Fanfics Brasil - Papai Noel Não Existe Vínculos

Fanfic: Vínculos | Tema: Original


Capítulo: Papai Noel Não Existe

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Capítulo 7- Papai Noel Não Existe.


Sexta-feira, 8 de Agosto de 2008.


Ethan acordou bem cedo, queria ir até a casa de Sheila antes de ela ir para a universidade para contar-lhe sobre o beijo de Nate e Esther. Tinha certeza de que, assim que ele lhe contasse, ela deixaria aquela política de silêncio estúpida para trás e o ajudaria a decidir o que fazer.


Porque, no final das contas, ele não poderia simplesmente chegar para Nate e dizer: “Sabe a Esther, a garota por quem você passou anos apaixonado e que agora você finalmente conseguiu pegar? Então... Há uns três meses eu ignorei completamente a nossa amizade de quase 13 anos e tracei ela. Sem ressentimentos?”


Ele tinha que ter algum plano, alguma maneira de deixar aquilo menos impactante.


Só de pensar que faltava pouco para contar a verdade a Nate e tirar aquele peso de suas costas, ele tinha vontade de quebrar tudo ao seu redor. Aquele beijo tinha complicado ainda mais sua situação.


Tomou um banho e vestiu uma camiseta azul escura com escritos em vermelho, calça jeans escura e tênis cinza. Foi até a cozinha e deu de cara com Vince sentado na mesa redonda de madeira, debruçado sobre um livro de cálculos. Ethan não ficou supresso, o irmão estava no último período de Engenharia Civil e estava se matando de tanto estudar para conseguir concluir o curso.


Preparou seu cereal e sentou-se a mesa. Inacreditavelmente, Vince só se deu conta da presença do caçula por causa do barulho que ele fazia ao mastigar. Conferiu o relógio de parede acima da porta da cozinha, estranhando ele estar acordado naquele horário.


— Caiu da cama?


— Tenho que ir a um lugar. — Fitou a face do mais velho, seus hematomas da briga com Logan estavam começando a suavizar.


— Que lugar? — perguntou interessado, queria saber o que tinha feito o seu irmão, um dorminhoco nato, levantar naquele horário.


— A casa da Shae. — Arrependeu-se de não ter mentido sobre seu destino ao ver Vince fechar a cara.


— Nesse horário? Ela quer dar pra você também? — perguntou amargurado. Ethan parou de comer e olhou-o com raiva. Pensou em arremessar a tigela de cereal na cara do mais velho, mas teve uma ideia melhor: acertar seu orgulho.


— Normalmente eu dou um murro na fuça de quem fala assim da Shae na minha frente, mas como você já está com a cara arregaçada e uma puta dor de cotovelo, eu vou deixar passar. — alfinetou.


— Eu não acredito que mesmo depois do que ela fez comigo você ainda a apoia! — Sua voz vacilava de raiva. — Eu sou o seu irmão, caramba!


— Eu não estou apoiando ninguém, Vince. Sei que o que ela fez com você foi sacanagem.


— Então porque continua amigo daquela biscate?!


— Porque eu não tenho nada a ver com isso! Foi você que ela chifrou, não eu. Pare de misturar as coisas! — irritou-se. — Ela é a minha amiga, e era sua também antes de vocês começarem com essa palhaçada de quererem se pegar! Eu sempre avisei que isso não daria certo, mas você me escutou? Não! Então agora não venha querer achar ruim comigo só porque eu não tomei as suas dores e a coloquei na minha lista negra.


Vince tomou um baque com as palavras do irmão, mas não deixou transparecer. Fazia tempo que Ethan não brigava com ele. Mudou o assunto para disfarçar:


— Você pode pelo menos me dizer o que você tá indo fazer lá? — Seu tom de voz se tornou mais brando.


Ethan percebeu a intenção do mais velho de desviar o assunto, e mesmo com todo aquele clima estranho, ele decidiu dizer tudo a Vince. Precisava de uma opinião a mais sobre a sua situação.


