Fanfic: Vínculos | Tema: Original
Capítulo 12- A Festa- Parte 1.
Sexta-feira, 5 de Setembro de 2008.
Mark sentia-se um corpo estranho em meio ao clima animoso do bar. O lugar chamava-se Bhfolach Laghairt e localizava-se nos cafundós de Limerick. Tinha uma área pequena, do mesmo tamanho de sua popularidade, e um visual que se assemelhava muito a uma taverna medieval. Não, não era questão de estilo, e sim falta de dinheiro.
Apesar de não ser um pub decente, o local conseguia atrair alguns clientes, em sua maioria, pessoas que não encontraram vaga em estabelecimentos melhores, que costumavam lotar em fins de semana. O Bhfolach Laghairt não contava com garçons, como os pubs concorrentes, apenas dois barmans/faxineiros que revezavam os turnos. Mark só conhecia um deles, Aidan, um careca franzino e rabugento.
Um grupo de amigos numa mesa distante— se é que algo pudesse ser distante naquele ambiente minúsculo— celebrava alguma ocasião especial que Mark não tinha interesse em saber. Um casal de adolescentes, possivelmente com identidades falsas em posse, estava se agarrando numa extremidade escura do bar. Duas amigas conversavam alegremente, e davam gritinhos histéricos ocasionais, na mesa ao lado da sua. Aidan secava os copos com uma toalha branca, alheio ao monólogo lastimável de um bêbado sentado na bancada do bar.
Mark jamais entenderia o fascínio de seu irmão por aquele lugar, sendo um cliente fiel há anos. De certa maneira, Mark até gostava do Bhfolach Laghairt, mas não por sua qualidade como ponto de bebedeira, e sim pelo o quê o estabelecimento representava.
Foi ali que vira Skylar pela primeira vez.
A imagem dela sentada no bar com um vestido de ombro só roxo, cabelos— longos, na época— jogados para o mesmo lado da manga longa do vestido e segurando uma taça de martini entre os dedos finos ficaria com ele até o final de seus dias. Nunca encontraria uma forma boa o suficiente de agradecer Joey por tê-lo arrastado até aquele muquifo há quatro anos.
Era estranho e de muito mau gosto ir afogar as mágoas naquele lugar sendo que acabara de brigar feio com Skylar.
Um fisiculturista com um cavanhaque aproximou-se da mesa carregando duas canecas robustas e de vidro grosso, preenchidas até a borda com cerveja. Ele vestia uma regata preta por baixo da jaqueta jeans clara e mantinha os cabelos escuros presos em um rabicho. Quem olhasse para aquela montanha de músculos de visual estranho e depois para o loiro magrelo com o vigor de um grilo que era Mark, jamais imaginaria que eles tinham o mesmo sangue.
Joey sentou-se, entregou a caneca de Mark e tomou um longo gole da sua, esvaziando-a até a metade. Ele era um bruto.
— Pode começar a derramar suas lamúrias, maninho. — deu tapinhas nas costas de Mark— Estou aqui para isso.
— Eu briguei com a Skye. — contou com desânimo.
— Isso é obvio, Mark. Ao contrário, você estaria com ela em vez de dar atenção ao seu único irmão, que você não entra em contato há tempos. — Mark revirou os olhos, chantagem emocional era uma característica tanto de Bea quanto de Joey.
— Me desculpe, Joe. Mas você sabe que eu trabalho muito. — aquilo não era apenas uma desculpa barata, ser colunista da Munster Tribune monopolizava seu tempo. Aquilo acaba sendo um ponto positivo em seu relacionamento com Skye. Trabalhar para a mesma editora em cargos exigentes ajudava-os a entender as obrigações de ambos os lados, poupando-os de brigas no estilo “você dá mais atenção ao trabalho do que a mim”.
— Ok, ok...— disse sem se convencer. — Agora, indo direto ao ponto, me conte o que aconteceu entre você e a olhinhos de safira.
