— Eu o quero.
— como?
—Aquele garoto... ele é perfeito pra nós, Christopher Acho que estou apaixonada.
Christopher ficou encarando Dulce. Ele entendeu direito? Ela queria adotar o Taylor? Estava tão encantada pelo garoto quanto ele?
— Está dizendo... adota-lo?
Dulce o olhava quase suplicando. Parecia uma criança que pedia um caro presente de natal.
— Vamos conversar sobre isso... por favor.
Edward se virou para Samantha que tentava disfarçar a curiosidade.
— Samantha... esse garoto... como ele veio pra cá?
— Ele chegou aqui com sete meses. A mãe era uma moça na faixa dos dezesseis, dezessete anos. Os pais não aceitaram a gravidez e a expulsaram de casa. Ela admitiu que tentou dar o golpe da barriga, mas não deu certo. E não tinha condições de ficar com o menino. Não tinha e não queria ficar com ele.
— Quer dizer que está aqui há três anos? Nunca apareceu ninguém interessado em adota-lo?
Samantha suspirou e seu semblante ficou triste.
— As pessoas preferem crianças recém-nascidas ou de poucos meses.
— Mas se ele chegou aqui com sete meses...
— sim, mas além disso elas preferem crianças brancas, com olhos claros. Taylor é bem moreno, então...
Tanto Dulce quanto Christopher ficaram estupefatos. Isso existia realmente? Era... desumano pensar dessa forma.
— Pessoas que escolhem crianças pela cor da pele e dos olhos nem merecem adotar ninguém. Que lição poderão dar as crianças? Preconceito?
— Concordo com você.
— Samantha, o que eu queria dizer quando fomos interrompidos é que Dulce e eu queremos adotar uma criança. Por isso viemos aqui hoje.
Samantha levou as mãos ao peito, sentindo seu coração disparar. Seus olhos encheram-se de lágrimas.
— E devo entender que se apaixonaram pelo Taylor?
Dulce se adiantou a Christopher.
— Sim... ele... é tão fofo, tão meigo. Não quis assusta-lo, mas me deu uma vontade de aperta-lo em meus braços.
— Ele iria adorar, Dulce. Posso chama-la assim?
— Sim, claro.
— Oh meu Deus... eu nem acredito, Christopher. Taylor é um garoto tão dócil, esperto, inteligente. Nunca teve qualquer problema de saúde ou de comportamento. Lógico que não podemos demonstrar preferência por nenhuma criança aqui dentro, mas ele... ele é nosso anjinho.
Dulce e Christopher se olharam, a emoção visível tanto em seus olhos quanto no sorriso cumplice dos dois. Christopher segurou a mão dela e apertou levemente. Dulce apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça. A escolha já estava feita.
*************
Seis meses depois
De pé na varanda, Chris aguardava o retorno dos patrões. Em breve chegariam com o novo morador da casa. Christopher e Dulce passaram os últimos meses focados na adoção do pequeno Taylor. Chris o conheceu quando foi permitido a Christopher levar o garoto para um passeio. Era encantador e ele pode ver o sentimento forte que Christopher e Dulce já nutriam pelo garoto. Não foi fácil para eles. Poderia ser, visto a fama e boa condição financeira de Christopher, além do fato de já ter escolhido a criança.
Mas o preconceito ainda estava presente na sociedade hipócrita. A primeira assistente a analisar o caso, não deu um parecer favorável dada a situação dos dois. Segundo ela, um casamento entre irmãos não seria boa influência no crescimento da criança.
Naquele dia, pela primeira vez em anos, Chris viu o amigo perder a compostura. Edward esbravejou, xingou a mulher de hipócrita. Esse foi o xingamento mais simpático. Chris ainda se lembrava das palavras dele.
— O que é boa influência para você? É a criança crescer, acreditando que há diferenças entre raça, cor, sexualidade? É essa a lição de vida que pretendem dar às crianças? Porque aquela criança que eu quero até hoje não foi adotada simplesmente por ser morena. Que raios de moralismo é esse?
Felizmente, os dois vinham de grandes tormentas. Sofreram preconceitos, raiva e discriminação e já estavam fortes o suficiente para não baixarem a cabeça. Continuaram lutando, até que por fim, uma juíza aceitou o pedido de Christopher, tendo inclusive manifestado repúdio ao comportamento da assistente social. E hoje eles finalmente trariam o pequeno para casa.
