Fanfic: Vínculos | Tema: Original
Capítulo 1- Taxi
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008.
A manhã de Mark Thatcher havia sido normal. Acordou, tomou seu café da manhã, arrumou-se e foi trabalhar.
A mesma rotina que tinha há cinco anos.
Estava tudo perfeitamente normal... até sua noiva invadir sua sala aos berros:
— Mark Benjamin Thatcher, que história é essa de convidar a vadia da Angelina para o nosso casamento? — Skylar, sua “meiga” e “delicada” noiva, parecia a personificação do diabo. Sua face estava vermelha, não saberia dizer se era de raiva ou cansaço por ter subido quatro andares de escada, visto que ambos trabalhavam no mesmo prédio, só que em andares e setores separados; somado ao seu vestido vermelho, colaborou para que a comparação fosse mais realista.
— Bom dia, meu amor! Como foi de viagem? — Com sua melhor cara de pau, mencionou a viagem de Skylar para o funeral da avó na tentativa de mudar o assunto, mas falhou miseravelmente.
Ela bateu com as mãos na superfície de sua mesa de madeira, causando um grande barulho, inclinou-se para ele e rosnou:
— Não tenta mudar de assunto, filho da puta! Eu vou te perguntar só mais uma vez. — Mark podia jurar que tinha fumaça saindo de suas narinas — Por que você convidou aquela vagabunda para o nosso casamento?!
Internamente, riu dos adjetivos que ela atribuía a sua ex-namorada. Angelina estava longe de ser uma vagabunda, mas para Skylar só o fato dela ser sua ex já era o suficiente para ser classificada como meretriz. Passou as mãos pelos cabelos loiro-escuros e respirou fundo antes de responder:
— Eu a convidei porque, apesar de tudo, ainda somos amigos e não me venha com essa de que “ela não pode ir porque é minha ex.” — adiantou-se, já prevendo a estratégia de Skye. — Pelo o que me lembro, você já dormiu com um dos seus colegas de trabalho e nem por isso eu estou dando chilique e questionando o porquê de você o ter chamado.
Ela retirou as mãos da mesa e o encarou de cenho franzido. Se havia uma coisa que ele amava em Skylar, eram seus olhos, azuis como o céu.
— Tudo bem, você venceu! — admitiu a contragosto.
Mark se levantou, foi até ela, passou as mãos por sua cintura fina e a beijou. Ou pelo menos tentou.
Ela o afastou delicadamente, com as mãos espalmadas em sua camisa social azul clara, e falou em tom baixo e, consideravelmente, ameaçador:
— Só porque admiti estar errada, não significa que não estou mais brava com você, querido. — Colocou uma mecha de seu cabelo estilo chanel repicado atrás da orelha, empinou o nariz e deixou a sala sem cerimônias. Mark não se preocupou com isso, poderia levar até algumas horas, ou dias, mas a raiva dela passaria.
As pessoas o consideravam um louco masoquista por largar uma mulher doce como Angelina para ficar com uma doida sem noção como Skylar. Diziam que não tinham nada a ver um com o outro, Mark por ser de natureza calma, quase nunca se envolver em problemas e ser extremamente responsável e organizado ao contrário de sua futura esposa. Nessas horas, agradecia pela existência do bom e velho “foda-se”, que era a resposta que todos eles mereciam.
O que sentia por ela não podia se explicar ou justificar. Amava absolutamente tudo nela, incluindo seus defeitos, porque eles faziam parte de quem ela era. Preferia viver em um hospício com Skylar do que em uma casinha no lago rodeado por crianças felizes com Angelina.
Parando para pensar, aquela manhã, mesmo com a invasão e a gritaria, havia sido normal. Desde que começaram a namorar, aquela loucura passou a ser parte de sua vida.
E ele não tinha nada do que reclamar.
(...)
Nate entrou correndo na lanchonete da faculdade à procura de Faith, já que Ethan lhe disse que ela estava indo para lá na última vez em que a viu. Conseguiu avistá-la sem demora, graças a seu excêntrico e longo cabelo roxo, em uma mesa conversando com uma garota de rabo de cavalo alto e blusa azul-escura, que logo reconheceu ser Sheila. Foi até elas em passos rápidos e, antes que pudessem sequer dizer um “oi”, disparou:
— Faith, o Aaron está no hospital.
A garota levou alguns segundos para processar a informação.
— O quê?! Como assim?! O que aconteceu?!— questionou-lhe afobada e atropelando as palavras enquanto jogava o celular dentro de sua mochila amarela berrante.
