Fanfic: Uma Noite [3ª temporada] - Adaptada | Tema: Christopher Uckermann & Dulce Maria

A minha calma caminhada para o ponto de onibus é de curta duração. Ouço Christian me chamar. Suspiro, me viro devagar e nem me dou ao trabalho de forjar um sorriso insincero no meu rosto cansado.
Ele está com as suas roupas de jardinagem, todo sujo e com lâminas de grama no cabelo despenteado. Assim que me alcança, seu braço me contorna o ombro e me puxa contra si.
- Está indo para casa?
- Sim, E você, que está fazendo?
- Vim lhe dar carona. - Parece genuino, mas já o conheço.
- Veio para me dar carona ou extorquir mais informações? - replico com secura, e ganho como recompensa um pequeno encontrão da sua anca contra a minha cintura. 
- Como você está?

Penso na palavra que hei de usar para evitar mais perguntas. 
Ele sabe algumas coisas e também já informou a minha avó. Não lhe vou falar da proposta das vinte e quatro horas, sobre a qual estou agora hesitante. Recusei e estou a me sentir na m/erda, por isso talvez devesse me atirar de cabeça e me sentir na m/erda na mesma. Ao menos terei uma experiência para recordar enquanto me sinto na m/erda - qualquer coisa para reviver.
- ótima - acabo por responder, deixando que Christian me conduza para a carrinha.
- Se ele disse que não está emocionalmente disponivel, Dulce, isso não pode ser um bom sinal. Você faz muito bem em não voltar a vê-lo.
- Eu sei. - concordo. - Mas então por que não consigo deixar de pensar nele?
- Porque nos apaixonamos sempre pelos homens errados. - Me dá um beijo na testa. - Por aqueles que nos dão cabo da cabeça e nos esmagam o coração. Sei muito bem como você se sente, e ainda bem que se conteve antes de ter ido demasiado longe. Estou orgulhoso de você. Você merece melhor que isso.

Sorrio, recordando as muitas vezes em que tive de segurar a mão de Christian depois de ele cair vitima de encantos de algum homem. Só que Christopher não é encantador - nada de nada. É dificil precisar o que tem, para além de ser lindo, mas aquela sensação... oh, Deus, aquela sensação. E o que Christian acabou de dizer é a absoluta verdade. Não existe uma mãe na minha vida por causa das más decisões que tomou, no que dizia respeito aos homens. Só isso devia me fazer fugir dele a sete pés, mas, em vez disso, estou a me sentir ser arrastada. A suavidade dos seus lábios continua a se fazer sentir nos meus, a minha carne continua quente do seu toque e, quando me deito na cama, todas as noites, revivo aquele beijo. Nunca nada poderá estar à altura daquelas sensações. 

Abro a porta de casa e levo Christian para a cozinha. Ouço a minha avó conversar com George e os sons de uma colher de p/au a colidir com uma enorme panela de metal - uma panela de guisado. Esta noite vai haver guisado ao jantar. Faço uma careta e considero a hipotese de fugir para a banca de peixe com batatas fritas aqui do bairro. Detesto o guisado da minha avó, mas George o adora, e George veio jantar, por isso parece que vou ter de comer guisado.
- Christian! - Minha avó se atira ao meu amigo gay e lhe aflora o rosto com os seus lábios de marshmallow. - Você tem que ficar para o jantar. - Aponta para uma cadeira antes de se virar para mim, me atacando também com os lábios polpudos, e depois me senta numa cadeira ao lado de Christian. 
- Adoro quando estamos todos em casa. - declara alegremente. - Quem quer guisado?

Toda a gente levanta o braço, e eu também, embora não queira nada guisado.
- Sente-se, Christian. - ordena a avó. 

Christian se senta a olhar para mim e para George com os lábios franzidos quando nos vê sorrir com os seus gestos prudentes.
- Lhe diga que não. - sussurra ele.
- O que você disse? - Minha avó dá meia volta e nós nos colocamos todos sérios, como crianças bem-comportadas. 
- Nada. - cantamos em unissono, ganhando um olhar desconfiado da minha querida avó.
- Hmm. - Ela coloca a panela em cima da mesa. - Ataquem.

George mergulha na panela, mas eu pego apenas num pouco de pão, o parto em pedaços minusculos e vou mastigando devagar enquanto todos os outros conversam alegremente. 
Christopher me passa pela cabeça, o que me faz fechar os olhos. Sinto o seu cheiro, o que me faz conter a respiração. Revivo o seu toque quente, o que me faz remexer na cadeira. Estou a ter uma briga mental comigo mesma enquanto tento afastar as imagens dele, as memórias dele, o som da sua voz suave. 
Estou a falhar em todos os niveis. Me apaixonar por este homem podia ser um desastre. Tudo sugere que o será, e isso deveria ser suficiente, mas não é. Me sinto fraca e vunerável, e detesto isso. Como também não gosto da ideia de não o voltar a ver. 
- Dulce, mal tocou no seu jantar. - Minha avó me acorda dos meus devaneios, tocando com a colher no lado da minha tigela.
- Não tenho fome. - Afasto a tigela e me levanto. - Com licença. Me vou deitar. - Sinto três pares de olhos preocupados em cima de mim ao sair da cozinha, mas já deixei de me preocupar. Sim, a Dulce Não-Preciso-De-Homem-Nenhum Saviñón se apaixonou, e se apaixonou. E, pior do que tudo, se apaixonou por alguém que não pode, e com certeza não deve, ter.

Carrego o peso do meu corpo pelas escadas acima e me atiro para a cama, não me dando ao trabalho de me despir nem de remover a maquiagem. Ainda nem sequer escureceu, mas me enterrar debaixo da densa colcha o compensa. Quero silêncio e escuridão, para poder me torturar a mim mesma um pouco mais.