Fanfic: E tudo aquilo que dissemos? | Tema: Romance, Traição, Amizade

Apartamento de Lucas / Tempo atual / 2016

A televisão estava ligada, a maioria dos noticiários de prestígio do país cobriam o incidente que repercutia no momento: a tragédia do JK. Equipes de repórteres cobriam diversas áreas do aeroporto. Familiares davam intrevistas, ainda abalados, pedindo justiça. O corpo de bombeiros já havia feito uma prévia da contagem das vítimas: trinta e nove mortos, sessenta e seis feridos, vinte e dois, destes, em estado grave. Lucas e Rafael haviam desligado os celulares, não queriam receber ligações de curiosos ou da imprensa. O nome "Gabriela Santos" ainda não havia sido incluído na lista de vítimas fatais, e todos oravam para que não fosse incluído, para que ela estivesse viva.

Rafael observava, do sofá, Lucas andar de um lado para o outro, na sala.

Lucas: Isso não pode ser verdade... Não pode... - ele dizia, como se pudesse mudar a realidade.

Rafael: Vão nos culpar, mais cedo ou mais tarde.

Lucas virou-se, arqueando a sobrancelha.

Lucas: O quê?! Do que você tá falando?

Rafael: Alguém, em algum lugar, vai colocar alguma culpa na gente. Vão dizer que se não fosse por nós, ela nem estaria com planos de viajar, ou algo do tipo. A culpa é sempre nossa... Não quero que me chamem de assassino!

Lucas aproximou-se.

Lucas: Ei, calma...

Rafael: Você viu como ela falou com a gente, você viu! - Rafael disse, em novo desespero - Vão acabar colocando a culpa em mim... E não quero isso... Tô cansado disso...

Lucas ergueu o rosto de Rafael com as mãos, fazendo-o olhar em seus olhos.

Lucas: Eu disse calma... Ok? Não somos o foco agora, tá legal? Foi um acidente... - ele parou, hesitante, ao lembrar da explosão - Eu só... - as lágrimas voltando aos poucos - Não vamos passar por isso. Por isso desligamos os celulares. Certo?

Rafael balançou a cabeça, inconformado. Lucas o abraçou.

Lucas: Calma... - disse, sussurrando. Afastou-se de Rafael, lentamente, apenas para encará-lo nos olhos outra vez. E o beijou. O afeto transmitido trazendo lentamente a calma. E se abraçaram uma vez mais.

3 anos antes / Casa de Rafael / 2013

O segundo dia de aula... Rafael definitivamente não queria acordar naquele dia. Ouvir a voz estridente de Cristina ou as risadinhas de Ana Clara não o animavam para nada. Foi sua mãe que o acordou, abrindo as cortinas e a janela do quarto.

Vanessa: Anda, sua van já vai chegar.

Rafael: Mãe...

Ela deu tapinhas na perna do filho.

Vanessa: Ahn, ahn, nada de "mãe". Anda logo, levanta.

CENA / Entrada do Colégio

Carros, vans e alunos aglomeravam-se na entrada do Novo Amanhã. Alunos, professores e funcionários cumprimentavam-se com entusiasmo, prontos para mais um dia. Encostadas na parede e alheias aos demais, duas amigas conversavam sobre as férias. Não eram alunas novas, mas haviam faltado no dia anterior. Carol e Natália riam e debochavam de coisas aleatórias, como sempre faziam desde que haviam se conhecido.

Carol: Vei, eu tava olhando pra frente, tentando ignorar, e o cara me secando vei!

Natália gargalhava da história.

Carol: Ele pensou que eu era o quê? Um bife? Pqp vei! E tipo, olha pra mim, nem peito eu tenho direito, sou mó seca! O que ele viu em mim?

Natália: É, mas sua bunda, ó - e fez um sinal de "OK" com a mão, e um sorriso cínico.

Carol: Você acha isso grande? - e virou-se, em gestos exagerados - Olha isso, vei! Não tem nada aqui! É cada tarado que me aparece, eu hein!

Amanda e Gabriela, que estavam conversando em outro lugar, notaram a presença das colegas.

Amanda: Olha quem a gente acha por aqui! - e se aproximou para cumprimentar com abraços as duas.

Gabriela: Por que não vieram ontem? - perguntou, depois dos abraços.

Carol: Eu acordei tarde, como sempre, aí me atrasei e pensei, "ah, não queria ir mesmo". E primeiro dia nunca tem nada de novo, então whatever... - e deu de ombros.

Natália: Eu tava com dor de cabeça, aí resolvi ficar em casa mesmo. Eu ainda tô, na verdade, mas minha mãe não deixou eu ficar hoje.

Amanda: Mas é bem isso que a Carol falou, mesmo. Ontem não teve nada de mais, então não perderam muita coisa.

Natália: E como foi as férias de vocês?

Enquanto conversavam, Carol avistou Cristina chegar. Seu humor rapidamente esfriou-se.

Carol: Nossa, eu realmente tinha esperanças de que ela fosse pra outro colégio esse ano...

As outras três viraram-se para ver de quem ela falava. Amanda deu uma risada. Gabriela assentiu.

Natália: Meu Deus, dá pra sentir o fedor da burrice daqui - e riram.

