– POSSO AJUDAR? – perguntou a ruiva atrás do balcão da recepção na Sphere
Management, uma xícara de chá antiquada fumegante ao lado dela.
Quase tão fumegante quanto Alfonso agora.
Ele não tinha certeza se estava mais frustrado por ter tomado um bolo na noite anterior
ou pelo vazamento a respeito de sua pequena empresa, o que tornava seus planos
profissionais de conhecimento público.
– Anahí Portilla. – Pelo menos ele sabia onde encontrá-la.
Natalie Night teria que esperar.
– Certamente. – A recepcionista pegou o telefone. – Qual é o seu nome?
– Alfonso Herrera. – Não era a primeira vez que ele desejava ter um nome não tão
conhecido na cidade.
A foto dele não tinha aparecido nos blogs de fofoca pela manhã, mas ainda era cedo. O
rosto de Christopher já estava por toda a internet muito antes do amanhecer. Seria um pequeno
milagre se nenhum dos fotógrafos tivesse flagrado Alfonso.
– Obrigado. – A expressão da mulher permaneceu uma máscara educada, mas ele via
que os lábios dela estavam contraídos de forma quase imperceptível.
Enquanto ela fazia a ligação, Alfonso planejava sua abordagem. Ele seria profissional. Direto
ao ponto. Mas não ia embora sem respostas.
– Sinto muito, sr. Herrera. – A recepcionista se levantou de trás do balcão maciço. – A
srta. Portilla não está atendendo o telefone. Você marcou com ela para hoje de manhã?
– Deixei claro para Maite Perroni ontem que queria encontrar a pesquisadora de vocês o
mais breve possível. Achei que ela fosse transmitir isto à srta. Portilla. – Ele franziu a
testa, irrritado. – A srta. Perroni está no escritório?
– Vou verificar. – A mulher apertou um botão e falou com alguém. Instantes depois,
Maite apareceu.
– Que bom ver você, Alfonso. – Ela usava um terno cinza e tinha uma pasta de arquivos
enfiada debaixo de um braço. Ela apertou a mão dele e pareceu menos paqueradora do que
no dia anterior. – Ouvi dizer que está procurando por Anahí.
Ele assentiu. Aguardou.
– Eu a vi no início da manhã. Ela deve estar longe da mesa. – Gesticulando para que ele
fosse até a porta de onde ela veio, Maite deixou sua pasta sobre o balcão da recepção. –
Por que você não entra e verei se consigo localizá-la?
Seguindo-a pelos corredores privados da Sphere Asset Management, Alfonso passou pelos
mesmos lugares do dia anterior.
– Li na revista Variety de hoje que seu pai adquiriu os direitos de um novo livro. – Maite
espiou o mesmo escritório de onde Anahíse ausentara no dia anterior.
Alfonso olhou para a mesa da pesquisadora através da porta entreaberta. Havia um casaco
azul-marinho dobrado sobre a cadeira de couro de espaldar alto. Um bom sinal de que ela
estava por perto?
– Não sei por que ele quer transformar aquele livro em filme. – Alfonso não queria falar
sobre o pai. Mas, inevitavelmente, as pessoas perguntavam sobre ele.
– Pois é, não é mesmo? – Maite deu meia-volta e cruzou os braços, como se estivesse
pronta para iniciar uma conversa ao bebedouro. – Ele geralmente faz filmes comerciais.
Ação. Atores rentáveis. Fiquei realmente surpresa por ele ter escolhido um livro tão
introspectivo, pouco badalado.
Alfonso soube o motivo no momento em que viu o acordo. Thomas tinha uma necessidade
insaciável de competição, para provar que era o melhor. Sendo assim, faria um filme para
competir pa*u a p*au com o que Alfonso tinha planejado enquanto ainda estava no comando de
sua subdivisão na empresa do pai. Alfonso tinha jurado fazer o filme um dia. Agora seu pai
estava criando um projeto com estilo e público semelhantes, assim ele poderia fazer
melhor.
Será que a relação deles tinha como ser mais confusa?
– Vai entender. – Alfonso deu de ombros e então se aprumou quando viu uma mulher
aparecer, saindo de uma sala nas proximidades.
Uma morena com a cabeça baixa, imersa em pensamentos enquanto estudava uma
página de um livro grosso.
– Srta. Portilla? – Alfonso captou a atenção dela segundos antes de ela quase colidir
contra ele.
Anahí levantou a cabeça.
– Oh! – Ela ficou tão assustada que perdeu o controle sobre o livro. Os olhos azuis
arregalados encontraram o olhar de Alfonso. – Desculpe!
