Fanfics Brasil - Ponto alto Vínculos

Fanfic: Vínculos | Tema: Original


Capítulo: Ponto alto

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Capítulo 5- Ponto alto.


Quinta-feira, 7 de Agosto de 2008.


Nunca em toda a sua vida Ray fora protagonista de uma sequência de desastres e confusões como aquela da madrugada do último sábado, afinal, terminar um quase namoro, ter o carro rebocado e se meter numa briga de estranhos não era para qualquer um. Depois de tudo ele só queria se esquecer daquele começo desgracento de fim de semana e continuar vivendo normalmente, na expectativa de que nada parecido acontecesse de novo.


Com toda a correria do dia a dia — trabalho, academia, contas e multas para pagar, cachorro para levar ao veterinário, amigos loucos por causa dos preparativos do casamento, primo insuportável do melhor amigo enchendo o saco... — era de se esperar que uma semana fosse quase que o suficiente para que aquela madrugada caísse no esquecimento. E realmente teria sido... se não tivesse dado de cara com a garota que ajudou.


Ray demorou um pouco para reconhecê-la, ela estava muito diferente do dia em que a viu pela primeira vez, sua aparência estava bem mais saudável, por assim dizer. Sem maquiagem borrada, sem vestido amassado, sem face vermelha e, principalmente, sem cara de choro. O que viu foi uma garota com o cabelo ondulado castanho-claro levemente armado, rosto corado, pele clara, lábios carnudos realçados por um gloss e olhos castanho-alaranjados arregalados.


Pelo visto ele não foi o único a ficar surpreso...


Os dois estavam igualmente confusos: não sabiam se falavam alguma coisa ou se seguiam reto, ignorando-se simultaneamente.


Eles teriam passado horas olhando um para a cara do outro, paralisados e sem a mínima ideia de como agir, se uma mulher gordinha de lindas madeixas cor de mel não tivesse aparecido e cumprimentado Ray com um abraço de urso, cortando assim o clima estranho.


— O que você está fazendo aqui há essa hora? — indagou assim que o soltou.


— Eu... — gaguejou antes de se lembrar do porquê de estar ali. — Vim devolver o seu notebook, o meu já saiu do concerto. Fico te devendo uma, meu chefe teria me comido vivo se eu não tivesse terminado o relatório hoje. — entregou-lhe a mochila com o eletrônico.


— Não precisa agradecer! Mas você poderia ter esperado até amanhã para devolver, eu não teria ligado de esperar.


Sheila respirou aliviada com a aparição de Mia e aproveitou a deixa causada pela conversa da cozinheira com seu salvador desconhecido para sair do restaurante sem ser notada. Quando estava quase chegando à porta ouviu a mulher chamando-a, Sheila virou-se e perguntou:


— Algum problema, Srta. McCann?


— Srta. McCann? — A mulher riu. — Não precisa disso tudo bobinha, só Mia já basta. Venha aqui. — pediu docemente. Tanto Ray quanto Sheila olharam-na confusos, não entendendo o motivo do pedido.


Sem alternativas, a garçonete foi até eles.


— Este é o Ray, ele é um grande amigo meu e do Scott e ele tem total liberdade aqui no Reagan’s — apresentou. — Eu quero que você saiba que sempre que o vir por aqui você não tem a menor obrigação de servi-lo, ele pode muito bem ir à cozinha e pegar o que quiser sozinho. Mas se vê-lo fazendo alguma coisa errada você está autorizada a dar-lhe um belo soco na cara. Combinado? — O tom de voz açucarado de Mia não combinou com o teor de sua fala.


— Combinado. — concordou rindo.


— Ótimo! Vou verificar se tudo está em ordem na cozinha. — Saiu andando rumo ao local mencionado.


— É bom saber que sou respeitado aqui. — gritou para a cozinheira, que levantou a mão e fez sinal positivo. — Então... Você vai realmente me bater?— perguntou quebrando o clima tenso que se instalou após a saída de Mia. Sheila demorou a processar que ele estava falando com ela.


— Lógico que não, eu te devo uma pela sexta-feira passada.


— Não importa o que eu fizer?


— Só se for algo que comprometa meu emprego.


— Cadê a sua gratidão? — Brincou, arrancando mais um sorriso da garota.


— E se eu fizer o seguinte: eu te pago uma cerveja e ficamos quites? — propôs. Nem parecia que minutos antes ela queria sair correndo para evitar o constrangimento de falar com o homem que presenciou a briga que ela causara.


— Tá dando em cima de mim? Porque se sim, já vou avisando que sou difícil.


