UMA REUNIÃO na festa estava fora de questão. Os paparazzi tinham ficado sabendo do
drama na cozinha e foram ávidos fotografar todas as partes envolvidas. Mas Alfonso tinha
dado uma gorjeta a um manobrista, a fim de que tirasse o pai da casa por outro caminho,
para que os dois pudessem se encontrar.
Agora, Alfonso aguardava em seu carro duas ruas abaixo e viu quando o manobrista se
aproximou em um carrinho de golfe. Mesmo no escuro, Alfonso percebia que o pai estava no
banco do passageiro. Ele ficou aliviado pelo outro ser dotado de bom senso suficiente para
ser racional sobre isso. Parte dele temia que o sujeito fosse até os paparazzi e lhes
fizesse revelações sobre o ocorrido.
Assim que o carrinho de golfe freou bruscamente, Thomas desceu tão
facilmente como se estivesse saindo de uma limusine, dando mais algumas notas para o
manobrista, que já tinha feito uma pequena fortuna com aquela missão.
Lfonso destrancou a porta do passageiro para que o pai pudesse entrar. Ao se sentar, se
voltou para o filho com um olhar sombrio.
– Importa-se de me contar por que você está esperando por mim em becos escuros em
vez de correr atrás da sua namorada? – Ele bateu o punho no painel para dar ênfase.
Será que Alfonso um dia iria entender aquele homem?
– Isso não tem só a ver comigo, pai. – Ele precisava assumir sua parcela naquela
confusão. Devia isso a Anahí, fazer o que ela pediu. Escutar. Tirando o carro do ponto
morto, tentou explicar. – Isso tem a ver com nós dois. constrange Anahí esta noite e
isso é culpa minha. Mas a maneira como eu e você ficamos nos atacando… isso é culpa
nossa. Minha e sua.
Ele não esperava que o pai fosse simplesmente ceder e admitir parte na história. Mas
talvez pudessem encontrar algum tipo de paz. Anahí pensava ser possível, certo? Alfonso
flexionou os dedos no volante, sem saber como tinha perdido algo tão importante tão
rápido. A cabeça latejava.
– Eu tento ajudá-lo – vociferou o pai, o tom grave ecoando ao redor do veículo. –
Chamei-a para a festa porque dava para notar que você gostava dela. E você precisa de
uma mulher em sua vida, Alfonso. Tudo o que faz é trabalhar.
A surpresa o distraiu do latejar na cabeça. Seu pai tinha notado o quanto ele trabalhava?
Isso não seria o sujo falando do mal-lavado? Droga, aquele era mais um fator que o fazia
se parecer com o pai, apesar de Alfonso nunca ter gostado totalmente dessa conexão.
– Você só sabia que eu gostava dela porque tem me seguido e ficou me vigiando o
tempo todo. – Alfonso não conseguiu evitar o comentário instintivo. Ainda estava irritado por
Thomas ter colocado o ex-segurança para segui-lo.
– Um bom pai cuida dos filhos.
Isso o fez se perguntar no quanto o pai estava cuidando dos irmãos, na parte norte do
estado. E mesmo imaginando que deveria avisá-los, tinha de admitir que parecia ser que
seu pai estava chegando àquele ponto por uma questão de… amor.
Alfonso parou em um sinal vermelho e se virou para olhar para o homem que incitava
problemas infindáveis em sua vida e na dos outros. Um homem que interferia
constantemente e achava que era mais sábio. Um homem que tinha passado as mesmas
características a Anahí, as quais tinham feito Anahí abandoná-lo.
Deus, ele precisava entender seu velho melhor. Porque eles eram muito parecidos. Alfonso
não podia esperar que Anahí lhe desse uma chance até ele mesmo dar uma chance ao
pai.
Ele respirou fundo para simplesmente dizer aquilo, quando notou uma lágrima rolando
pelo rosto de Thomas.
– Ah, que diabo. – Quaisquer outras palavras morreram em sua garganta. Como não fora
capaz de perceber o quanto o pai se importava?
A epifania o prendeu no banco com ainda mais força do que saber que o pai estava
genuinamente chateado. Triste. Talvez lamentando o que havia acontecido quase tanto
quanto Alfonso.
Aturdido para diabo, Alfonso parou na frente a uma confeitaria alemã com mesas na porta,
onde um grupo se reunia para comer rosquinhas quentes na madrugada.
