Fanfic: Dois Homens {DyC [terminada]

Assim
que se afastou da casa de Dulce, Christopher parou na primeira loja que
encontrou para comprar um refrigerante. Não só porque estava com calor, mas
também para acompanhar o chiclete que engoliu pouco antes de beijar Dulce.
Lembrando as advertências de sua mãe durante a infância, perguntava-se se valeu
pena ter beijado Dulce em troca de ter um chiclete colado aos ríns durante sete
anos.

— Sim,
definitivamente valeu a pena —  um
relutante sorriso apareceu em seus lábios ao recordá-lo enquanto descia da
caminhonete e entrava no iluminado estabelecimento.

Christopher
nem sequer podia lembrar a última vez que tinha estado emocionalmente afetado.
Em primeiro lugar, fazia dias que estava cheio de desejo por ela. Depois,
naquela noite havia ficado furioso pelo que Dulce não havia dito quando a tinha
levado até sua casa. E a isso, acrescentou o aborrecimento com seu irmão, a
tensão que se produziu no escritório, o estresse da semana... Tudo isso fez com
que fosse incapaz de conter-se. Tinha atuado impulsivamente pelo instinto, o
desejo e o aborrecimento. E descobriu a si mesmo comportando-se como um
possessivo exemplar de Neanderthal.

Cinco
minutos depois, de volta na caminhonete com uma lata de refrigerante na mão,
dirigia-se para sua casa.

—
Beijar uma mulher diante de sua mãe não acredito que seja o mais adequado.

Custava-lhe
acreditar na rapidez com a qual se excitou. Esqueceu-se de todo o resto, e se
dependesse dele, a teria carregado até a superfície mais próxima e teria feito
amor com ela. E só depois lembraria que sua mãe e sua irmã estavam diante
deles.

— Imbecil
— se repreendeu. Como se Dulce não tivesse tido que suportar situações
embaraçosas suficientes com o passar do dia.

Ele na
realidade não pretendia envergonhá-la. Mas ao lembrar do silêncio que os tinha
envolvido durante o trajeto à sua casa na caminhonete, desprendeu-se de todo
sentimento de culpabilidade.

—
Alguém tinha que despertar essa mulher. É evidente que não está pensando nas
coisas como devia.

Ou
isso, ou era uma atriz endiabradamente boa que tinha conseguido ocultar a
verdade sobre seus verdadeiros sentimentos e desejos.

O que
ele deveria fazer era cortar imediatamente com aquela situação. Afastar-se para
sempre dela e guardar aquele fim de semana na lembrança para quando fosse um
ancião e pudesse dedicar-se a alardear de seus selvagens dias de juventude.

Sacudiu
a cabeça.

— Nada
disso.

Não,
não ia deixá-la partir. Poderia não ter lhe assegurado que não tinha nenhum
interesse em seu irmão, mas na realidade sabia que não o tinha. Certamente, não
a tinha visto derreter-se nos braços de Trent. Além disso, Dulce era uma mulher
muito inteligente e realista para conformar-se com um homem como Trent.

Não,
havia algo mais em seu silêncio. E, de um modo ou outro, ele estava decidido a
averiguar o que era.

Na
quinta-feira, Christopher não pôde iniciar seu plano para averiguar o que
estava se passando pela mente de Dulce Maria Saviñon porque esteve trabalhando
durante mais de quatorze horas. A maior parte do dia passou no Centro Turístico
Dolphin Island. E se alegrou de tê-lo feito. Durante os poucos dias que esteve
fora, um de seus homens tinha quebrado acidentalmente um vaso com uma
escavadora. Outro tinha plantado uns caros exemplares de magnolia tão perto da
praia que provavelmente teriam secado em menos de dois meses e um dos viveiros
lhes tinha enviado uns arbustos que não tinha pedido.

— Como
é possível que tudo vá para o inferno em só cinco dias? — perguntou a Jason
Richter, o capataz.

Estavam
os dois no canteiro de obras, no final da asa norte do jardim.

— Sinto
muito chefe, não posso estar em dez lugares ao mesmo tempo.