— Larga de ser besta, é um proposta completamente inocente.


— Inocente vai ser quando algum policial me pegar bebendo com uma garota menor de idade.


— Eu não sou menor de idade. — Franziu o cenho.


— Jura? Você tem cara de 15. — Sim, ela realmente tinha. Não sabia dizer se era por causa de seu rosto ou pela baixa estatura.


— 15? Você tá de sacanagem, né?! Eu tenho 18. — Indignou-se.


— Não precisa ficar brava, senhora adulta. Foi um erro inocente. — zombou.


— O que você diria se eu dissesse que você tem cara de 30? — Aquilo era mentira, ele definitivamente não tinha cara de velho. Ray era alto, de ombros largos, rosto quadrado, cabelo castanho curto, pele clara e olhos verdes. Sheila se fixou por aqueles olhos, eram os mais bonitos que já vira, ganhando até dos azuis de Skylar e Amethyst.


— Diria que você é quase verdade, tenho 29 anos. — A garçonete controlou-se para não demonstrar sinais de surpresa, podia jurar que ele tinha no máximo uns 25.


— Quer saber? Cansei dessa conversinha, eu não devia ter te proposto aquilo, foi uma má ideia. — Começou a andor rumo à saída, porém foi impedida por Ray, que a segurou pelo braço.


— Já ouviu falar de um pub chamado Brian’s?


(...)


— Eu preciso mostrar esse lugar pro Nate e pro Ethan. — Sheila comentou, maravilhada com o pub. Era um estabelecimento pequeno e de decoração rústica, mas que não deixava de ser confortável. A iluminação verde junto à decoração — que consistia em vários pôsteres, variando entre marcas de cervejas famosas, símbolos celtas, times de hurling e a bandeira da Ilha Esmeralda. — faziam do lugar um ambiente dignamente irlandês.


— Quem? — Ray questionou enquanto levava a caneca de cerveja à boca.


— Meus melhores amigos, nós vivemos procurando por lugares diferentes para sair. — explicou. — Aqui é incrível, como achou?


— Esse pub é o ponto de happy hour dos meus colegas de trabalho.


— Onde você trabalha?


— Numa construtora há dois quarteirões daqui.


— Construtora? Então você é engenheiro ou alguma coisa do gênero? — Sheila tomou o resto de cerveja de sua caneca.


— Longe disso. Sou o diretor administrativo.


— Eu pediria para você me explicar mais a fundo sobre isso, mas eu sei que não vou entender nada do que você me disser... Garçom! Me vê mais uma rodada! — gritou, fazendo sinal com a mão para o funcionário quando o mesmo passou por ela. Os sinais de embriaguez eram mais do que evidentes, o que não era de se espantar, já que ela bebeu duas vezes mais que Ray.


— Nada de rodada extra! A conta, por favor. — pediu ao garçom


— Ei! — Sheila reclamou.


— Nada de “ei”!— repreendeu-a. — Você já bebeu demais, sem contar que já é passou de uma da manhã, eu não sei você, mas eu tenho que trabalhar amanhã cedo.


— Você pode muito bem ir embora enquanto eu peço mais uma rodada, não tem nada te impedindo.


— Você tá louca? Eu não vou largar uma menina bêbada sozinha num bar de madrugada!


— Menina? — irritou-se. — Será que dá para você parar de me tratar como criança?!


— Desculpa, mas isso é involuntário. Eu tenho uma irmã da sua idade e é assim que eu trato ela. — justificou-se. — Ou pelo menos tratava... — murmurou mais para si mesmo do que para a O’Flahertie, que nem chegou a escutar sua última fala.


— Deve ser um saco ter um irmão que não te deixa beber. A minha irmã do meio nunca ligou para essas coisas. — Na verdade, ela e Skye bebiam juntas desde antes de Sheila ser maior de idade. É claro que Amethyst não sabia disso, se um dia ela descobrisse o pau ia quebrar pro lado de Skylar.


— A Savannah não bebe! Ela sequer chega perto de bebida alcoólica. — Indignou-se. Para Ray, sua irmã mais nova, Savannah, era um anjo.


— Vai achando, inocente. — Antes que Ray abrisse a boca para retrucar, ela continuou. — Savannah? Esse é o nome da sua irmã?


— É sim, por quê? — Franziu o cenho. Ela sorriu enigmaticamente.


— Isso é mais um motivo para pedirmos mais uma rodada. Vamos comemorar as coincidências!


— Coincidências?


