Fanfics Brasil - Segredos Vínculos

Fanfic: Vínculos | Tema: Original


Capítulo: Segredos

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Capítulo 2 - Segredos


Sexta-feira, 01 de Agosto de 2008.


Eram exatas 06h00min da manhã quando o som alto e irritante da campainha soou pela residência, sendo ignorado pela moradora. Quem quer que fosse o louco, que voltasse mais tarde. Nada a faria sair da cama antes do horário, sono era uma coisa sagrada naquela casa.


A campainha foi tocada uma segunda, terceira e quarta vez e foi, novamente, ignorada em todas elas. Até que, na quinta, a moradora perdeu a paciência e, possessa, desceu as escadas rumo à porta para mandar o visitante ir tomar naquele lugar.


Qual não foi sua surpresa ao abrir a porta e dar de cara com sua irmã mais velha, que não via há meses, parada com uma mão na cintura e a outra segurando uma mala Louis Vuitton, batendo e pé de maneira impaciente e estampando uma "belíssima" cara de poucos amigos.


— Que demora foi essa?! Só tem surda nessa casa?! — reclamou.


— Antes surda do que louca! Puta que pariu, Amy! O que você tem na cabeça de tocar aqui às seis da madrugada?!


— Dobre a língua, Sheila! Eu não te criei para falar esse tipo de coisa, ainda mais comigo. Sabia que não devia ter deixado você morar com a Skye!


A morte da mãe das irmãs O’Flahertie, em 1994, provocou uma disputa judicial para ver quem ficaria com a custódia de Skylar e Sheila, com respectivos doze e quatro anos de idade. O juiz acabou decidindo deixar Skylar com a avó materna, Violet, e Sheila com Amethyst, que a levou para morar em Moscou junto dela e do marido, Dmitry.


Em 2001, Violet propôs que Amethyst lhe passasse a guarda de Sheila por acreditar que o melhor para Sheila era voltar para seu país de origem. Amy acabou aceitando mais por causa de Skylar e Sheila do que pela idosa, sabia que, mesmo separadas, as duas eram muito apegadas e considerava crueldade mantê-las longe uma da outra, mesmo que a própria Amethyst tenha contribuído para essa situação.


Quando Violet faleceu, três anos depois, Skylar pediu para que Sheila continuasse morando com ela. Amethyst acabou permitindo sob a seguinte condição: a mais nova ficaria na Irlanda, com Skye, durante o período letivo e nas férias iria para a Rússia. Esse acordo vigorou até Shae completar a maioridade.


— Não começa com esse assunto, Amy! — Sheila cortou-a antes que ela começasse com seu famoso discurso “é tudo culpa da Skye”. — O que você está fazendo aqui? — perguntou, pois estava estranhando a vinda repentina da irmã. Por morar na Rússia, ela raramente aparecia. Ainda mais sem avisar.


— Eu tive alguns negócios para resolver em Dublin e acabei decidindo ficar alguns dias com vocês aqui em Limerick. E, respondendo sua primeira pergunta, cheguei agora porque só consegui um voo para esse horário. Acredite em mim, também não estou muito feliz de estar acordada a essa hora. — Entrou na casa enquanto falava. Largou a mala ao lado do sofá e se jogou em uma das poltronas de linho.


Sheila fitou Amethyst, a analisando. Nos sete meses desde a última vez em que a viu pessoalmente, a única coisa que mudara nela, fisicamente, foi o comprimento de seus cabelos. Agora eles batiam na metade das costas, parecendo uma belíssima cortina de seda negra, que contrastava com sua pele alva e combinava perfeitamente com seus olhos azuis.


— Cadê a Skye? — A recém-chegada finalmente indagou, sentindo falta de mais alguém gritando com ela por ter chegado tão cedo.


— Dormindo. — Sheila respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


Amethyst revirou os olhos, Skylar tinha o sono muito pesado. Levantou-se e se foi em direção à escada, pretendendo ir ao quarto da mesma para acordá-la.


— Onde você está indo?


— Acordar a vadia preguiçosa, preciso falar com ela. — O “carinho” que tinha em relação á irmã do meio era evidente.


— Você está louca? Sabe que ela fica furiosa quando a acordam antes das sete! — Sheila falou antes que ela chegasse às escadas. Sete horas era o horário que Skylar acordava para se arrumar para o trabalho.


— São vinte pras sete, que diferença alguns minutos podem fazer? — Continuou seu caminho, deixando Sheila e seus alertas para trás.


Quando chegou ao quarto, Amy paralisou na soleira da porta, embasbacada com a bagunça.


Roupas jogadas no chão, latas de cerveja vazias por todo lado, papeis espalhados pela escrivaninha, o cinzeiro em cima do criado transbordando cinzas e bitucas de cigarro...


Era em momentos como aquele que achava que a irmã do meio havia sido trocada na maternidade. Não podia ela, Amethyst Cheryl Dzerjinsky, organizada do jeito que era, ser parente de uma porca como Skye.


Foi em direção à janela e abriu as cortinas blecaute, permitindo que os raios solares adentrassem o cômodo e fossem direto nos olhos da “bela adormecida”. Não demorou para que ela acordasse.


— Bom dia flor do dia!— Amethyst ironizou, com um sorriso extravagantemente falso em seus finos lábios pintados de rosa escuro.


— Amy? — Skylar sentou-se na beirada da cama, esfregando os olhos. — O quê diabos você está fazendo aqui?


— É assim que sou recebida na casa da minha própria irmã?


— Quando aparece de surpresa e a acorda, sim!


— Para de drama, Rose!


Skylar trincou os dentes, odiava ser chamada pelo nome do meio.


— Sai daqui e me deixa dormir! — Deitou-se novamente, cobrindo a cabeça com o edredom verde musgo.


— Nem pensar! — Amethyst puxou o edredom violentamente.


— Amy!— protestou.


— Levanta! — ordenou. — Temos que conversar.


— Sobre...? — Skylar levantou o corpo, sentando-se novamente.


— Você vai saber na hora. Qual é o seu horário de almoço?


— Seja lá o que for, não podemos conversar agora? — indagou, sem disfarçar o desdém.


— Não. Você tem que trabalhar em uma hora e Sheila está em casa. É o tipo de assunto que precisa de tempo e privacidade.


Skylar bufou, Amethyst era sistemática.


— Do meio dia à uma da tarde. — respondeu a contragosto. Não queria deixar de almoçar com Mark para ver Amy.


— A Sheila almoça em casa?


— Raramente.


— Ótimo, quando der o seu horário de almoço, venha para cá o mais rápido possível. Agora vá se arrumar se não quiser chegar atrasada. — Assim que terminou de falar, saiu do quarto, indo rumo à cozinha.


Skye revirou os olhos. Amy tinha a mania irritante de querer mandar em tudo.


(...)


 Quando entrou na cozinha, Sheila, ainda de pijamas, estava sentada sobre a bancada de granito comendo torradas e tomando suco de laranja. Amethyst fingiu não ter visto a cena, nem se daria ao trabalho de repreende-la por se comportar como uma macaquinha. A convivência com Skylar havia estragado-a.


 Pegou um copo no armário, foi até a jarra de suco e o encheu.


 — Como vão as crianças? — Sheila lhe questionou distraidamente enquanto pegava mais uma torrada.


 — Estão bem. — Amy respondeu sem saber ao certo, visto que mal havia visto os filhos no último mês por conta das viagens de trabalho. — Não vai perguntar sobre o Dmitry? — Quis saber, já que eles eram bem próximos.


 — Não preciso, ele me ligou segunda-feira. — explicou. — Quando você volta para Moscou?


 — Domingo. Mal cheguei e já está querendo se livrar de mim, irmãzinha?— perguntou em tom sarcástico.


— Eu não, mas a Skye eu tenho certeza. — Sheila segurou a risada enquanto falava. Quando estavam juntas Skylar e Amethyst passavam 80% do tempo brigando. Uma fazia de tudo para provocar a outra, pareciam crianças. — Vai ficar o dia inteiro aqui em casa sem fazer nada?


— Não fale como se você fosse fazer alguma coisa importante. Se não tivesse aula hoje, aposto que nem sairia do quarto.


— Ei! Tenho muitas coisas para fazer além da faculdade. — Indignou-se.


— Por exemplo...?


— Ir a uma festa hoje à noite, terminar com o meu namorado, procurar um emprego...


— Procurar um emprego? — Amy franziu o cenho. — Você não trabalhava em uma cafeteria?


Amethyst pensou em perguntar também sobre o afazer “terminar com o namorado”, já que nem sabia que Sheila estava namorando, mas mudou de ideia. Não adiantaria nada saber sobre o cara em que a irmã mais nova daria um pé na bunda em algumas horas.


 — Fui demitida semana passada.


 — Oh Deus! O que você fez? — indagou zangada, já prevendo que ela fizera besteira.


 — Talvez, apenas talvez, eu tenha saído no tapa com outra funcionaria.


 — Sheila...


— A culpa não foi minha! Foi ela quem começou. — defendeu-se.


— Eu duvido muito! Sheila Siobhan O’Flahertie, quantas vezes eu já te disse para...


— Shae, o que você ainda está fazendo de pijamas?! Vou sair em quinze minutos, se quiser carona é melhor correr! — Skylar interrompeu Amy ao adentrar a cozinha e gritar com a irmã mais nova.


— Ai caramba!— Sheila foi, literalmente, correndo para seu quarto.


Amethyst observou Skylar de cima a baixo. Ela usava uma blusa vermelha sem mangas, calça jeans, brincos de argola e sandálias de salto com estampa de cobra. Também carregava uma bolsa de couro preta.


— Você sabia que a Sheila foi despedida por brigar no trabalho?


— Sabia. — Skylar confirmou enquanto atravessava a cozinha para pegar um copo d’agua, sem prestar muita atenção em Amethyst.


— E o que você fez?


— Dei os parabéns. — respondeu com a maior naturalidade do mundo.


— Pelo o que? — Amethyst fitou Skylar confusa, não entendendo sua resposta.


— Por ter ganhado a briga.


A mais velha murmurou um “eu não acredito” antes de esbravejar:


— Qual é o seu problema?!


Skylar franziu o cenho.


— O que quer dizer?


— O que quero dizer? O que quero dizer é que você é a pessoa mais irresponsável e sem noção do mundo! Pelo o amor de Deus! O mínimo que deveria ter feito era repreendê-la por agir daquela maneira! Mas nãooo — gesticulava furiosamente. — Você a parabenizou.


Skylar largou o copo e a bolsa em cima da mesa de madeira. Foi aí que a gritaria começou:


— Você está de brincadeira, né?! Quantos anos você acha que a Shae tem?! Ela não é nenhuma criança para ficar recebendo sermão!


— Mas também não é nenhuma adulta!


— Me poupe Amy, você se casou quando tinha a idade dela!


— Cada caso é um caso. Ela não era desse jeito quando morava comigo!


— Pelo o amor de Deus, ela tinha onze anos, lógico que ela não era desse jeito!


— E teria continuado assim se não fosse pela sua má influência!


—Está sugerindo que a culpa é minha?!


— De quem mais seria? Você foi a principal responsável por ela nos últimos quatro anos!


 — Eu não acredito que você está falando isso! Eu fiz o melhor que pude! — Aumentou o tom da voz. —E sobre a Shae, eu sinceramente acho que ela já tem capacidade de julgar o que deve ou não fazer, e não sei se você se esqueceu, mas foi você que...


— Parem com isso vocês duas! — Sheila, já vestida e com a mochila nas costas, chegou gritando. — Será que vocês não conseguem ficar dez minutos sem discutirem?!


Um silêncio incômodo se estabeleceu até que Skylar pronunciou-se:


— Vamos, Shae. — Pegou a bolsa e seguiu rumo à garagem, sendo seguida pela mais nova.


Amethyst respirou fundo, aquelas brigas eram preocupantemente comuns, não havia tido uma visita a Limerick em que não se atracaram. Por mais que amasse Skylar, as duas nunca deram e nunca dariam certo.


(...)


— Sabe Shae, eu ainda quero saber sobre a história do Logan. — Sheila desviou seus olhos castanhos de suas batatas fritas para Ethan, estavam almoçando em um McDonald’s perto da universidade.


Surpreendeu-se com a requisição do amigo, achou que ele havia esquecido o assunto, mas, pelo visto, estava redondamente enganada. Respirou fundo, dessa vez não teria escapatória. Contou-lhe tudo que havia acontecido entre ela e Logan Hartley há quase três meses.


Na noite da festa de Aaron, Sheila e Vincent tiveram uma briga feia. Vince não queria ir à festa, até ai tudo bem, o problema foi que ele não queria que ela fosse sem ele. O pau quebrou e no final Shae acabou indo só para implicar.


Coincidentemente, Logan também havia brigado com Charlotte. Nem ele sabia ao certo o quê havia levado à discussão, uma hora estavam falando sobre o novo filme do Batman e na outra estavam aos berros. Como resultado, apenas ele acabou indo ao aniversário.


Já na festa, Logan acidentalmente derramou cerveja na blusa de Sheila e, para tentar se livrar da culpa, a acompanhou até a lavanderia para ajudá-la a retirar a mancha. Mesmo após constatarem que a roupa não tinha salvação, ainda ficaram horas conversando.


Antes de namorar Charlotte, Logan e Sheila tiveram um rolo. As brigas com os respectivos namorados, somadas a nostalgia e alguns copos de cerveja tomados mais cedo, fez com que acabassem se beijando. Uma coisa levou a outra e, no final da noite, eles acabaram na casa e no quarto de Logan fazendo coisas que não deveriam.


Na manhã seguinte, após combinarem de esquecer o ocorrido, tomaram café em uma lanchonete qualquer, foram ao cinema ver o filme do Batman e voltaram para suas respectivas casas. Como se realmente nada tivesse acontecido.


Depois de Sheila terminar de contar, Ethan ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar:


— Traidora maldita! Havíamos combinado de ver o filme do Batman na casa do Nate quando saísse em DVD.


Sheila começou a rir.


— Acha isso engraçado, O’Flahertie? O nosso amiguinho loiro de olhos verdes sensuais vai ficar arrasado. — Tentou manter o tom de falsa seriedade, mas acabou caindo na risada também.


Quem olhasse em direção a mesa perto da janela ao lado da máquina de refrigerante, veria uma garota de cabelos castanhos claros e um rapaz alto, de ombros largos e cabelos negros quase na altura aos ombros rindo escandalosamente.


Passados alguns minutos, já recuperado da crise de risos, Ethan começou uma série de questionamentos:


— O Nate sabe?


— Como que eu ia contar se ele já encomendou o DVD na pré-venda?


— Estou falando do Logan.


— Isso eu contei para ele.


— Por que você contou pro Nathaniel e para mim não? — Indignou-se.


— Você me contou sobre a Esther? — Ethan desviou o olhar. — Não né? Então não reclama, amorzinho. — ironizou.


— Mas você não sabia que eu estava escondendo alguma coisa.— Tentou argumentar.


Ethan decidiu ignorar aquilo e continuar com as perguntas ao receber um olhar fuzilante da amiga.


— Como que todo mundo ficou sabendo sobre você e o Logan?


— Não fizemos muita questão de ser discretos, saímos da casa do Aaron praticamente agarrados. Para os que viram, não foi muito difícil deduzir o que aconteceu.


— O que você vai fazer em relação ao meu irmão? Não estou falando isso só por causa do Logan. Você e Vince parecem aqueles casais que estão casados há anos e não conseguem mais nem olhar na cara um do outro que já ficam enjoados.


— Eu ia me encontrar com ele hoje à tarde para terminar, mas ele me mandou uma mensagem cancelando. Deve ter arranjado alguma coisa mais interessante para fazer — Sheila sugeriu com irritação.


Ethan estreitou os olhos.


— Por que diz isso?


— Mês passado, achei uma calcinha no bolso da jaqueta do seu irmão. Ou ele me traiu ou atende pelo nome de guerra Claudette Cabulosa. — O moreno fitou-a seriamente.


— Vince não te traiu, Shae. — Ela olhou-o confusa, perguntando-se como ele sabia daquilo. — Ele perdeu uma aposta para um dos amigos dele e teve que ir ao Flannery’s Bar* vestido de mulher. A calcinha fazia parte do pacote. — explicou. — Esse amigo dele tem fotos para comprovar o acontecimento. Posso conseguir uma se você quiser.


Sheila ficou em silêncio, processando o que amigo e futuro ex-cunhado acabara de lhe contar. Constatou, pesarosamente, que seu relacionamento com Vincent era mais raso do que imaginara.


Por que ele não lhe contou sobre essa brincadeira? Com certeza teriam dado muitas risadas juntos por causa disso.


Ou será que contou e ela não prestou atenção?


Sentiu uma pontada de remorso. Passou semanas pensando coisas ruins sobre ele sendo que, no final, fora ela que sacaneara com tudo.


— Refletindo sobre seus pecados? — Ethan zombou ao mesmo tempo em que levava a lata de refrigerante à boca.


— Sim. Também estou pensando sobre a vaca que eu sou.


— Bem-vinda ao clube! — Levantou a latinha como se estivesse fazendo um brinde. Apesar do ato alegre, não era difícil perceber certa amargura em sua voz.


O assunto se encerrou por ali. Após terem terminado de comer e jogar conversar fora, Ethan foi para a faculdade, pois teria aula de Linguagem Jurídica em dez minutos e Sheila foi deixar seu currículo em um restaurante chamado Reagan’s.


Quase chegando ao estabelecimento, aproveitou o reflexo de uma vitrine para prender o cabelo, estava ventando muito e como resultado seu cabelo ficou uma bagunça. Usava um vestido cor-de-rosa florido e salto plataforma com tiras de couro marrom. Esse tipo de roupa não fazia muito seu estilo, mas dava-lhe uma aparência de boa moça e não de garota que fora demitida por arrumar confusão com uma colega de trabalho.


Após ficar satisfeita com seu rabo de cavalo improvisado, ajeitou a mochila nos ombros e caminhou o que faltava para chegar ao Reagan’s.


(...)


— Emma, Eileen ou Sinead? — Connor perguntou animado aos outros ocupantes da mesa, Scott e Ray. Estava falando sobre qual era a funcionaria mais bonita do Reagan’s.


— Mia— Scott respondeu imediatamente. Scott Reagan era dono do Reagan’s e noivo de Mia, a cozinheira. 


— Beleza então, vamos falar do traseiro da Mia! — A provocação de Connor quase lhe custou um olho roxo. Se Ray não tivesse segurado Scott, teria tomado um murro daqueles.


— Calma aê, bro! Se não quer que ninguém fale nada, então não toque no assunto. — Levou o copo de cerveja a boca e quase cuspiu tudo ao receber um tapa forte de Ray na nuca.


— Da próxima vez que falar alguma coisa da Mia, quem vai te bater sou eu! — Ray ameaçou, Mia era quase uma irmã para ele e não gostava de ouvir esse tipo de comentário a seu respeito. Ainda mais vindo de alguém como Connor.


Considerava-o cara mais cínico e mau-caráter que já tivera desgosto de conhecer. O único motivo para aturá-lo era porque Connor era primo de Scott e morava com o mesmo desde que se mudou para Limerick. Connor disse à Scott que ficaria com ele até ter dinheiro suficiente para alugar um apartamento.


Já havia se passado um ano e Ray duvidava que Connor tivesse chegado, sequer, perto de uma imobiliária. Dinheiro ele tinha, porque encher a cara com uísque até capotar todos os fins de semana não era barato. Se fosse Scott, já teria posto o primo vagabundo na rua há muito tempo.


— Essa pergunta tinha um objetivo nobre! Queria saber qual das três teria a honra de ir comigo ao casamento do meu amado primo. — justificou-se. — Mas acabei de decidir que é bem melhor ir sozinho e traçar uma das madrinhas.


Ray arqueou uma sobrancelha, admirado com a estupidez do “amigo”. Conhecia todas as madrinhas e duvidava muito que fossem desesperadas a ponto de ir para cama com um babaca feito Connor.


— Quero saber de você Ray. Vai levar alguém? — Connor questionou interessado.


— Não sei. — respondeu-lhe seco. Na verdade, estava pensando em levar Lena, uma mulher com quem estava saindo, mas não queria dar informações ao parasita.


— Eu posso arrumar alguém para você se quiser, conheço várias gatas.


Ray não sabia se ria dele por estar se achando a última bolacha do pacote ou se lhe dava um soco no meio da fuça para parar de encher o saco. Optou por ignorar as duas—maravilhosas, diga-se de passagem— opções e ser “educado”:


— Não preciso. — Tomou um gole de cerveja.


— Qual é, Raymond! Apenas me diga, por curiosidade, qual tipo de garota você levaria?


— Não te interessa, Connor.


— Larga de ser chato! Escolhe uma mulher aqui do restaurante mesmo, só para eu saber. — insistiu infantilmente, ignorando a cara de poucos amigos de Ray.


Ray recebeu de Scott um olhar que parecia dizer “ele não vai parar de te encher o saco enquanto não escolher uma”. Respirou fundo, não queria fazer aquilo, mas naquele momento faria qualquer coisa para o parasita calar a boca.


Deu uma olhada no restaurante lotado, não achando ninguém que considerasse interessante, até que viu duas garotas entrarem no estabelecimento. Uma ruiva com um macacão jeans e uma morena de rabo de cavalo e vestido cor-de-rosa com uma parte florida.


A ruiva sentou-se em uma mesa qualquer e a morena abordou uma das garçonetes, Eileen, que, após um pequeno diálogo, fez sinal para que Scott fosse até elas. Ele levantou-se e caminhou em direção as duas, falou alguma coisa com a morena e ela seguiu-o até sua sala.


— A ruiva que acabou de entrar. — escolheu.


Connor a analisou por alguns segundos antes de falar:


— Eu tinha certeza que você escolheria alguém assim! Você tem fetiche por ruivas, Raymond Kavanaugh.


— Se estava tão certo disso, então por que perguntou?— Fez questão de ser curto e grosso.


Não negara, entretanto, a afirmação de Connor sobre sua relação com mulheres de cabelo vermelho. Não era realmente um fetiche e sim uma questão de gosto. Questão essa que o fizera ser motivo de chacota para seus amigos, pois todas, absolutamente todas, as mulheres com quem teve algum tipo de relação amorosa eram ruivas, naturais ou não.


A porta da sala de Scott se abriu minutos depois e dela saíram o proprietário e a garota de rabo de cavalo, que se despediu com um sorriso e antes de ir embora. Scott retornou a mesa onde se encontrava o primo e o melhor amigo, se juntando à conversa de Connor— ou monólogo, já que Ray nem estava prestando atenção— sobre o campeonato de rúgbi.


(...)


— Bem... Por onde começo?


Skylar bufou irritada, só queria ter a aquela conversa sobre “sei lá o que” e voltar ao trabalho. Entretando, Amethyst aparentava não estar com tanta pressa.


As duas estavam na sala de estar, Skylar em uma poltrona cor de areia e Amethyst em um sofá bege com uma enorme mancha de vinho (resquício da última festa de aniversário de Skye). A mais velha respirou fundo, sabendo que era um assunto difícil, antes de começar:


— Anthony Hancox me ligou essa semana, estava à sua procura. — O clima na sala ficou repentinamente pesado e Skye sentiu o ar fugir de seus pulmões. — Não me disse do que se tratava, mas parecia ser importante. Ele me pediu para que a convencesse a entrar em contato com ele e Nora o mais rápido possível. — continuou cautelosamente.


Skylar apenas tirou um cigarro de sua bolsa e o acendeu, continuando em silêncio. Ela fumava desde os 14, mas Amethyst sabia que quando ela puxava um cigarro assim, de repente, era porque estava nervosa. Odiava faze-la se sentir daquela maneira, mas tinha que insistir. Sentia que alguma coisa estava errada.


— E então? — Amy indagou após um longo e constrangedor silêncio.


Skylar soltou a fumaça pela boca e respondeu categoricamente:


— Não vou ligar para eles, temos um acordo.


— Nem se isso tiver relação com...


— Não.


— E se for algo realmente importante?


— Não interessa! Independente do que acontecer, é problema deles, eu não tenho mais nada a ver com isso.


— Não vai nem pensar a respeito? — insistiu.


— Eu já disse que não, Amy! — explodiu. — Você sabe muito bem o que significa para mim entrar em contato com aquela família. Que saco! Parece até que você quer me ver mal!


Apagou o cigarro em um cinzeiro na mesinha de centro, pegou sua bolsa, que estava largada ao lado da poltrona, e saiu pisando duro. Amethyst a segurou pelo braço antes que chegasse à porta de entrada.


— Me desculpe, não tive intenção de fazer você lembrar o que não queria. — esclareceu.


— Serio? — zombou. — Porque parece que essa foi exatamente a sua intenção.


Desvencilhou-se do aperto da irmã e saiu da casa batendo a porta de entrada com força. Amethyst saiu atrás dela e gritou, antes que Skye entrasse em seu carro vermelho, estacionado em frente a casa.


— Me deixe te perguntar só mais uma coisa. — Skylar não parou para escuta-la, o que forçou Amethyst a gritar sua próxima fala. — O Mark sabe disso?


Skylar paralisou por alguns segundos antes de entrar no veículo e dar partida. Nesse momento a mais velha soube.


Mark não sabia de nada.


Aquilo seria um problema. Segredos sempre vinham à tona, não importando os quão bem guardados sejam.


 


*É um pub e um ponto turístico tradicional de Limerick.


 



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Autor(a): Lilie

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Capítulo 3- Lugar certo, hora certa. Sexta-feira, 01 de Agosto de 2008. Jovens animados em uma longa fila que chegava a dobrar o quarteirão, trânsito caótico e vários carros estacionados na rua. Essa era a paisagem da rua onde se localizava uma das boates mais famosas de Limerick: o Corrach Mad. O estabelecimento nunca estivera tão ...


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