EU PRECISAVA respirar fundo.
Muito, muito fundo.
Porque se não conseguisse um pouco de ar em breve, iria derreter aos pés de Alfonso
Herrera pela segunda vez em 24 horas. Uma coisa era a dançarina Natalie Night flertando
descaradamente com aquela figura conhecida em Hollywood; para mim, no entanto, essa
possibilidade não existia. De. Jeito. Nenhum.
– Isso não é necessário – informei a Alfonso. – Não será preciso me persuadir mais.
Embora eu pudesse ficar em vias de exigir respiração boca a boca caso alfonso chegasse
mais perto com seu terno de seda italiana, suas mãos bronzeadas de aparência tão
perspicaz apoiadas nos joelhos. Eu definitivamente sentia um desmaio chegando.
Alfonso era o equivalente a um prêmio para uma garota com a mais modesta das
aspirações românticas. Naquele momento, eu devia dar um jeito de tirá-lo do meu
escritório antes que ele descobrisse minha verdadeira identidade. Dali do meu assento ao
lado da janela, via alguns fragmentos de provas contundentes que poderiam me trair, caso
ele os notasse. Um deles era um passe VIP do Backstage que eu tinha guardado como um
maldito troféu para me lembrar do meu triunfo na noite passada. Não estava supervisível,
mas preso em minha bolsa perto da minha cadeira.
Também guardei uma plumagem branca, que estava decorando o tampo da minha mesa,
bem na frente, bem no centro. Sim, eu era realmente uma idiota.
– Sério? Você vai me contar onde conseguiu a informação? – Ele se endireitou, e me
perguntei se ele empregava a sedução como técnica coercitiva com frequência. Só pensar
no assunto já era o suficiente para me fazer ceder ao que ele quisesse.
Além disso, quanto mais cedo ele saísse da Sphere, melhor.
– Bem. – Lambi os lábios porque minha boca tinha ficado seca. No entanto, por incrível
que pareça, não gaguejei. De algum modo, mantive minha compostura e minhas palavras
fluíram com breves pausas entre elas. – Na verdade, faço o mais rudimentar da pesquisa,
então não fui eu quem descobriu a notícia de que você pode expandir seus talentos abrindo
um estúdio.
Ele cerrou os punhos e a boca se contraiu em uma linha reta.
– Então preciso convencer outra pessoa a falar.
– Não. – Eu não iria contar o nome da minha fonte, ou ela nunca mais iria me ajudar
com meus perfis novamente. – Estou familiarizada com os métodos dela e posso lhe
garantir que notícias como esta vieram de dados desprotegidos na internet.
Alfonso deu um pulo da poltrona.
– Você pagou alguém para invadir meu computador?
– Claro que não. – Não pude evitar um suspiro. Infelizmente, a maioria das pessoas não
sabia o quão vulneráveis seus dados ficavam quando eram armazenados on-line. – Você
provavelmente não entende muito de armazenamento na internet. Acontece que eu sei que
ela viu seu plano de negócios em um arquivo que surgiu em uma busca de rotina.
– Rotina? – Ele começou caminhar pelo meu escritório, passando a mão no cabelo. –
Você chama invasão de privacidade de rotina?
– Nossas pesquisas são agressivas, mas nunca antiéticas. – Eu acreditava firmemente
nisso, ou não teria protegido a empresa de pesquisa. – Você não pode esperar que a gente
não procure pistas na internet sobre os negócios de um cliente. É como se você estivesse
postando informações em um mural público e, em seguida, pedisse às pessoas para não
olhar.
Mais ou menos como colocar uma peninha branca estúpida na minha mesa na esperança
de que Alfonso não fosse notá-la. Mas quem teria pensado que ele iria aparecer na Sphere
hoje, pedindo para ver a mim dentre todas as pessoas?
Ele parou ao lado da minha mesa, tão perto da pena, que quase podia tocá-la. Eu tentava
manter o contato visual e não entregar a pista sobre a verdadeira identidade de Natalie
Night. Mas era impossível não notar o elefante na sala.
Um suor nervoso irrompeu pela minha testa, e embora meu cabelo o cobrisse,
perguntava-me se minhas bochechas também estavam num tom vermelho vivo. Só de
pensar nisso, eu corava mais.