Contou-lhe tudo. Sobre ter dormido com Esther, sobre ter guardado segredo, sobre a pressão para que dissesse a verdade a Nate, sobre o beijo...


Ao final de tudo, Vince ponderou em silêncio sobre o que acabara de ouvir antes de dizer:


— Não conte.


— Perdão?


— Não conte nada ao Nate, continue mantendo segredo.


— Você tá doido?! Se ele descobrir por outra pessoa se não eu, ele nunca vai me perdoar.


Vince respirou fundo antes de começar a explicar.


— Pense comigo irmãozinho... Se depois de três meses ele ainda não ficou sabendo, você realmente acha que agora ele vai? Daqui a algumas semanas ninguém mais vai se lembrar desse assunto, isso se já não foi esquecido.


Ethan nunca tinha pensado nessa possibilidade, ela fazia o maior sentido do mundo. Se o segredo ainda não fora espalhado, mesmo com duas fofoqueiras como Brittany e Faith sabendo, as chances de que Nate ficasse sabendo de algo eram minúsculas, ainda mais agora que ele estava de namorico com Esther.


Viu-se em uma encruzilhada.


Ao mesmo tempo em que aquela opção fazia sua consciência berrar, dizendo que Nate merecia saber da verdade, ela também parecia ser seu presente de Natal adiantado. Com ela, não precisaria correr o risco de perder o melhor amigo nem estragar a felicidade do mesmo por ter finalmente conseguido ficar com Esther.


— Sabe Vince, você pode ter razão...


(...)


Assim que Sheila acordou, graças ao som da campainha, arrependeu-se amargamente. Parecia que uma bomba relógio havia sido implantada em sua cabeça logo após ter sido atropelada por uma manada de búfalos com cascos de ferro. Sentiu que estava deitava sobre uma superfície dura e fria. Abriu os olhos, que antes estavam parcialmente fechados por conta da dor de cabeça excruciante, e viu o ambiente em que se encontrava.


Por algum motivo “misterioso”, ela havia passado a noite caída ao lado da privada do banheiro de sua casa. E por outro mais “intrigante” ainda, sua blusa de renda branca estava coberta de vômito.


Levantou-se apoiando na parede, porém assim que ficou em pé sentiu seu estômago revirar. Jogou-se sobre a privada e vomitou o que parecia ser todo o álcool consumido em sua vida.


Aquela era, de longe, a pior ressaca que já tivera.


— Não te vejo assim desde o último dia de São Patrício. — Ethan estava apoiado no batente da porta, era ele quem estava na campainha. Estava indeciso sobre qual atitude tomar: rir da desgraça alheia ou ficar sério.


— Como você entrou aqui? — Sheila disse com a voz arrastada.


— Sua irmã abriu a porta, ela acabou de ir para o trabalho. Estava com uma puta cara de quem chapou, mas não chega nem perto de você. — Não era segredo nenhum que Skylar era bem mais resistente em relação à bebida do que Sheila.


— O quê que... Ai meu Deus.


Virou-se para o vaso e vomitou novamente. Ethan foi até ela e segurou seus cabelos enquanto dava batidinhas em suas costas, da mesma maneira que um técnico dá em um jogador após uma derrota humilhante.


— Preciso que você pegue algumas coisas para mim. — pediu após se recompor. Ethan balançou a cabeça positivamente e Sheila começou a listar. Pelo visto, a ressaca tinha feito com que ela se esquecesse do voto de silêncio. — Meu pijama azul de carneirinho, um balde, uma cartela de aspirinas, uma jarra d’agua, um copo e uma toalha de rosto. Deixa tudo em cima da minha cama e programa o meu despertador para as quatro horas. — Ligou o chuveiro e começou a tirar a roupa.


— Pra quê programar o despertador? — indagou, não se importando com o fato da amiga estar seminua.


— Tenho que trabalhar, não posso faltar no meu segundo dia. Eu vou melhorar até lá! — acrescentou ao ver a cara de “você tá falando sério?” de Ethan.


— Se você tá dizendo...