— Explica direito, Nate!— Sheila ralhou.
— Estávamos jogando hurling com os veteranos da Educação Física, aí um deles acertou o Aaron com o bastão e ele caiu. O Ethan foi com ele para o hospital, achamos que ele quebrou algum osso. Eu te levo lá se você quiser. — ofereceu.
— Obrigada, Nate, você é um anjo! Vejo você mais tarde, Shae! — Saiu correndo em direção à porta, sendo acompanhada pelo loiro.
— Esperem aí, eu vou com vocês!— Sheila gritou enquanto os seguia.
Já no carro, Faith começou com o sermão:
— O quê que vocês tinham na cabeça de querer jogar com aqueles brutamontes?
— Nem vem querer ficar brava comigo! A ideia foi do Logan, se quiser xingar alguém, xingue ele. — defendeu-se — Como foi o funeral? — Dirigiu-se a Sheila, mudando o assunto completamente.
— Skye encheu a cara e brigou com uma das minhas tias, ou seja, foi como todos os outros eventos familiares. — contou distraidamente, como se estivesse falando do tempo.
Ele riu com o relato. Se tratando de Skylar, aquilo era perfeitamente normal.
— Por que a sua irmã foi encher a cara justo no velório da sua vó? — Faith se dirigiu à morena, estranhando o comportamento descrito.
— Porque ela é doida. — respondeu, dando de ombros.
(...)
Sentado na sala de espera vazia enquanto aguardava os médicos engessarem Aaron, Ethan lembrou-se do que o amigo ruivo e sardento lhe contou poucas horas atrás.
— Aconteceu alguma coisa com o Logan? — questionou a Aaron assim que Logan saiu do vestiário, onde se preparavam para o jogo. Reparou que ele andava mais mal humorado que o normal.
Logan estava no quarto período de medicina, era alto e magro, pele parda, rosto triangular, cabelos e olhos negros. Conheciam-se desde que entrou na faculdade, mas nunca foram muito próximos, só saiam juntos porque ele era amigo de Nate e Sheila.
— Você não soube? — Aaron perguntou surpreso.
— Do que?
— Ele e a Charlotte terminaram.
— Quando? — Ethan espantou-se com a noticia, Logan e Charlotte estavam juntos há quase um ano.
— Quando exatamente eu não sei, mas ouvi boatos de que eles não estavam nada bem desde a minha festa de aniversário. E não é pra menos, levando em conta o que aconteceu. — Abaixou o volume da voz, aparentemente, com medo de que o assunto retornasse repentinamente e os escutasse.
— O quê foi que aconteceu na sua festa? — Por um momento, Ethan lembrou-se de Esther.
— Você está falando sério? — Aaron o olhou como se tivesse acabado de falar o maior absurdo do mundo.
—Estou sim! O quê que aconteceu?
— Eu não acredito que você não sabe! Puta que pariu, Harvey! Você viveu em uma caverna nos últimos dois meses?! Ninguém te falou nada?! Você, de todas as pessoas, deveria saber, já que é um dos melhores amigos da Shae.
— Eu já disse que não sei! — vociferou. — E o quê que a Shae tem a ver com isso?
Aaron olhou para os lados, para ter certeza de que ninguém estava escutando, e soltou a bomba:
— Logan e Shae dormiram juntos no dia da minha festa.
Ethan piscou algumas vezes, tentando digerir a noticia. Aquilo fazia sentido. Não tinha notado nenhum comportamento estranho vindo de Logan ou Sheila, eles estavam agindo normalmente um com o outro, não demonstrando nenhum sinal de que algo havia acontecido entre eles. Em situações como aquela— lembrou-se de Esther novamente— as pessoas tinha tendência a se afastarem e não quererem olhar um na cara do outro por um bom tempo.
— Eu não acredito que ela não me contou. — Estava incrédulo, eles sempre contavam tudo um para o outro.
— Deve ter sido por causa do Vince.— Deu seu palpite. — Como que ela ia te contar que traiu o seu irmão?
O que o Aaron acabara de dizer fazia sentido. Vince e Sheila namoravam há quatro meses. Ethan ficou puto com ela no começo, afinal, havia uma “regra” que “impedia” as pessoas de namorar irmãos dos amigos, mas, vendo que não podia fazer nada, acabou aceitando de má vontade. Sempre teve a sensação de que aquilo não acabaria bem... E, infelizmente, estava certo.
— Você não deveria ficar bravo com a Shae...— Aaron aconselhou —...afinal, ela não foi a única que dormiu com que não devia e guardou segredo.
