Alfonso NÃO sentiu nem um tiquinho de culpa por deixar Anahí chocada.
Ela estava pálida e muda quando ele lhe entregou uma taça de champanhe e pegou a
outra para si. Ele não tinha planejado revelar aquilo durante o almoço, nem sabia ao certo
se ela era a dançarina que havia abordado no início da semana. Mas tinha um palpite forte,
e aquilo parecia algo que precisava ser abordado antes de irem além.
A reação dela acabou com as dúvidas dele.
– Como v-v-você sabia?
– Não tinha certeza até agora. – Ele chegou um pouco mais perto dela no cobertor. –
Mas estava me incomodando para diabo o fato de estar estar tão atraído por aquela
dançarina e por você ao mesmo tempo. Sou do tipo monogâmico.
Ele bateu a taça levemente na dela, o tilintar emitindo um sinal sonoro suave no calor
tranquilo do meio-dia.
– O que você pensou quando viu a pluma na minha mesa? – perguntou ela entre golinhos
de champanhe.
– Pensei que fosse uma coincidência, uma pegadinha cruel do universo, jogar uma
peninha branca no meu caminho logo depois que deixei uma mulher linda coberta de
plumagens escapar. – Ele arrumou um prato e o entregou a ela, que parecia tensa e
preocupada.
Não era exatamente o estado de espírito que Alfonso estava querendo.
– Mas então, quando você viu minha foto no estúdio de dança, você soube? – Distraída,
ela pegou uma uva e Alfonso ficou aliviado ao vê-la relaxar só um pouquinho.
Ele apostava que Anahí precisava relaxar muito mais na vida. E estava bem certo de
que ela havia encontrado tal relaxamento no palco. Ele ficou fascinado pela forma como
ela se abria ao mundo quando estava dançando. Com o quão confiante se mostrara.
– Não. Como disse, não tinha certeza de que era você até agora. Mas quando vi a foto
em seu escritório, quis saber mais sobre um lugar chamado Naughty by Night.
– Ai, não. – Ela pousou o prato no cobertor. – Você não fez isso.
– Telefonei e pedi para falar com Natalie. – Ele adivinhou que o “Night” no nome do
estúdio não era acidental. – Eles disseram que ela havia deslocado o tornozelo há duas
noites e que estava se recuperando em casa. Quando fiz as contas, soube que não poderia
ser ela no Backstage.
– Minha empresa vai me demitir. – Anahí balançou a cabeça, o cabelo longo escuro
caindo nos olhos, mas escondendo pouco de sua angústia. – Se eles descobrirem…
Anahí fez um gesto impotente e Alfonso pegou a mão dela.
– Eles não vão descobrir, não por mim.
– Mesmo? – O olhar semicerrado demonstrava que ela não confiava muito naquilo.
– Não vai melhorar em nada minha reputação sair com dançarinas exóticas quando ainda
estou representando clientes menores de idade. – Seria esquisito, para dizer o mínimo.
Além disso, Alfonso não queria dar ao pai a satisfação de superá-lo no quesito
credibilidade. Não depois de todos os truques questionáveis que o velho Herrera usara para
enganar e manipular no ramo.
– Então você vai guardar o segredo. – Ela parecia estar sopesando a sinceridade dele, os
olhos azuis buscando os dele.
Havia algo na hesitação de Anahí que a tornava irresistível. Talvez fosse porque
tantas mulheres que Alfonso conhecera tivessem sido inflexivelmente confiantes e ousadas
em suas decisões. Elas precisavam ser assim para sobreviver no ramo cinematográfico.
Anahí, por outro lado, parecia pensar em tudo com cautela.
No entanto, ele tinha a sensação de que qualquer um que conseguisse passar pelo
escrutínio dela seria um homem de sorte, muita sorte.
– Gostaria de guardar mais segredos para você. – Ele deixou a taça de lado e empurrou
os pratos para o outro lado do cobertor.
Ela olhou para o galho de árvore mais próximo através da franja e, em seguida, virou-se
para olhar para o campo de polo atrás de si, perto do estacionamento. Alfonso já sabia que
estava vazio.
– Gostaria de um exemplo. – Ela enganchou um dedo na longa corrente dourada ao redor
do pescoço e ficou remexendo em um pingente em formato de folha.
