Fanfics Brasil - Dia 5.994 | Praia Every Day... AyA [FINALIZADA]

Fanfic: Every Day... AyA [FINALIZADA] | Tema: AyA, Anahí, Every Day, Adaptação


Capítulo: Dia 5.994 | Praia

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Espero por ela na frente do armário de Manuel. O primeiro sinal toca. Depois o segundo. Nada de Anahí. Talvez fosse para eu encontrá-la em outro lugar. Talvez Manuel tenha se esquecido de onde sempre se encontram. Se for esse o caso, ela já está acostumada ao fato de ele se esquecer, e me encontra bem na hora em que estou prestes a desistir. Os corredores estão quase vazios; a correria já passou. Ela chega mais perto do que antes.


— Oi — digo.


— Oi — responde ela.


Está olhando para mim. Manuel é quem dá o primeiro passo. Manuel é quem pensa as coisas. Manuel é quem diz o que vão fazer. Isso me deprime.


Já presenciei essa situação muitas vezes. A devoção gratuita. Preferir o medo de estar com a pessoa errada por não ser capaz de lidar com o medo de ficar sozinho. A esperança tingida de dúvida, e a dúvida tingida de esperança. Sempre que vejo esses sentimentos no rosto de outra pessoa, fico deprimido. E tem alguma coisa no rosto de Anahí que é mais que apenas decepção. Existe bondade ali. Uma bondade que Manuel nunca vai apreciar. Vejo isso muito bem, mas ninguém vê.


Pego todos os meus livros e guardo-os no armário. Vou até ela e ponho minha mão de leve em seu braço.


Não tenho ideia do que estou fazendo. Apenas sei que estou.


— Vamos para algum lugar — digo. — Aonde você quer ir?


Estou perto o suficiente agora para ver que os olhos dela são mel. Estou perto o suficiente agora para ver que ninguém jamais vai chegar perto o suficiente para ver como os olhos dela são mel.


— Não sei — responde.


Pego a mão dela.


— Vem comigo — digo.


Não é mais inquietação — é atrevimento. Primeiro, caminhamos de mãos dadas. Em seguida, estamos correndo. Aquela corrida boba para acompanhar a outra pessoa, apertando o passo pela escola, reduzindo tudo que não seja nós dois a um borrão inconsequente. Estamos rindo, estamos brincalhões. Guardamos os livros dela no armário e saímos para o ar livre, o verdadeiro ar livre, a luz do sol e as árvores, e o mundo menos opressivo. Estou violando as regras ao sair da escola. Estou violando as regras ao entrar no carro de Manuel. Estou violando as regras ao girar a chave na ignição.


— Aonde você quer ir? — pergunto de novo. — Me diga aonde você adoraria ir de verdade.


De início, não percebo quanta coisa depende da resposta dela. Se disser Vamos ao shopping, vou me desligar. Se disser Me leve para sua casa, vou me desligar. Se disser Na verdade, não quero perder o sexto tempo , vou me desligar. E eu deveria me desligar. Não deveria estar fazendo isso.


Mas ela diz:


— Quero ir até o mar. Quero que você me leve até o mar.
E percebo que estou me ligando.


Levamos uma hora para chegar. Estamos no fim de setembro, em Maryland. As folhas não começaram a mudar, mas dá para ver que estão começando a pensar no assunto. Os tons de verde estão suaves, desbotados. A cor está prestes a mudar.


Entrego a Anahí o controle do rádio. Ela fica surpresa, mas não me importo. Já tive minha conta de coisas barulhentas e desagradáveis, e percebo que ela também. Ela traz a melodia para o carro. Ouço uma música que conheço, e canto junto. 


And if I only could, I’d make a deal with God...


Agora Anahí passa de surpresa a desconfiada. Manuel nunca canta.


— O que deu em você? — pergunta ela.


— A música — digo.


— Rá.


— Não, sério.


Ela me observa por um longo tempo. Então sorri.


— Nesse caso — diz, girando o botão até encontrar a música seguinte.


Logo estamos cantando a plenos pulmões. Uma música pop, tão substancial quanto um balão, mas que nos eleva do mesmo modo quando cantamos.