Mark contou-lhe o que vinha acontecendo. Ultimamente, ele vinha perguntando a Skylar sobre a misteriosa ligação que a fizera ter uma crise de pânico. Ela sempre arrumava uma maneira de fugir do assunto. Sentindo que algo estava errado, ele se tornou cada vez mais insistente, até o momento em que ela explodiu e eles tiveram uma briga feia. Isso aconteceu na tarde anterior, durante uma visitinha surpresa de Skylar à sala de Mark no trabalho. Eles não se falaram nem se viram desde então.
—... ela está escondendo alguma coisa séria, eu sinto isso. Você não tem ideia de como ela ficou após aquela ligação. Aquela mulher apavorada e frágil não era a minha Skye, Joey. Eu preciso saber o que a fez ficar assim.
— Estranho... Eu pensei que ela tivesse te contado tudo sobre o passado dela.— Joey falou pensativo.
— Eu também...— disse distante. Ele sabia sobre os pais de Skye, seus problemas com drogas e bebidas, o namorado morto, ela ter dormido com meia Limerick, as brigas violentas com a avó e a irmã mais velha, a temporada na clínica de reabilitação e os anos que ela passou sob tratamento psicológico.
— Já pensou em perguntar para a irmã dela?
— Mesmo se ela souber, ela nunca vai me dizer. Sheila nunca trairia a irmã. Na verdade, se eu perguntar, é bem capaz dela contar para a Skye que eu fiz isso. Aí sim as coisas vão degringolar de vez. — bufou.
— E a outra irmã? A que mora na Rússia?
— Eu não tenho intimidade para perguntar essas coisas para ela. Eu e Amethyst só nos falamos umas três vezes a vida inteira.
— Você não tem nem ideia do que pode ser esse segredo? — indagou à Mark, que fez que não com a cabeça. — Vamos botar a cabeça para funcionar, Mark Benjamin. Existe algo, além desse segredo de estado, que a sua noivinha não gosta de falar a respeito e sempre foge do assunto?
Mark ponderou por uns instantes, e quase respondeu que não até que algo surgiu em sua mente:
— O porquê de ela não querer filhos. — falou lentamente.
— Perai! — Joey levantou as duas mãos abertas no ar, como em um sinal de “pare”. — Eu pensei que os dois tinham tomado essa decisão.
— Mais ou menos. Um pouco depois de eu a pedir em casamento, ela me disse que não queria ter filhos e que nada no mundo a faria mudar de ideia. Eu perguntei-lhe o motivo várias vezes, mas ela nunca me respondeu, pelo menos não de forma concreta, o que, pensando melhor, é uma maneira de fugir do assunto. No final das contas, eu desisti de entender o porquê e aceitei a decisão dela. — Joey o olhou com reprovação, mas resolveu não falar nada no momento.
— A psicologia diz que os segredos mais profundos das pessoas estão relacionados. Quem sabe isso se aplica a Skye? — sugeriu.
— Eu não acho que seja o caso. O telefonema e a razão de ela não querer filhos não têm nada a ver entre si. — afirmou com desdém.
— Você sabe sobre o que se tratava o telefonema? — disse Joey com uma pontada de irritação e Mark abaixou a cabeça diante da retórica. — Então como sabe que essas duas coisas não estão relacionadas?
— Eu não sei! Apenas não vejo como elas podem estar ligadas...— demonstrando cansaço, Mark fechou os olhos e massageou as têmporas, descobrir esse segredo daria muito trabalho e sua cabeça já estava latejando antecipadamente. — Podemos falar de qualquer outra coisa, por favor? Preciso me distrair e ter um momento de paz antes da semana infernal que vou ter.
Estar brigado com Skylar era o mesmo que estar no purgatório. E ela era o capeta. Entretanto, estando ou não no inferno, ele não iria correr atrás de Skylar e pedir desculpas, como fizera tantas vezes antes. Ela que viesse atrás dele. Skye é quem tinha que pôr a mão na consciência e entender que, se eles pretendiam passar o resto da vida juntos, não podia haver segredos entre eles.
— Como quiser, irmãozinho. Mas antes eu só quero te dizer uma coisa: não abra mão de seus sonhos por causa dela. — aconselhou, olhando no fundo dos olhos amendoados do irmão mais novo.
