Fanfic: Every Day... AyA [FINALIZADA] | Tema: AyA, Anahí, Every Day, Adaptação
Dia 6.015
Acordo, e não estou a quatro horas de distância dela, nem a uma hora, nem a 15 minutos.
Não. Acordo na casa dela.
No quarto dela.
No corpo dela.
No início acho que ainda estou dormindo, sonhando. Abro os olhos, e eu poderia estar no quarto de qualquer garota — um quarto onde ela habita há muito tempo, onde as bonecas de Madame Alfonso dividem o espaço com lápis de olho e revistas de moda. Tenho certeza de que é apenas um truque da minha imaginação quando acesso minha identidade e descubro que é Anahí quem aparece. Será que já tive esse sonho antes? Acho que não. Mas, de certo modo, faz sentido. Se ela é o pensamento, a esperança, a preocupação sob todos os momentos em que estou acordado, então por que não ia se infiltrar nas minhas horas de sono também?
Mas não estou sonhando. Estou sentindo a pressão do travesseiro contra o rosto. Estou sentindo os lençóis ao redor de minhas pernas. Estou respirando. Nos sonhos, nunca nos preocupamos em respirar. Imediatamente, é como se o mundo tivesse se transformado em vidro. Todo momento é delicado. Todo movimento é um risco. Sei que ela não ia me querer aqui. Sei o horror que ela estaria sentindo agora. A perda total de controle.
Tudo que faço poderia quebrar alguma coisa. Toda palavra que digo. Todo gesto que faço. Olho ao redor mais um pouco. Algumas garotas e garotos modificam seus quartos à medida que crescem, pensando que precisam banir todas as encarnações mais jovens para habitar uma nova de forma convincente. Mas Anahí é mais segura em relação ao passado do que isso. Vejo fotografias dela e da família quando tinha 3, 8, 10 e 14 anos. Um pinguim de pelúcia ainda toma conta da cama dela. J. D. Salinger está ao lado de Dr. Seuss na prateleira.
Pego as fotografias. Se quisesse, podia tentar acessar o dia em que foram tiradas. Parece que ela e a irmã estão numa feira rural. A irmã usa algum tipo de fita de premiação. Seria muito fácil descobrir o que é. Mas não seria Anahí me contando. Quero que ela fique perto de mim, que me conte sobre as coisas. Agora sinto como se a tivesse invadido.
O único modo de passar o dia é vivendo-o como Anahí gostaria que eu o vivesse. Se ela souber que estive aqui — e tenho a sensação de que vai saber —, quero que tenha certeza de que não me aproveitei disso. Percebo instintivamente que esse não é o modo pelo qual quero aprender alguma coisa a respeito dela. Não é o modo pelo qual quero ganhar alguma coisa.
Por causa disso, parece que tudo o que posso fazer é perder.
É assim que ela levanta o braço.
É assim que ela pisca os olhos.
É assim que ela vira a cabeça.
É assim que ela passa a língua sobre os lábios, que põe os pés no chão.
Este é o peso dela. A altura. Este é o ângulo a partir do qual ela vê o mundo.
Eu poderia acessar as lembranças que ela tem de mim. Poderia acessar todas as lembranças que tem do Manuel. Poderia ouvir o que andou dizendo quando não estive por perto.
“Olá.”
Este é o som da voz dela ouvida de dentro.
É desse jeito que a voz dela soa quando está sozinha.
A mãe dela passa por mim arrastando os pés pelo corredor, acordada, mas não por escolha. Para ela, foi uma longa noite, que levou a uma manhã curta. Ela diz que vai tentar voltar a dormir, mas acrescenta que é improvável que consiga. O pai de Anahí está na cozinha, se preparando para ir trabalhar. O bom-dia dele tem menos queixas. Mas está com pressa, e tenho a sensação de que essas duas palavras são tudo o que Anahí vai ouvir. Pego um pouco de cereal enquanto ele procura as chaves, então ecoo um “tchau” à despedida breve dele.
Decido que não vou tomar banho, nem trocar a roupa de baixo da noite anterior. Quando vou ao banheiro, mantenho os olhos fechados. Já me sinto bastante nu olhando para o espelho e vendo o rosto de Anahí. Não posso ir além disso. Escovar os cabelos dela já é íntimo demais. Fazer a maquiagem. E até mesmo calçar os sapatos. Sentir o equilíbrio do corpo dela no mundo, a sensação da pele dela desde o interior, tocar seu rosto e receber o toque dos dois lados — é inevitável e incrivelmente intenso. Tento pensar somente como eu mesma, mas não consigo parar de sentir que sou ela.
Tenho que acessar para encontrar minhas chaves, depois para achar o caminho até a escola. Talvez eu devesse ficar em casa, mas não tenho certeza se conseguiria suportar ficar sozinha no corpo dela por tanto tempo sem distrações. A estação de rádio está ligada no noticiário, o que é inesperado. O pingente do capelo de formatura da irmã está pendurado no espelho retrovisor. Olho para o banco do carona, esperando que Anahí esteja lá, olhando para mim,
dizendo-me aonde ir.
