EU TINHA 20 problemas diferentes com os quais lidar enquanto o público irrompia em
aplausos fervorosos. Mas o único que importava agora era tirar as unhas bem-feitas de
Maite Perroni do braço de Alfonso. Fuzilei aquelas garras femininas possessivas com meu
olhar, desejando que largassem meu homem.
Ele era meu.
Podia ser apenas temporário. Só por esta semana, este mês ou, por favor, Deus, por até
mais tempo. Mas agora Alfonso Herrera era o homem na minha vida, e temia por meus atos
se minha linda colega de trabalho não repensasse a forma como se aproximava dele. Ela
se esfregava em Alfonso de forma mais fluida do que eu tinha me movimentado em torno do
poste durante minha dança. A mulher era boa. Também era inteligente, bem-sucedida e
intocada pela insegurança. Se eu tivesse presas, elas já estariam aparecendo.
Passei minha língua sobre meus incisivos, curiosa.
Um movimento periférico chamou minha atenção e percebi que Alfonso estava gesticulando
para eu sair do palco. Tardiamente, me lembrei de que não tinha agradecido, e os aplausos
estavam esmorecendo rapidamente. A música tinha mudado. O confete prateado já não
estava mais caindo, o que significava o fim do meu ato. Atrás de Alfonso e de Maite , Dulce me
chamou para ir até ela. Ela conhecia a mim e a Natalie muito bem, e não se deixaria
enganar por uma máscara durante muito tempo.
Enquanto eu corria para sair do palco, meu estômago revirava e me perguntava como
evitar todas as colegas da Sphere. Para começar, não conseguia acreditar que tinha
ignorado Natalie e Alfonso e agendado a apresentação.
– Grande show, Natalie! – gritou alguém enquanto eu descia os degraus, trêmula e
perdida.
Notas de dinheiro de diversos valores eram sacudidas diante do meu rosto, mas um
segurança chegou a tempo de fazer os caras que acenavam recuar. Tomei o braço
musculoso de bom grado e permiti que ele me levasse de volta ao camarim. Garçonetes
apressadas passavam correndo com bandejas de bebidas variadas enquanto alguns
modelos de aparência nórdica viravam doses de uma nova marca de vodca russa.
– Natalie! – chamou uma voz feminina familiar atrás de mim enquanto luzes
estroboscópicas piscavam ao redor. – Espere por nós!
Eu sabia que só podia ser Dulce. Eu tinha medido a distância até os camarins e percebi
que nunca conseguiria escapar a tempo. Mesmo que a ignorasse e de algum modo
conseguisse chegar àquelas portas antes dela, Dulce iria me seguir e bater até eu atender. E
não era como se ela estivesse sozinha. Se estivesse, teria arriscado a compartilhar meu
segredo. Mas as outras mulheres com ela não tinham nenhum motivo para manter meu
passatempo ousado sob sigilo.
Virando-me lentamente, continuei a segurar o braço do leão-de-chácara.
– Eu p-p-preciso de um m-m-minuto – falei a ele, minha língua como um motor frio se
recusando a ligar no inverno. Aprendi essa analogia durante o tempo que passei com meu
pai nova-iorquino.
Obrigada, pai.
– Oi, Natalie! – Um coro de saudações surgiu. E de repente as mulheres do meu
trabalho estavam em cima de mim, juntamente a outras que tinham ido à festa de
despedida de solteira de Dulce. Pior, no meio daquele mar de rostos sorridentes estava
Alfonso .
Minhas colegas iriam acabar comigo, e Alfonso iria estar lá para testemunhar isso. Agora,
mais do que qualquer coisa, queria que ele não estivesse ali para ver minha desgraça. Dulce
me abraçou.
Será que estava perto o suficiente para ver por trás da máscara?
– O-oi – murmurei, passando os dedos na máscara, puxando um pouco para garantir que
cobria o máximo possível da minha cara. – O-o-obrigada por…
– Srta. Night – adiantou-se Alfonso, envolvendo um braço protetor em torno de mim,
pousando a mão no meio das minhas costas. – Meu carro está lá fora, se você ainda tiver
tempo para nossa reunião.
Confusa, assenti em silêncio, na esperança de que ele tivesse pensado em uma forma
de sair dessa. Além disso, mesmo se soubesse o que dizer naquele momento, não teria
sido capaz de fazê-lo pelos meus lábios sem ser aos trancos e barrancos. Era exatamente
aquele tipo de situação.