Christopher e Dulce mal dormiram nos últimos meses. Contaram como sempre com o apoio da família e do melhor amigo. Juntos, compraram moveis para o quarto do garoto, brinquedos e escolheram a dedo a decoração do quarto. Também foram as compras de roupas e calçados. Iam ao orfanato praticamente todo dia e já conheciam o gosto do Taylor. A cada minuto que passavam ao lado do pequeno, Christopher sentia seu coração encher-se de amor por ele. Ele nunca imaginou que pudesse sentir um amor tão grande por uma criança que conheceu há tão pouco tempo. Ele já o amava como se fosse seu filho biológico.
Dulce praticamente comprou uma estante inteira de livros sobre como cuidar de crianças naquela fase. Ela e Christopher passavam algumas horas na cama, antes de dormir, lendo e discutindo os assuntos abordados. Queriam que Taylor tivesse um lar de verdade, como se eles fossem seus verdadeiros pais.
— Estou tão nervosa.
— Confesso que também estou.
— Acho que deveríamos ter contado logo a ele.
— Acha que ele não irá gostar? Ele te adora, Dulce.
— Sim. E adora você também. Mas sei lá... não é demais pra cabecinha dele?
— Ele é esperto, inteligente. Ficará feliz... eu espero.
Christopher acabava de estacionar em frente ao orfanato. Logo Samantha os recebeu, emocionada e já sentindo saudades do pequeno Taylor.
— Ele já está pronto. Jennifer o trará.
Assim que Taylor foi levado a presença do casal, ele correu e abraçou os dois.
— Vamos passear de novo?
Outra funcionária se aproximou trazendo a mochila com as coisas que o garoto mais gostava. O restante ele não iria precisar.
Christopher o pegou no colo, olhando fixamente pra ele.
— Tay... eu acho que agora você deveria se despedir dos seus amiguinhos.
— Por que?
— Esse é seu último dia aqui, meu amor.
Dulce falou se aproximando e acariciando o rosto moreno.
— A partir de hoje você irá morar conosco.
Ele arregalou os olhos, olhando de Christopher pra Dulce.
– Na casa de vocês?
— Sim. Eu já tenho todos os seus documentos, garotão. Você será meu filho e da Dulce O que você acha?
Ele não respondeu, mas as lágrimas que desceram pelo rosto dele diziam tudo. Christopher o apertou em seus braços, também sentindo seu rosto úmido.
— Meu filho... nosso filho.
— Você será meu papai e a Dulce minha mamãe?
—Sim, meu amor. Agora nós somos os seus pais.
Samantha enxugou uma lágrima furtiva, vendo os três abraçados. Eles mereciam... os três.
Taylor se despediu dos amigos e das funcionárias do orfanato. As crianças acenaram enquanto Christopher o colocava na cadeirinha comprada especialmente pra ele. O celular de Dulce vibrou com uma mensagem de Alexandra. Estavam todos aflitos para visitar o garoto que conquistou a todos num só dia. Mas a família preferiu esperar o garoto se acomodar para visita-lo.
Christopher olhava pelo retrovisor e sorria, a mão livre entrelaçada na de Dulce Taylor olhava pela janela do carro, o vento bagunçando os cabelos pretos, antes tão bem penteados. Os olhos brilhavam de excitação ao saber que aquele casal que ele adorava agora iriam ser seus pais. Ele teria alguém para lhe contar histórias todas as noites. Ele poderia ir para a escola com uma mochila nas costas e uma lancheira, segurando a mão do pai e da mãe.
Ao chegarem à mansão, avistaram o Chris parado à varanda. Ele sorriu ao ver Dulce e Christopher se aproximarem com Taylor entre eles, segurando a mão de cada um. Os três sorriam largamente, demonstrando toda a felicidade que sentiam.
Chris não conhecia ninguém no mundo que merecesse tudo aquilo mais do que aqueles dois. Ele sempre foi a favor do amor deles e vendo agora o resultado, soube que sempre esteve do lado certo. Hoje em dia sempre se lê notícias de filhos matando os pais por causa de herança, por causa de dinheiro para comprar drogas, irmãos se matando por causa de desavenças. As pessoas assistem a tudo isso consternados, mas aceitando que existe ódio entre familiares. Por que então é tão difícil aceitar o amor entre familiares? Um amor como o de dulce e Christopher, tão puro e bonito? ´E fácil aceitar o ódio... mas é tão difícil aceitar o amor. A explicação para Chris era apenas uma: no fundo também são pessoas incapazes de amar ou de enxergar o amor. Não eram dignas, portanto, de julgar nada nem ninguém. Não se pode julgar o que não se conhece.
Chris abriu um sorriso largo quando viu Taylor soltar-se das mãos dos pais e correr pelo jardim, gritando:
– Eu tenho uma casa!
Dulce e Christopher se abraçaram, emocionados. Eles venceram. Bons sentimentos sempre devem vencer.