Diferente de Bea, Joey não tinha nada contra Skylar, na verdade, até simpatizava um pouco com ela. Contudo, simpatia nenhuma faria com que apreciasse a ideia de seu irmão mais novo ser prejudicado de alguma forma.
— Você está falando sobre a história de não ter filhos? — Mark considerou o olhar, ao mesmo repreensivo e preocupado, de Joey um "sim". — Olha Joey...
— Olha Joey, o cacete! — cortou. — Eu sei que você quer ter filhos! Acha que não me lembro da época em que você estava com a Angelina?! De seus planos?! Dois filhos, um menino e uma menina. Quais eram os nomes, mesmo? — ponderou por um milésimo de segundo. — George e Marie!
— Maureen. — corrigiu.
— Viu só?! Você quer!
Estava cansado daquele assunto, que também fora abordado por sua mãe há pouco tempo, só que de forma ofensiva e desagradável. Não que Joey estivesse sendo muito diferente...
— Vai me deixar falar?!— a grosseria repentina de Mark deu um pequeno susto em Joey — Eu não estou desistindo de nada por causa da Skye. Confesso que sim, gosto de crianças e sim, realmente teve uma época em que ser pai estava na minha lista de objetivos de vida, entretanto, há muito eu deixei de fazer questão. Eu prefiro ficar com a Skye e não ter filhos do que o contrário.
Joey o mirou com os olhos apertados e em silêncio, refletindo sobre o que acabara de escutar.
— Tudo bem, não vou falar mais nada, a decisão é sua. Só acho que você tem o direito de saber o porquê de ter que abrir mão de filhos.
Mark ficou em silêncio quando a realização veio a sua cabeça cheia.
Talvez Joey estivesse certo.
(...)
Eram quase 10:00h da noite quando Nate parou o carro na rua da casa de Faith. Ele teria estacionado em frente à casa dela, como de costume, se a vaga já não estivesse ocupada por um carro vermelho e desconhecido. Na verdade, todas as vagas da rua estavam ocupadas por veículos desconhecidos. Pensou que talvez alguém estivesse dando uma super festa ou algo do tipo, já que conseguia escutar a música alta desde o último quarteirão, só não identificara sua origem ainda.
Ele, Esther e Juliet seguiram pela longa rua asfaltada, rumo à enorme casa branca com piscina nos fundos e jardim bem cuidado que era a residência de Faith Amber Cameron. Chegando lá, eles foram recepcionados por um cara branquelo e gordo correndo pelado com um gnomo de jardim erguido sobre a cabeça.
O queixo de Nate foi ao chão. A super festa em questão era na casa de Faith.
— Você não disse que ia ser algo íntimo? Com menos de dez pessoas? — Juliet perguntou ainda em choque com o gordinho.
— É mesmo, Nathaniel! — Esther fingiu estar zangada, mas no fundo estava aliviada. Aquilo significava que ela não teria que ficar em uma sala cheia de pessoas que detestava, e vice-versa. Só tinha concordado em ir àquela social que se transformara em baderna com trilha sonora para agradar Nate. Seu doce e inocente namorado acreditava que ela podia ter um bom relacionamento com seus amigos depravados se ambas as partes se esforçassem.
Pobrezinho...
— Não perguntem para mim! Sei tanto quanto vocês. — defendeu-se.
— Nathaniel! — um cara de cabelos negros, sem camisa e com um cone de trânsito na cabeça praticamente voou em cima de Nate, derrubando-o com tudo no chão.
Juliet e Esther assistiram à cena embasbacadas. Primeiro, o peladão e agora aquilo?
— Que porra é essa, Ethan?!— Nate gritou, puto da vida, logo após conseguir se soltar do aperto de Ethan, que, por sinal, estava muito chapado.
— É um cone de trânsito seu idiota. — apontou com o indicador para o objeto em sua cabeça, que devia estar bem colocado já que não saíra do lugar com a queda. — Não é você que é bom em geometria?
