– Anahí , TENHO duas palavras: abdome tanquinho – sussurrou minha amiga Maite ao
meu ouvido enquanto caminhavamos pelo corredor em direção à entrada privativa da sala
de reunião da empresa. – Este agente de talentos é mais gostoso do que a maioria dos
atores de primeiro escalão que ele representa.
Eu trabalhava como analista financeira em uma das empresas privadas de gestão de
bens de maior prestígio em Los Angeles, mas o bate-papo em torno do bebedouro
provavelmente era o mesmo em qualquer escritório. Babávamos nos caras gostosos tanto
quanto as meninas que ficavam no balcão da lanchonete local. A diferença é que
reservávamos os olhares de cobiça a portas fechadas. Como agora.
– Sério? Você queria me informar sobre o cliente em potencial? – perguntei parando
diante da sala de reunião para sacudir uma pasta de arquivos sob o nariz dela. Eu tinha
trabalhado duro para compilar os detalhes financeiros pregressos do cliente em potencial
para Fawn poder chegar preparada à reunião. – Esqueci de incluir o relatório mais recente
dos sites de fofoca em minha pesquisa, então talvez você saiba mais sobre esse cara do
que eu.
Franzindo a testa, a executiva de contas de ascensão mais rápida na Sphere Asset
Management me cutucou no braço com a tampa de sua caneta.
– Espertinha. – Maite sacudiu o cabelo pela terceira vez nos últimos dois minutos, um
hábito desnecessário que ela tinha, a fim de certificar-se de que todas as mechas
Pretas estavam comportadas. Mas ela era a chefe da equipe que havia investigado o
perfil financeiro da Alfonso Herrera, portanto, era ela quem apresentava o trabalho árduo de
análise feito pelos subordinados anônimos. Com seu terninho cinza elegante contornando o
corpo tonificado e esbelto, Maite chamava atenção em todos os lugares aonde ia… tarefa
nada fácil em Hollywood, terra da beleza. – Sei o básico sobre os bens dele. Posso finalizar
esse negócio com os olhos fechados. Mas se houver uma chance de Alfonso Herrera estar
solteiro, vou investir nele.
Eu gostava de Maite. De verdade, gostava mesmo. Ela era uma analista de mercado
brilhante e pé no chão o suficiente para sair com funcionários de apoio como eu, uma
analista que agia nos bastidores e que arrumava grandes acordos para os figurões da
empresa. Mas como ela era um grande exemplo de como o universo abençoava algumas
pessoas um pouco demais, fazia as mulheres mais inseguras sentirem-se um pouco…
deficientes.
Por exemplo: eu nunca sonharia em investir em Alfonso Herrera, realeza de Hollywood e
filho do produtor independente mais famoso da última década. Todos os nossos clientes
eram indivíduos de alto patrimônio líquido, mas Alfonso estava em uma classe diferente,
tinha uma dose de fama saudável e um magnetismo pessoal para completar. Então, não
pude evitar e me mostrar um pouco resistente quando ouvi nossa recepcionista guiar o
cliente à sala de reunião do outro lado da elegante porta de cerejeira.
– Você não pode flertar com os clientes – avisei a Maite. – Muito menos sair com eles.
– As regras eram rígidas na Sphere.
– Você está brincando comigo? – Maite alisou a frente de seu paletó e beliscou o rosto
para lhe dar um pouco de cor, truque que eu já tinha visto Scarlett O’Hara fazer no
cinema. – Sair com um cara como Alfonso vale a demissão da empresa. Empresas de gestão
de bens são um centavo em meio à fortuna de Los Angeles. Homens como esse, por outro
lado, são raros.
Foi preciso um esforço para eu não revirar os olhos.
– É fácil dizer isso quando você tem headhunters telefonando toda semana.
E muito embora eu fosse ótima em meu trabalho, nunca havia tido esse tipo de
oportunidade. Entrevistas cara a cara eram uma forma única de tortura para mim. Eu
passaria o restante da minha carreira pesquisando opções de carteira de investimentos e
calculando lucros potenciais de ações para nossos clientes.
Maite deu uma piscadinha antes de abrir a porta, totalmente imperturbável.
Normalmente, eu teria fugido de volta ao meu escritório, uma vez que falar com os
clientes definitivamente não era minha praia, apesar de, tecnicamente, eu precisar ficar
apenas sentada. Normalmente minha abordagem era nos bastidores, mesmo que eu já
tivesse feito alguns progressos para ganhar mais autoconfiança depois de descobrir
alguma aptidão para a dança neste ano. No entanto, estava curiosa em relação ao nosso
visitante.Além disso, quem iria me notar de pé, à sombra, quando nossa consultora de ativos
estelar adentrasse para tomar seu lugar à cabeceira da mesa de mogno polido? Eu
provavelmente não teria nenhuma chance de vislumbrar o elogiado abdome tanquinho de
Alfonso Herrera. Mas algumas vezes tínhamos nossos momentos de babar diante dos nomes
realmente grandiosos, mesmo aqueles que cresceram cercados por celebridades.