— Sim, coincidências! Eu, a garota que você ajudou semana passada impedindo que o namorado e o amante dela ficassem desfigurados — Com aquela fala, Ray finalmente entendeu o motivo da briga. —, acabei conseguindo um emprego no restaurante do seu melhor amigo, sem contar que eu também tenho a mesma idade e o mesmo nome que a sua amada irmãzinha. Vamos brindar!— gritou a última parte e levantou a mão como se estivesse segurando uma taça de champanhe.


— Mesmo nome? — Nesse momento, Ray percebeu o quão retardado ele era: ele simplesmente esqueceu-se de perguntar o nome da garota com quem ele tinha passado as duas últimas horas bebendo e conversando.


— Não exatamente, mas começa com a mesma letra! — Ela sorriu e estendeu-lhe a mão e disse. — Prazer, Sheila O’Flahertie, mas pode me chamar de Shae se quiser. — Antes que ele sequer pensasse em apertar sua mão, ela levantou-a no ar novamente. — Agora vamos as cervejas!


— Não. — cortou-a. O garçom chegou com a conta naquele exato momento. Ray fez com que Sheila se sentasse em um dos bancos de madeira da mesa, segurou-a pelos ombros, olhou em seus olhos e disse: — Eu vou ao caixa pagar a conta, enquanto isso fique ai. Não saia, não se mexa, não converse com ninguém, não respire e principalmente não peça mais nada para o garçom. Ok? — A garota desviou o olhar. Ele segurou seu queixo e forçou-a a olhar para ele. — Ok?


— Ok, seu fascista! — Ela cruzou os braços e fez bico. O Kavanaugh revirou os olhos com a atitude.


E ela ainda reclamava dele trata-la como criança.


Ele foi ao caixa e pagou a conta, incluindo a suposta cerveja que Sheila lhe pagaria e que ele com certeza iria lhe cobrar mais tarde, e voltou à mesa rapidamente, temendo que a garota fizesse alguma besteira enquanto ele estivesse afastado. O que não aconteceu.


— Você foi rápido, Stalin. — comentou levantando a cabeça levemente para conseguir olha-lo nos olhos. Ray era alto, ela batia em seu ombro, e o fato dela estar sentada não contribuía muito.


— Vamos. — Deu alguns passos, mas parou ao perceber que ela não estava seguindo-o. Franziu o cenho e lançou lhe um olhar questionador.


— Eu gosto dessa música. — A O’Flahertie simplesmente disse.


— E daí? — indagou não percebendo o propósito da afirmação.


— E daí que eu quero ficar aqui até que ela acabe. Por favooor! — Fez sua melhor cara de gato de botas do Shrek para tentar convencê-lo ao ver que ele estava prestes a dizer “não”. Ray respirou fundo, derrotado.


— Tudo bem, mas assim que e acabar nós vamos sair daqui e você vai ligar para algum parente ou conhecido seu para vir te buscar, porque de jeito maneira que eu vou deixar você ir pra casa sozinha.— Sua fala rendeu-lhe um olhar fulminante de Sheila.


— Eu já te disse para parar de me tratar como criança!


— Então pare de se comportar como uma!— rebateu. — Você não queria ouvir à música?


Sheila, contrariada, calou-se e virou a cara para Ray. Ele revirou os olhos.


O Kavanaugh pôs-se a prestar atenção na música que tocava no ambiente: The Scientist, do Coldplay. Não gostava dela, achava-a muito triste. Estranhou bastante, não fazia sentido uma música duma banda inglesa tocar num pub de temática nacional.


Assim que a música acabou, ele chamou Sheila, que o seguiu até a saída sem qualquer oposição. Já fora do estabelecimento, ela abriu a mochila roxa, tirou de lá um celular modelo BlackBerry Bold, discou o número desejado e levou o aparelho à uma das orelhas adornadas pelos brincos dourados.


O processo se repetiu quatro vezes. Ray chegou à conclusão de que seja lá para quem ela estava ligando, essa pessoa não estava lá muito a fim de atender. No fundo ele compreendia isso, afinal quem em sã consciência gosta de receber uma ligação às 1h40 da manhã?


— Que demora, hein? Tem telefone para quê?! — A voz zangada de Sheila, tirou Ray de seus devaneios e mostrou que seu telefonema fora finalmente atendido.


— Para enfiar na sua goela a baixo, maldita! Você me liga de madrugada e ainda me xinga? Vai se ferrar, Sheila! Eu trabalho cedo, caramba!


Ray assustou-se por conseguir ouvir a voz do outro lado da linha. Não sabia dizer se o volume do celular que era bom ou se a pessoa do outro lado estava gritando muito.