— Não é disso que eu tô falando, seu idiota!
— E do que mais seria, animal?
— Esquece...— Nate desistiu. Quando bêbado, Ethan tinha o intelecto de um esquilo. — O que aconteceu? Não era para ser só eu, você, Faith, Shae, Aaron, Esther e Julie?
Ethan passou um dos braços pelos ombros de Nate e começou:
— Meu caro amigo, nem tudo é do jeito que queremos. A vida é uma caixinha de surpresas, e precisamos estar preparados para cada uma delas. — disse se sentindo O filósofo grego.
— Você fumou crack?!— ralhou, mais puto do que antes.
— Se fumou, com certeza não lembra. — comentou Juliet, segurando o riso.
— Eu me lembro de você! — Ethan gritou, chegando perto de estourar os tímpanos de Nate, e apontou para Juliet, que ficou tensa por não querer compartilhar a ocasião vergonhosa em que conhecera Ethan.
— É claro... Assim como se lembra de cada garota bonita em um raio de um quilometro. — Juliet não sabia se corava, se sentia-se aliviada pela descrença de Nate ou se ignorava Esther, que não ficou nem um pouco feliz com a palavra “bonita”. Julie segurou a vontade de revirar os olhos.
Por Deus! Esther não morreria se deixasse a paranoia de lado e relaxasse as vezes.
— Acho melhor entrarmos. — Esther falou com autoridade, abraçando o braço de Nate que não tinha Ethan pendurado. Quem visse a maneira como estava ignorando o Harvey, jamais diria que, há poucos meses, ela era apaixonada por ele.
— Eu concordo! — Ethan puxou Juliet, que soltou um gritinho agudo no processo, e passou o braço livre pelos seus ombros, cobertos por uma jaqueta de couro azul. — Vamos lá, seus putos! Ao infinito e além!
Nate suspirou com desânimo, aquele provavelmente seria um dos dias em que teria que carregar um Ethan desacordado para casa.
(...)
A porta do apartamento foi aberta quase imediatamente após a campainha ser tocada, revelando um homem cujos fios castanhos misturados aos grisalhos, tanto no cabelo quanto na barba grossa, denunciavam sua idade. Ele cumprimentou a visitante de maneira calorosa, sem dispensar um grande sorriso, e não perdeu tempo em conduzi-la até a sala de estar, onde ela esperou pacientemente até ele retornar da cozinha com uma bandeja de prata contendo um bule de chá preto, duas xícaras decoradas, leite e biscoitos.
— Você não precisava se preocupar...— Skylar disse sem graça, observando Leonard colocar a bandeja sobre a mesinha de centro.
— Não seja boba, menina! Minha falecida esposa rolaria no túmulo se alguma visita deixasse essa casa sem antes tomar ao menos uma xicarazinha de chá. — falou com um sorriso enquanto colocava um pouco de leite nas duas xícaras com chá. Entregou uma delas para Skylar e depois pegou a outra, tomando o maior cuidado no mundo para não derramar em seu colete de lã com estampa argyle marrom e rosa.
— Agora mate minha curiosidade e me diga o motivo dessa agradável visita. Sou obrigado a confessar que fiquei bastante surpreso quando me ligou avisando que iria aparecer... — Leonard sentou-se em uma poltrona de camurça verde-musgo, que ficava de frente para o sofá, de mesmo modelo, em que Skylar estava. Com a mão livre, ele ajeitou seus óculos de tartaruga, que escorregaram pelo nariz quando ele abaixou-se para servir o chá. — Uma mulher que tem que lidar, ao mesmo tempo, com um casamento se aproximando e um chefe severo como Leopold, não deve ter muito tempo livre. Deve ser algo importante para faze-la gastar a noite de sexta na casa de um ex-colega de trabalho.
Skylar gostava de passar suas noites de sexta com Mark, seja na rua, em bares, restaurantes e cinemas; ou em casa, fazendo coisas mais íntimas. Mas do jeito que as coisas estavam, temia que outra dessas maravilhosas sextas demorassem a acontecer. Sentiu vontade de rir ao pensar nisso. Mas não um riso de alegria ou coisa do tipo, e sim um seco e amargurado, do tipo que se dá quando as coisas não estão indo bem e chorar é uma opção apenas para quando se está ferrado de verdade, o que poderia muito bem acontecer se Anthony insistisse em entrar em contato.