E, francamente, sendo alguém interessada em negócios e finanças, eu estava mais
curiosa sobre a forma de tomada de decisões de um magnata como Alfonso do que a
respeito da estrela de cinema bola da vez da semana. Embora ele tivesse sido alvo intenso
dos meios de comunicação devido a uma ação judicial que diziam ter movido contra seu
pai famoso e também ex-empregador, antes de abrir a própria agência de talentos.
Então, ao atravessar a porta, dei uma espiadinha tão longa por sob a franja que as
pontinhas dela tocaram meus cílios.
Eu esperava um grande grupo acompanhando Alfonso, mas só havia um homem aguardando
por Maite quando ela entrou. Alto e com quadris estreitos, usava um terno preto com uma
camisa também preta aberta no colarinho. Sua aparência poderia ser vagamente perigosa
devido às maçãs do rosto proeminentes, aos traços angulosos e aos olhos escuros. No
entanto, quando ele sorriu, todo seu rosto mudou, os olhos enrugando com linhas
familiares nos cantos. Ele tinha um pouco dos traços do Mediterrâneo, e lembrei-me de
alguma fofoca velha sobre sua mãe ser uma atriz italiana seduzida pelo pai famoso
quando ela mal havia chegado à maioridade.
Alfonso Herrera tinha apenas 30 e poucos anos, mas era bonito naquele estilo George
Clooney, “vai ser lindo mesmo quando tiver 80 anos”. Não era surpresa nenhuma que Maite
tivesse ajeitado o cabelo e beliscado as bochechas.
– Oi – disse ele de repente, virando-se para mim. – Sou Alfonso Herrera.
Eu tinha sido descoberta.
Ele caminhou em minha direção, a mão estendida como se para me chamar à sala. Com
o coração acelerado e os pés grudando ao chão, congelei, descrente por ele ter enxergado
através da camuflagem que minha franja longa normalmente fornecia em conjuto com
meu terno mal-ajustado e o tênis que calçava, já que nunca me encontrava com os
clientes.
Quem notava Anahí Portilla quando Maite Perroni estava por perto?
– O-o-oi… – Consegui dizer, embora minha saudação gaguejada tivesse sido tão baixinha
que ele provavelmente não ouvira.
Droga. Eu já não tinha superado o problema de falar em público?
A mão dele envolveu a minha com um aperto quente enquanto eu procurava algum
pretexto para sair. Areia demais para seu caminhão!, berrava meu cérebro para mim.
Bater em retirada!
O momento em que nossas mãos se entrelaçaram provavelmente só durou uma fração
de segundo. Mas como eu nunca tinha estado tão perto de um pedaço de mau caminho
como aquele, e muito menos tocado um, absorvi todos os detalhes, desde o aroma
gostoso de sua loção pós-barba suave até a maneira como seu cabelo formava uma onda
sobre a testa.
– Anahí ? – chamou Maite atrás dele, parecendo intrigada. – Você gostaria de se
juntar a nós?
Claro que não. Não era um hábito sentar-me em reuniões com clientes, muito embora
como analista financeira eu tivesse mais conhecimento sobre os bens da pessoa do que
qualquer um da equipe. Mas explicar tal coisa significava arriscar mais um festival
torturante de gagueira.
Por que resolvi bancar a voyeur hoje?
– Entre – pediu Alfonso, saindo da sala e gesticulando para eu entrar.
Seria indelicado pronunciar algo como “De jeito nenhum” na frente de um cliente. Então
escolhi a melhor opção possível. Virei-me e fugi do local, meu tênis facilitando o percurso
pelo corredor enquanto eu seguia para meu escritório e fechava a porta atrás de mim.
Eu estava um pouco tímida? Dã. A gagueira tinha começado na infância, devido a uma
mãe que tinha vergonha de mim, e crescido feito uma bola de neve rumo a uma
insegurança com vida própria. Para uma garota como eu, ficar perto de um gostosão de
Hollywood era simplesmente estúpido. Era como uma mariposa em volta da luz, essa
coisa toda. Acho que minhas asas já estavam chamuscadas.
Mas eu estava me esforçando para superar a timidez.
Nunca me aproximava dos Alfonsos Herreras do mundo, embora ele fosse seriamente
gostoso e provavelmente fosse abastecer minhas fantasias particulares por um longo
tempo. Em vez disso, abordava meus problemas de outra forma, dando passinhos para
dominar os demônios da insegurança em minha cabeça.
Na verdade, precisava de uma dose daquele remédio forte agora, antes que meu coração
saltasse do peito. Então peguei minha bolsa de ginástica embaixo da mesa e, verificando
para garantir que o corredor estava livre, saí pela porta dos fundos. Eu iria me render à
última moda da malhação, a qual havia lentamente se transformado em minha única fonte
de confiança física real no ano anterior.
Eu havia aprendido que não havia nada como um pouco de pole dancing para despertar a
tigresa em qualquer mulher.