— Até parece que você não dorme no escritório! — rebateu. — Dá para você vir me buscar?


 Onde diabos você tá? Eu nem sabia que você tava fora de casa!


— Como assim não sabia?! Você é cega por acaso?!


— Eu não tenho a obrigação de verificar a casa cômodo por cômodo pra ver se você já chegou! E se eu fosse você eu abaixava esse tom de voz antes que eu resolva te largar no meio da rua.


— Até parece que você faria isso!


— Quer pagar pra ver?!


O silêncio reinou por alguns segundos antes que Skylar se manifestasse novamente:


— A sua sorte é que eu te amo, medrosa. Onde você tá? — perguntou dando uma apaziguada no tom de voz.


— Num pub chamado Brian’s, fica perto do...


— Para tudo! — A mais velha gritou repentinamente assustando até mesmo a Ray. — Como que você tem coragem de sair para beber sem me chamar, vadia? Poxa, Shae! Fica difícil te amar assim!


— Foi mal.


— Foi mal mesmo! Vamos fazer o seguinte: você vai voltar pra dentro e pedir mais uma rodada que eu tô indo pra aí compensar o tempo perdido.


— Você tá falando sério? — perguntou esperançosa.


— E eu lá brinco quando se trata de bebida?


— Mas você não disse que tinha que trabalhar amanhã cedo?


— Como você disse: eu posso dormir no trabalho, é só o Hugh não me pegar de novo que tá tudo bem. — Sheila conseguiu ouvir o som das gavetas do velho guarda-roupa de madeira do quarto de Skylar se abrindo e fechando violentamente. — Brian’s, certo? — assentiu. — Eu já fui nesse bar uma vez, fica perto da casa do irmão do Mark. Logo eu chego aí!— desligou o telefone sem nem esperar por qualquer resposta da irmã mais nova.


A garçonete guardou o celular na mochila e voltou-se para Ray, que estava de braços cruzados aguardando pelo fim da ligação.


— Foi bom te conhecer! — Começou a caminhar de volta para o pub, mas foi barrada pelo homem.


— Espera ai! Aonde você pensa que vai?


— Para dentro do Brian’s. — respondeu-lhe como se fosse a coisa mais obvia do mundo.


— Como assim? Você não acabou de ligar para uma mulher vir aqui e te levar pra casa? — Como Skylar abaixou o tom de voz em determinado momento, ele não conseguiu escutar o final da conversa.


— Ela vai me levar pra casa sim, mas só depois de bebermos um pouco mais. — Ela não conseguiu conter o sorriso. Ray fitou-a incrédulo.


— Você tá de brincadeira, né?


— Por que eu estaria?


Ao ver que a garota não compreendia o tamanho absurdo que ela estava dizendo, resolveu evitar a dor de cabeça e não discutir mais a respeito.


Era exatamente por isso que ele não gostava de pessoas bêbadas.


— Eu vou ficar aqui com você até a mulher chegar.


— Por quê? — Ela franziu as sobrancelhas.


— Porque eu não vou te deixar sozinha. — Ele jurou que ela iria fazer cara feia e reclamar dele estar tratando como criança novamente.


Mas ela não fez isso.


Sheila sorriu e o abraçou. Ray ficou tão surpreso que nem retribuiu o gesto.


— Você é um cara legal. Sabe, Ray... Meus últimos dias tem sido horríveis, desde sábado nada tem dado certo para mim. Parece até que o universo fez um complô para me jogar para baixo. Por mais estúpido que isso possa parecer, essas duas horas que passamos juntos foram o ponto alto da minha semana. Obrigada...


“Ponto alto.”


Como um flash, Ray lembrou-se que Sheila tinha causado o mesmo sentimento nele naquela noite desastrosa. Passou os braços envolta dela, retribuindo o abraço.


Ficar daquela maneira com uma quase estranha bêbada, de madrugada, no meio da rua, tendo apenas seis horas para ir pra casa, dormir e ir trabalhar era, no mínimo, bizarro. Mas quem disse que ele se importava?


— Eu que te agradeço, Shae.



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Autor(a): Lilie

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Capítulo 6- Miserável Quinta-feira, 22 de Maio de 1997. Skylar retirou os sapatos de salto vermelhos, abriu a porta de entrada cuidadosamente, entrou na casa e trancou-a novamente. Tudo no maior silêncio possível para que sua avó não acordasse. Fez o caminho para seu quarto na ponta dos pés silenciosa, como uma ninja, quase ...


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