UMA SEMANA depois, Alfonso teve que admitir que Anahí tinha mais do que honrado sua
palavra.Ele aguardava por ela na sala de conferência da Sphere, lendo sobre a ampla proposta de pacote de investimentos que ela gerara. Alfonso tinha telefonado solicitando que Anahí
supervisionasse suas contas pessoalmente, no mesmo dia em que ela concordara em
ajudá-lo, e no dia seguinte ela já estava atolada em pesquisas para ele.Tanto que, na verdade, Alfonso não a via pessoalmente desde que tinham passado a noite juntos. A culpa o cutucava agora por colocá-la em uma posição na qual ela sentia que precisava provar algo a ele, ao chefe e aos colegas de trabalho. Ainda assim, enquanto lia as sugestões abrangentes para todo seu patrimônio, desde a venda da propriedade Europeia ao aluguel de um iate que ele raramente utilizava, Alfonso sabia que tinha tomado uma decisão profissional inteligente ao insistir em ter Anahí como sua gerente de contas.Contudo, o que ele causara à relação pessoal recente entre eles? Ele os colocara em posições diferentes ao se tornar cliente pessoal dela. Praticamente garantiu que Anahí estivesse ocupada demais para sair com ele. Pelo que sabia, talvez tivesse sabotado algo realmente especial entre eles para superar o pai. Mas ela montara um perfil dos retornos de investimento de curto prazo baseados em alguns exemplos que ela delineara em suas sugestões para o negócio dele, e Alfonso sabia bem o quanto ela era boa para os clientes da Sphere.Tudo isso enquanto os gerentes de contas levavam a maioria do crédito.
– Sinto muito por fazê-lo esperar, Alfonso. – Anahí entrou na sala de reuniões um
instante depois, seus tênis brancos em desacordo com o terno cor rosa-shocking que
realçava seu cabelo escuro. – Passei meu horário de almoço no estúdio de dança e o
trânsito de volta para cá estava uma loucura.
Alfonso estaria disposto a apostar que ela não fazia ideia de que ainda estava usando tênis.
As roupas extravagantes que o teriam feito sorrir uma semana atrás agora o faziam
sentir-se um lixo, pois ela estava cheia de pressa por causa dele.Essa não era a única coisa que Alfonso notara. O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo baixo que repousava sobre os ombros, a franja jogada para o lado. Um olho ainda estava parcialmente coberto pela franja longa, mas o outro encontrava o olhar dele diretamente.
– Sem problemas. – Alfonso se levantou para cumprimentá-la, lutando contra o desejo de
tomá-la nos braços. Ele olhou por cima do ombro, para a porta aberta da sala de reuniões,
e baixou a voz. – Eu beijaria você, mas suponho que você prefira que eu não faça isso.
As bochechas de Anahí coraram num tom rosado que combinava com o paletó.
– Ah. Sim. Mas remarcar isso para mais tarde seria bem-vindo.
– Alguém mais vai se juntar a nós? – Ele olhou para a porta novamente. – Se vai ser só
a gente, eu poderia levar você para jantar, já que você não almoçou.
– Acho melhor não, mas obrigada. – Ela caminhou de volta para a porta e a fechou,
selando-os na privacidade dos lambris de mogno e das estantes pesadas cheias de
volumes imponentes. – Pilhas de trabalho para fazer no escritório.
– Desculpe se isso foi demais, Anahí…
– Não! – Ela correu para tranquilizá-lo, sentando-se ao lado dele, para que Alfonso sentisse
o cheiro dela, o perfume novo, fresco. – Nem um pouco. Esta nova responsabilidade tem
sido uma experiência que está abrindo meus olhos. Tenho andado ocupada, mas é ótimo.
– Mesmo?
– Sim. – Ela sorriu, colocando a mão no braço dele enquanto se aproximava mais. – No
começo fiquei preocupada com a reação de todos no escritório, mas eles parecem felizes
por mim. Você meio que me obrigou a viver de acordo com meu potencial aqui, e isso foi
uma coisa boa.
– Que bom, só que não fiquei sozinho com você a semana toda. – Ele não queria
pressioná-la mais, mas droga, recentemente, pensava nela o tempo todo. – Vamos sair
amanhã à noite.
– Não posso. – Os dedos dela deslizaram para longe do braço dele.
O nó de decepção em seu peito surpreendeu Alfonso. Ele não tinha planejado ficar tão
íntimo de Anahí tão depressa. Especialmente quando sua vida profissional deveria vir
em primeiro lugar, até ele sair da sombra do pai em definitivo.
– Outra hora então – começou ele.
– A menos que você queira vir ao Backstage para meu show – soltou ela.
– O quê? – Ele tinha esperanças de ter ouvido mal.
– Depois do sucesso do meu primeiro show, eles querem que eu volte para repetir o
desempenho. – Os olhos cinzentos brilharam com malícia.
– Pensei que a primeira noite tivesse sido um acaso. – Ele tentou se lembrar do que ela
dissera sobre a dançar no clube. – Você falou que estava substituindo sua amiga porque
ela estava machucada.
Só de pensar em Anahí seminua no palco, com uma sala cheia de olhos masculinos
gananciosos em cima, Alfonso ficou tenso.
– E estava. – Ela se inclinou mais perto, como se estivesse com medo de alguém no
corredor ouvir sua voz já baixinha. – Mas o show foi um sucesso tão grande que eles
ofereceram a Natalie mais um encaixe no espetáculo antes das aparições regulares no
outono.