– Entendo. – Os dedos dele roçaram minha mesa, se apoiando ligeiramente ao lado de
uma foto da minha casa depois de eu reformá-la. – Talvez você possa me dizer como
proteger melhor as informações no futuro. Gostaria de me livrar de todos os vestígios de
quaisquer planos de negócio.
Os belos olhos escuros de Alfonso encontraram os meus, e me perdi por um minuto. Ele
era incrivelmente bonito. Tinha nuances dessa coisa toda de amante latino rolando, mas
também possuía um senso de cuidado caloroso que lisonjearia qualquer mulher. Deus do
céu, para ele eu era apenas uma analista de pesquisa aleatória que havia entrado em
contato com seu mundo, e ele estava fazendo eu me sentir o centro de sua completa
atenção. Era uma coisa inebriante.
– Anahí? – chamou ele.
– Hum? – Eu tentava parar de pensar no abdome tanquinho que Maite tinha jurado que
ele tinha, porém fiquei observando seu tronco secretamente, procurando vestígios daqueles
músculos na abertura de seu paletó desabotoado. – Realmente não sou a melhor pessoa
para aconselhar alguém sobre segurança digital.
– Tenho certeza de que você sabe o suficiente para não cometer os mesmos erros que
eu. – Ele não parecia nada dissuadido.
E então aconteceu.
Alfonso olhou para minha mesa. Seus olhos pousaram na plumagem.
Tenho certeza de que um suspiro audível escapou dos meus lábios porque ele olhou para
mim abruptamente.
– N-n-nesse caso – gaguejei no começo, então acelerei meu discurso para botar as
palavras para fora antes que pudesse estragá-las mais – ficaria feliz em lhe dar algumas
dicas sobre como proteger suas informações on-line. Vou lhe enviar minhas observações
ao final do dia.
Ele ainda olhava para a peninha. Ai, droga.
Fiquei de pé, na esperança de o gesto sinalizar o fim da reunião, para que pudéssemos
seguir nossos respectivos caminhos. Em vez disso, ele pegou a plumagem branca elegante
e me lançou um olhar demorado.
Meu coração disparou. Estaria morta se ele me reconhecesse. Imagens de mim mesma
enroscada ao poste de dança na noite anterior voltaram com força total em detalhes
vívidos. Eu tinha dançado para ele. Para ninguém mais. Como poderia esperar que ele não
soubesse que era eu?
– Anahí. – A atenção de Alfonso se voltou para a pena. Ele alisou as fibras macias entre
o polegar e o indicador, um toque lento, deliberado.
Será que com a intenção de me provocar com uma informação perigosa que ele agora
poderia esfregar na minha cara?
Ou será que era aquela atenção masculina cuidadosa projetada para me lembrar do quão
sedutoramente persuasivo ele podia ser? Não sabia se ficava com medo ou… excitada.
Daí, fui capturada em um ponto frenético da situação. Eu não conseguia recuperar o fôlego.
Minha boca ficou tão seca que falar não era mais uma opção.
– Hum? – Enfiei as mãos nos bolsos do casaco antes de me agarrar loucamente a ele.
– Você cogitaria se encontrar comigo em particular?
Olhei em volta do escritório, muito consciente da porta fechada.
– Quer dizer – esclareceu ele –, você seria capaz de se encontrar comigo fora da
Sphere?
– Não sou gerente de contas. Na verdade, não costumo me reunir com clientes. – O
suspense estava me matando. Se ele sabia meu apelido secreto, por que simplesmente
não dizia? Por que simplesmente não corria até meu chefe e acabava comigo?
– Então agradeço se você me encontrar fora do expediente. – Ele abanou a peninha,
quase como se fosse uma gangorra, entre dois dedos. Então a largou na mesa. – Obrigado.
Será que ele estava me agradecendo por tê-lo encontrado ontem à noite no clube? Ou
estava supondo que eu concordaria com o encontro que ele havia acabado de propor?
Sua expressão não me dizia nada.
Mas não importava se havia uma chance de 50 por cento de ele ter me reconhecido e
poder me chantagear para sempre: Alfonso ainda era o homem mais atraente que já vira.
