Fanfics Brasil - Dia 6.023 | Vic Every Day... AyA [FINALIZADA]

Fanfic: Every Day... AyA [FINALIZADA] | Tema: AyA, Anahí, Every Day, Adaptação


Capítulo: Dia 6.023 | Vic

294 visualizações Denunciar


Dia 6.023


Mesmo antes de abrir os olhos, gosto de Vic. Biologicamente feminina, gênero masculino. Vivendo segundo a própria realidade, assim como eu. Ele sabe quem quer ser. A maior parte das pessoas de nossa idade não precisa fazer isso. Vive no limite das coisas fáceis. Quando você quer viver segundo a própria realidade, deve escolher passar pelo inicialmente doloroso porém finalmente reconfortante processo de descoberta.


Hoje seria um dia movimentado para Vic. Ele tem teste de história e de matemática. Tem ensaio da banda, que é a coisa pela qual mais fica ansioso durante o dia. Tem um encontro com uma garota chamada Dawn. Me levanto. Me visto. Pego as chaves e entro no carro. Mas, quando chego ao local onde deveria parar e entrar na escola, continuo dirigindo.


É só uma viagem de três horas até Anahí. Enviei um e-mail avisando que Vic e eu estávamos indo. Não lhe dei tempo de responder, nem de dizer não. No trajeto, acesso trechos da história de Vic. Existem poucas coisas mais difíceis do que nascer no corpo errado. Tive que lidar com isso muitas vezes enquanto estava crescendo, mas apenas por um dia. Antes de me tornar tão adaptável — tão tolerante com o modo como minha vida funcionava — eu resistia a algumas das transições. Adorava ter cabelo comprido, e ficava chateado ao acordar e descobrir que tinha sumido. Havia dias em que me sentia como uma garota e dias em que me sentia como um garoto, e esses dias nem sempre correspondiam ao corpo no qual eu estava. Ainda acreditava em todo mundo quando diziam que eu tinha que ser uma coisa ou outra. Ninguém estava me contando uma história diferente, e eu era jovem demais para pensar por mim mesmo. Ainda tinha que aprender que, no que se referia ao gênero, eu era e não era as duas coisas. É uma coisa terrível ser traído pelo próprio corpo. E é solitário, porque você sente que não pode falar sobre isso. Sente que é algo entre você e o corpo. Sente que é uma batalha que você nunca vai vencer... e, ainda assim, luta dia após dia, e isso te desgasta. Mesmo que tente ignorar, a energia que isso consome vai acabar com você.


Vic teve sorte de ter os pais que tem. Eles não se importavam se ele queria vestir calça jeans em vez de saia, ou brincar com caminhões em vez de bonecas. Foi apenas quando ele cresceu, na adolescência, que eles ficaram um pouco reticentes. Eles sabiam que a filha gostava de meninas. Mas levou um tempo para ele dizer, até para si, que gostava delas como um garoto. Que tinha que ser um garoto ou, pelo menos, viver como um, viver na indistinção entre ser uma garota masculina ou um garoto feminino. O pai, um homem tranquilo, compreendeu e o apoiou de maneira tranquila. A mãe teve mais dificuldade. Ela respeitava o desejo de Vic de ser quem precisava ser, mas, ao mesmo tempo, tinha dificuldade em abrir mão do fato de ter uma filha para passar a ter um filho. Alguns dos amigos de Vic entenderam, apesar de terem 13 ou 14 anos. Outros surtaram: as garotas mais do que os garotos. Para os garotos, Vic sempre foi a amiga assexuada que andava com eles. Isso não mudou nada.


Dawn sempre esteve ali no cenário. Elas frequentaram a escola juntas desde o jardim de infância, de modo amigável mas sem realmente se tornarem amigas. Quando foram para o ensino médio, Vic andava com os garotos que rabiscavam poemas furiosamente nos cadernos e os deixavam ali, enquanto Dawn andava com os garotos que enviavam os poemas para as revistas literárias assim que os concluíam. A garota participativa, que concorria para tesoureira da classe e participava do clube de debates, e o garoto introvertido, aliado perfeito para fugidas ao 7-Eleven. Vic nunca teria notado Dawn, nunca teria pensado que havia uma possibilidade, se Dawn não o tivesse notado primeiro. Mas Dawn o notou. Ele estava no canto para o qual o olho dela sempre se desviava. Quando ela fechava os olhos para dormir, era pensar nele que a fazia sonhar. Ela não fazia ideia do que a atraía: se era a garota masculina, o garoto feminino, mas, por fim, concluiu que isso não importava. Vic a atraía. E Vic não tinha ideia de que ela existia. Não dessa maneira.