O livro atingiu o dedão do pé de Alfonso antes de cair no chão. Em um segundo, Anahí
estava ajoelhada aos pés dele para recolher a publicação, o corpo tão perto que Alfonso
jurava ter sentido a respiração quente em sua coxa.
Ou foi uma ilusão?
Ele cerrou os dentes e lembrou a si mesmo por que queria encontrar aquela mulher,
Rachel
para começar. Talvez sua oportunidade perdida com Natalie o estivesse fazendo enxergar
cenários sexuais para onde quer que olhasse.
– Não tem problema. – Ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, segurando seu
cotovelo.
Ela parecia diferente em relação ao dia anterior. Sem paletó, parecia menos amarrotada
e mais… curvilínea. Uma blusa de seda branca simples realçava os seios, embora o decote
alto não revelasse nada. O cabelo castanho estava torcido em um nó confuso, e mechas
saltavam da frente e de trás, algumas emoldurando o rosto e outras contornando o
pescoço.
Ainda assim, foram os olhos azuis que o atraíram. Isso e o fato de ela ter prendido
a respiração quando ele a tocou. Agora Alfonso a soltava, os dedos abandonando lentamente o
calor do braço nu.
– Anahí, você se lembra de Alfonso Herrera? – cutucou Maite quando nenhum dos dois
falou por um longo momento.
– Sim. – Ela disse a palavra com uma deliberação lenta enquanto Alfonso sorvia o aroma
da morena. Era algo novo e fresco, tão sutil que ele ficou tentado a se inclinar mais para
identificá-lo.
– Eu gostaria de conversar com você em particular – informou Alfonso, necessitando
colocar uma mesa como barreira entre eles, caso quisesse ter uma conversa proveitosa.
E essa deveria ser a prioridade, mesmo que alguma coisa a respeito de Anahí.
deixasse os sentidos dele em alerta total. Talvez porque o corpo dela fizesse lembrar o de
Natalie. Proporções básicas iguais. Talvez até a mesma altura, se Natalie não estivesse
usando os saltos altíssimos ostentados durante sua dança.
– T-tudo bem. – Mais uma vez, a fala dela pareceu mais lenta, como se estivesse
falando com uma criança. Algo naquele esse padrão estranhamente cadenciado também o
fazia se lembrar de Natalie. – Venha comigo.
Ela passou por ele sem dizer palavra. Maite desaparecera, provavelmente retornando à
sua sala para se debruçar sobre as páginas da Variety. Embora, nesta cidade, talvez isso
rendesse bons negócios, mesmo se você não estivesse na indústria cinematográfica.
Alfonso seguiu Anahí pelo corredor, entregando-se à visão da traseira dela sem qualquer
pudor . Anahí Portilla não mostrava seus dotes com o mesmo abandono de Natalie…
aquele tapinha atrevido no bumbum veio tentadoramente à mente… mas a figura dela era
tão sedutora quanto.
No escritório, Anahí gesticulou em direção às poltronas perto de uma janela aberta
antes de fechar a porta atrás deles. Alfonso ficou grato por ela ter levado a sério seu pedido
para uma conversa em particular. Ainda assim, ele não se sentou até ela se juntar a ele,
perto das poltronas que combinavam entre si, ao lado de uma mesinha de cerejeira.
Quando ela finalmente sentou-se, ele fez o mesmo.
– Como posso ajudá-lo? – Anahí vestiu o casaco.
Alfonso ficou se perguntando por que ela se escondia por trás de roupas disformes e
sapatos confortáveis. E como também não usava maquiagem, o esforço para minimizar
sua atratividade natural parecia deliberado.
– Você incluiu algumas informações em seu relatório a meu respeito que não devem
chegar ao conhecimento do público. – Em um esforço para manter o olhar longe das
pernas dela, Alfonso ficou observando os detalhes do escritório. Diploma da Universidade da
Califórnia. Um quadro de cortiça com uma foto dela segurando uma margarita entre um
monte de outras mulheres fazendo a mesma coisa. Ela parecia diferente. Relaxada e feliz.
O que o interessou na foto, no entanto, foi o fato de as mulheres estarem ajoelhadas
em tapetinhos vermelhos diante de um poste de dança prateado reluzente. Dada sua
recente introdução de cair o queixo às sutilezas do pole dancing, ele não conseguia evitar
pensar em Natalie.
Droga.
– Não acho que tenha incluído qualquer coisa particular. – Ela franziu a testa, e o
movimento fez deslocar um trio de sardas leves perto da boca.