– E você aceitou? – Ele não percebera que tinha falado em voz alta, até que ela
respondeu:
– Ainda não aceitei, mas pretendo. – Talvez o alívio dele tenha ficado óbvio, porque ela
se apressou em continuar: – Você não faz ideia de como aquele primeiro show mudou
minha vida. Enfrentei o público, sendo que sempre fui incrivelmente insegura. Conheci
você. Consegui o emprego para minha amiga. – Ela enumerou os pontos nos dedos, as
pulseiras de ouro tilintando suavemente com o movimento. – Estou sendo confiada com
mais responsabilidades no trabalho, quando nunca teria imaginado operar neste nível.
– Mas os riscos são maiores para o seu emprego agora, certo? Pensei que você
precisasse ter cuidado para ninguém reconhecer você, ou poderia ter problemas no
trabalho. – Ele imaginou que a recordar sobre os riscos era melhor do que soar como um
idiota possessivo autocrático e dizer-lhe diretamente para não dançar.
Porque, droga, ele não a queria nem perto daquele palco novamente.
Ela contraiu os lábios, formando uma linha rija.
– Creio que você está certo. Só pensei que isso ajudaria Natalie. E, claro, deixe-me
reviver um momento empolgante.
Alfonso largou a proposta de investimento na mesa e segurou as mãos dela.
– Correndo o risco de soar arrogante, gostaria de pensar que não seria tão emocionante
sem mim. – O coração de Alfonso golpeava um ritmo pesado no peito enquanto aguardava,cheio de esperanças de que ela concordaria.
Ela lhe lançou um olhar enviesado.
– Isso não é arrogância. Isso é um fato.
– Bem, então. – As mãos dele coçavam para tocá-la. Para lhe acariciar as curvas e
deslizar sob a bainha do paletó e sentir o que ela usava por baixo. – Acho que você não
tem como assumir o compromisso, porque não pretendo estar no Backstage amanhã à
noite.
– Não? – Ela arqueou uma sobrancelha, despindo-o com os olhos. – Onde você vai estar?
– Vou estar amarrado a uma morena inteligente…
– Amarrado, você diz? – Ela se inclinou para mais perto, sorvendo-o.
– É uma figura de linguagem. – Ele passou um dedo no joelho dela, por debaixo da mesa.
– Não se eu transformar em realidade.
A porta da sala de reuniões foi aberta sem aviso. Alfonso se acomodou lentamente em sua
cadeira, mas notou Anahí saltar para longe dele como se tivesse sido queimada. Suas
bochechas estavam num tom rosado ainda mais intenso do que antes.
A recepcionista entrou de costas na sala, a atenção focada em na bandeja de prata que
carregava, com um bule, xícaras de chá e garrafas de água.
– O-o-obrigada, Dulce. – Anahí remexeu em alguns papéis sobre a mesa.
– Claro. – Dulce deu uma espiada nos dois quando colocou a bandeja em um aparador, na
parede oposta. – Desculpe por não ter trazido os refrescos mais cedo.
– Não tem problema. Obrigada – repetiu Anahí. Suas mãos tremiam um pouco, os
papéis que segurava sacolejavam com o movimento.
Tomado pelo desejo de cobrir os dedos dela com os seus, Alfonso foi lembrado da mulher
estranha que tinha conhecido naquela sala. A confiança de Anahí realmente percorrera
um longo caminho em um curto espaço de tempo. E se ele estivesse privando-a de uma
oportunidade de solidificar a autoestima ao desencorajá-la a dançar no Backstage?
Quando a colega de trabalho partiu, Anahí bateu os cotovelos na mesa, seus ombros
caindo para a frente.
– A quem estou enganando? – perguntou ela, mais para si do que para ele, quando cobriu
os olhos com as mãos. – Isso é loucura.
– Qual é? – Ele se inclinou para a frente também, puxando suavemente um dos braços
de Anahí, para que pudesse vê-la melhor. – Eu diria que é uma loucura você ter
esperado tanto tempo para reivindicar seu lugar de direito aqui. Você tem muito a oferecer
para ficar sempre atrás.
Ela revelou um olho, ainda escondendo o outro.
– Nunca gaguejei na frente de Dulce. Ela deve ter notado que algo estava acontecendo.
– Ela provavelmente pensou que estava nervosa porque essa é uma de suas primeiras
reuniões com clientes, o que só seria natural.
Depois de um longo instante, Anahí balançou a cabeça.
– Talvez.
– Será que realmente ajudaria se você dançasse de novo? – Ele não queria lhe negar algo
que tinha sido… terapêutico. A dança seminua na frente de caras salivando podia até
causar pesadelos nele, mas se ajudava Anahí a lidar com algumas de suas ansiedades,
ele era capaz de cerrar os dentes e encarar mais uma performance.
Era o que ele esperava.
– Não sei. – A voz dela estava fraquinha. O rosto pálido. – Definitivamente não posso
me dar ao luxo de perder este emprego. Você está certo sobre isso.
– Mas você quer dançar – esclareceu Alfonso, tentando chegar ao cerne da questão.
Ela deixou cair o outro braço e cruzou as mãos sobre a mesa. Olhando diretamente para
ele, disse:
– Só se você estiver lá.
Um raio de calor o atingiu ao pensar naquilo. Ele podia odiar a ideia de que qualquer um
iria vê-la. Mas não podia negar o apelo de Anahí dançando só para ele.
– Eu não perderia por nada.