– Reunião? – Maite franziu a testa, se insinuando do outro lado de Alfonso . – Nós vamos
comprar uma bebida para nossa amiga, Alfonso . Venha com a gente.
Ela entrelaçou o braço ao braço livre dele e tive uma visão breve de nós duas fazendo
um cabo de guerra.
– Desculpe. – Alfonso sacudiu a cabeça, todo profissional. – A srta. Night é um dos novos
clientes da minha agência. Estamos tentando acertar nossas agendas para essa conversa
há duas semanas.
Ele já estava me puxando para trás. O chefe da segurança de pescoço muito grosso e
um rádio no quadril captou a dica de Alfonso e usou seu braço imenso para me separar de
Dulce e do restante das mulheres.
– Vou trazer seu carro, sr. Herrera – assegurou o sujeito, usando habilidades rápidas
como um raio com o rádio para o manobrista entrar em ação do lado de fora.
Ai, meu Deus. Aquilo ia funcionar.
– Obrigada por ter vindo – articulei muito lentamente, tentando deixar minha voz um
pouco mais grave de propósito para não ser reconhecida.
Ainda assim, Maite franziu a testa, e me perguntei se tinha dado algum fora sobre
minha identidade com meu discurso lento.
Mas Dulce estava repetindo que eu tinha feito um show maravilhoso enquanto Alfonso e o
segurança me empurravam para fora do clube.
– Minha bolsa. No c-c-camarim – falei para Alfonso , desconfortável por circular pelo bar
principal usando meu traje. Felizmente ninguém prestou muita atenção em mim enquanto
eu era imprensada por dois rapazes, um grande o suficiente para bloquear um tanque.
– Você pode pegar as coisas dela? – perguntou Alfonso ao segurança, que assentiu
enquanto continuava a disparar instruções pelo rádio.
Por incrível que pareça, a distância entre mim e minhas colegas aumentou. Maite não
estava correndo atrás de nós para me desmascarar. Talvez eu tivesse sido capaz de
enfrentar meu fiasco de hoje à noite sem ser reconhecida. Sem perder meu emprego.
Estávamos quase na saída quando outro segurança usando camisa colada ao corpo se
aproximou de mim com minha bolsa.
– Kendra disse que esta é a sua. – Ele pôs a sacola de lona preta em meus braços.
– Obrigado – respondeu Alfonso , dando uma gorjeta generosa ao sujeito. Ele também
estava com uma nota de dinheiro pronta para ser entregue ao chefe da segurança quando
o gigante sem pescoço abriu a porta traseira para nós.
A poluição noturna me atingiu, um abraço úmido e bem-vindo. Deixando o ruído e a
música latejante atrás de nós, saímos para a escuridão. Eu tinha tomado um táxi até ali,
sabendo que Alfonso iria me encontrar. Um manobrista usando casaco branco apareceu e
entregou o carro a Alfonso , baixando a cabeça brevemente em reverência.
– Sinto muito, senhor. – Ele gesticulou para o estacionamento nos fundos, que era menor
do que o da frente. Não havia nem sequer um manobrista lá atrás, então o sujeito deve ter
corrido para nos encontrar.
– Onde está meu carro? – perguntou Alfonso , entregando uma nota de dinheiro ao sujeito,
mesmo que ele não tivesse feito seu trabalho.
Em Los Angeles, era mais sábio dar gorjetas o tempo todo, tanto dinheiro quanto
possível, se você fosse qualquer tipo de celebridade. A última coisa que se queria nesta
cidade, onde a imagem era tudo, era ser negado a conseguir uma boa mesa.
– Está logo ali, senhor. – Ele apontou novamente, mas um Escalade branco encostando à
calçada bloqueou minha visão. – Seu pai me perguntou se eu podia esperar para trazer o
carro para que ele pudesse falar com você.
Alfonso enrijeceu ao meu lado. Eu congelei. A janela escura do Escalade abaixou-se em um
farfalhar suave, e um homem mais velho de aparência distinta se inclinou para fora para
acenar para nós, as mangas do cashmere cinza arregaçadas até os cotovelos, revelando
antebraços fortes.
– Olá, Alfonso . – Ele sorriu com o que poderia ser interpretado como afeto, mas eu podia
sentir a tensão em cada músculo de Alfonso enquanto ele tentava me abrigar com o braço.
Ele me entregou a chave do utilitário e tirou o casaco em um movimento suave.
– Você não precisa esperar por mim – murmurou ele enquanto acomodava o casaco
sobre meus ombros. Então deu um passo até o Escalade.
– Olá, papai.