Um frio subiu pela espinha de Ethan.
— Faith me contou sobre você e Esther. — explicou calmamente, percebendo a expressão de assombro do moreno. — Eu sei que não é da minha conta, mas acho que você deveria contar isso ao Nate. Ele é o seu melhor amigo e merece saber.
Seus devaneios foram interrompidos por Faith, que entrou desembestada na sala de espera, sendo seguida por Nate, que lhe contou que Sheila havia ficado no pátio do hospital para atender uma ligação.
— Cadê o Aaron? Ele está bem? — Faith, ofegante, indagou enquanto se apoiando com uma das mãos na parede branca, tentando se recuperar da correria.
— Quebrou o braço, está sendo engessado agora. — Teria acrescentado mais algumas informações se o celular de Nate não tivesse soltado um sonoro ruído, tirando Ethan de sua linha de pensamento, indicando uma nova mensagem.
— Eu tenho que ir, meu vô me mandou uma mensagem, ele precisa de ajuda no restaurante. — Nate contou enquanto devolvia o celular para o bolso da bermuda. Despediu-se de ambos e foi embora.
Assim que o loiro saiu, Ethan disparou:
— Por que você contou pro Aaron? — Estava irritado, e não fez a mínima questão de esconder.
— Contei o quê, Ethan? Seja mais específico, eu sei de muita coisa sobre muita gente diferente. — Faith cruzou os braços franziu as sobrancelhas, em sinal de confusão.
— Sobre eu e Esther.
— Não foi só para ele que ela contou. — Uma nova voz soou na não mais sossegada sala de espera.
Sheila, recém-chegada, fitava-o com decepção. Faith, prevendo a treta, inventou uma desculpa qualquer e se retirou imediatamente.
Ethan ficou de pé e encarou a amiga.
— Eu não acredito que você dormiu com a Esther! — A garota disparou.
— E você dormiu com o Logan! — rebateu. — Você não tem moral para me acusar, Shae!
Sheila arregalou os olhos.
— Quem te contou?
— Aaron. Quando a Faith te contou?
— Um pouco antes de virmos para cá. Eu não acredito que você fez isso com o Nate!
— Eu não acredito que você chifrou o meu irmão!
— Não tenta mudar de assunto, Harvey!
— Quem está tentando mudar de assunto aqui é você!
— Não estou não, só estou falando do assunto mais sério primeiro!
— O que pode ser mais sério que trair o namorado e fazer um casal terminar?!
— Trair o melhor amigo. — Teria sido menos doloroso se ela tivesse lhe dado um tapa na cara. — Eu sei que foi sacanagem o que eu fiz com o Vince, mas o que temos é apenas um namorico besta que está durando mais do que deveria. Você e Nate são amigos há anos. Olhando por esse lado, qual traição foi pior?
Ethan sentiu-se como se uma pedra de mil quilos fosse jogada sobre seus ombros. Voltou a se sentar e cobriu o rosto com as mãos. Sempre teve consciência do que havia feito, mas ouvir a Sheila falar em alto e bom som o fez sentir várias coisas.
Culpa. Vergonha. Nojo. Medo.
Principalmente medo, medo de perder o melhor amigo. Nunca se sentiu tão mal em toda a vida.
Ela sentou-se ao seu lado.
— Você tem que contar para ele. — O tom acusatório de antes deu lugar a um mais doce, como o de uma mãe.
— Eu sei, já tentei fazer isso antes, mas na hora sempre perco a coragem. Tenho medo da reação.
Sheila não disse mais nada, apenas afagou suas costas na tentativa de lhe consolar.
(...)
Fazia tempo que Juliet Martin tivera uma sequência de dias tão ruim.
Tudo começou há duas semanas, quando sua mãe, praticamente do nada, anunciou que havia sido transferida para a filial irlandesa da empresa onde trabalhava. O choque foi inevitável. Juliet acabou tendo que ir junto de Holly, sua mãe, por ainda não ter maturidade o suficiente— segundo a matriarca— para viver sozinha, mesmo já sendo maior de idade.
Sua desgraça começou no sábado. Como se não estivesse infeliz o suficiente por ter que se mudar para outro continente, seu voo foi cancelado e reagendado para domingo à noite. Como resultado, sua chegada, que deveria ter sido sábado à noite, acabou sendo segunda de madrugada.
Mesmo estando morrendo de cansaço, teve que se levantar cedo para ir à universidade resolver assuntos pendentes de sua matrícula e assistir sua primeira aula, na qual se atrasou dez minutos porque se perdeu no campus.
