Fanfic: O Pai Ideal AyA (Terminada)

Vinte e quatro horas  mais tarde, Poncho sentou-se na frente do computador. Iria mandar um e-mail para Anahí, e continuaria mandando mensagens até que recebesse uma resposta. Não sabia o que iria dizer, mas não tinha sido diferente das outras vezes.

Não importava. Queria apenas manter contato com ela.

Por fim, escreveu sobre o conserto do sistema de irrigação e sobre as mudas que regara duas vezes. Não disse que tinha regado demais porque estava pensando nela.

Queria falar sobre Marta Elkins. A mulher culpava-o por colocar todo o projeto em risco tendo pedido a reunião com os advogados, o que sobrecarregou o sistema de recursos da biosfera. Ela devia ter razão. Marta tinha parado de acusá-lo de ter convocado uma reunião desnecessária, mas todos tinham escutado seu ponto de vista. O encontro podia ter sido desnecessário para o projeto, mas foi imprescindível para Poncho. Ele precisava ver Anahí. E depois de vê-la, precisava reconquistá-la.

"...foi bom revê-la. Poncho." Anahí leu a mensagem quatro vezes. Se ele não a tivesse assinado, não acreditaria que era de Poncho. Ele começou falando sobre o projeto e como tinha arruinado um canteiro de experiências.

À primeira vista, Anahí não percebeu, imaginando por que Poncho incomodou-se em lhe contar. No entanto, ele prosseguiu a mensagem, revelando o desapontamento consigo mesmo por não ter considerado a fragilidade do sistema de abastecimento.

Poncho nunca tinha conversado com ela daquela maneira.

Anahí estava sentada no escritório, comendo iogurte de morango e relendo a mensagem. Dormia melhor quando comia algo antes de dormir. Ela achou que deveria responder à mensagem, apesar de não querer. Começou sua mensagem escrevendo que as miniaturas da biosfera já tinham sido entregues, apesar de ser provável que ele já soubesse. E admitiu que ficou impressionada com a grandiosidade do projeto e a participação dele.

"Estou orgulhosa de você e de fazer parte desse projeto."

Era verdade. Podia lamentar a dedicação que Poncho tinha para com o trabalho, mas mesmo assim, sentia orgulho dele. Anahí suspirou, enviou a mensagem, desligou o computador e foi dormir.

Na noite seguinte, tentou assistir à televisão enquanto comia seu iogurte, mas estava curiosa para saber se Poncho mandara outra mensagem. Por fim, não se conteve e ligou o computador. Havia um texto tão longo quanto o anterior. Quando Anahí terminou de lê-la, estava com os olhos cheios de lágrimas.

"Estou investindo dois anos de minha vida e não quero que haja erros."

Anahí sorriu. Era o tipo de frase que Poncho usaria.

"Sabe, Annie, há dois anos, voltei ao local onde foi desenvolvido o projeto do  Saara. Havia um menino chamado Rahim que sempre estava perto de nós, levando coisas e fazendo pequenos serviços. As pernas eram mais finas do que imaginei que seria possível para pernas humanas. E a barriga era enorme. Depois que começamos a alimentá-lo, ele cresceu e seu corpo teve desenvolvimento normal. Quando partimos, parecia um adolescente comum. Achei que tivesse doze anos, mas na verdade tinha dezessete anos. Quando voltei, perguntei por ele e me disseram que tinha partido. Pensei que estavam dizendo que tinha morrido, mas partiu para estudar. Será médico, Annie. Está estudando em Londres e voltará para clinicar em sua vila. Pense nisso. Estava faminto e agora será médico. Comida faz toda a diferença."

Anahí não queria saber das mudanças dramáticas no vilarejo, e sobre as plantas que cresciam lá. Aquele era o local que destruiu seu casamento.

"Acho que é por isso que trabalho tanto."

Anahí não queria compreender, muito menos sentir, simpatia. Não queria saber mais sobre o homem com quem havia se casado dez anos antes. Não queria voltar a se apaixonar por ele. Então, não respondeu.