É como se o próprio tempo relaxasse ao nosso redor. Ela para de pensar na raridade do momento e se permite fazer parte dele.


Quero oferecer um dia bom a ela. Um único dia bom. Tenho andado por aí há tanto tempo sem nenhum objetivo, e agora este objetivo efêmero me foi dado; eu sinto como se tivesse me sido dado. Só tenho um dia para oferecer; então por que não pode ser um dia bom? Por que não posso compartilhá-lo com alguém? Por que não posso levar a música do momento e ver quanto pode durar? As regras podem ser apagadas. Posso aceitar isso. Posso oferecer isso. 


Quando a música termina, ela abaixa o vidro e estende a mão no ar, trazendo uma música nova para dentro do carro. Abaixo todos os outros vidros e dirijo mais depressa, para que o vento assuma o controle, sopre nossos cabelos por toda parte, faça parecer que o carro não exista mais e que nós sejamos a velocidade, a rapidez. Então toca outra música boa e eu nos cerco novamente, desta vez segurando a mão dela. Dirijo assim durante alguns quilômetros e faço algumas perguntas. Como os pais dela estão. Como as coisas estão indo agora que a irmã foi para a faculdade. Se ela acha que a escola está diferente esse ano.


É difícil para ela. Todas as respostas começam com a frase Eu não sei. Mas, na maior parte do tempo, ela sabe, se eu lhe der tempo e espaço para responder. A mãe dela vai bem; o pai, um pouco menos. A irmã não está telefonando para casa, mas Anahí pode entender isso. A escola é a escola — ela quer que acabe logo, mas tem medo de que acabe, porque aí vai
ter que pensar no que vem pela frente.


Ela me pergunta o que acho, e digo:


— Sinceramente, só estou tentando viver um dia depois do outro.


Não é o suficiente, mas já é alguma coisa. Observamos as árvores, o céu, as placas, a estrada. Sentimos um ao outro. O mundo, nesse exato instante, consiste em apenas nós dois. Continuamos a cantar. E cantamos com o mesmo abandono, sem nos preocuparmos muito se nossas vozes atingem as notas ou as palavras certas. Trocamos olhares enquanto cantamos; não são dois solos, é um dueto que não se leva muito a sério. É uma forma própria de conversa. Você pode aprender muito sobre as pessoas a partir das histórias que contam, mas também pode conhecê-las pelo modo como cantam, não importando se gostam de janelas levantadas ou abaixadas, se vivem de acordo com o mapa ou se perdem-se pelo mundo, ou se sentem a atração do mar.
Ela me diz aonde ir. Para fora da autoestrada. Para as estradas secundárias. Não é verão; não é fim de semana. Estamos em plena segunda-feira, e ninguém além de nós está indo para a praia.


— Eu deveria estar na aula de inglês — diz Anahí.


— Eu deveria estar na de biologia — digo, acessando o horário de Manuel.


Seguimos em frente. Quando eu a vi pela primeira vez, ela parecia estar pisando em ovos. Agora, o terreno está mais sólido, mais convidativo.


Eu sei que é perigoso. Manuel não é bom para ela. Reconheço isso. Caso acesse as lembranças ruins, vejo lágrimas, brigas e os resquícios de momentos satisfatórios juntos. Ela está sempre à disposição dele, e ele parece gostar disso. Os amigos dele gostam dela, e ele parece gostar disso também. Mas não é o mesmo que amor. Ela tem se apegado à esperança
que ele representa há tanto tempo que não percebe que não sobrou nada pelo qual esperar. Eles não têm silêncios juntos; têm ruídos. A maior parte, dele. Se eu tentasse, poderia ir mais fundo nas discussões. Poderia rastrear os pedaços que ele catou todas as vezes em que a destruiu. Se eu realmente fosse Manuel, acharia que há algo de errado com ela. Agora. Diria a ela. Gritaria. Eu a deixaria mal. Eu a colocaria no devido lugar.


Mas não posso. Não sou Manuel. Mesmo que ela não saiba disso.


— Vamos só nos divertir — digo.


— Está bem — responde ela. — Gosto disso. Passo tanto tempo pensando em fugir, que é bom fazer isso de verdade. Por um dia. É bom estar do outro lado da janela. Não faço isso o suficiente.


Tem tantas coisas dentro dela que quero saber. E ao mesmo tempo, em todas as palavras que dizemos, sinto que pode haver alguma coisa dentro dela que eu já conheça. Quando eu chegar lá, vamos nos reconhecer. Vamos ter isso.


Estaciono o carro e andamos até o mar. Tiramos os sapatos e os deixamos debaixo do banco. Quando chegamos à areia, eu me inclino para enrolar o jeans. Enquanto faço isso, Anahí corre à minha frente. Quando volto a olhar, ela está rodando na praia, chutando a areia e gritando meu nome. Tudo é leveza naquele instante. Ela é tão cheia de vida que não consigo
evitar parar por um segundo e observar. Testemunhar. Dizer a mim mesmo para lembrar.


— Anda! — grita ela. — Vem cá!


Não sou quem você pensa que sou, é o que quero dizer a ela. Mas não dá. Claro que não dá.


Temos a praia para nós, o mar para nós. Eu a tenho para mim. Ela me tem para si.


Tem uma parte da infância que é infantil, e uma parte que é sagrada. De repente estamos tocando a parte sagrada, correndo pela orla, sentindo a primeira onda fria nos tornozelos, enfiando as mãos na maré para pegar conchas antes que refluxem de nossos dedos. Voltamos a um mundo que é capaz de brilhar, e estamos entrando mais fundo nele.Ela joga água em mim para me provocar, e eu preparo um contra-ataque. Nossas calças e camisetas ficam molhadas, mas não nos importamos.


Ela me pede ajuda para construir um castelo, e quando o faço, me conta que ela e a irmã nunca construiriam castelos de areia juntas — era sempre uma competição. A irmã queria as maiores montanhas possíveis, enquanto Anahí dava atenção aos detalhes, querendo que cada castelo fosse a casinha de bonecas que ela nunca pôde ter. Vejo ecos desses detalhes agora enquanto ela cria pequenas torres com as mãos em concha. Eu mesmo não tenho lembranças de castelos de areia, mas deve haver alguma memória sensorial associada, porque sinto que sei como fazê-los, como moldá-los.


Assim que finalizamos, voltamos à água para lavar as mãos. Olho para trás e vejo o modo como nossas pegadas se mesclam, formando uma única trilha.


— O que foi? — pergunta ela ao me ver olhando para trás, notando alguma coisa emminha expressão.


Como posso explicar? A única maneira que conheço é dizendo:


— Obrigado.


Ela olha para mim como se nunca tivesse ouvido tal palavra.


— Pelo quê? — pergunta.


— Por isto — respondo. — Por tudo isso.


Esta fuga. A água. As ondas. Ela. Parece que estamos além do tempo, embora tal lugar não exista.


Ainda há uma parte dela que está esperando por uma reviravolta, o momento em que todo esse prazer vai se desdobrar em dor.


— Está tudo bem — digo. — Tudo bem estar feliz.


As lágrimas enchem os olhos dela. Eu a tomo nos braços. É a coisa errada a se fazer. Mas é a coisa certa a se fazer. Preciso ouvir minhas próprias palavras. A felicidade muito raramente faz parte do meu vocabulário porque, para mim, é tão efêmera.


— Estou feliz — diz ela. — Estou, de verdade.


Manuel estaria rindo dela. Manuel a estaria empurrando para a areia, para fazer o que quisesse fazer. Manuel nunca teria vindo aqui. Estou cansado de não sentir. Cansado de não me conectar. Quero estar aqui com ela. Quero ser o cara que vai corresponder às expectativas dela, pelo menos no tempo que me foi concedido.


O mar cria a própria música; o vento faz sua dança. Ficamos no mesmo lugar. No início estamos nos apoiando um no outro, mas depois começa a parecer que estamos nos agarrando a algo maior do que isso. Mais grandioso.


— O que está acontecendo? — pergunta Anahí.


— Shhh — respondo. — Não faça perguntas.


Ela me beija. Há muitos anos não beijo ninguém. Não tenho me permitido beijar ninguém há anos. Os lábios dela são macios como pétalas de flores, mas com uma intensidade oculta. Sem pressa, deixo cada momento se transformar no seguinte. Sinto a pele dela, a respiração. Provo a condensação de nosso contato, detenho-me no calor dele. Os olhos dela estão fechados, e os meus, abertos. Quero me lembrar disso como algo além de uma sensação isolada. Quero me lembrar de tudo.


Não fazemos nada além de nos beijar. Não fazemos nada aquém de nos beijar. Às vezes ela se movimenta para fazer mais, porém não preciso disso. Passo a mão pelos seus ombros enquanto ela acaricia minhas costas. Beijo seu pescoço. Ela me beija atrás da orelha. Nas vezes em que paramos, sorrimos um para o outro. Descrença tola, crença tola. Ela devia estar na aula de inglês. Eu, na de biologia. Não devíamos estar tão próximos do mar hoje. Desafiamos o dia tal como ele foi preparado para nós.


Caminhamos de mãos dadas pela praia enquanto o sol mergulha no céu. Não estou pensando no passado. Não estou pensando no futuro. Estou cheio de gratidão pelo sol, pela água, pelo modo como meus pés afundam na areia, pela sensação da minha mão ao segurar a dela.


— A gente devia fazer isso todas as segundas — diz ela. — E terças. E quartas. E quintas. E sextas.


— Assim iríamos enjoar — respondo. — É melhor fazer só uma vez.


— Nunca mais? — Ela não gosta do modo como isso soa.


— Bem, nunca diga nunca.


— Eu nunca diria nunca — retruca ela.


Agora há mais algumas pessoas na praia, principalmente homens e mulheres idosos dando uma caminhada vespertina. Eles acenam para nós quando passamos e algumas vezes dizem “olá”. Retribuímos o aceno e respondemos aos “olás”. Ninguém pergunta por que estamos aqui. Ninguém pergunta nada. Somos apenas parte do momento, como todo o restante.



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Autor(a): Alien AyA

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O sol se põe mais além. A temperatura cai juntamente a ele. Anahí estremece, então solto a mão dela e a abraço. Ela sugere voltarmos para o carro e pegarmos o “cobertor da pegação” no porta-malas. Nós o encontramos ali, soterrado sob garrafas vazias de cerveja, cabos de bateria torcidos ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



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  • franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 22:09:51

    Haaaaaaaaaaaaaaaaaáaaáaaa meu deus que história triste...morri aki ;( pelo menos tomara q a any tenha ficado com o poncho....

  • franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 21:46:10

    *.*

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 20:02:54

    SCRRRRRRRRRR ALIEN EU VOU TE MATAAAAAAR ME FEZ CHORAR RIOOOOS AINNNNNN QUERIA Q ELA FICASSE CM O A :`( Mas foi bom q ele arrumou o Pon pra ela :)

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:56:19

    Ai scrrrrrr q eles fiquem juntoooooos :`( Postaaaaaaaaaa <3

  • Alien AyA Postado em 23/05/2015 - 19:52:53

    Mila você já vai saber...

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:50:34

    Ainnnnnnn fico cm dó do &quot;Pon&quot; corpo :$ Será q ele vai ficar cm o corpo msm? :$ Postaaaaaaaa <3

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:44:10

    PARAA TUDOOOOOO VI O NOME DO PON JÁ TO PIRANDO SCRR PERA VOU LER *-*

  • Mila Puente Herrera Postado em 22/05/2015 - 23:21:50

    COMO ASSIM???????????????? ALIEN VOLTA AKI QUERO O FIM NÃAAAAAAAAAAO KKKKKKKKKKKKKK Postaaaaaaaaaaaaaa <3

  • Mila Puente Herrera Postado em 21/05/2015 - 22:06:50

    Ainnnnnnn nn tadinho do Pon :/ Postaaaaaaaa <3

  • franmarmentini♥♥ Postado em 21/05/2015 - 16:54:50

    tadinho do A ;(


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