— Sei.
A culpa não é sua. Eu  deveria ter estado
aqui. Ripley esteve todo o tempo em cima de você?

Jason
soltou uma gargalhada.

— Sabe
que Ripley tem algumas alergias importantes? no sábado pela tarde, veio nos
vigiar quando estávamos plantando uns arbustos e o rosto dele se encheu de
manchas vermelhas. Não o vimos depois.

—
Procurarei não esquecer — respondeu Christopher rindo.

Passaram
outros vinte minutos repassando o calendário do projeto. A essas alturas,
Christopher já não podia permitir-se mais atrasos nem enganos humanos.

Ao ver
Jason tentando dissimular outro bocejo, Christopher olhou o relógio. Eram quase
oito da noite.

—
Vamos, já é hora de sair daqui. — Não teve que dizer-lhe duas vezes.
Christopher o observou meter-se no carro e partir. Assim que ficou sozinho, foi
percorrer a zona em que tinham trabalhado durante o dia, alegrando-se de ter
algo no que pensar, além de Dulce, durante umas horas. No final da jornada, só
queria ir diretamente à cama e ficar três quartos de hora metido no banho. Mas
aquele dia tinha outra obrigação. Sua avó tinha chegado do sul da Carolina
nesse mesmo dia e tinha decidido ir fazer-lhe uma visita.

Quando
chegou a sua casa, encontrou-a no escritório, servindo uma generosa porção de
brandy.

— Nem
sequer foi capaz de mudar de roupa para vir ver a sua avó? — foi a primeira
coisa que lhe perguntou sua avó, sem poder dissimular o brilho de alegria de
seu olhar.

— Quer
que vá?

— Não
se atreva. Sente-se, jovenzinho, e me conte algo. Como é possível que seu pai
tenha escolhido ir para o outro extremo do país, tão longe de todos nós? Temos
que encontrar uma forma de que voltem a viver aqui.

A mesma
canção de sempre. Mas Christopher sabia que sua mãe cortaria um braço antes de
voltar a viver sob a férrea mão de sua sogra. Sua mãe tinha sido a primeira que
tinha apoiado os desejos de Christopher de abandonar as galerias e tinha
tentado ajudá-lo para que seu pai e seu irmão o compreendessem.

—
Ficará bem, avó — lhe assegurou enquanto se dirigiam para o salão —  Ouviu os médicos. Foi só foi uma advertência
para que comece a cuidar-se, que é exatamente o que vem lhe dizendo mamãe há
dez anos.

— Isso
foi o ar do oeste. Engrossa-lhe o sangue.

Christopher
não tentou opor-se a implacável lógica daquela velha dama. Simplesmente, não
valia a pena.

— Só
queria me assegurar de que estava bem. Encontra-se bem? Necessita de algo?

— Sim,
preciso ir a Nova Iorque para me reunir com um desenhista que quer fazer um
novo logotipo para as galerias.

— Estou
seguro de que Trent pode encarregar-se disso — respondeu Christopher —  E por certo, as coisas vão muito bem,
obrigado por me perguntar isso.

Sophie
deu de ombros, sentou-se em um sofá de couro e bateu de leve no assento para
que ele se sentasse a seu lado. Christopher se sentou e teve que dissimular um
sorriso quando sua avó tomou sua mão e a estreitou.

— Já
sei como vão as coisas, bobo. Acredita que não vigio você?

—
Surpreenderia-me que não o fizesse. — Sua avó bebeu um gole de brandy e o olhou
pela extremidade do olho.

— E aconteceu
algo mais em sua vida? Conheceu alguém?

Se ela
soubesse que Dulce estava consumindo-o há dias... Mas não ia dar a sua avó
munição em sua campanha para que seus netos se casassem e procriassem.

— Que
intrometida — rodeou-lhe o braço nos ombros — Embora todos sabemos que se meter
nas vidas alheias é seu passatempo favorito. Depois, claro, de revisar o estado
de suas contas.

Sophie
dirigiu um olhar tão inocente que Christopher esteve a ponto de soltar uma
gargalhada.

— Não
entendo a que se refere, Christopher. Quando me meti em sua vida?