Fanfics Brasil - Lugar certo, hora certa Vínculos

Fanfic: Vínculos | Tema: Original


Capítulo: Lugar certo, hora certa

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Capítulo 3- Lugar certo, hora certa.


Sexta-feira, 01 de Agosto de 2008.


Jovens animados em uma longa fila que chegava a dobrar o quarteirão, trânsito caótico e vários carros estacionados na rua. Essa era a paisagem da rua onde se localizava uma das boates mais famosas de Limerick: o Corrach Mad.


O estabelecimento nunca estivera tão lotado quanto aquela noite. O dono estava rindo à toa, fechar a boate para reformas e anunciar uma super festa de reinauguração havia sido, mesmo que involuntariamente, a melhor estratégia de marketing já feita.


Em meio à euforia, uma figura desanimada se destacava.


Esfregando as mãos nos braços cobertos pela manga longa da blusa roxa rendada numa falha tentativa de se aquecer, Juliet desejava mais do que nunca estar em casa enrolada no edredom e assistindo a seus DVDs de Seinfeld pela milésima vez.


E há duas horas, era exatamente isso que estava se preparando para fazer.


Já tinha colocado seu velho pijama cor-de-rosa, estourado a pipoca e feito uma jarra de suco quando Esther apareceu do nada lhe implorando para acompanha-la ao Corrach Mad, pois Brittany estava doente e ela não queria ir sozinha. Acabou optando por aceitar o pedido da prima— era isso ou ter que aguentar a encheção de saco a noite inteira.


Agora estava há mais de meia hora em uma fila gigantesca escutando Esther falar com Brittany ao telefone, uma simples ligadinha para ver como a melhor amiga estava acabou se transformando em um telefonema de vinte minutos. Enquanto Juliet se distraia em pensamentos sobre o valor da conta telefônica de Esther, duas pessoas se aproximaram. Inicialmente não deu muita atenção aos recém-chegados, mas ao perceber que a prima encerrara a ligação para cumprimenta-los, resolveu reparar neles.


Era um casal. O rapaz era loiro, alto, de pele levemente bronzeada, rosto redondo e feições descontraídas vestindo uma calça jeans clara e uma camisa polo branca. A moça era baixinha, de pele clara, cabelo castanho-claro ondulado, rosto curto, usando um vestido preto brilhante que ia até metade das coxas, salto alto preto, brincos de argola prateados e pulseiras também da cor prata brilhantes.


Esther abraçou o garoto e sorriu forçadamente para a garota, que a retribuiu com o mesmo sorriso ridiculamente falso. Logo em seguida ela apresentou Juliet a eles:


— Esta é a minha prima Juliet. Eu já te falei dela, Nate.


— Ah sim! — Lembrara-se vagamente de certa menção de Esther a uma prima distante vinda dos EUA. Deu um sorriso colgate e estendeu-lhe a mão. — Prazer, Nate.


Juliet não disse nada, apenas sorriu e retribuiu o aperto de mão timidamente.


— Sheila. — A morena de vestido preto apresentou-se sorrindo, porém dessa vez era um sorriso verdadeiro.


— Acho melhor vocês irem para o final da fila antes que fique impossível entrar na boate até o fim da noite. — Esther aconselhou. Sheila abriu a boca para falar alguma coisa, mas quem respondera fora Nate:


— Não precisa se preocupar Rapunzel, o Ethan está guardando lugar ‘pra’ gente. — Um arrepio subiu pela coluna de Esther com a menção daquele homem. Teria que pensar em uma maneira de ficar ao lado de Nate sem ter contato com Ethan, falaria com Nate àquela noite, decidira dar uma chance ao loiro. Não acreditara que havia perdido tanto tempo de sua vida correndo atrás de um cara que não a queria, mesmo alguém maravilhoso ao seu lado.


— Por falar no Ethan... É melhor a gente ir, ele já deve ‘tá’ impaciente. — Sheila segurou a mão de Nate e a puxou sutilmente, começando a andar.