Finalmente, conforme Dawn diria a Vic mais tarde, isso se tornou insuportável. Eles tinham um monte de amigos em comum que poderiam fazer as apresentações, mas Dawn achava que, se era para correr o risco, era melhor fazê-lo pessoalmente. Então um dia, quando viu que Vic estava indo com outros garotos a uma loja de conveniência, ela entrou no próprio carro e os seguiu. Conforme ela esperara, Vic decidiu ficar um pouco na frente da loja enquanto os amigos brincavam nos corredores. Dawn se aproximou e disse “olá”. No início, Vic não entendeu por que Dawn estava falando com ele, ou por que parecia tão nervosa, mas então lentamente percebeu o que estava ocorrendo, e que também queria que aquilo acontecesse. Quando um ruído na porta indicou a saída dos amigos, ele fez um gesto para que fossem embora e ficou com Dawn, que nem se lembrou de fingir que precisava de alguma coisa da loja. Dawn teria ficado conversando ali durante horas; foi Vic quem sugeriu que fossem tomar um café, e tudo começou a partir daí. Desde então, houve altos e baixos, mas o sentimento permaneceu: quando Dawn olhava para Vic, enxergava exatamente o que Vic queria que fosse visto. Embora os pais de Vic não conseguissem evitar enxergá-lo como ele costumava ser, e muitos amigos e desconhecidos não conseguissem deixar de enxergá-lo como quem ele não queria ser mais, Dawn só via ele. Pode chamar de indistinção, se quiser, mas Dawn não via nada indistinto. Via uma pessoa muito nítida, muito clara.


Conforme me aprofundo nessas lembranças, conforme organizo esta história na cabeça, sinto muita gratidão e saudade; não por causa de Vic, mas por minha causa. É isso que quero de Anahí. É isso que quero dar a ela. Mas como posso fazê-la enxergar através da indistinção se sou um corpo que ela nunca vai enxergar de fato, em uma vida que ela nunca será capaz de apoiar verdadeiramente?


Chego no tempo antes do almoço e estaciono na vaga de sempre. Agora sei em que aula Anahí está, então espero do lado de fora até a hora do sinal. Quando ele toca, ela surge no meio da multidão, conversando com a amiga, Rebecca. Ela não me vê; nem sequer levanta os olhos. Preciso segui-la durante um longo tempo, sem saber se sou o fantasma do passado, do presente ou do futuro. Por fim, Anahí e Rebecca tomam direções diferentes e posso conversar com ela a sós.


— Oi — digo.


E lá está: uma hesitação momentânea antes de se virar. Mas quando dá meia-volta, vejo que me reconhece de novo.


— Oi — diz ela. — Você está aqui. Por que isso não me surpreende?


Não são exatamente as boas-vindas que eu estava esperando, mas são boas-vindas compreensíveis. Quando estamos a sós, sou o destino. Quando estou na vida escolar dela, sou uma quebra de rotina.


— Quer almoçar? — pergunto.


— Claro — responde. — Mas tenho mesmo que voltar depois.


Digo que tudo bem.


Enquanto caminhamos, permanecemos em silêncio. Quando não me concentro em Anahí, dá para ver que as pessoas estão olhando para ela de um jeito diferente. Algumas, de modo positivo, mas a maioria de modo negativo.


Ela vê que percebi.


— Aparentemente agora sou uma vagabunda metaleira — diz. — Segundo algumas fontes, até já dormi com os caras do Metallica. É meio engraçado, mas também não é. — Ela olha para mim. — Mas você é alguma coisa completamente diferente. Nem sei com quem estou lidando hoje.


— Meu nome é Vic. Sou biologicamente mulher, mas do gênero masculino.


Anahí suspira.


— Nem sei o que isso quer dizer.


Começo a explicar, mas ela me interrompe.


— Vamos esperar até sairmos da escola, está bem? Por que você não anda atrás de mim por enquanto? Acho que vai facilitar as coisas.


Minha única opção é fazer isso.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Alien AyA

Este autor(a) escreve mais 8 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Vamos até um restaurante onde a média de idade dos fregueses é de 94 anos e o purê de maçãs parece ser o item mais popular do cardápio. Não é exatamente o ponto de encontro do ensino médio. Assim que sentamos e fazemos o pedido, pergunto sobre as consequências do dia anterior. — ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 63



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 22:09:51

    Haaaaaaaaaaaaaaaaaáaaáaaa meu deus que história triste...morri aki ;( pelo menos tomara q a any tenha ficado com o poncho....

  • franmarmentini♥♥ Postado em 28/05/2015 - 21:46:10

    *.*

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 20:02:54

    SCRRRRRRRRRR ALIEN EU VOU TE MATAAAAAAR ME FEZ CHORAR RIOOOOS AINNNNNN QUERIA Q ELA FICASSE CM O A :`( Mas foi bom q ele arrumou o Pon pra ela :)

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:56:19

    Ai scrrrrrr q eles fiquem juntoooooos :`( Postaaaaaaaaaa <3

  • Alien AyA Postado em 23/05/2015 - 19:52:53

    Mila você já vai saber...

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:50:34

    Ainnnnnnn fico cm dó do &quot;Pon&quot; corpo :$ Será q ele vai ficar cm o corpo msm? :$ Postaaaaaaaa <3

  • Mila Puente Herrera Postado em 23/05/2015 - 19:44:10

    PARAA TUDOOOOOO VI O NOME DO PON JÁ TO PIRANDO SCRR PERA VOU LER *-*

  • Mila Puente Herrera Postado em 22/05/2015 - 23:21:50

    COMO ASSIM???????????????? ALIEN VOLTA AKI QUERO O FIM NÃAAAAAAAAAAO KKKKKKKKKKKKKK Postaaaaaaaaaaaaaa <3

  • Mila Puente Herrera Postado em 21/05/2015 - 22:06:50

    Ainnnnnnn nn tadinho do Pon :/ Postaaaaaaaa <3

  • franmarmentini♥♥ Postado em 21/05/2015 - 16:54:50

    tadinho do A ;(


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais