Fanfic: Uma Noite [3ª temporada] - Adaptada | Tema: Christopher Uckermann & Dulce Maria

Não tenho sido eu própria, durante toda a semana. Meu estado foi notado e mencionado, mas eu me escapei de todos os interrogatorios, exceto os de Christian. Mas tenho a certeza que depois ele foi relatar tudo à minha avó, já que ela passou de curiosa e metediça a preocupada e carinhosa.
Também tem feito bolo de limão todos os dias. 

Estou a levantar a última mesa e, enquanto passo distraidamente o pano pela sua superficie, a porta da cafeitaria se abre e dou de cara com o Senhor Olhos Arregalados.
Faz um sorriso timido e fecha a porta em silêncio atras de si.
- É demasiado tarde para pedir uma bebida para levar? - pergunta.
- De maneira nenhuma. - Pego na bandeja e a deixo no balcão antes de encher o cachimbo de café.
- Cappuccino? 
- Sim, por favor. - diz com educação, seus passos se aproximando.

Me ocupo da tarefa, ignorando Sher quando ela passa com os caixotes e pára, ao ver meu cliente.
- Gato. - avalia, antes de continuar seu caminho.

Tem razão; ele é gato, mas dá demasiado trabalho remover outro homem da minha cabeça para o tentar apreciar. O Senhor Olhos Arregalados é o tipo de homem a quem deveria prestar mais atenção - se é que devia prestar atenção a qualquer homem -, não do tipo temperamental, sombrio, enigmático, que só quer vinte e quatro horas e nada mais. 

Ligo o vapor e começo a aquecer o leite, fazendo girar o copo, e o sibilar da máquina sai ao ritmo da minha mente frenética. Verto leite, o polvilho, coloco a tampa, depois me viro para entregar meu café perfeito.
- Dois e oitenta, por favor. - Estendo a mão.

Três moedas são colocadas com cuidado na minha palma enquanto registo a conta na máquina com a mão livre. 
- Me chamo Luke. - diz muito devagar. - Posso lhe perguntar como se chama?
- Dulce. - respondo, atirando com as moedas ao acaso para a gaveta.
- E está saindo com alguém? - pergunta com cautela, o que me faz franzir o cenho.
- Já lhe respondi a isso. - Pela primeira vez, permito que o seu aspeto atraente ultrapasse a minha barreira protetora mental e as imagens de Christopher. Seu cabelo castanho-claro lhe tomba na cara, mas não demasiado, e os olhos são calorosos e amigáveis.
- Porque perg... - Paro a meio da frase e lanço uma olhadela a Sher, que acabou de entrar pela porta da cafeitaria, já sem os dois sacos do lixo.

A fulmino com um ar de censura, sabendo muito bem que ela disse ao Senhor Olhos Arregalados que estou disponivel. 
Ela não se deixa ficar ali a absorver a minha animosidade; foge para a cozinha, onde está mais segura. O Senhor Olhos Arregalados ou Luke, como o conheço agora, parece desconfortável, nervoso, a tentar ignorar o ar culpado de Sher, que desaparece de vista.
- Minha amiga fala demasiado. - Lhe passo o troco. - Espero que goste do café.
- Por que me trata mal? 
- Porque não estou disponivel. - me repito a mim mesma, já que não deixa de ser verdade, ainda que agora seja por uma razão diferente. Posso ter recusado a oferta de Christopher, mas isso não tornou mais fácil esquecê-lo. Me basta levar os dedos aos lábios para sentir os dele, suaves, cheios, me provocando, me fazendo cocegas, me mordendo. Suspiro. - Está na hora de fechar.

Luke faz deslizar um cartão sobre a bancada na minha direção e lhe dá uns toques com um dedo antes de o soltar. 
- Gostava de sair com você, um dia, por isso, se decidir que está disponivel, pode me ligar. - Ergo a cabeça e ele me pisca o olho, um sorriso atrevido se espalhando pelo rosto.

Retribuo o pequeno sorriso e o vejo sair da cafeitaria, assobiando alegre.
- Já posso? - A voz de Sher se ouve da cozinha, e me viro para ver seus cabelos loiros a assomarem sobre a porta de vaivém.
- Você lhe disse, sua traidora! - Começo a puxar o fio do avental.
- Pode me ter escapado. - Ela ainda não se atreveu a sair da cozinha., optando por permanecer protegida atrás da porta. - Vá lá, Dulce. Lhe dê uma oportunidade. - Sua atenção está agora virada para Luke, depois de eu ter obedecido ao seu pedido de lhe ligar antes da meia noite, na noite em que Christopher me enfiou no carro. Não lhe contei os pormenores, mas meu estado de consternação lhe disse tudo o que precisava de saber... mesmo sem precisar de relatar certas propostas chocantes. 
- Sher, não estou interessada. - replico ociosa, enquanto sacudo o avental e o penduro no bengaleiro.
- Você nao disse isso daquele ba/baca mal-educado do Mercedes. - Ela sabe que não o devia mencionar, mas tem alguma razão, e tem todo o direito de o fazer. - É a única coisa que tenho para dizer.

Abano a cabeça, num total estado de exasperação, e passo por ela entrando na cozinha para ir buscar o meu casaco e bolsa. Todas aquelas emoções - o aborrecimento, a irritação, o coração pesado, a incerteza - são resultado de uma coisa...
Um homem. 
- Até amanhã. - digo por cima do ombro, deixando Sher sozinha para fechar o estabelecimento.