— Vejo vocês mais tarde. — O loiro acenou com a mão livre.


— Eles formam um belo casal. — Juliet comentou assim que eles se afastaram.


— Eles não namoram. — notou que Esther parecia um tanto quanto ofendida— São apenas amigos.


— Ele está solteiro então? — Juliet perguntou com certo interesse, não podia negar que o achara uma gracinha. Esther sorriu maliciosamente.


— Não por muito tempo...


(...)


— Você esta bem, Skye?


— Por que não estaria?


— Sei lá, é só que você anda muito pensativa e... — Antes que Mark pudesse terminar sua explicação, sentiu os lábios de Skylar cobrindo os seus. Logo ela começou a fazer uma trilha de beijos em seu pescoço, fazendo-o esquecer de tudo.


O som agudo do interfone soou pelo apartamento, indicando que a pizza que pediram há mais de duas horas finalmente chegara. Depois da primeira hora de espera o casal resolveu ir para o quarto fazer coisas mais interessantes até que a entrega fosse feita.


Skye, desejando que o entregador fosse para o inferno, parou o que estava fazendo e deu espaço para que Mark se levantasse da cama. Ele catou uma calça jeans do chão e vestiu-a rapidamente enquanto ouvia o interfone soar pela terceira vez.


Enquanto seu noivo descia para a portaria pegar a pizza, Skylar checou seu celular a procura de alguma notificação. Não sabia explicar o porquê, mas desde que Amethyst lhe contara que Anthony Hancox estava a sua procura, tinha a incômoda impressão de que ele conseguiria contata-la a qualquer hora, seja por mensagens, telefonemas, cartas, ou o pior: pessoalmente.


Só de pensar nessa possibilidade sentia vontade de vomitar. Rever Anthony ou sua esposa, Nora, a faria se lembrar de algo que desejava esquecer com todas as suas forças. Algo esse que, mesmo sendo devastador, deu-lhe forças para mudar a vida miserável que tinha há dez anos.


Seu coração quase saiu pela boca ao ver dois avisos de “nova mensagem” brilhando na tela do aparelho. Abriu-as hesitante e suspirou aliviada ao constatar que as duas mensagens eram “seguras”, uma era referente à contratação do Buffet para o casamento e a outra era de Amethyst. Apagou a mensagem da irmã sem nem mesmo ler, desde a discussão de mais cedo não estava nem um pouco a fim de falar com ela. Esse era o motivo pelo qual passaria a noite no apartamento de Mark.


Levantou-se da cama preguiçosamente ao ouvir o som da porta de entrada abrindo, indicando o retorno de Mark. Vestiu uma camiseta velha do noivo, que em seu corpo parecia mais um vestido indecente, e foi para a cozinha.


O loiro já estava no segundo pedaço quando Skylar adentrou a cozinha, ele atacara a pizza de calabresa ainda no elevador. Há alguns meses ele teria recorrido à boa e velha etiqueta e esperaria ela chegar à mesa antes de começar a comer. A mulher sabia que essa mudança de comportamento acontecera graças a sua (não tão boa) influência, no fundo sentia-se orgulhosa disso.


— Vai me contar ou não? — O Thatcher perguntou um tempinho depois, quando a pizza estava quase acabada.


Skylar terminou de mastigar e respondeu:


— Do que você ‘tá’ falando?


— Do por que de você estar passando a noite aqui.


— Eu já te expliquei Mark, eu briguei com a Amy e quero ficar longe dela até ela ir embora no domingo. Se não quisesse que eu aparecesse de surpresa, então por que me deu uma cópia das chaves?


— Eu não disse isso! Não me entenda mal, adoro ter você aqui, só estou curioso. Você e a Amethyst vivem brigando e você nunca ficou tão brava com ela, pelo menos não a ponto de sair da sua própria casa só para não vê-la. Qual foi o motivo dessa briga, Skye? Estou preocupado com você.


Skylar sentiu um aperto incômodo em seu peito, odiava ter que mentir para Mark, odiava ter que esconder todas aquelas coisas dele, mas não tinha outra escolha. Ela não conseguiria contar aquilo para ele, pelo menos não em um futuro próximo.


— Foi sobre a mamãe. — Sua voz tremulou. Não gostava de falar da mãe, quanto mais usa-la para uma mentira, mas aquela era a única história convincente que veio a sua cabeça. — Não me pergunte mais nada, por favor. Não quero me lembrar das coisas que eu e a Amy dissemos.


Mark a abraçou e depositou um beijo singelo em sua testa. Sofia, a mãe das irmãs O’Flahertie, era uma tabu entre elas. Pode perceber isso nas poucas vezes que Skylar lhe falara sobre a mãe.


— Quer ver American Pie? — Sugeriu na tentativa de distrai-la, sentia-se mal por fazê-la tocar no assunto.


— Como você sabe que está passando na tevê agora?


— Não sei, mas se não tiver eu vou a uma locadora — American Pie era o filme de comédia favorito de Skye, se aquilo não a anima-se nada mais o faria.


— Às onze da noite?


— Iria até se fosse três da madrugada. Faço de tudo por você, futura Sra. Thatcher.


Jogou os braços em volta do pescoço de Mark e o beijou.


Oh Deus, como amava aquele homem.


(...)


Nathaniel precisava prender o ar e comprimir a barriga para conseguir passar entre as centenas de corpos dançantes no interior da boate, sentia-se preso em uma enorme lata de sardinhas. Já passava de duas da manhã e a essa altura do campeonato 90% dos ocupantes da festa estavam pra lá de Bagdá.


Em meio à multidão, conseguiu avistar Logan e Sheila se agarrando como se não houvesse amanhã, não precisava ser nenhum gênio para saber que aquilo não ia prestar. Sentiu uma súbita vontade de ir até a amiga, arrasta-la até sua casa e afoga-la em um balde com água gelada para ver se ela parava de fazer besteira. Ela nem sequer havia terminado com Vince, pelo menos não oficialmente, e já estava aos beijos com outro? Onde estava o arrependimento dela?


Nate faria questão de dar-lhe um belíssimo sermão assim que tivesse oportunidade. Por pior que fosse o relacionamento deles, a morena não deveria sair por ai agindo como se fosse solteira.


A música "Baby Got Back" começou a tocar, levando todos a loucura. Nate acabou sendo empurrado pelos bêbados saltitantes, e quando se deu conta já estava perto do bar, onde um aglomerado de pessoas aguardava a próxima rodada de bebidas.


Deu uma olhada ao redor na tentativa de se localizar, já fora muitas vezes ao Corrach Mad junto de Ethan e Sheila. Antes da reforma, conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Agora o estabelecimento estava com o dobro de seu tamanho original e várias coisas — como banheiros, bares, etc.— trocaram de lugar, fazendo-o sentir-se completamente perdido.


Acabou vendo outra pessoa que merecia um mergulho no balde de água gelada. Ethan estava dançando na maior intimidade com Michelle Foster, namorada de Darragh O’Hale, o brutamontes — nas palavras de Faith — que acertara Aaron com o taco de hurling. Se Darragh visse aquela cena, Ethan teria sua estrutura óssea virada do avesso.


Pelo visto seus melhores amigos tiraram a noite para fazer merda.


Enquanto pensava se devia ou não ir até o amigo e afasta-lo de Michelle, evitando assim futuros desastres, viu uma garota de cabelos negros com uma blusa roxa e saia bandage preta tentando se afastar de um cara que a paquerava. Reconheceu-a imediatamente e decidiu ajuda-la.


Foi até a garota e passou um dos braços ao redor de sua cintura, puxando-a para si.


— Desculpa aí cara, ela ‘tá’ comigo. — O rapaz fez cara de poucos amigos e saiu andando, misturando-se a multidão.


— Obrigada, Nathan — Juliet, que ficou surpresa com a chegada repentina de Nate, agradeceu-o após o mesmo a soltar.


— Não há de que, e é Nate. — corrigiu.


— Me desculpe, não sou muito boa com nomes — Sorriu envergonhada.


— Não tem problema, você quase acertou. — Riu. — Cadê a Esther? Vocês não vieram juntas?


— Eu meio que me perdi dela. — falou sem jeito, se achando parecida com uma criança que se perde da mãe em um parque de diversões.


— Eu também me perdi dos meus amigos. Separamo-nos por um minuto e depois não os vi mais. — Era mais fácil omitir alguns detalhes do que explicar que encontrou os dois fazendo coisas que não deviam.


Uma mulher deixou seu copo de cerveja cair no chão, fazendo com que parte do conteúdo molhasse os sapatos de salto de Juliet. Ao mesmo tempo, um cara tonto quase caiu em cima de Nate.


— Droga!


— Vamos sair daqui, segura a minha mão. — pediu.


Nate a conduziu até uma porta nos fundos da boate que levava a área de fumantes, o único local do estabelecimento que não mudara de lugar. Havia poucas pessoas no local, contrastando com o ambiente interno.


Juliet respirou fundo, aliviada por finalmente ter saído do meio daquela maluquice.


— Eu e meus amigos sempre vínhamos para cá quando ficava insuportavelmente cheio lá dentro. — O loiro explicou. — Você não tem cara de quem gosta de festas deste tipo, estou certo?


— Está sim, só vim para acompanhar a Esther.


— Vocês parecem ser muito amigas.


— Não muito na verdade, ela só me chamou porque a Britney ficou doente. — Nate começou a rir. — O que foi?


— É Brittany.


— Eu te disse que sou ruim com nomes, não disse? — Brincou.


(...)


— Me solta, Vince!


O que Sheila menos esperava aconteceu: Vince, que sempre odiou festas, apareceu de surpresa no Corrach Mad e flagrou ela e Logan juntos. Furioso, ele a agarrou pelo braço e a arrastou para fora da boate sem a menor cerimônia. A confusão fora tão de repente que Logan demorara alguns segundos para associar o que diabos tinha acontecido antes de sair correndo que nem louco atrás deles.


— Solta ela, cacete! — O Hartley ordenou zangado ao alcança-los. Vince parou de andar, virou o corpo e o encarou.


Por um momento, Logan assustou-se com a incrível semelhança que ele tinha com Ethan, aquela era a primeira vez em que via o tão “famoso” Vincent Theodore Harvey. As únicas diferenças entre os dois era que Vince era mais baixo, tinha o rosto mais fino e mantinha os cabelos curtos, perguntou-se como Sheila conseguia namorar um cara tão parecido com seu melhor amigo.


— Cala a boca e volta para dentro, antes que eu perca a paciência que eu não tenho e quebre a tua cara. — ameaçou.


— Quebrar a minha cara? Até parece! — provocou.


Vicent empurrou Sheila violentamente para o lado, fazendo-a cair no chão, e avançou em direção a Logan, dando-lhe um belo murro no maxilar.


— Isso é para você aprender a largar de ser arrogante, seu... — Vince foi bruscamente tirado de sua vangloriação por um soco no estômago.


(...)


Se Ray soubesse que a noite seria daquele jeito, nem teria se dado ao trabalho de sair de sua humilde residência.


Seu encontro com Lena fora um perfeito desastre. Primeiro, ficaram uma hora na fila do restaurante, pois o funcionário responsável se atrapalhara com as reservas, deixando-os sem mesa. Depois, Lena lhe dera a notícia de que ela se mudaria para Galway dentro de um mês. Nenhum dos dois estava a fim de tentar um relacionamento à distância, então resolveram terminar de uma vez antes que acabassem se apegando, o que tornaria a ida mais difícil.


Seu carro fora rebocado por estacionar em local indevido e ele ficou na delegacia até de madrugada tentando liberar o veiculo, o que não conseguiu. Como complementos para sua noite “maravilhosa”, não conseguiu pegar nenhum taxi — todos estavam ocupados por conta de uma festa na região — e teria que andar seis quarteirões até a estação de metrô mais próxima.


Apressou o passo à medida que se aproximava de seu destino, com a intenção de evitar contratempos. Sua noite já estava horrível, não queria correr o risco de piora-la.


Mas como desgraça pouca é bobagem...


No penúltimo quarteirão antes da estação, ouviu uma garota gritando e vozes masculinas exaltadas vindas de uma rua a sua esquerda. Ray tinha duas opções:


1ª- Ir até lá e ver o que estava acontecendo.


2ª- Simplesmente ignorar e continuar seu caminho.


Estava tentado a escolher a segunda quando voltou a ouvir os gritos femininos, escolheu a primeira opção, preocupado com a dona da voz. E se ela estivesse sendo agredida? Ou violentada?


Ao chegar ao local, uma praça ainda em construção, faltando apenas às plantas e os clássicos bancos de madeira, próxima a uma boate, viu a cena causadora de tanto estardalhaço: dois caras rolando no chão em meio a socos e uma garota desesperada tentando, sem sucesso, separa-los.


Tinha duas opções:


1ª- Tentar separar a briga — o que era insano, pois não conhecia os envolvidos e poderia acabar sobrando para ele.


2ª- Simplesmente ignorar e continuar seu caminho.


Antes de decidir qualquer coisa, prestou atenção na moça. Ela estava descabelada, com a maquiagem escorrida e gritava com os homens. Era a imagem do desespero.


Podia muito bem deixar dois marmanjos se arrebentarem até morrer, mas jamais poderia deixar uma mulher naquela situação.


E foi por isso que ele escolheu a primeira opção.


Correu em direção à garota, ela estava de costas e só percebeu sua presença quando ele colocou as mãos em seus ombros, afastando-a dos brigões.


— Vá até aquela boate e chame algum segurança. — pediu. Ela o fitou confusa.


Quem era aquele cara?


Por que ele estava tentando ajudar?


Poderia confiar nele?


Contar com um estranho não parecia uma boa ideia, mas teria que ignorar seu bom senso se quisesse ver os rapazes inteiros.


— Os seguranças já foram embora, procurei por eles assim que a briga começou. — explicou apressada.


— Mas já?! Que droga de boate é essa?! — Ray respirou fundo, aquilo estava ficando cada vez mais complicado. Seria bom ter a ajuda de alguém para separar os caras, afinal, ele não era nenhum lutador de vale tudo, mas pelo jeito não teria esse luxo, ia ter que separa-los sozinho. Só torcia para não levar algum soco perdido.


Os dois estavam tão entretidos praticando a agressão mutua que nem perceberam a aproximação repentina de Ray, pelo menos não até ele puxar um deles pela gola da camisa e afasta-lo. Ele cambaleou e caiu no chão.


— Logan! — A jovem foi correndo em direção ao cara que Ray jogou para o lado. O outro rapaz fez menção de ir para cima do tal Logan novamente, mas Ray segurou-o pelos braços.


— Quem é você? O que você acha que ‘ta’ fazendo? — O homem de cabelos negros e camisa verde se debateu na tentativa de se soltar, mas era inútil. Estava cansado e seu corpo inteiro doía.


— Estou poupando vocês dois de terem que ficar ainda mais tempo no hospital levando pontos. Acredite em mim cara, seja lá qual for o motivo, não vale a pena.


— Quer saber? Você tem razão. — O homem pareceu ter se acalmado, então Ray o soltou. Ele limpou um filete de sangue que escorria de seu lábio inferior e esbravejou. — Essa vagabunda não merece tudo isso!


A garota olhou em direção ao moreno, que mancava em direção a um Toyota Avensis preto. Ela fechou os olhos por alguns segundos, contendo algumas lágrimas que ameaçavam surgir. Não podia se sentir mal, não naquele momento.