– Um exemplo? – Ele ficaria hipnotizado se continuasse a observar o movimento do
pingente, já que o gesto chamava a atenção para os seios bem moldados sob a camisa
branca lisa.
– Que tipo de segredo você é capaz de guardar? – incitou ela, inconsciente de que o
fluxo sanguíneo havia reduzido no cérebro de Alfonso.
Ele segurou a mão dela, interrompendo a brincadeira tensa com a bijuteria. Os olhos
azuis arregalaram com o toque. Ele sorveu o momento e a mulher, inalando o cheiro
mais sutil do perfume suave.
– Esse tipo. – Ele cobriu os lábios dela antes que Anahí pudesse surgir com qualquer
manobra para atrasá-lo.
No entanto não a beijou. Ainda não. Nesse momento, simplesmente roçou a boca na
dela. Suavemente. A pulsação de Anahí ia à loucura sob a mão de Alfonso, e a noção de
que a havia excitado tão facilmente também fez o ritmo cardíaco dele acelerar.
Só então ele aumentou a pressão e provou um bom pedaço. Os lábios dela eram macios,
quentes e maleáveis, se entreabrindo levemente para acomodá-lo. Antes de ir além, ele
captou a plenitude do lábio inferior dela entre os dentes, sugando delicadamente. Anahí
tinha gosto de morangos.
Melhor ainda, ela ronronava de prazer diante daquele pequeno contato, o corpo inteiro
relaxando sob o toque dele.
Alfonso foi tomado pelo calor, que não tinha absolutamente nada a ver com a umidade do
meio-dia. Anahí causava um efeito forte, diferente nele, como um uísque 30 anos que
ele nunca havia experimentado. E uma dose tripla não seria suficiente.
Ele disse a si para ir devagar. Sedução, certo? Esse era o foco. No entanto, o suspiro
suave e arfante que Anahí soltou o afetou profundamente, e Alfonso se flagrou buscandoa,
puxando-a para mais perto, a mão no cóccix dela.
– Espere. – Ela pôs a mão no peito dele, os dedos frios e esguios deslizando sobre a
blusa com uma pressão suave. – O que estamos fazendo?
Relaxando o toque, Alfonso espalmou a mão nas costas dela, porém não foi capaz de soltála
totalmente.
– O que queria fazer desde que vi você pela primeira vez na frente da sala de reuniões
da Sphere. – Ele se lembrou do cabelo caindo sobre os olhos, das longas franjas
escondendo muita coisa sob ela. – Pegando uma provinha.
– Você é um Herrera. – Ela franziu o cenho para aquelas palavras, mas, felizmente, não
se afastou.
Ele quase podia ver a mente ágil de Anahí ponderando as implicações.
– Não posso fazer nada em relação a isso. – Ele começou a respirar mais devagar,
mantendo a voz estável. Não era uma tarefa fácil.
Diabos, a lembrança dela usando tecido translúcido e plumagens, rastejando em direção
a ele, de quatro, queimava em seu cérebro como um laser. Por mais que ele tivesse
revisitado aquele momento em suas fantasias, à noite, não estava em posição de lidar
com isso ali. Agora.
– Por que f-f-faria… – Ela parou, e ele ficou tenso. – Vocês. São. Famosos. – As
palavras dela vieram entrecortadas. Impacientes, quase. – Somos de círculos muito
diferentes.
Ele estava fascinado com os lábios e o modo como ela formava as palavras. Deliberada.
Pensativa. Muito diferente da maneira que a maioria das pessoas na cidade costumava
falar. Seu pai, por exemplo, era capaz de vomitar uma mentira atrás da outra, sem pensar
duas vezes.
– Isso não importa para mim. – Ele resolveu imitar o estilo dela e revisou aquela
declaração depois de pensar um pouco mais nas próprias palavras.
– Não. Isso não é
verdade. Acho que é um bônus você não ter vínculos na indústria cinematográfica. Estou
tão cansado de fofocas e desse mundinho limitado.
Ela assentiu.
– E você consegue guardar segredos?
– Como ninguém.
Alfonso se preparou para mais perguntas quando algumas nuvens de tempestade se
posicionaram acima deles. Em vez de interrogá-lo, no entanto, Anahí torceu os dedos
em sua camiseta e o puxou para mais perto, arqueando em direção a ele.
– Nesse caso, que tal mais um beijo?