Retirou-se do banheiro, encostando a porta, e foi pegar as coisas que a amiga pediu. Quando estava subindo as escadas com o balde e a jarra d’água, ouviu um barulho semelhante a um rugido de dinossauro com dor de dente.


— Ethan! — O grito de Sheila foi parcialmente abafado pelo som do chuveiro. — Me trás um rodo também!


(...) 


Skylar estava sentada em uma cadeira estofada brincando de girar seu anel de noivado enquanto Hugh revirava o cômodo em busca dos arquivos sobre Oscar Doherty. Ele se recusou a falar qualquer coisa sobre a matéria enquanto não encontrasse os papeis.


Isso era uma desgraça para Skylar, já que tudo o que ela mais queria era acabar com aquilo logo e ir dormir no sofá de sua sala. Misturar cerveja e vodka no mesmo copo não tinha sido uma ideia tão boa quanto idealizara.


Apesar das majestosas janelas de vidro, que proporcionavam uma excelente iluminação, e da mobília moderna, o escritório de Hugh se parecia muito com uma biblioteca antiga. Várias pastas, livros, edições antigas da Unmasked, arquivos e papéis soltos estavam amontoados e o cheiro de café e poeira dominavam o ambiente.


O diretor de redação era extremamente neurótico, chegando ao ponto de não permitir que as faxineiras limpassem sua sala, alegando que ninguém além dele podia sequer se aproximar das importantes — de acordo com ele — pilhas de papel. Ninguém, incluindo seus superiores, estava autorizado a entrar em seu escritório sem que ele estivesse presente.


Mesmo que causasse alguns transtornos, ninguém jamais se atreveu a reclamar sobre seus métodos e manias excêntricas. Hugh Leopold podia não ser o dono, mas era o cérebro por trás da Unsmaked. Sem ele a revista não teria alcançado nem metade do sucesso que obtivera nos últimos anos.


— Achei!


O homem carregou a pasta abarrotada de papéis com certa dificuldade e soltou-a em cima da mesa sem a menor delicadeza, produzindo um baque que assustou Skylar.


Hugh deu batidinhas em sua roupa, composta por uma calça caqui bege e uma camisa social azul marinho, cujos botões pareciam querer saltar graças à barriga saliente, para retirar a poeira e se sentou. Pôs seus olhos castanho-esverdeados em Skylar e começou a falar:


— Essa pasta contém todas as informações adquiridas pelos últimos jornalistas que trabalharam no caso. Esses dados são o resultado de dezenove anos de esforços aparentemente infrutíferos... — Hugh parou de falar e olhou melancolicamente para a pasta. Skye estava prestes a pigarrear para chamar sua atenção quando ele voltou a si e continuou: — Você vai precisar deles, e muito. Vai tornar seu trabalho bem mais fácil, se é que qualquer coisa ligada a essa matéria possa ser chamada de fácil... Alguma dúvida?


Skylar queria muito dizer “não” e encerrar aquela conversa de uma vez, mas a questão que dançava em sua mente desde a reunião do dia anterior não permitiu que ela fizesse isso.


— Só uma: por que eu?


— Seja mais clara, por favor.


— Vários jornalistas brilhantes já trabalharam nessa matéria e mesmo assim ela continua incompleta. Tendo isso em mente, o que te faz pensar que eu possa finalizá-la? Por que não escolheu alguém mais experiente como a Saoirse Hournish ou o Ciarán Foley?


Hugh respirou fundo e mirou os olhos azuis de Skylar antes de lhe responder. A O’Flahertie nunca tinha visto aquela expressão em seu rosto, quase sempre ocupado por uma carranca. Ele parecia-se com um pai que estava se preparando para contar ao filho que o Papai Noel não existe.


— Você nunca se perguntou o porquê de termos te contratado, Srta. O’Flahertie?


— É claro que já! Milhares de vezes...


— Não vou negar que seu artigo foi excelente, mas teve vários melhores. Por exemplo, o trabalho de Jared McElwee sobre a Ecomáfia foi um dos melhores que já vi. Tive vontade de estrangular a Penn quando ela anunciou você como a escolhida ao invés do McElwee. Consegue imaginar o absurdo? Uma garota recém-formada na faculdade sendo contratada por uma das revistas mais influentes de Munster?


Skylar tentou não levar aquilo para o lado pessoal. Ele continuou:


— Acabou que eu queimei a língua. Por mais irresponsável que você seja, ninguém pode negar que você se tornou uma jornalista excepcional ao longo dos anos, realmente digna do cargo. Mas em momento algum pense que estou puxando seu saco, ainda prefiro o McElwee.


— É muito bom ouvir isso. — Skylar ironizou.


Hugh continuou:


— Enfim... O motivo de termos deixado de lado um profissional exemplar, carismático, inteligente, crítico, cortês, experiente...


— Já entendi, Sr. Leopold.


—... para te contratar, foi exatamente por causa da sua inexperiência.


Se Hugh não fosse o Hugh, teria rido muito da cara que Skylar fez. Pôs-se a explicar:


— A maioria dos jornalistas contratados pela Unmasked já trabalharam para outras publicações de outras editoras, isso faz com que eles já tenham um estilo definido, o que dificulta a adaptação aos padrões desta revista. Por exemplo, você consegue imaginar alguém que passou anos escrevendo para uma revista de fofoca vir trabalhar numa revista onde todos os artigos publicados precisam apresentar provas concretas de que seu conteúdo é verídico, sob risco de processo judicial? Difícil, não? Bem... nem tanto. Foi exatamente isso que aconteceu com a já mencionada Saoirse Hournish. Hoje ela é uma das melhores que temos, mas demorou bastante para chegar nesse ponto. Por isso, a diretoria resolveu fazer um pequeno experimento.


— Experimento?


— Sim, um experimento. Eles resolveram contratar alguém que nunca tivesse trabalhado para qualquer outra publicação, uma pessoa completamente crua, um patinho recém-saído do ovo. Patinho esse que seria moldado e aprenderia a fazer jornalismo do nosso jeito. Pense nisso como um pai que inscreve seu filho em uma aula de língua estrangeira antes mesmo de o moleque aprender a usar o penico. Isso é bem mais eficiente do que começar o curso na adolescência, não é mesmo?


Skylar estava embasbacada. Nos últimos dois anos e onze meses, ela acreditou fielmente que só foi contratada pela Unmasked porque havia somente candidatos incompetentes concorrendo com ela.


— Eu não sei o que dizer, Sr. Leopold.


— Nem precisa. Essa também é a sua resposta para a sua pergunta. O motivo de você ter sido contratada é o mesmo de ter sido escolhida para continuar a matéria sobre o Doherty. Mais alguma pergunta?


Skylar balançou a cabeça negativamente.


— Muito bem... Quero que saiba que você ainda poderá escrever artigos para as próximas edições, fazer entrevistas e investigações, cobrir eventos... Ou seja, tudo que você faz há quase três anos. Pense no caso Doherty apenas como um bônus, um trabalho por fora. E antes que você pergunte...


Hugh abriu a primeira gaveta de sua escrivaninha, tirou de lá um pequeno envelope e entregou-o para Skylar. Antes que ela o abrisse, ele falou:


— O Tremblay me entregou isso ontem. Não se anime, isso aqui é apenas um papelzinho com o valor que você vai receber se conseguir concluir a matéria.


Skylar abriu o envelope sem muitas expectativas e acabou por se surpreender. Seria seguro dizer que se ela não estivesse sentada, teria caído dura no chão.


Era muito dinheiro.


A Unmasked era conhecida por pagar bem seus funcionários, mas aquilo era exagero.


— Por que estão pagando tudo isso?


— Isso é para você ter ideia do quão preciosa essa matéria é. Pode voltar ao trabalho.


Skylar pegou a pesada pasta com dificuldade e pôs-se a caminhar para fora da sala. Antes que deixa-se o cômodo, porém, Hugh disse:


— Quero que dê um jeito de conseguir uma entrevista com John O’Reilly antes do julgamento.


