Não havia outro lugar no mundo em que Dulce quisesse estar. Estava com o rosto sorridente enterrado no peito de Christopher, sentindo seus braços a sua volta. Mesmo após quase seis horas de voo ela se sentia bem disposta, talvez por causa da companhia. Aliás... certamente era por causa da companhia. Passaram a noite anterior juntos, aos beijos e carícias ousadas que por pouco não derrubaram a última barreira que Christopher ergueu sobre o relacionamento dos dois. Chegaram a ter uma breve discussão, afinal Dulce achava o fato simplesmente ridículo. O que fizeram no banheiro e na cama a noite, pra ela já era sexo. Só não houve penetração, mas aquelas preliminares, aquele jogo de sedução pra ela era parte do fazer amor.
Arrependeu-se, é claro, de ter dito isso. Christopher cessou de vez as carícias mais ousadas e ficaram mesmo apenas nos beijos, embora fosse impossível esconder a excitação dele. Bobo. Se aquilo era pecado... ele já estava pecando só por estar excitado.
_ Está rindo do que? Pensei que estivesse dormindo.
Dulce ergueu a cabeça para olhar nos olhos dele.
_ Pensando nos seus absurdos.
_ Aquele assunto outra vez?
_ Eu não falei nada. Só estou pensando, você quem perguntou.
_ Pois eu também estou pensando.
_ Em?
_ Na nossa última conversa de ontem. Está vendo como nós dois estamos meio perdidos? Até você está incomodada com a situação.
_ Epa... epa... não misture as coisas. Eu não estou incomodada. Eu só quis fazer o DNA para deixar nossa família tranquila. Quer dizer... eu sei que não adianta. Nosso pai confiou em minha mãe, e para ser sincera eu também confio. Até me arrependo de ter tido esses pensamentos.
_ Mas por algum momento você pensou verdadeiramente na possiblidade de não sermos irmãos?
_ Pensei... mas foi um pensamento bem fraco.
Christopher acariciou os cabelos dela e beijou a ponta do seu nariz.
_ Você tem um pouco de Victor sim. Se você reparar bem em alguns gestos, alguns trejeitos, verá que são bem parecidos com os dele. Até mesmo com os meus. Essa sua mania por exemplo de coçar a ponta da orelha quando está sem sono.
Dull riu, ajeitando-se na poltrona para olha-lo e ao mesmo tempo não perder o contato com seu corpo.
_ Você reparou nisso?
_ Humhum. E também fica girando o pescoço com as mãos para “estalar” os ossos do pescoço. Sabe quantas milhares de vezes eu vi meu pai fazendo isso?
_ Sabe que nunca reparei?
_ Pois comece a reparar. Eu não tenho dúvidas de que somos irmãos.
_ Está certo. Vamos deixar isso pra lá.
_ Mas eu decidi que iremos fazer... nós dois.
_ Mas...
_ Ninguém precisa saber. Sendo ou não irmãos, ficaremos juntos. Mas vamos fazer o exame só para... sei lá... ter certeza. Ninguém ficará sabendo que fizemos.
_ Exceto o Chris.
_ Exceto o Chris.
_ Acho tão bonita a amizade de vocês.
_ Chris é muito importante pra mim. Segurou tantas barras, tantas crises minhas que você não faz ideia. Às vezes eu penso em como ficarei quando ele resolver seguir sua vida... outro emprego, família, filhos. Sei que parece egoísmo, mas... ah... é mesmo.
Dull riu alto e depois tapou a boca. Nessas horas preferia um jatinho particular ao invés de um voo comum. Poderiam ter mais liberdade se estivessem a sós.
_ Ela não te abandona nunca. Pode até se casar e ter filhos, mas duvido que vá abandonar você.
_ Não é justo. Ele merece ter uma profissão. Sempre digo que deveria ser psicólogo.
_ Talvez ele goste realmente do que faz e não só porque é seu amigo.
_ Pode ser.
Dull bocejou e se encolheu mais ao lado dele.
_ Com sono?
_ Agora sim. Falta muito ainda?
_ Mais ou menos uma hora. Acho que dá pra você cochilar um pouco.
_ E você não vai dormir?
_ Dormi muito bem à noite.
_ Hum... por que será?
_ Não sei... talvez seja por causa de um corpo quente e cheiroso ao meu lado.
_ Sabe que se falar assim... acaba me acendendo.
_ Até parece... você sempre está acesa, Dull. Sabe... nunca imaginei que você fosse assim... tão fogosa.
_ Eu não era... mas perto de você eu fico.
_ Espero que seja só comigo mesmo.
_Hum... meu namorado está com ciúmes?
_ Eu morro de ciúmes de você Dull. E não serei hipócrita em esconder isso.
_ Fico lisonjeada com isso. Mas saiba que também sinto o mesmo em relação a você. Tantas mulheres lindas ao redor nessas corridas.
