Deitado em sua cama, os braços atrás da cabeça, Christopher ouvia o choro de Dulce. Nem mesmo a água da ducha impedia que o som chegasse aos seus ouvidos, deixando-o mortalmente ferido. Sabia que toda aquela tristeza era por causa dele, por causa da situação na qual se encontravam. Tentava se mostrar forte, mas nem de longe parecia a Dulce que veio atrás dele, declarou seu amor e sua vontade de enfrentar tudo e todos para ficarem juntos.
Talvez ela não tivesse noção da proporção que as coisas iriam tomar ao se tornarem públicas. Após as fotos terem saído nos jornais e revistas há duas semanas, Christopher teve sua vida completamente devastada pela imprensa. Repórteres não saiam dos arredores de sua casa e foi preciso trocar o número de seu telefone. Chegaram ao cúmulo de irem ao túmulo de Blanca para fazer uma reportagem.
Como souberam da história real? Victor. Christopher não acreditou quando Alexandra contou que ao ser procurado pela imprensa, Victor abriu o verbo. Ele queria atingir Christopher, mas nem por um momento parou para pensar que estava atingindo Dulce.
A notícia que o Príncipe de gelo, o hexacampeão das pistas estava tendo um romance com a sua irmã explodiu como uma bomba. Foram várias manifestações contrárias, pessoas cheias de palavras preconceituosas julgando o relacionamento dos dois. Mas houve também várias manifestações de apoio também. Inclusive Chris descobriu um blog, onde fãs de Christopher demonstravam seu apoio e lhe desejavam força. Ele nem fazia ideia da quantidade de fãs que ele tinha até então.
Mas o que levou Dulce ás lágrimas nessa manhã de domingo foi o comunicado que Christopher recebeu de sua equipe. A partir da próxima temporada, ele não iria mais correr pela mesma escuderia.
Ele não iria negar que ficou em choque, mas também não iria se arrastar ou baixar a cabeça. Amava sua profissão, amava correr. Mas se ele precisasse desistir de tudo por causa de Dulce, ele o faria. O amor dela era mais importante que qualquer coisa.
Dulce saiu do banheiro, já vestindo o roupão e ia diretamente para o closet quando Christopher a chamou.
— Venha aqui, por favor.
Ela foi e se sentou na beirada da cama, mordendo os lábios para tentar segurar as lágrimas que em breve voltariam a rolar pelo seu rosto.
— Desculpe, por favor. Eu sei que precisamos ser fortes, Christopher. Mas eu não consigo ver você sofrendo.
Christopher se sentou na cama e puxou-a para os seus braços.
— Não está sendo fácil, admito. Mas eu consigo... se você estiver comigo, nada mais importa. Dulce, nós sabíamos que não seria fácil. Mas não podemos nos abalar e deixar que as pessoas pensem que é um caso, uma questão de luxuria e tesão. Claro que eu pouco me importo com o que as pessoas pensem, mas também não posso deixar que banalizem nosso amor.
Dulce chorou ainda mais, agarrada a ele.
— Ah Christopher... eu te amo tanto. Eu só quero vê-lo feliz. Meu Deus... eu ainda não acredito que dispensaram você da equipe. Logo após a conquista desse campeonato.... Isso foi desumano.
— Existem outras dezenas por ai, amor. Eu não vou morrer por causa disso. Se eles não me querem lá por puro preconceito, só lamento por eles.
—Me desculpe de novo... eu vou fazer o impossível para ficar bem.
— Você sabe que é minha força.
— E você é a minha.
— Vamos fazer o seguinte? Vamos descer porque o Chris já deve estar preocupado. Geralmente não nos levantamos tão tarde. Nem passeamos pelo jardim como todas as manhãs.
Dulce fez uma careta, fazendo Christopher rir. Desde quando aqueles abutres passaram a cercar sua casa, Dulce não quis mais saber de andar pelos jardins. Apesar de toda segurança eletrônica que os cercavam, as grades permitiam que vissem a movimentação nos jardins e varanda.
— Não quero dar esse gostinho para aqueles vermes.
— Estão fazendo o trabalho deles, Dulce.
— E é trabalho deles invadir a privacidade das pessoas? Jogar o nome delas na lama como se fossem marginais?
– Sei que exageram, mas é disso que eles vivem. E quer saber? Estou tão cansado de me esconder. Eu não tenho vergonha do nosso amor, Dulce. Tudo o que as pessoas e a imprensa sabem é o que meu pai disse.
Dulce estremeceu e seu corpo inteiro se retesou. Não estava gostando do tom da voz de Christopher, tampouco do que viu em seus olhos.