Deu um longo gole no chá, como se aquilo fosse uma poção mágica que faria a tormenta em sua vida se dissolver em purpurina, e começou:
— Eu sou a nova responsável pela matéria do Doherty. — fez uma pequena pausa, pensando no que dizer em seguida. Acabou não reparando em Leonard, que, com a menção de Doherty, remexera-se desconfortável em seu assento. — Eu não tenho ideia de por onde começar. Eu tenho em mãos o que os últimos a trabalhar de nesse caso conseguiram, e mesmo assim eu não consigo sair da estaca zero. O Sr. Leopold me aconselhou entrar em contato com alguém que tenha trabalhado nessa matéria, caso estivesse nessa situação, para pedir uma dica ou algo do tipo...
Leonard mudou os olhos escuros de Skylar para a bandeja, entretanto, não era os biscoitinhos de aveia que ele via. Seus pensamentos estavam além daquela sala de mobília antiga.
— Hugh não desistiu, não é? — murmurou mais para si do que para Skye.
— Ele não é do tipo que cede. — concordou.
— Entretanto eu mantinha tolas esperanças de que isso acontecesse dessa vez. — disse com melancolia, deixando-a um pouco confusa pela estranha mudança de comportamento. — Suponho que tenha me escolhido pois sou o único a ter trabalhado no caso que você encontrou...— arriscou, erguendo os olhos para Skye.
Skylar franziu o cenho, estranhando o comentário sem sentido, pelo menos para ela.
— Na verdade, não. Você foi minha primeira opção, e mesmo que não fosse, tenho uma lista em anexo com os nomes dos outros jornalistas.
— Não acho que essa lista seja de grande utilidade. — Skylar encarou-o ainda mais confusa, pedindo uma explicação, que foi dada logo em seguida. — A maioria das pessoas listadas estão incomunicáveis, seja porque morreram ou se mudaram para longe.
Se ele pretendia sanar sua dúvida com aquela explicação, falhou miseravelmente. Leonard continuou antes que ela tivesse a oportunidade de fazer mais perguntas:
— Aqui vai um conselho, menina: desista. Você é talentosa e tem uma carreira excelente pela frente. Essa matéria, além de só trazer dor de cabeça, é uma enorme perda do tempo que você poderia gastar com trabalhos mais importantes e que acrescentariam mais a você...— parou de falar um instante, para procurar palavras para se expressar em seguida. — Isso é tudo que posso fazer para te ajudar. É melhor encerrarmos por aqui. — devolveu a xícara, ainda pela metade, à bandeja. — Como eu disse anteriormente, você deve ter muito o que fazer, assim como eu. Vou me mudar na segunda-feira e ainda nem comecei a embalar minhas coisas.
— Vai mudar de casa? — indagou enquanto era conduzida até a porta.
— De país. Vou morar com meu filho mais velho na Austrália. Já é hora de eu ser mais presente na vida dele e das minhas netas. — contou apressado e atropelando as palavras. — Como não vou conseguir vir para o casamento, desejo felicidades adiantadas. O Thatcher é um bom homem, vocês formam um belo casal, um tanto divergente, mas belo. Espero vê-la novamente algum dia, O’Flahertie. Boa noite! — bateu a porta.
Skylar ficou minutos encarando a porta de madeira sem reação, tentando entender o que acabara de ocorrer.
Ela realmente tinha sido praticamente expulsa do apartamento de Leonard Matson, uma das pessoas mais bem-humoradas e cordiais que conhecia?
(...)
— Deixe-me ver se entendi...— começou o indignado Connor, adentrando a sala de Scott sem ser convidado. — Eu não posso dar em cima das suas funcionárias, mas o Raymond pode?!
