– ANAHÍ, ESPERE. – Alfonso manteve seu foco nos lampejos azuis disparando e
ondulando das câmeras da multidão de paparazzi em frente à mansão particular.
Anahí havia saído da festa de lançamento sem olhar para ele. Mas ela precisava
aguardar por ele para levá-la para casa, não? Alfonso sentiu um aperto no peito ao pensar
que talvez ela estivesse cansada da confusa família Herrera e estivesse pronta para
simplesmente cair fora. Chamar um táxi e terminar tudo com ele. Alfonso apressou o passo.
Algumas câmeras viraram para Anahí enquanto ela passava, apressada, pela
imprensa sensacionalista. Alguns flashes estouraram… atire primeiro e preencha as
lacunas depois. Mal sabiam os fotógrafos que a foto dela deixando a festa provavelmente
valeria mais quando a grande fofoca do evento vazasse.
Droga, mas o pai dele tinha estragado tudo para ele. Mais uma vez.
Com os dentes cerrados, virando para o lado, a fim de minimizar a possibilidade de
haver fotos dos dois juntos. Não que ele se se importasse por causa de si. Não queria pôr
o trabalho de Anahí na Sphere em risco mais do que já posto. Ele estava tão furioso
com Thomas que mal conseguia enxergar. Como o velho poderia tê-la envergonhado de
propósito assim?
– Anahí? – Ele a viu novamente perto do utilitário, que tinha sido estacionado pelos
manobristas em uma longa fila de veículos caros. Felizmente ele tinha uma chave
reserva.Ela estava com o celular na mão, os dedos correndo sobre o teclado enquanto o
ignorava.Não era um bom sinal. Será que ela tinha noção de que ele só estava tentando
protegê-la?Alfonso apertou o passo, correndo pelo restante do caminho até a ligeira rampa até
Anahí. Pelo menos eles estariam protegidos da vista de todos os convidados. Os
paparazzi não a tinham seguido e não o viram ali. Isso renderia a ele um pouco mais de
tempo.
– Ei. – Alfonso a alcançou assim que Anahí guardou o celular de volta na bolsinha
bordada com miçangas. – Sinto muito sobre o que aconteceu lá dentro.
Ela contraiu os lábios, não era bem uma carranca, mas definitivamente não era um
sorriso.
– Pelo que aconteceu lá dentro? – Ela cruzou os braços, a postura rígida. – Você se
refere a ter ignorado meu apelo para me deixar lidar com seu pai? Ou por anunciar ao
mundo que eu danço na noite?
Confuso, ele balançou a cabeça, tentando ficar atento a qualquer um que viesse na
direção deles. Ele estava cansado de ser o centro das atenções daquela noite.
– Fui para evitar que meu pai fizesse uma grande cena e envergonhasse você.
– Você não pode estar falando sério. – Ela tirou uma mecha de cabelo escuro dos olhos
que o atraíram desde o primeiro dia. – Você percebe que fez o maior escândalo de todos,
certo?
A culpa alfinetou quando ele foi atingido pela possibilidade de Anahí estar certa. Ele
sentiu a nuca se arrepiar de frustração ao pensar que ele poderia ser tão ruim quanto seu
pai, a noção crescente de que ele havia estragado esmagando cada vértebra em suas
costas. Ele queria sair dali, para longe da festa, para longe da longa fila de carros e de
manobristas correndo para lá e para cá… para longe da própria vida.
– Em um esforço de protegê-la e desviar o interesse do meu pai em você, sim. – A
cabeça dele latejava com a lembrança do pai sendo grosseiro com ela. Droga, ele
era esperto o bastante para não arrastar alguém tão vulnerável ao seu mundo. – Quando o
ouvi falando com você daquele jeito… – Ele cerrou os dentes.
– Alfonso, eu estava dando conta dele. – Ela abraçou o próprio corpo para se proteger de
uma rajada fresca de brisa. – Eu estava calma. Fui articulada. Ele estava acuado, e esta é
a única razão pela qual me atacou. – Anahí esfregava a testa logo acima da têmpora
quando se virou para encostar no para-choque do utilitário. – Eu estava a ponto de fazê-lo
enxergar que ele estava errado.
Difícil de imaginar seu pai admitindo isso a qualquer um, muito menos a uma mulher
que tinha acabado de conhecer.
– Errado sobre o quê? – perguntou Alfonso, curioso, agora que o pico das emoções tinha
passado.
– Sobre ele achar que é um ótimo pai.
Alfonso se apoiou no para-choque, ao lado dela, perto, mas não muito. Ele detectou uma
rigidez nova em Anahí, uma fronteira definitiva entre eles.
– Meu pai não vai mudar. – Alfonso convivera com ele por tempo suficiente para saber
disso. Deus, aquilo fora martelado no cérebro dele da maneira mais difícil, depois de
tantos anos dando ao seu velho uma oportunidade atrás da outra de… Diabos. Ser um pai
em vez de um ditador.