Cristina não andava, ela "desfilava para causar inveja", de acordo com suas amigas. E, ao reunir-se com Ana Clara e Sofia, o assunto resumiu-se em falar mal de Carol e Natália. A rivalidade havia começado no oitavo ano, após uma séries de discussões bobas e ofensas leves.

Cristina: As metidas chegaram... - disse, enquanto ajeitava casualmente o cabelo, na direção de Carol e Natália.

Ana Clara abafou uma risada, Sofia concordou.

Sofia: Elas podiam se tocar de vez em quando. Tipo, já pode sair daqui, né? - disse, com toda a sua melhor prepotência.

Cristina sorriu cinicamente.

Cristina: Se elas começarem a rosnar pra mim esse ano, de novo, eu juro que piso em cima.

Ana Clara: Rosnar? Tá sendo delicada, né? Aquelas ali mugem - e riu da própria piada.

Sofia: Em alto e bom tom - acrescentou.

Cristina: Ei, vocês duas, limpem o veneno, que tá escorrendo aí - e passou o polegar na boca das amigas. As três riram e seguiram o caminho para a sala de aula.

CENA - 2º Ano EM - Primeiro horário

O primeiro horário havia começado a pouco tempo, e já havia matéria de física para ser copiada no quadro. Rafael estava sentado na fileira do meio, na segunda cadeira. Ao seu lado direito, Carol e Natália conversavam; ao seu lado esquerdo, Amanda, Gabriela e Juliana copiavam a matéria. Daniel e Guilherme alternavam entre copiar e falar sobre futebol: um debate acirrado sobre os melhores jogadores do Barcelona. Cristina, Ana Clara e Sofia ouviam música enquanto dividiam o fone de ouvido e trocavam mensagens. Um típico dia de aula no Novo Amanhã.

CENA - 2º Ano EM - Segundo horário

Rafael terminava de copiar a matéria do horário anterio, quando alguém colocou a mão eu seu caderno.

Carol: Nat, olha só que letra linda! - e mostrou o caderno de Rafael para a amiga.

O garoto ficou surpreso com a ação repentina, e observou o desenrolar dos comenários.

Natália: Parece de carta, que massa! - e devolveu o caderno para ele - Você é novo aqui, né?

Ele assentiu.

Rafael: Sou o Rafael, e vocês são...?

Carol: Eu sou a Carol e essa branquela aqui é a Natália.

Natália sorriu para ele.

Natália: A gente pode te chamar de Rafa?

Ele assentiu mais uma vez, contente com o rumo natural da conversa.

CENA - 2º Ano EM - Quarto horário

Faltando um horário para o intervalo, os alunos agora aproveitavam a aula livre para conversarem. O professor de história havia faltado, e, até aquele momento, nenhum substituto havia entrado na sala.

Enquanto arrumava seu material, Rafael ouviu por alto as palavras "Mirai Nikki", nome de um mangá que ele havia acompanhado alguns anos antes. Virou-se, animado, e percebeu que o assunto vinha de Carol e Natália. Rapidamente aproximou-se das duas e intrometeu-se na conversa.

Rafael: Ahn, desculpa me meter na conversa assim, mas eu ouvi alguém falar Mirai Nikki?

Os olhos de Carol brilharam, e a atenção dela foi voltada para o novato. Natália, que não acompanhava a série, sentiu-se um tanto deslocada, e uma ponta de ciúmes resolveu aparecer. Ela ignorou a situação, e observou Rafael e Carol conversarem entusiasmados sobre os melhores momentos da trama e coisas do tipo. Sorria por fora, mas por dentro uma pequena onda de antipatia para com o garoto nascia.

CENA - Intervalo

Predispostos a continuarem a conversa e iniciarem novos assuntos, Rafael e Carol passaram grande parte do intervalo trocando informações e rindo de besteiras em comum. Em certo momento, Cristina gritou por Rafael, chamando-o para sentar com elas. O garoto chegou a levantar-se, mas recusou com educação o convite. O assunto com Carol era mais interessante do que ouvir coisas como "eu amo açaí". De vez em quando, Natália tentava comentar algo, para não sentir-se isolada, mas era em vão.

Cristina observava o novato com um súbito novo interesse.

Cristina: Aquela ali já deve ter contado alguma coisa minha pra ele - disse, apontando para Carol.

Sofia: Elas sempre fazem isso. Todo novato elas pegam pra elas.

Cristina balançou a cabeça, irritada.

Cristina: Esse ano ela me paga... Desse ano não passa...

Natália percebeu os olhares e interrompeu a conversa de Carol e Rafael.

Natália: Aquelas ali, ó, já devem estar falando mal de vocês.

Carol olhou e franziu o cenho. Depois virou-se para Rafael.

Carol: Quer um conselho? Não anda com elas e com os amigos delas. São muito enjoadas.

Rafael sentiu-se mal por concordar, mas preferia a companhia de Carol e Natália ao grupo de amantes do açaí. Na verdade, embora quisesse negar por dentro, sentia-se bem na presença de Carol, mesmo que a conhecesse a menos de duas horas. Algo nela o deixava feliz. Algo nela o deixava mais solto, mais leve. E seriam esses motivos que o levariam a amá-la, meses depois...