— Do que você tá falando?— Scott levantou o olhar da papelada à sua frente e perguntou com impaciência, tinha muito o que fazer e nenhum tempo para aturar as manhas desnecessárias do primo.
— Venha cá! — Connor pediu antes de atravessar a porta. Scott, com a maior má vontade do mundo, tirou os óculos de leitura, colocando-os cuidadosamente em cima da escrivaninha de madeira escura, e levantou-se da cadeira de rodinhas para segui-lo. Uma regra básica da convivência com Connor era que, se quiser ser deixado em paz o mais rápido possível, deve-se fazer o que ele quer.
Connor apontou discretamente para um canto do restaurante, onde Ray e Sheila encontravam-se conversando sentados em uma mesa quadrada de madeira. Como já era final de expediente, ela já tinha trocado o uniforme para roupas normais, que no caso eram compostas por calça jeans, All Star preto, camiseta preta com a cara de um ursinho desenhada em azul-claro e os dizeres “hate me” da mesma cor logo abaixo e jaqueta de couro preta, que aparentava ser bem velha.
— Eles estão conversando. — comentou o obvio. — Não tem nada demais.
— É claro que tem! — insistiu, aborrecido com o desdém de Scott. — Faz duas semanas que eles estão assim, de conversinha e cheios de risinhos... Eles até saem juntos algumas vezes!
— Eles são amigos, é normal fazerem esse tipo de coisa. — em seu íntimo, Scott torceu para que aquilo entrasse de uma vez na cabeça cheia de gel de Connor para que o assunto se encerrasse e pudesse voltar para sua sala. Mas...
— Raymond é seu amigo e da Mia há anos e nem por isso ele vem ver você no trabalho quase todo dia...
— Está insinuando que eles têm alguma coisa?— ao ver a expressão de Connor e considera-la como um “é claro que sim, idiota”, Scott revirou os olhos e prosseguiu— É claro, é evidente, é obvio que não, Connor!
— Por que não?!— quis saber. — Ela tem belos peitos e eles se dão bem...
— Ela é uns onze anos mais nova que ele, por Deus! O Ray nunca ficaria com uma garota tão nova. E você está se esquecendo do fator chave: ela não é ruiva.
— Tudo tem sua primeira vez...
— Já chega, isso é ridículo! — Scott exclamou sem elevar muito a voz. Ele já estava no limite— Eu tenho coisas mais importantes para fazer do que aguentar a sua paranoia. Se você tá tão interessado assim, então que pergunte diretamente a eles! — voltou para sua sala, usando de uma força de vontade imensa para não bater a porta com tudo, chamando, assim, a atenção dos poucos clientes que restavam.
(...)
— O que será que o parasita fez para deixar o Scott puto? — Ray falou pensativo enquanto assistia Scott voltar para sua sala com uma carranca. Sheila riu baixinho e ele voltou-se para ela — O que é tão engraçado?
— Você... O jeito como se refere ao Connor. Ele fez alguma coisa para você detesta-lo dessa maneira? — perguntou interessada.
— Além de nascer? Não. — respondeu, fingindo seriedade.
— E você ainda fala de mim com a vagabunda da Esther Mitchell...
— Isso é diferente... Você inferniza a garota. Eu nunca fiz nada contra aquela praga. — explicou, dando uma olhada rápida na pobre Emma, que acabara de se tornar vítima do falatório da praga em questão. A cara de poucos amigos da garçonete indicava que ela só não havia mandado ele tomar naquele lugar porque era primo do chefe.
— Você devia tentar um dia, pode não resolver o problema, mas lava a alma. Vai ver é por isso que você é tão amargurado, falta vingança nesse seu coraçãozinho. — tocou o lado esquerdo do peito de Ray, no lugar onde o coração devia estar, com a ponta do dedo.
— Primeiro, não sou amargurado. — retrucou— Segundo, você é o diabo.
— Você me acha o diabo? Então não vou nem te apresentar a minha família, você ficaria horrorizado. — comentou com humor.
Ray viu Mia deixando o banheiro usando um vestido cor-de-rosa de manga longa e salto meia pata prateado. Aquilo significava que já estava quase na hora de ir e que ele tinha que apressar Sheila.