Para piorar, estava morrendo de frio. Ninguém teve o bom senso de lhe avisar que o verão irlandês tinha a mesma temperatura do inverno do Arizona.
Caminhava rapidamente rumo ao departamento de Ciências da Saúde, rezando para conseguir encontrar Esther, sua prima de segundo grau, que só descobriu ter pouco antes de chegar à Irlanda. Ficariam na casa de um primo de sua mãe, pai de Esther, até que encontrassem um bom lugar para morar.
Quase deu glória e estendeu as mãos para o céu quando a avistou nas escadarias do prédio de Enfermagem, conversando com uma garota de cabelo loiro e liso. Observou que as duas usavam minissaia, pelo visto, ela era a única afetada por aquele clima anormal.
— Esther! Preciso das chaves de casa. — Acabou falando mais alto do que pretendia, assustando Esther e a garota loira.
— Já vai?— indagou milésimos de segundos depois, após se recompor. — São apenas seis horas.
— Não tenho nada mais para fazer aqui, minhas aulas já acabaram.
Esther apenas deu de ombros. Juliet se distraiu observando a maneira como seu cabelo loiro cacheado caia para os lados enquanto ela vasculhava a mochila em busca das chaves.
A garota de cabelo liso aproveitou o breve silêncio para se manifestar pela primeira vez:
— Tem certeza de que quer ir agora? Nós vamos a um pub daqui a pouco. Se quiser, pode vir conosco. A propósito, sou Brittany. — apresentou-se com um sorriso radiante.
— Juliet. — Devolveu o sorriso. — Obrigada pelo convite, mas acho melhor ficar para uma próxima, tive um dia cheio.
— Tudo bem, mas você deveria, ao menos, ir à reinauguração do Corrach Mad nessa sexta. Vai ser um festão e é uma boa oportunidade para conhecer algumas pessoas da universidade. Soube que acabou de se mudar e deve ser um saco não conhecer quase ninguém. O que acha?
— Aqui está! — Esther estendeu-lhe um chaveiro com várias estrelinhas azuis penduradas. Juliet pegou o objeto e a agradeceu mentalmente por ela ter interrompido a conversa, livrando-a, assim, de ter que dar uma resposta sobre a festa.
Despediu-se das garotas e saiu da universidade torcendo para que seus vinte euros fossem o suficiente para pagar por um taxi até sua casa, ou melhor, a casa de Esther. Não pegava um ônibus ou ia a pé por medo de se perder, já que ainda não conhecia nada da cidade. Fez um sinal assim que avistou o veiculo amarelo, entrando nele assim que parou.
Durante o trajeto, permitiu-se admirar as ruas de Limerick.
Viu pessoas saindo exaustas do trabalho, jovens se encontrando em pubs, crianças correndo, idosos conversando enquanto apreciavam um café, casais caminhando de mãos dadas. Era tudo tão trivial e ao mesmo tempo tão... perfeito.
Conseguiu se imaginar fazendo todas aquelas coisas. Sentiu um alívio indescritível. Pela primeira vez desde a mudança, sentiu como se sua vida pudesse voltar aos eixos. Pela primeira vez, desde que aquela loucura toda começou, sentiu paz.
Talvez, mudar-se para a Irlanda não tenha sido tão ruim quanto imaginava.
O taxi parou em um sinal vermelho. Nesse momento, Juliet avistou um jovem alto, loiro, de pele levemente bronzeada, usando bermudas e regata azul saindo de um restaurante com um saco de lixo na mão. Eventualmente, seus olhares se cruzaram.
Desviou o olhar rapidamente, sentindo suas bochechas esquentarem.
O sinal abriu e o carro amarelo seguiu em frente, afastando-se do rapaz e fazendo-a voltar a si e ao seu estresse anterior. Chegou à conclusão de que aquela sensação de paz momentânea fora causada pelo cansaço mental, o estresse acumulado estava deixando-a louca.
Tratou de mudar logo de pensamento. Assim que chegasse à casa do primo de sua mãe, tomaria um banho quente que, talvez, a fizesse voltar a razão.
Apenas talvez.
Autor(a): Lilie
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Capítulo 2 - Segredos Sexta-feira, 01 de Agosto de 2008. Eram exatas 06h00min da manhã quando o som alto e irritante da campainha soou pela residência, sendo ignorado pela moradora. Quem quer que fosse o louco, que voltasse mais tarde. Nada a faria sair da cama antes do horário, sono era uma coisa sagrada naquela casa. A campainha foi tocada uma ...
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