— Eu vou gostar de ouvir o que você está pensando?
— Confia em mim?
— Sempre.
— Então vista-se e vamos descer. Irei falar isso com Chris também.
Dulce se levantou, sem deixar de olhar pra ele e foi até o closet se vestir. Já imaginava o que poderia ser, mas ela não tinha certeza se iria mesmo querer aquilo.
Desceram juntos e encontraram Chris olhando pela janela da sala. Virou-se assim que ouviu os passos do casal. Seu semblante estava contrariado e ao mesmo tempo preocupado.
— Bom dia. Está tudo bem?
— Bom dia Chris, Está tudo bem sim, só resolvemos ficar um pouco mais na cama.
— Vou trazer o café e levar os pães ao forno novamente.
— Não é preciso. Só traga o café e esqueça os pães. Tenho certeza que a mesa está farta como sempre.
— Sim, está.
— Pois então traga o café e volte. Preciso conversar com Dulce e quero que você esteja presente também.
—Ok. Eu já volto.
Dulce se sentou ao lado de Edward e entrelaçou suas mãos sobre a mesa.
— Alexandra ligou? Ela sempre liga bem cedo.
— Sim. E deixou um beijo pra você. Ah... Rose e Emmett vem almoçar conosco hoje.
— Que bom. Será agradável tê-los aqui.
Chris voltou rapidamente com o café e ao sinal de Christopher, sentou-se no lado oposto ao deles.
— Se quiser, pode falar.
— Vou direto ao ponto. Estou cansado de ver minha vida devastada desse jeito. Estou farto de julgarem Dulce e eu sem ao menos saberem realmente sobre nossa história. Meu afastamento da equipe hoje foi a gota d’água. Sei que pior do que está não dá pra ficar. Mas não dá também pra ficar ouvindo tanto desaforo de pessoas que sequer tem a ver com nossa vida. Enfim... eu pensei em dar uma entrevista e contar as coisas como elas realmente são. Tudo o que sabem foi com base em especulações e no que meu pai contou. Eu acho que preciso dar minha versão dos fatos.
Chris ficou longo tempo em silêncio, os olhos vidrados em Dulce. Ela não disse nada, pois iria concordar com o que Christopher achasse melhor, afinal ele era o maior prejudicado nessa história toda.
— Chris?
— Eu não esperava outra coisa, aliás no seu lugar eu já teria feito isso há muito tempo. Às vezes esse seu congelamento interior parece que não vai acabar nunca. Sério... eu não sei se encararia as coisas com a mesma frieza com que você vem fazendo.
— Não dá mais. Eu quero ter uma vida normal. Quero poder sair com minha mulher sem ninguém atrás de mim querendo explicações sobre nossa vida.
— Sim, sim. Você está coberto de razão. Acho que você deve chamar algum jornal ou revista... algo sério, é claro. Nada de tabloides sensacionalistas. Chame algum deles e dê sua versão. E seja enérgico... se precisar mande todos pra pu\ta que par\iu.
Christopher rolou os olhos. Não se imaginava fazendo tal falta de educação com ninguém. Mas Chris não tinha papas na língua e se estivesse presente no momento da entrevista, iria falar merda.
— E você, Dulce?
— Não nego que estou assustada. Mas como você mesmo disse... pior do que está não dá pra ficar.
— Ótimo. Chris você fica encarregado de entrar em contato com a imprensa. Marque e depois me informe.
— Tudo bem. E vocês dois... vão se distrair um pouco. Que merda... o que não falta é lugar nessa casa. Vão pra piscina, pra sauna... para sala de jogos, mas deixem essa tristeza de lado.
Após isso, Dulce e Christopher tomaram o café e fizeram exatamente o que Chris disse. Foram para a sauna e depois para a sala de jogos. Horas mais tarde Chris voltou informando que a entrevista foi marcada para o dia seguinte às nove da manhã.
— Tomara que dê tudo certo.
— Eu não estou esperando nada demais, Dulce. Só quero mostrar as coisas como elas realmente são. Além do mais, daqui a um tempo aparece algum famoso com alguma fofoca mais escabrosa que essa. Pronto. Logo seremos esquecidos.
— Eu espero que sim.
— A campainha... vamos lá? Deve ser a Rose e o Emmett.
Dulce o abraçou pela cintura e juntos voltaram para a sala. Não iria cair agora... não poderia. Ela tomou a iniciativa de vir atrás de Christopher e se declarar. Ela o provocou, o instigou. Devia isso a ele... ao amor deles. Brigaria, se fosse preciso. Mas iriam ser respeitados como um casal normal, um casal que se ama.