_ Não tenho olhos para nenhuma delas, sabe disso. Somente uma me fisgou há sete anos...e era a mais linda naquele autódromo.
_ E pensar que eu só consegui entrar lá a base de muito choro. Fazia bicos pela cidade pra conseguir me manter enquanto minha mãe estava doente. Acho que foi a melhor venda de garrafas de agua da minha vida.
Dull disse e sorriu, um pouco amarga. Ao mesmo tempo em que tinha boas lembranças daquele dia, também tinha amargas. Afinal, naquele mesmo dia soube que não havia esperança para sua mãe.
_ Confesso que minha insistência maior em entrar lá foi para ver você. Eu poderia muito bem vender água nos arredores dali. Mas eu queria uma chance de ver você de perto.
Christopher fechou os olhos com força. Ainda se lembrava nitidamente da primeira vez que seus olhos cruzaram com os dela. Foi ali que entendeu quando as pessoas diziam que ficavam “sem chão”, perto da pessoa amada. Ele não se sentia preso a mais nada que não fosse o olhar de Dull.
_ Não consegui deixar de te olhar. Não parei de pensar em você mesmo quando estava com meus amigos naquela lanchonete.
_ E a loira?
_ Tanya? Terminei com ela naquele mesmo dia. Ela ainda insistiu um tempo, mas meu coração já tinha dona. Há anos não a vejo.
Dull bocejou novamente e fechou os olhos.
_ Melhor assim.
Christopher beijou sua testa e fechou os olhos também.
_ Durma.
Uma hora e meia depois, Dull e Christopher finalmente desembarcaram. Do aeroporto foram direto para o Ritz-Carlton.
_ Uau... você já esteve nesse hotel antes?
_Sim, mas nunca na suíte que reservei dessa vez.
_ Sozinho?
Christopher rolou os olhos e preferiu não responder.
Entraram no elevador acompanhados pelo jovem que carregava as malas. A todo instante ele olhava para Christopher e Dull e logo depois baixava a cabeça.
Dull abriu a boca, deslumbrada ao ver a suíte. Já esteve em hotéis muito bons quando viajava em férias, mas nunca num ambiente tão luxuoso quanto aquele. O rapaz retirou as malas do carrinho e colocou-as no chão. Christopher retirou algumas notas e estendeu a ele como gorjeta.
_ Hum... eu poderia pedir um favor?
Dull se aproximou, curiosa, mas já imaginando o que poderia ser.
_ Poderia autografar esse papel pra mim? É que... meu filho te adora. Assiste todas as corridas.
_ Filho? Tão jovem assim?
O rapaz enrubesceu e baixou os olhos diante da pergunta de Dull.
_ Tenho vinte e cinco, senhora.
_ Quantos anos tem seu filho?
_ Seis.
_ Acho que ele irá gostar disso.
Christopher pegou uma das malas, colocou-a sobre a cama e depois de remexer um pouco pegou um boné, o qual autografou e entregou ao rapaz. Os olhos dele se arregalaram e lacrimejaram.
_ Nossa... muito obrigado senhor Uckermann. Ele... vai pirar quando vir isso.
_ Diga a ele que é um presente, por me assistir sempre.
Ainda agradecendo várias vezes o rapaz saiu e fechou a porta. Christopher encarou Dull que tinha um sorriso envaidecido no rosto.
_ O que foi?
_ Meu namorado dando autógrafos... quando eu iria imaginar que namoraria alguém tão famoso?
_ Ah é? E aquela história de que sempre me imaginou como seu namorado, hã? Era tudo para me seduzir, senhorita?
Dull enlaçou o pescoço dele, serpenteando seu corpo sensualmente de encontro ao de Christopher e ele fechou os braços em volta de sua cintura.
_ Esse era meu sonho, mas devido às circunstâncias achei que nunca seria possível. Entendeu agora?
_ Entendi, mas não me convenceu.
_ E o que posso fazer para convence-lo?
_ Adivinhe...
Dull não demorou a esticar-se toda e beijar-lhe os lábios sedentos.
_ Obrigado por ter vindo comigo.
_ Não me agradeça. O presente é todo meu.
Afastou-se dele e foi até a cama. Empurrou a mala e se jogou lá, com os braços para cima da cabeça.
Christopher se aproximou e a observou esparramada na ampla cama, os cabelos espalhados no travesseiro coberto com fronha de seda vermelha. Desceu o olhar pelo corpo escultural que as várias camadas de roupa não conseguiam disfarçar. Dull mordeu os lábios, totalmente inconsciente do quanto esse gesto era sexy aos olhos de Christopher. Apoiado em suas mãos sobre a cama, ele se colocou sobre ela, mas sem permitir que seus corpos se tocassem.
_ Só acho que será a melhor viagem da minha vida.
_ Eu digo o mesmo, príncipe.