Vou tentar evitar o Manuel. Vou cedo até o armário, pego os livros e sigo diretamente para a primeira aula. Conforme meus amigos vão entrando lentamente na sala, converso tanto quanto posso. Ninguém percebe qualquer diferença; não porque não se importam, mas porque é de manhã cedo, e não se espera que ninguém esteja cem por cento aqui. Me preocupei tanto com Manuel que não percebi o quanto os amigos de Anahí são parte da vida dela. Percebo que, até agora, o máximo que vi da vida dela foi quando fui Amy Tran visitando a escola por um dia. Porque ela não passa o dia sozinha. Não é dos amigos que ela quer fugir quando dá suas escapadas.
— Você terminou o dever de biologia? — pergunta a amiga dela, Rebecca.
Primeiro acho que está pedindo para copiar meu dever de casa, mas então percebo que está me oferecendo o dela. Com certeza Anahí tem algumas questões para responder. Agradeço e começo a copiar. Quando a aula inicia e a professora começa a falar, tudo o que preciso fazer é prestar atenção e tomar notas. Lembre-se disso, digo a Anahí. Lembre-se de como é trivial.
Não posso evitar de ter flashes de coisas que nunca vi. Desenhos de árvores e montanhas no caderno dela. A marca leve que as meias fazem nos tornozelos. Um sinalzinho vermelho de nascença na base do polegar esquerdo. Provavelmente são coisas que ela nunca nota. Mas como sou nova para ela, vejo tudo.
É assim que a mão dela segura o lápis.
É assim que os pulmões dela se enchem de ar.
É assim que as costas dela fazem pressão contra a cadeira.
É assim que ela toca a orelha.
É desse jeito que o mundo soa para ela. É desse jeito que ela ouve todos os dias.
Eu me permito ter uma lembrança. Não escolho. Ela simplesmente surge, e eu não a interrompo.
Rebecca está sentada perto de mim, mascando um chiclete. A certa altura da aula, está tão entediada que tira o chiclete da boca e começa a brincar com ele entre os dedos. E eu me lembro de uma vez em que ela fez isso, no sexto ano. A professora a flagrou, e Rebecca ficou tão surpresa por ser descoberta que se assustou, o que fez o chiclete sair voando e ir parar no cabelo de Hannah Walker. A princípio Hannah não sabia o que estava acontecendo, e todas as crianças começaram a rir dela, deixando a professora ainda mais furiosa. Fui eu que me inclinei e disse que havia um chiclete no cabelo dela. Fui eu que o retirei, tomando cuidado para não embaraçar ainda mais. Removi tudo. Eu me lembro de ter removido tudo.
Tento evitar Manuel na hora do almoço, mas não consigo.
Estou em um corredor nem um pouco perto dos armários ou da cantina, e ele está lá também. Não está feliz nem infeliz por me ver; considera minha presença um fato, não muito diferente do toque do sinal entre os tempos de aula.
— Quer ir lá fora? — pergunta ele.
— Claro — digo, sem saber realmente com o que estou concordando.
Nesse caso, “lá fora” significa uma pizzaria a dois quarteirões da escola. Pegamos as fatias e as Coca-Colas. Ele paga a dele, mas não se oferece para pagar a minha. O que é bom. Ele está falante, concentrado no que imagino ser seu assunto favorito: as injustiças cometidas contra ele por todas as outras pessoas, o tempo todo. É uma grande conspiração envolvendo tudo, do problema na ignição do carro ao pai o chateando por causa da faculdade até o “jeito gay de falar” do professor de inglês. Mal estou acompanhando a conversa, e acompanhar parece ser a palavra correta, porque esse papo foi concebido para que eu fique, pelo menos, uns cinco passos atrás. Ele não quer minha opinião. Sempre que ofereço qualquer coisa, ele simplesmente a deixa na mesa entre nós, sem aceitá-la.
Autor(a): Alien AyA
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 63
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franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 22:09:51
Haaaaaaaaaaaaaaaaaáaaáaaa meu deus que história triste...morri aki ;( pelo menos tomara q a any tenha ficado com o poncho....
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franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 21:46:10
*.*
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Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 20:02:54
SCRRRRRRRRRR ALIEN EU VOU TE MATAAAAAAR ME FEZ CHORAR RIOOOOS AINNNNNN QUERIA Q ELA FICASSE CM O A :`( Mas foi bom q ele arrumou o Pon pra ela :)
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Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:56:19
Ai scrrrrrr q eles fiquem juntoooooos :`( Postaaaaaaaaaa <3
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Alien AyA Postado em 23/05/2015 - 19:52:53
Mila você já vai saber...
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Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:50:34
Ainnnnnnn fico cm dó do "Pon" corpo :$ Será q ele vai ficar cm o corpo msm? :$ Postaaaaaaaa <3
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Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:44:10
PARAA TUDOOOOOO VI O NOME DO PON JÁ TO PIRANDO SCRR PERA VOU LER *-*
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Mila Puente Herrera Postado em 22/05/2015 - 23:21:50
COMO ASSIM???????????????? ALIEN VOLTA AKI QUERO O FIM NÃAAAAAAAAAAO KKKKKKKKKKKKKK Postaaaaaaaaaaaaaa <3
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Mila Puente Herrera Postado em 21/05/2015 - 22:06:50
Ainnnnnnn nn tadinho do Pon :/ Postaaaaaaaa <3
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franmarmentini♥♥ Postado em 21/05/2015 - 16:54:50
tadinho do A ;(