Alfonso se perguntou distraidamente qual era o gostinho da pele dela ali naquele ponto.
– Você fez referência a uma possível expansão dos negócios, além da agência de
talentos – lembrou-lhe ele, tentando se conter.
Anahí não deve ter precisado do arquivo para saber a quê ele se referia, porque
concordou imediatamente.
– Sim. Eu me lembro.
– Ninguém sabe sobre isso. – A tensão tomou os ombros de Alfonso. Diabo, talvez seu pai
já estivesse ciente de seus planos profissionais. Isso explicaria o súbito interesse em
filmes mais artísticos.
– Não? Eu sei. – Um sorriso curvava os lábios dela agora, e indiferente ao fato de
Anahí ter lhe lançado um olhar ligeiramente triunfante, Alfonso tinha de admirar o orgulho
óbvio que ela ostentava pelo trabalho.
– Preciso saber quem foi sua fonte para essa informação.
– Não tenho permissão para dizer. – Ela empinou o queixo ao mesmo tempo que
entrelaçou os dedos em um nó apertado.
Alfonso notou que Anahí não usava aliança. Será que ela estava saindo com alguém?
Não que ele estivesse disponível. Depois de ter uma aliança devolvida pela única mulher
com quem tentara ter um relacionamento sério, ele não estava com pressa para percorrer
esse caminho novamente. Heather o abandonara durante um de seus muitos
desentendimentos com o pai, sendo que a atriz promissora preferira dar razão a Thomas.
Isto fez Alfonso se perguntar se ela havia ficado com ele pela pessoa que ele era, ou se
ficara impressionada com o nome de família e com o acesso a um produtor famoso. Mas
dois anos depois daquele rompimento, Alfonso estava curioso a respeito de uma pessoa nova.
– Você está longe de ser uma jornalista. Suas fontes não são protegidas.
– Se você se tornar um cliente da Sphere, vai agradecer nosso compromisso com a
discrição.
– Não se isso violar minha privacidade.
– Sr. Herrera …
– Alfonso – corrigiu ele.
– Alfonso – amenizou ela. – Qualquer coisa que descobrimos em nossa pesquisa não vai
além do analista que assume a conta do seu negócio. Nesse caso, Maite.
Ele se inclinou no assento, determinado a deixar bem claro o quanto vinha cuidando para
que seu plano de negócios permanecesse confidencial.
– Com base em uma jogada profissional que meu pai fez ontem, tenho de questionar se
a informação já se espalhou. – Ele a encarou e desejou que ela compreendesse. – Se houve
um vazamento pelas poucas pessoas que ainda trabalham para mim, preciso saber.
Ela olhou para o chão, os lábios contraídos de indecisão. Ele aproveitou aquele instante
de hesitação.
– Anahí … Posso chamar você de Anahí?
Diante do breve aceno de cabeça, ele continuou:
– Meu pai é o homem de negócios mais cruel que você vai conhecer. Claro, ele assume
uma fachada encantadora em público, mas tem uma mentalidade de tubarão quando vê o
sangue na água, e neste momento ele está vendo o meu.
– Uau. – Ela deu um sorriso torto, os joelhos de ambos tão perto que estavam quase se
tocando. – Acho que não sou a única com um genitor que não acredita em mimos.
– É mais ou menos isso. – Ele retribuiu o sorriso e sentiu-se estranhamente honrado por
saber algo pessoal a respeito dela. Ele não a via como o tipo de mulher que era fácil de se
conhecer. – Eu teria sido sábio a ponto de escolher uma profissão bem longe do circuito de
Hollywood, mas acabei tomando gosto pelo ramo do cinema.
Ela o observava com os olhos cinzentos frios, no entanto Alfonso notou um latejar sutil
começando na veia azulada da têmpora dela. Ele conseguia sentir o coração de Anahí
batendo em um ritmo acelerado, um ritmo que combinava com a pulsação dele.
– Você me convenceu, Alfonso. – A voz dela atingiu uma nota gutural que o fez pensar em
longas noites rolando na cama.
Na cama dele. Na cama dela. Tanto faz.
Talvez ele só estivesse desperdiçando seu tempo ao tentar descobrir o paradeiro de
Natalie Night. Talvez devesse buscar o lado aventureiro de Anahí em vez
disso.
– Estou disposto a colocar todas as minhas habilidades persuasivas em ação. – Ele
queria puxá-la, tirá-la da poltrona e colocá-la no colo. – Isso é importante assim para
mim.