Ele encostou o utilitário no estacionamento e desligou o motor.
– O que aconteceu entre você e Anahí?
Thomas franziu a testa.
– Ela disse que eu o minava publicamente. – Ele estudou as próprias unhas e ajeitou um
anel pesado na mão direita. – Que eu não lhe dei aceitação suficiente. – Dando de ombros,
ele recorreu a Alfonso: – Que tipo de aceitação? Eu o alimentei, dei-lhe o que vestir e um
começo no mundo. Aceitei minhas responsabilidades.
– Não acho que era isso que ela queria dizer. – Alfonso não conseguiu evitar um sorriso
irônico ao pensar na imagem de Anahí censurando severamente o famoso produtor pela
paternidade negligente. Ela realmente tinha crescido muito desde que se conheceram,
encontrando forças recônditas que ele jamais imaginara existir dentro dela.
Agora era o momento de assumir seu quinhão e crescer também:
– Pai? – repetiu ele. – O que exatamente Anahí disse a você na festa?
Acariciando a barba, Thomas olhou para a vitrine da confeitaria.
– Disse que me tornaria um pária na minha própria família se não fizesse… – Ele
balançou a cabeça. – Não sei o que ela ia dizer a seguir porque foi quando comecei a me
exaltar. E em seguida você entrou.
A cabeça de Alfonso pulsava e seu peito estava vazio. Aquela dormência novamente,
fazendo brotar a dor que o aguardava assim que os eventos de toda a noite fossem
assimilados.
– Também não dei ouvidos a ela – admitiu reconhecendo mais uma característica que
herdara do pai: – Anahí me disse que tinha as coisas com você sob controle e a
ignorei. Disse que sou como você, e não fui capaz de enxergar isso.
– Ela falou isso? – Thomas riu ironicamente. – Aposto que doeu.
Durante toda a vida, quando Alfonso ficava frustrado com o pai, seus amigos escolhiam
ficar do lado de Thomas. Eles insistiam que o velho era bem-intencionado, e Alfonso os
ignorava porque ninguém entendia o que era ser criado por um pai tão inflexível e exigente.
No entanto, talvez eles estivessem certos. Sim, Thomas tinha um jeito bem retrógrado de
demonstrar amor. Mas talvez Alfonso também. Ele com certeza não havia demonstrado isso
a Anahí do jeito que ela merecia.
– Sim. Ela disse isso.
– Você é igual a mim. – Thomas bateu no próprio peito, porém estava sorrindo. – Agora
você vê isso.
Ele via muito bem. Alfonso e Thomas pai haviam magoado Anahí esta noite.
Alfonso olhou para o sujeito que lhe causara um pesar sem fim e disse a si mesmo que ia
mudar. Não queria mais saber da busca obstinada para conquistar seus objetivos. Não
queria mais saber do estúdio de cinema para rivalizar com o do pai.
Alfonso e o pai iam se acertar. E em breve.
– Quero meu nome na porta da Herrera Films. – Ele ligou o motor, cheio de um novo
propósito de repente. Tinha muito o que fazer se realmente quisesse sair da sombra do
pai.
Se quisesse ser o homem que Anahí merecia.
– Do quê você está falando? – resmungou Thomas de maneira indignada, mas Alfonso
agora levou um tempo analisando aquele gesto fingido.
– Estou falando sobre unir forças para ser maior e melhor do que nunca, em vez de
separar nossos recursos e destruir um ao outro. – Alfonso achava que tinha dado a a última
chance ao pai quando trabalhara para ele da última vez, mas talvez estivesse apenas
esperando que essa tentativa falhasse. Fugindo quando discordavam, em vez de entrar em
acordo. – Ou vou montar um estúdio por conta própria, e você sabe que serei bemsucedido,
já que herdei bastante da sua teimosia, ou podemos tentar chegar a uma forma
de trabalhar em conjunto e não… brigar muito.
O velho Herrera não tinha muito a dizer. Mas talvez fosse melhor assim. Alfonso tinha
plantado a semente. Agora iria dar algum tempo para que se enraizasse.
– Para onde nós vamos? – perguntou o pai, ajeitando a lapela do paletó do smoking.
– Nós vamos bolar um plano para recuperar minha garota, pai.
Thomas balançou a cabeça lentamente.
– Eu gostei dela.
– Isso é bom. Porque eu a amo.