— Você vai ou não? — retomou o assunto de mais cedo. Ray pedira a Sheila para ir jantar com ele, Mia e Scott. O casal estava fazendo aniversário de namoro e queria comemorar, como sempre, na companhia dos amigos próximos. Geralmente era Ray, Connor e mais três amigos, mas como Mia deixara tudo para última hora por causa da sobrecarga do casamento, Ray acabou sendo o único a estar disponível aquela noite. Inacreditavelmente, até Connor, um vagabundo nato, tinha um compromisso. Se tinha uma coisa que Ray odiava, era ficar de vela, o que aconteceria sem sombras de dúvida, e era ali que Sheila entrava.
— Eu adoraria, mas não vai dar, tenho que ir à casa de uma amiga.
Ray praguejou baixinho.
Não. Ele tinha que insistir. Sua noite de sexta corria perigo.
— Você não pode desmarcar? — Sheila fez que não com a cabeça.
— Ela ficaria puta comigo, e o resto da turma já está lá, eu que estou atrasada por causa do trabalho. — explicou.
Ray pensou em uma solução:
— E se você ligar para ela e dizer que vai se atrasar um pouco mais porque o Scott pediu para fazer hora extra?
— Ela sabe que aqui fecha às onze.
— Fala que você tem que limpar os banheiros com uma escova de dentes. — sugeriu, arrancando uma gargalhada de Sheila.
— Uou! Você precisa mesmo que eu vá, não é? — perguntou arqueando as sobrancelhas.
— Desesperadamente.
Pedindo para que ele esperasse um pouco, Sheila tirou o celular do bolso da jaqueta e se afastou para realizar a ligação. Ao mesmo tempo, Scott deixou sua sala, bem mais calmo, com um paletó marrom sobre a camisa azul clara. Isso indicava que, assim como Mia, ele já estava pronto.
— Eu não gosto da ideia de dar lucro à concorrência. — Ray escutou o Scott resmungar para Mia enquanto se aproximavam.
— Então é melhor gostar da ideia de cozinhar, porque eu me recuso a chegar perto da cozinha. Para mim já deu por hoje. O que me diz, querido? — propôs com um sorriso cínico. Scott suspirou derrotado, para a graça de Mia e Ray.
— Chamei a Shae para ir, tudo bem? — o correto seria ter consultado o casal antes, mas Ray sabia que eles não se importariam.
— Claro que sim, quanto mais melhor! — Mia respondeu toda alegre.
— Alguma coisa contra, Scott? — Ray voltou-se para o amigo, que estava com uma cara estranha.
— Não...Eu só... Eu lembrei que tenho que falar com o Flynn, pedir a ele que feche o restaurante por mim...— saiu rapidamente. Flynn, um cara na faixa dos 25 anos loiro, magrelo e sério, era o gerente do Reagans.
— Isso foi estranho... Aconteceu alguma coisa, Mia?
— Ele só deve estar com a cabeça cheia, você sabe como ele é.— Mia deu de ombros.
Sheila retornou com um sorrisinho no rosto, o que só podia significar uma coisa:
— E aí? — indagou Ray, louco para saber se ia ou não virar uma vela humana.
Quem atendera o telefone fora Aaron, que lhe contou que a “reuniãozinha” se transformara em uma festa digna de filme adolescente e que Faith não ligaria de ela não ir porque estava tão bêbada que o Liam Neeson, seu ídolo, podia aparecer por lá que ela não ia dar notícia. Sheila podia ter contado tudo isso, entretanto preferiu apenas sorrir e dizer:
— Vamos?
Autor(a): Lilie
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Capítulo 12- A Festa- Parte Final. Sexta-feira, 5 de Setembro de 2008. Ao ir à cozinha para pegar uma cerveja, Nate acabou por encontrar Ethan se agarrando com uma loira de cabelo curto e repicado com uma camiseta do Nirvana. Beijavam-se intensamente, como se o mundo fosse acabar a qualquer instante. Ela estava sentada no balcão, com as pern ...
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