– E você sabe disso porque…? – Ela ficou brincando com as miçangas da bainha de seu
vestido, os pedacinhos de vidrilho captando raios aleatórios do luar. – Já lhe ocorreu
alguma vez que você pode ser tão cabeça-dura e teimoso quanto ele?
A acusação o atravessou de jeito, a possibilidade muito assustadora para ser absorvida
pelo cérebro. Alfonso nunca quis ser comparado ao pai. O que significaria se ele tivesse
herdado as características de Thomas que o irritavam na maior parte do tempo? Ele
tentou afastar o pensamento.
– Anahí, foi sua ideia vir para essa festa, e a trouxe para fazê-la feliz. – Ele chutou
uma pedra. – Mas sempre soube que seria um risco se envolver, já que meu pai é um
barril de pólvora e você…
– O quê? – quis saber ela.
– Vulnerável a críticas.
Ela bufou.
– Insegura, você quer dizer. Bem, adivinhe só? – Ela aprumou a postura. – Não sou mais
insegura. Mudei de várias de maneiras desde que nos conhecemos, Alfonso. Estou surpresa
que você não tenha notado.
– Isso não significa que você merece ser jogada aos leões em seu primeiro passeio
comigo.
A distância, ele viu um par de faróis iluminando a rua.
– Assumi riscos com você, Alfonso, porque você significa… muito para mim. Tirei a velha
máscara e estou pronta para mostrar a você e a todos os outros meu novo “eu”.
Ela pareceu firme ao dizer aquilo, mas a ideia de ver Anahí intimidada por causa dele
deixou Alfonso furioso consigo mesmo. Ela significava muito para ele também, ora bolas.
Pena que ele não havia demonstrado tanto no momento mais importante.
O som de motor ficou mais alto e os faróis se aproximaram. Alfonso se arrastou para
trás, um passo para permanecer nas sombras.
– Não sei no que estava pensando. – Alfonso balançou a cabeça, querendo que ela ficasse,
mas sentindo que não a merecia. – Não queria que meu pai gritasse com você, mas, no
final… – Deus, era uma droga admitir isso: – Fui pior do que ele.
Anahí não discutiu a questão.
– Fui mantida à margem por toda minha vida, por pessoas que tinham vergonha de mim
– disse ela. – E depois por todas as minhas inseguranças, graças a uma mãe que me via
como um problema. – Ela deu um passo para mais perto da rua e acenou para o carro que
se aproximava. – Não vou ficar satisfeita em permanecer negligenciada mais.
Um táxi parou ao lado dela.
Alfonso sentiu um bolo na garganta ao ser tomado por uma preocupação genuína.
Ela chamou um táxi? Ela ficou ali, observando a reação dele ou… apenas olhando para
ele. Alfonso não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Pedir a ela que não fosse sozinha
para casa?
– Não compreendo – admitiu ele. – Só não sei bem como… consertar isso.
Anahí tocou o rosto dele, um gesto que Alfonso compreendeu muito bem. Ele
reconheceu a despedida agridoce e a tristeza nos olhos dela.
– Não vou viver à sombra de novo, Alfonso. E até que você possa sair desta que está
pairando em cima de você, não tenho certeza se é uma boa ideia continuarmos nos vendo.
– Ela mordeu o lábio, mas a voz era firme. – Converse com seu pai, Alfonso. Veja se vocês
dois podem se escutar dessa vez.
Alfonso não previra aquela situação. A Bela Mulher de Olhos azuis estava terminando
com ele na esquina de uma rua escura de Los Angeles porque ele era cego demais para
olhar no espelho e se enxergar claramente. Anahí aguardou pela resposta dele, e Alfonso
ficou grato pelo taxista ter mantido a janela fechada. Diabo, ele não sabia mais o que
fazer, então pegou sua carteira e tirou uma nota alta para o taxista. Ele bateu na janela e
a entregou ao homem, juntamente a uma ordem rouca para dirigir com cuidado.
Com o arrependimento feito uma pedra em seu coração, Alfonso abriu a porta para
Anahíbem quando um monte de flashes pipocou atrás de si. Droga. Eles foram vistos.
Anahí balançou a cabeça quando entrou no carro, pronta para seguir em frente.
– Sinto muito, Alfonso.
Os flashes continuaram, mas ele não se importou. Tudo o que importava para ele no
mundo estava indo embora em um táxi amarelo anônimo, enquanto ele ficava parado lá
como um bobo, completamente disorientado.
Mas Anahí dissera o que ele precisava fazer, e ela era uma mulher inteligente. Uma
mulher que ele tinha escolhido para ser sua consultora financeira. Talvez fosse hora de
Alfonso começar a ouvi-la em outros aspectos também. Tinha chegado o momento de fazer
as coisas corretamente com o pai.
E as coisas ficaram feias,hora do Herrera tomar uma decisão
Continua.....