Além disso, ele tinha me notado no dia anterior, mesmo antes de eu colocar os trajes do
espetáculo para assumir o lugar de Natalie no Backstage. Não conseguia me esquecer do
jeito como ele me convidara para a sala de reunião, os olhos encarando os meus como se
eu fosse uma mulher atraente, e não apenas mera funcionária da Sphere.
– Acho que consigo uma brecha no horário de almoço. – Manteria a postura profissional.
Despesa da empresa. Não havia nada em meu contrato que dissesse que eu não poderia
trazer novos negócios. Se muito, havia incentivos financeiros para fazer exatamente isso.
– Hoje? – incitou ele. – Há várias coisas que gostaria de discutir com você.
Tais como? Eu queria gritar, meus nervos tensos ao ponto de ruptura. Mas se o que ele
queria dizer tinha algum tipo de relação com o trabalho clandestino da noite passada, seria
melhor encontrá-lo fora do escritório mesmo. Talvez pudesse convencê-lo a guardar meu
segredo.
No mínimo, poderia me render à atração tépida que dispensei na noite anterior, quando
dei o bolo nele. Parecia justo recuperar a chance, já que ia perder meu emprego por causa
de um erro.
– Tenho uma reunião interna no horário de almoço hoje. – Tive de me aproximar dele
para espiar o calendário semanal aberto na área de trabalho do meu computador. – Que tal
amanhã?
Senti-me incrivelmente ciente da presença dele, de pé ao meu lado, um pouco mais
perto do que o estritamente profissional. Remexi as coxas sob a saia em um esforço para
acabar com o calor repentino, entretanto o gesto do intensificou a sensação.
– Que tal hoje à noite? – pressionou, baixando a voz para poder falar bem próximo ao
meu ouvido.
Um arrepio varreu meu corpo. Foi só o que pude fazer para não fechar os olhos, inclinar
a cabeça para trás e lhe conceder pleno domínio sobre meu pescoço. Ombros. Qualquer
outra parte que ele quisesse.
– Uma reunião no almoço provavelmente seria mais apropriada. – Eu soava como uma
puritana, mas me agarrei à esperança de que ele não me reconhecera. De que minha
consciência culpada estava pregando truques em mim e via perigo onde não havia nenhum.
Ele assentiu, mas não recuou. A plumagem permanecia sobre a mesa, no espaço
estreito entre nós.
– Se você insiste. Posso buscá-la ao meio-dia amanhã?
Péssima ideia. Isso só iria levar a problemas. No entanto, assim como na noite anterior,
descobri que não era capaz de recusar.
– C-c-claro. – Engoli em seco. – Espero que eu tenha o suficiente a oferecer para fazer
valer a pena.
Era a emoção de uma mulher insegura – e uma que eu não devia ter verbalizado. Sabia
que não devia me minar.
– Mais do que suficiente. – Alfonso sorriu, do mesmo jeito que o lobo mau teria feito após
degustar a vovó. – Até lá então, Anahí.
Alfonso deu meia-volta com seus sapatos de couro polido, e achei ser capaz de respirar de
novo. No entanto, ele fez uma pausa entre minhas estantes para pegar a foto no portaretrato
de prata que – tinha notado – estivera espiando mais cedo.
Era uma foto da despedida de solteira da nossa recepcionista, no ano anterior, a festa
que me apresentara ao pole dancing. Perguntava-me por que Alfonso quereria olhá-la com
mais atenção.
Ele largou a foto e partiu antes que pudesse perguntar. Quando dei outra olhadinha no
retrato, no entanto, fiz uma boa ideia do motivo.
O poste de dança não estava tão óbvio ao fundo, uma vez que poderia ser confundido
com um apoio para o teto ou com a base de uma luminária de pé alto. No entanto, não
poderia haver nenhuma dúvida em relação ao logotipo na parede dos fundos do estúdio de
dança. Se você olhasse de pertinho, notaria o nome Naughty by Night pintado na parede de
tijolos.
Meu coração foi à garganta enquanto me perguntava o que Alfonso pensara ao ver aquela
foto.
Será que ele conhecia meu segredo?