. Além disso, os limpadores de pára-brisas também estavam quebrados. Uma folha grande ficou presa num deles e a água era espalhada em vez de removida. Dulce gemeu alto por causa de sua má sorte. Tivera um dia terrível e não apenas pelo apuro que estava passando. Parou numa estrada de terra perto de sua casa.


A chuva começou a cair mais forte. Não tinha idéia de quando o mau tempo começou porque estivera muito envolvida com o trabalho. Agora via o riacho à frente e não sabia se conseguiria atravessá-lo. A água subira muito. Este era um problema antigo e preocupante.


Acelerou, quase batendo em outro motorista que se esforçava para passar, o seu vizinho idoso, que acenou ao ultrapassá-la, mas ela estava mais preocupada em olhar para frente. Dulce quase conseguiu subir o morro, mas, naquele momento, a ventoinha resolveu partir-se. Embora o motor funcionasse, nada acontecia. O carro escorregou para a base do morro, ao lado do grande riacho, cujas águas subiam, e o motor parou.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários da Fanfic 323



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  • Jusly_ Postado em 27/06/2015 - 18:35:47

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