— O julgamento é semana que vem! — exclamou. — É impossível eu agendar uma entrevista até lá!


— Se você tem tempo e disposição para passar a noite bebendo, tem de sobra para fazer seu trabalho.


Skylar ficou sem reação.


Como diabos ele sabia?


(...)


Tomou dois comprimidos de uma vez, deitou-se, cobriu-se com o edredom vermelho xadrez e fechou os olhos, pronta para dormir e sonhar com o momento em que aquele mal estar fosse exorcizado de seu “debilitado” corpo.


— Shae, preciso te contar uma coisa. — Ethan sentou-se na beirada da cama.


— Me deixa dormir. — pediu com voz chorosa. — Depois você me conta, amorzinho.


Ethan arqueou as sobrancelhas. Ela definitivamente tinha se esquecido de que estava zangada com ele.


— É important...


— Alguém morreu? — interrompeu-o.


— Não.


— Aaron e Faith terminaram?


— Não.


— Aquele seu professor gato de direito penal se divorciou?


— Não.


— O Darragh descobriu que você tá transando com a namorada dele?


— Não.


— Se não é nenhuma dessas coisas, então você pode me contar outra hora. — Virou-se para o lado oposto ao amigo e fechou os olhos.


— É sobre eu ter dormido com a Esther.


Sheila levantou-se bruscamente.


— Você contou pro Nate?


Ethan bufou. Ela se lembrara...


— Não, na verdade...


— Então esquece tudo o que aconteceu essa manhã e não fala mais comigo!


“Mal agradecida!” — pensou.


— Larga de ser criança!


— Se estou sendo uma criança é por causa da sua covardia!


— Covardia?! Olha aqui... — Interrompeu-se e tentou se acalmar. Brigar não daria em nada naquele momento. — Eu ia contar pra ele ontem, só que...


— Só que...? — ironizou, imaginando que o amigo arranjara mais uma desculpa para não contar a verdade.


Ethan fuzilou-a com o olhar, ela entendeu aquilo como um sinal para que ficasse quieta e permitisse que ele continuasse. Depois de um curto silêncio, o Harvey soltou a bomba:


— Eu vi o Nate e a Esther se pegando no portão da casa dele.


Sheila pegou o balde ao lado de sua cama e vomitou.


(...)


Cadê você?”- Nate, 11h23am.


“Atente, caramba! Tem celular pra quê?!”- Nate, 11h57am.


“Encontrei com o Vince aqui na UL e ele me falou que você foi pra casa da Shae hoje cedo. Ela também não tá atendendo ao telefone. Onde vocês se meteram?”- Nate, 04h02pm.


“Larga de ser desesperado, Nathaniel! A Shae encheu a cara noite passada e tá passando mal. Tive que ficar aqui para cuidar dela.”


Enviou a mensagem e largou o celular na mesinha de centro. Sheila estava ruim, mas não precisava (muito) de sua ajuda. Assim que ela dormiu, Ethan podia ter simplesmente ido para a faculdade, entretanto, preferiu passar a tarde jogado no sofá da amiga assistindo filmes aleatórios na TV.


Nem precisou se virar para saber que Sheila estava descendo as escadas, o rangido produzido por uma taboa solta a denunciou. Para Ethan, não fazia sentido que Skylar e Sheila insistissem em morar em uma casa velha como aquela só porque era herança da avó materna. Por Deus, Skylar tinha dinheiro para comprar um imóvel bem melhor, o espírito da velha não as amaldiçoaria por irem pra um lugar onde as escadas não pareciam querer desmoronar cada vez que eram utilizadas.


— O que deu no Nate? Tem oito chamadas perdidas dele. — Sentou-se na poltrona cor de areia, não tirando os olhos do celular, que há poucos minutos estava desligado. Usava uma camiseta preta com um urso panda desenhado, shorts jeans, um casaco de pano preto que ia até metade das coxas, all star branco e brincos verdes em formato de trevo. Tinha prendido seus cabelos em um rabo de cavalo alto e passado um quilo de maquiagem para disfarçar a cara de zumbi.


— Ele entrou em desespero quando nós não aparecemos na faculdade e nem demos noticias. Provavelmente, ele pensou que estávamos em uma festa ou coisa do tipo sem ele.


— Uma festa no meio duma tarde de sexta?


— Você sabe o que eu quis dizer.


Um silêncio tenso se instalou no cômodo, antes de Sheila se manifestar:


— O que você vai fazer agora que... você sabe... eles estão juntos...


Ethan respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos negros. Ele e Sheila não discutiram o assunto assim que ele lhe contara, pois a O’Flahertie simplesmente tivera uma crise de nervo que piorou sua dor de cabeça e acabou indo dormir para tentar aliviar a dor.


— Só porque estavam se beijando não significa que estão juntos.


— Você sabe o que eu quis dizer. — repetiu a fala do amigo com tom irônico.


Levantou o corpo, sentando-se no sofá, e encarou a garota.


— Faz uns dois anos que o Nate corre atrás da Esther e agora que ele finalmente conseguiu... Eu não posso fazer isso com ele, Shae. Ele vai ficar arrasado! É por isso que, no caminho para cá, eu tomei uma decisão... Eu não vou contar nada pro Nate. Se ele não descobriu até agora, quem garante que ele vai um dia? Não vou correr o risco de perder o meu melhor amigo apenas para evitar uma coisa que tem chances mínimas de acontecer.


Ethan esperou que Sheila fosse gritar, xingá-lo de todos os nomes e arremessar coisas. Mas ao invés disso, ela fitou o nada, perdida em pensamentos, antes de voltar-se para ele e dizer com a voz embargada:


— Ele não merece isso. O Nate é a pessoa mais doce, gentil, amável e dedicada que eu conheço. Ele é incrível e definitivamente não merece isso!


Ethan sentiu uma facada em seu peito.


— Eu sei, mas essa é a minha decisão. — Levantou-se, ajoelhou ao lado da poltrona de Sheila e segurou uma de suas mãos. — Se isso for te deixar feliz, quero que saiba que eu nunca vou me livrar da culpa.


— Eu amo o Nate, Ethan. De verdade. Numa hora dessas eu já estaria correndo atrás dele para contar tudo... Se eu não te amasse também. É por isso que, por mais que eu a odeie, eu vou respeitar sua decisão.


— Obrigado. — Ethan levantou-se e deu um beijo em sua testa. — Eu não costumo falar isso com muita frequência, então aproveite: eu também te amo.


Sheila abraçou-o e sussurrou:


— Senti a sua falta.


— Eu também. Aquele voto de silêncio foi ridículo.


— Pode até ter sido ridículo, mas funcionou! Ou quase...


Ethan riu.


— Quer que eu te acompanhe até o restaurante? Já tá quase na hora.


— Ai caramba! Eu tinha esquecido!


Subiu para seu quarto correndo e quando voltou carregando sua mochila roxa, Ethan já tinha aberto a porta da casa e estava esperando-a.


— Alguma coisa interessante aconteceu nos longos três dias que ficamos sem nos falar? — Ethan perguntou quando já estavam na rua.


— Na verdade sim. Você lembra daquele cara que eu te falei? O que separou a briga do Logan com o Vince?


(...)


Nate estava estranhando a demora de Esther para atender a porta, já tocara a bendita campainha três vezes e nada. Quando a porta finalmente foi aberta não era a loira que estava do outro lado, e sim sua prima.


Juliet aparentava ter acabado de retornar da faculdade e não pareceu muito surpresa ao vê-lo. Estava usando uma camisa de botão laranja xadrez, calça jeans escura e vans preto.


— Princesa! — Sorriu de orelha a orelha.


— Nate! — Deu um sorriso do tipo que Nate classifica como adorável. — Você veio buscar a Esther, não veio? — Ele assentiu. Esther não contara a Juliet sobre seu encontro com Nate, a americana ficara sabendo, pois, sem querer, ouvira-a falar com Brittany ao telefone. — Ela ainda não voltou da UL, mas não deve demorar. Entra!


Nate seguiu Juliet até a sala de TV. O cômodo, que já era pequeno, parecia ser bem menor graças a três caixas amontoadas que dividiam o espaço com o sofá vermelho, duas poltronas, a mesinha de centro de vidro e a televisão.


— Não repare a bagunça, Julie e eu ainda não terminamos de desempacotar a mudança. — Uma mulher de meia idade e cabelos negros que batiam na cintura falou entrando na sala. — Mal chegamos e você já arrumou um namoradinho, Julie? — indagou em tom divertido.


Nate e Juliet enrubesceram.


— Mãe! — A garota queria cavar um buraco no chão para enfiar sua cara.


— Estou brincando, não fiquem assim, crianças. — Riu. — Sou Holly, mãe da Juliet, e você é...?


— Nate. — apresentou-se.


— Nate? Já ouvi esse nome em algum lugar...— Ficou batendo com a o dedo indicador no queixo até se lembrar. — Já sei! Você é o peguete da Estherzinha, não é?


O rosto do loiro, que estava se recuperando, voltou a ficar vermelho.


— Mãe! — Juliet repreendeu-a pela segunda vez, ao mesmo tempo em que se perguntava como ela sabia sobre o envolvimento de Esther e Nathaniel.


Holly começara a falar alguma coisa, mas o som do celular de Nate tocando fez com que ela parasse. Ele pediu licença e se afastou para atender ao telefone.


— Você quer me matar de vergonha?! — Juliet sussurrou zangada para a mãe.


— O que foi que eu disse de errado?


— Eu não vou nem comentar...


— Quem não vai nem comentar vai ser eu! Você é muito chata, minha filha, tem que aprender a ser mais relax.


— Eu não acredito que estou ouvindo isso...


— A Esther cancelou. — Nate voltou para a sala. — O professor remarcou a prova para segunda-feira e o grupo de estudo dela só pode se reunir hoje.


— Que chato. — Juliet comentou.


Nate deu de ombros.


— Nem tanto, a Rapunzel e eu pretendemos sair na próxima sexta, quem sabe vamos ao cinema? O lado ruim é que o filme que queríamos só fica em cartaz até amanhã.


— Qual filme?


— O Curioso Caso de Benjamin Button, já ouviu falar?


— Muito pouco. — Juliet mentiu. Estava louca para ver aquele filme, mas não queria parecer oferecida.


— Larga de ser mentirosa, Julie! — Holly se intrometeu. — Você não para de falar desse filme desde que estreou.


— Jura? — Nate virou-se para Juliet, que estava com vontade de enfiar a cara no chão feito um avestruz por causa do comentário da mãe. — Quer ir comigo?


Juliet gaguejou:


— Não! Quer dizer... Não precisa se incomodar, eu sei que você pretendia ir com a minha prima e...


— Não é incomodo nenhum! Eu também estou morrendo de vontade de ver e nem um pouco a fim de esperar o lançamento do DVD. Vamos lá, por favor, Julie!


— Não sei... E se a Esther ficar brava comigo?


— Isso é ridículo, Princesa. Somos apenas dois amigos que querem apreciar uma obra cinematográfica juntos. Não tem nada de errado nisso.


— Você quer dizer que somos amigos?


Nate sorriu.


— É claro que somos! Tudo bem que essa é a segunda vez que te vejo, mas só a primeira já foi o suficiente para eu gostar de você.


O coração de Juliet se derreteu com a fofura de Nate. Nunca tinha conhecido alguém assim.


— Para de fazer graça e vai logo, Julie! — Holly mandou.


— Mãe!


— Nada de mãe! — Pegou uma jaqueta de couro preta que estava jogada no sofá e jogou, literalmente, na cara da filha. — Vão logo, antes que eu coloque os dois para fora de casa à vassouradas!


Juliet não acreditava que Holly fosse realmente fazer aquilo, mas por via das dúvidas...



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Autor(a): Lilie

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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