Ray arregalou os olhos.


A garota era o motivo da briga?


Forçou-se a parar de pensar naquilo, não era de sua conta.


— Você está bem? — perguntou a Logan, que estava deitado no chão com a cabeça no colo da moça.


— Estou ótimo! — respondeu irritado.


— Não está não, Logan! Você tem um corte enorme na testa, sua mão esta machucada, seu olho roxo e o seu nariz esta parecendo um chafariz de sangue, sem contar que...que — Ela soltou um soluço e cobriu a face com as mãos, começando a chorar. — Me desculpa, Log! É tudo culpa minha! Eu devia ter resolvido as coisas com o Vince o quanto antes.


— Você devia ter feito isso mesmo! — O comentário áspero de Logan fez o sangue de Ray ferver.


Por Deus, a garota estava mal! Como que ele tinha coragem de falar com ela daquele jeito?


Ray agachou-se ao lado dela, ignorando completamente o babaca surrado em seu colo, e falou com o mesmo tom de voz que costumava usar com sua irmã mais nova quando a mesma estava triste:


— Ei, não fica assim não. — Fingiu não ter visto o olhar feio que Logan lhe lançou. — Você quer que eu te ajude a leva-lo para o hospital? Tem um há algumas quadras daqui...


— Eu não preciso disso! — Logan manifestou-se antes que ela fizesse, sequer, menção de responder. — Sou estudante de medicina, posso muito bem cuidar disso sozinho.


Ele se levantou com dificuldade, seu pulso direito parecia estar fraturado. Deu um seco “tchau” e foi embora, também mancando, como se nada tivesse acontecido.


Ray ficou de pé e estendeu a mão para a garota, que aceitou sem hesitar.


— Como você vai fazer para voltar para casa? Quero dizer, aquele idiota te largou aqui. — Ele quase fez um “facepalm” ao ver que os olhos da moça marejaram ainda mais.


Ele não podia ter sido um pouco mais delicado?


— Não precisa se preocupar, eu vim com uns amigos e não com ele. A propósito, é melhor eu voltar para dentro e procurar por eles. — Ela enxugou algumas lágrimas com as costas da mão e sorriu fracamente. — Obrigada, de verdade. Não sei o que aconteceria se você não tivesse aparecido.


— Não precisa agradecer, eu teria feito isso por qualquer um. — Era uma mentira deslavada. Se tivesse ouvido um homem gritar, e não uma mulher, ele teria continuado sua caminhada digna de pena até a estação de metrô sem o mínimo de remorso.


— Mesmo assim... Obrigada.


Ray fitou-a intensamente enquanto ela dava-lhe as costas e caminhava calmamente em direção à boate. Por mais estranho que aquilo pudesse parecer, aquela garota fora o ponto alto de sua noite miserável.


(...)


Quando Esther Lynn Mitchell adentrou a área de fumantes e viu os inconfundíveis cabelos loiro-claros de Nate ela quase levantou as mãos para o céu, agradecendo por finalmente ter o encontrado.


Quase.


Ela realmente teria feito isso se ele não estivesse no maior papo com Juliet.


Com Juliet, sua prima bicho do mato que evitava contato social ao máximo.


Bem, ao menos foi isso que Esther concluiu após uma semana convivendo com ela.


O problema não era a conversa em si, e sim o modo deles estarem conversando. Eles riam, gesticulavam. Isso além de estarem bem mais próximos do que deveriam — e não, não interessava para Esther se era por causa do som alto ou não. Quem visse Nate e Juliet daquela maneira, naquela intimidade toda, jamais adivinharia que eles se conheciam há apenas algumas horas. A Mitchell concluiu que tinha que fazer alguma coisa.


Ajeitou seu vestido bandage cor-de-rosa e foi até eles, andando como se fosse uma modelo na passarela. Surpreendeu-os dando um abraço de urso em Nate e outro em Juliet.


— Nate, Julie! Que bom que consegui achar vocês!


— Rapunzel! Divertiu-se muito hoje?


— Não muito, a Britt ficou doente e eu me perdi da minha priminha. — Apontou para a morena com o polegar.


— Me desculpe Esther, me distrai e...


— Não se preocupe com isso. É normal essas coisas acontecerem em lugares cheios como esse. — Juliet fora a única a sentir a aspereza escondida em meio às palavras tranquilizadoras da prima.


— Então você ficou sozinha a noite inteira?


— Não, fiquei com a Charlotte.


— McMahon?


— A própria. Porque a surpresa, Nate?


— Nada de mais, só não sabia que eram amigas. Vocês não parecem ter muito em comum. — Nate estava se referindo ao estilo gótico de Charlotte, que contrastava com o geek-patricinha de Esther.


— Não somos exatamente amigas, bem, pelo menos não até essa noite. Conheço-a de um semestre de enfermagem que cursamos juntas antes dela pedir transferência para História da Arte. E só porque sou uma CDF sem graça, como eu sei que a O’Flahertie e o Harvey gostam de me chamar, não significa que não me dê bem com a Lotie. — Brincou.


Nate sorriu amarelo, a brincadeira de Esther tinha um fundo de verdade. Ethan e Sheila não faziam a mínima questão de esconder que não iam com a cara da loira.


— Agora eu gostaria de saber como vocês dois acabaram juntos? — A loira perguntou curiosa.


— Nós nos esbarramos no meio da festa e começamos a conversar. — Juliet respondeu.


— E como lá dentro estava um porre, viemos para cá. — Nate completou.


— Há quanto tempo vocês estão aqui?


— Quase duas horas. — O loiro respondeu consultando o relógio de pulso.


— Bastante tempo, não? — Sorriu forçadamente.


— Que nada! — Nate sorriu de orelha a orelha. — Você devia ter me apresentado ela antes, Rapunzel. A Princesa aqui é muito gente boa! — Juliet corou com o comentário.


A Mitchell trincou os dentes.


Princesa?


Que palhaçada era aquela?!


— Nate! — Sheila apareceu do nada, andando o mais rápido que seu salto alto permitia. — Vamos embora.


— Shae? O quê que aconteceu com você? — Esther e Juliet queriam perguntar a mesma coisa.


O estado da recém-chegada era deplorável: olhos inchados, face vermelha, maquiagem escorrida, cabelo bagunçado, vestido amarrotado...


— Eu te explico no caminho. — Sua voz estava embargada.


— Já falou com o Ethan?


—Já, ele foi pegar o carro.


— Tchau meninas, vejo vocês no campus. — Se despediu.


Assim que Nate e Sheila deixaram o recinto, Esther se manifestou:


— O que será que aconteceu com ela?


— Não acho que seja da nossa conta, Esther. — A americana respondeu sem a intenção de “tirar” a prima. O que não adiantou muito, já que a mesma se sentiu ofendida.


— Por que o Nate te chama de princesa? — Mudou o assunto completamente, cuspindo as palavras com aspereza.


— Por causa da Julieta de Shakespeare. — Juliet explicou intimidada, não entendendo o motivo de a loira estar brava.


— Mas ela não era uma princesa.


— Foi isso que eu disse para o Nate, mas ele não quis saber, preferiu continuar me chamando assim.


— Que seja! Já ‘tá’ na hora de irmos. — Saiu andando na frente, sem fazer a mínima questão de esperar por Juliet.


Maldita seja a mania de Nathaniel James Cooley de colocar apelidos nos outros.



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Autor(a): Lilie

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Capítulo 4- Branco Quinta-feira, 07 de Agosto de 2008. Sheila estava furiosa. Sua maneira de andar, em passos rápidos e pesados, e o jeito como apertava uma das alças de sua mochila roxa evidenciavam isso. Ela visava deixar logo os domínios da universidade, porque se permanecesse mais tempo do que o necessário naquele lugar acabaria pula ...


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